ISSN 1514-3465
Dependência funcional e morbidades referidas em
idosos em um município do nordeste brasileiro
Functional Dependence and Reported Morbidities in the Elderly in a Municipality from Northeastern Brazil
Dependencia funcional y morbilidad reportadas en personas mayores en un municipio del noreste de Brasil
Pabline dos Santos Santana*
pablinesantana@yahoo.com.br
Lucas dos Santos**
lsantos.ed.f@gmail.com
Sabrina da Silva Caires***
sabrinacaires9@hotmail.com
Lélia Lessa Teixeira Pinto****
lelia_lessa@hotmail.com
Jefferson Paixão Cardoso*****
jpcardoso@uesb.edu.br
Cezar Augusto Casotti******
cacasotti@uesb.edu.br
*Fisioterapeuta pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB)
Mestranda em Ciência da Saúde pelo Programa de Pós-Graduação
em Enfermagem e Saúde, com área de concentração em Saúde Pública
da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (PPGES/UESB)
Colaboradora do Projeto de pesquisa intitulado
"Condições de Saúde e Estilo de Vida de Idosos"
**Licenciado em Educação Física
pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB)
Bacharel em Educação Física
pelo Centro Universitário Leonardo da Vinci (UNIASSELVI)
Mestre e Doutorando em Ciências da Saúde pelo Programa de Pós-Graduação
em Enfermagem e Saúde, com área de concentração em Saúde Pública
da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (PPGES/UESB)
Integrante do Núcleo de Estudos em Epidemiologia
do Envelhecimento (NEPE/UESB)e do Grupo de Estudos e Pesquisa
em Fisiologia Cardiometabólica e Exercício (GEFEX/UESB)
***Graduanda em Fisioterapia
pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB)
Integrante do grupo de pesquisa Epidemiologia do Envelhecimento
****Doutorada em Ciências da Saúde com área de concentração
em Saúde Pública pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia
Mestrado em Educação Física com área de concentração em esporte e exercício
e linha de pesquisa em Esporte, Condições de Vida e Saúde
pela Universidade Federal do Triângulo Mineiro
Especialização em Fisiologia do Exercício - Prescrição do Exercício
pela iProfit - Educação Corporativa
Licenciado em Educação Física
pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia
Professora Assistente da Escola Bahiana
de Medicina e Saúde Pública (Salvador-Bahia)
*****Graduado em Fisioterapia pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia
Especializado em Saúde Pública. Mestre em Saúde Coletiva
pela Universidade Estadual de Feira de Santana
Doutorado em Saúde Pública pelo Instituto de Saúde Coletiva
da Universidade Federal da Bahia. Atualmente é professor Adjunto
da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia
******Graduado em Odontologia pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES)
Mestre em Odontologia Social pela Universidade Federal Fluminense (UFF)
Doutor em Odontologia Preventiva e Social
pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP)
Professor Titular do Curso de Odontologia
da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB)
Docente permanente do Programa de Pós-graduação
stricto sensu em Enfermagem e Saúde
Coordenador da Pós-Graduação no campus de Jequié
(Brasil)
Recepção: 24/04/2020 - Aceitação: 29/03/2021
1ª Revisão: 02/02/2021 - 2ª Revisão: 19/03/2021
Documento acessível. Lei N° 26.653. WCAG 2.0
Este trabalho está sob uma licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional (CC BY-NC-ND 4.0) https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/deed.pt |
Citação sugerida
: Santana, P. dos S., Santos, L. dos, Caires, S. da S. Pinto, L.L.T., Cardoso, J.P., e Casotti, C.A. (2021). Dependência funcional e morbidades referidas em idosos em um município do nordeste brasileiro. Lecturas: Educación Física y Deportes, 26(279), 126-146. https://doi.org/10.46642/efd.v26i279.2190
Resumo
O envelhecimento é acompanhado por alterações fisiológicas e surgimento de doenças crônicas que podem propiciar declínios na funcionalidade para as atividades básicas (ABVDs) e instrumentais de vida diária (AIVDs). Nesse contexto, este estudo teve como objetivo identificar a associação entre a dependência funcional nas atividades básicas e instrumentais de vida diária e morbidades referidas em idosos. Estudo epidemiológico populacional, transversal, realizado com 258 idosos de Aiquara-BA. As informações sociodemográficas, comportamentais e sobre morbidades autorreferidas foram obtidas por um instrumento próprio. O nível de atividade física foi mensurado a partir do International Physical Activity Questionnaire. A dependência funcional foi identificada pela escala de Katz e escala de Lawton e Brody. Nas análises, adotou-se o teste Qui-quadrado de Pearson e a regressão hierárquica de Poisson, com estimativa robusta e cálculos de razão de prevalência (RP) e intervalos de confiança (IC) de 95%. Observou-se prevalências de dependência nas ABVDs (12,8%) e AIVDs (31,8%). Verificou-se, também, que os idosos que já tinham apresentado infarto agudo do miocárdio (RP: 2,57; IC95%: 1,18-5,59), acidente vascular encefálico (RP: 3,15; IC95%: 1,71-5,81) e os que tinham Alzheimer (RP: 4,76; IC95%: 3,02-7,50), demonstraram maior probabilidade para dependência nas ABVDs. Além disso, os idosos com Alzheimer cursaram com 1,30 (IC95%: 1,10-3,30) vezes maior probabilidade de serem dependentes nas AIVDS. As evidencias do presente estudo demonstraram que o infarto agudo do miocárdio e o acidente vascular encefálico estiveram associados à dependência nas ABVDs. Além disso a doença de Alzheimer mostrou-se associada à dependência nas ABVDs e AIVDs.
Unitermos:
Saúde do idoso. Doenças crônicas. Atividades cotidianas.
Abstract
Ageing goes together with physiological changes and the advent of chronic diseases that can lead to declines in functionality for basic activities (BADLs) and instruments of daily living (IADLs). Given what has been said, this study aimed to identify an association between functional dependence in basic and instrumental activities of daily living and mentioned morbidities and in the elderly. This is a population-based, cross-sectional epidemiological study carried out with 258 elderly people from Aiquara-BA. Sociodemographic, behavioural and self-reported morbidity information was prepared using a specific instrument. The level of physical activity was valued using the International Physical Activity Questionnaire. Functional dependence was identified using the Katz scale and the Lawton and Brody scale. Pearson's chi-square test and Poisson hierarchical regression were used in the analyses, with a robust estimate and calculations of prevalence ratio (PR) and 95% confidence intervals (CI). The prevalence of dependence in the BADLs and IADLs of 12.8 and 31.8%, respectively, was observed. It was also found that the elderly who had already had an acute myocardial infarction (PR: 2.57; 95% CI: 1.18-5.59), stroke (PR: 3.15; 95% CI: 1.71-5.81) and those with Alzheimer's (PR: 4.76; 95% CI: 3.02-7.50) demonstrated a higher probability for dependence on BADLs. Furthermore, the elderly with Alzheimer's had 1.30 (95% CI: 1.10-3.30) times greater dependent probability in IADLs. The evidence from the present study demonstrated that acute myocardial infarction and stroke were associated with dependence on BADLs. In addition, Alzheimer's disease is associated with dependence on BADLs and IADLs.
Keywords:
Health of the elderly. Chronic disease. Activities of daily living.
Resumen
El envejecimiento viene acompañado de cambios fisiológicos y aparecen enfermedades crónicas que pueden conducir a una disminución de funcionalidad de las actividades básicas (ABVD) y actividades instrumentales de la vida diaria (AIVD). El objetivo fue identificar la asociación entre la dependencia funcional en actividades básicas e instrumentales de la vida diaria y morbilidades reportadas en personas mayores. Estudio epidemiológico, transversal, con 258 personas de Aiquara-BA. La información sociodemográfica, conductual y de morbilidad autoinformada se obtuvo mediante un instrumento específico. El nivel de actividad física se midió mediante el Cuestionario Internacional de Actividad Física. La dependencia funcional se identificó mediante escalas de Katz y de Lawton y Brody. En el análisis se utilizó la prueba chi-cuadrado de Pearson y la regresión jerárquica de Poisson, con estimaciones robustas y cálculos de razón de prevalencia (RP) e intervalos de confianza (IC) del 95%. Se observó prevalencia de dependencia en ABVD (12,8%)y AIVD (31,8%). También se encontró que personas que ya habían tenido infarto agudo de miocardio (RP: 2,57; IC del 95%: 1,18-5,59), ictus (RP: 3,15; IC del 95%: 1,71-5,81) y Alzheimer (RP: 4,76; IC del 95%: 3,02-7,50) tenían más probabilidades de depender de ABVDs. Además, las personas mayores con Alzheimer que puntuaron 1,30 (IC del 95%: 1,10-3,30), más probablemente dependan de AIVDs. La evidencia del presente estudio mostró que el infarto agudo de miocardio y el accidente cerebrovascular se asociaron con la dependencia de ABVDs. Además, se ha demostrado que la enfermedad de Alzheimer está asociada con dependencia a ABVD y AIVD.
Palabras clave
: Salud de la persona mayor. Enfermedades crónicas. Actividades diarias.
Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 26, Núm. 279, Ago. (2021)
Introdução
O processo de envelhecimento é caracterizado por alterações que comprometem os principais sistemas fisiológicos dos indivíduos (Liberalesso, Dallazen, Bandeira, e Berlezi, 2017), e é acompanhado por maior incidência de doenças crônicas e incapacidade funcional, do ponto de vista físico e mental. (Francisco, Marques, Borim, Torres, e Neri, 2018)
A capacidade funcional pode ser descrita como a habilidade em realizar as atividades básicas de vida diária (ABVD) e instrumentais de vida diária (AIVD), de forma autônoma e independente. A primeira refere-se às atividades de autocuidado e a segunda, as de independência na comunidade. (Amorim, Silveira, Alves, Faleiros, e Vilaça, 2017)
O declínio funcional está associado, dentre outros fatores, à condição geral de saúde (Amorim et al., 2017). Assim, ganha destaque as doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), frequentemente presente em idosos (Gavasso, e Beltrame, 2017), e que são tidas como a principal repercussão negativa do envelhecimento, aumentando os riscos de mortalidade e trazendo consigo o conceito de multimorbidade como um fator preocupante. (Silva et al., 2017)
Apesar da presença de doenças não determinar um quadro de incapacidade, ela se apresenta como um fator de grande relevância para o seu desencadeamento. Assim, a identificação de fatores relacionados à incapacidade funcional é considerada um instrumento de grande valia para as ações destinadas aos idosos. (Gavasso, e Beltrame, 2017)
Diante da vulnerabilidade gerada pelo processo do envelhecimento, e considerando que a perda da funcionalidade acarreta maior institucionalização, hospitalização e óbito (Brito, Menezes, e Olinda, 2016), o presente estudo objetivou identificar a associação entre a dependência funcional nas atividades básicas e instrumentais de vida diária com as morbidades autorreferidas por idosos.
Métodos
Trata-se de um estudo populacional com delineamento transversal. O mesmo foi realizado com idosos (idade ≥ 60 anos), residentes na área urbana de Aiquara, município localizado no centro-sul da Bahia. Foram incluídos no estudo os idosos de ambos os sexos, não institucionalizados que dormiam em sua residência (situado na zona urbana) por pelo menos três vezes na semana. E excluídos: os idosos que apresentaram comprometimento cognitivo, pontuação ≤13 pontos (Melo, e Barbosa, 2015), no Mini Exame do Estado Mental – MEEM (Folstein, Folstein, e Mchugh, 1975); os acamados e/ou hospitalizados; e os que não foram encontrados em seus domicílios após três visitas em dias e horário distintos no período em que ocorreu a coleta dos dados.
A coleta de dados aconteceu entre os meses de janeiro e março de 2018. A mesma foi realizada por entrevistadores (alunos de graduação e pós-graduação), devidamente treinados e padronizados. Inicialmente, 314 idosos foram identificados a partir de um censo realizado por meio de visitas domiciliares em toda zona urbana do município. Todavia, ocorreram 17 recusas para participação da pesquisa e 39 idosos foram excluídos de acordo com os critérios estabelecidos. Sendo assim, a população estudada foi composta por 258 idosos. Todos os participantes foram esclarecidos sobre os objetivos e método de coleta de dados e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
Os dados foram coletados no domicilio do idoso, por meio de entrevista face a face. Foi utilizado como instrumento um formulário com perguntas sociodemográficas: sexo (masculino ou feminino); grupo etário (60-69, 70-79 ou ≥80 anos) cor da pele (brancos ou não brancos [negros, pardos, indígenas ou amarelos]); escolaridade (com escolaridade ou sem escolaridade [nunca foi à escola e/ou não sabiam ler e escrever o próprio nome]); renda (≤1 salário mínimo ou >1 salário mínimo; salário mínimo em 2018: R$ 958,00), comportamentais (uso de álcool e/ou tabaco; sim ou não) e condições de saúde a partir do diagnóstico médico prévio (sim ou não) das seguintes morbidades: diabetes mellitus (DM); doença de Parkinson; doença renal crônica (DRC); câncer; infarto agudo do miocárdio (IAM); artrite reumatoide; osteoartrite; doença de Alzheimer e acidente vascular encefálico (AVE).
O nível de atividade física foi mensurado por meio do International Physical Activity Questionnaire (IPAQ) (Craig et al., 2003), validado para idosos brasileiros (Benedetti, Antunes, Rodriguez-Añez, Mazo, e Petroski, 2007; Benedetti, Barros, e Mazo, 2004). Foram considerados suficientemente ativos os entrevistados que realizavam atividades físicas com intensidade moderada a vigorosa por pelo menos 150 minutos/semana. (Bull et al., 2020)
Para mensurar a funcionalidade para as atividades básicas e instrumentais da vida diária utilizou-se as escalas de Katz e de Lawton e Brody. A escala de Katz, publicada pela primeira vez em 1963 (Katz, Ford, Moskowitz, Jackson, e Jaffe, 1963), avalia o desempenho do indivíduo para realizar seis atividades básicas da vida diária de autocuidado, que são: alimentação; controle de esfíncteres; transferência; higiene pessoal; capacidade de se vestir; e tomar banho. Para esta variável, os idosos que apresentaram dependência em pelo menos uma das atividades foram considerados dependentes. (Matos et al., 2018)
A escala de Lawton e Brody avalia o nível de dependência do indivíduo para desempenhar atividades instrumentais da vida diária relacionadas a sua participação no contexto social. A avaliação é realizada mediante a capacidade apresentada para: utilizar o telefone; se locomover; fazer compras; preparar refeição; arrumar a casa; lavar roupa; realizar a auto administração de medicamentos; e cuidar das finanças. Em cada quesito da escala de Lawton e Brody, a pontuação pode assumir os valores 1, 2 e 3, indicando a independência, dependência parcial e dependência total, respectivamente. (Lawton, e Brody, 1969)
No presente estudo, os idosos que apresentaram pontuação ≥ percentil 75 (12 pontos) do somatório da escala, foram considerados dependentes. (Santos, e Vitorioso Junior, 2008)
No software Statistical Package for Social Sciences (SPSS® 21.0, 2013, Inc, Chicago, IL)foram calculadas as frequências absolutas e relativas. Para análises inferenciais, inicialmente, foi realizado averiguações bivariadas a partir do teste Qui-quadrado de Pearson, para identificação das variáveis relacionadas aos desfechos. As que apresentaram nível de significância de pelo menos 20,0% foram selecionadas à inclusão em um modelo multivariado da regressão de Poisson, com estimativa robusta, e cálculos de razão de prevalência e seus respectivos intervalos de confiança de 95%.
A entrada no modelo multivariado foi feita de forma hierárquica, onde os aspectos sociodemográficos (Nível 1) foram inicialmente inseridos, seguidos dos comportamentais (Nível 2). Assim, a partir de ajustes intra e interníveis, ficaram no modelo apenas as variáveis que permaneceram com valor de p≤0,20 (ABVDs: nível de atividade física e uso de álcool; AIVDs: sexo, grupo etário, escolaridade e nível de atividade física), as quais foram usadas para ajustar as associações entre os desfechos estudados as morbidades autorreferidas (Nível 3), com nível de significância de 5,0%.
O presente estudo é parte do projeto de pesquisa “Condições de saúde e estilo de vida de idosos residentes em municípios de pequeno porte: Coorte Aiquara” conduzido de acordo com a Declaração de Helsinki da Associação Médica Mundial, estando em conformidade com a determinação da Resolução nº 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde Brasileiro. Portanto, foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (parecer nº 1.575.825/2016; CAAE 56017816.2.0000.0055).
Resultados
Participaram do estudo 258 idosos (59,3% mulheres). A média de idade das mulheres e dos homens foi 72,4 ± 8,3 e 72,9 ± 8,3 anos, respectivamente. Ademais, foi observado que 52,1% dos idosos não apresentavam escolaridade, 50,4% não possuíam companheiro(a), 31,8% eram insuficientemente ativos e 43,6% demonstraram sobrepeso/obesidade. Demais características da população podem ser vistas na Tabela 1.
Tabela 1. Análise descritiva das características sociodemográficas, comportamentais
e estado nutricional dos idosos avaliados. Aiquara-BA, Brasil, 2018
Variável |
%
de resposta |
n |
% |
Sexo |
100,0 |
|
|
Masculino |
|
105 |
40,7 |
Feminino |
|
153 |
59,3 |
Grupo
etário |
100,0 |
|
|
60-69
anos |
|
106 |
41,1 |
70-79
anos |
|
94 |
36,4 |
≥80
anos |
|
58 |
22,5 |
Cor
da pele |
100,0 |
|
|
Brancos |
|
223 |
86,4 |
Não
brancos |
|
35 |
13,6 |
Escolaridade
|
99,6 |
|
|
Sim
|
|
123 |
47,9 |
Não |
|
134 |
52,1 |
Arranjo
familiar |
100,0 |
|
|
Acompanhado(a) |
|
205 |
79,5 |
Sozinho(a) |
|
53 |
20,5 |
Situação
conjugal |
100,0 |
|
|
Com
companheiro |
|
128 |
49,6 |
Sem
companheiro |
|
130 |
50,4 |
Renda
|
91,9 |
|
|
≤1
salário mínimo |
|
70 |
29,5 |
>1
salário mínimo |
|
167 |
70,5 |
Nível
de atividade física |
100,0 |
|
|
Suficientemente
ativo |
|
176 |
68,2 |
Insuficientemente
ativo |
|
82 |
31,8 |
Uso
de álcool |
100,0 |
|
|
Não |
|
206 |
79,8 |
Sim |
|
52 |
20,2 |
Uso
de tabaco |
100,0 |
|
|
Não
|
|
243 |
94,2 |
Sim |
|
15 |
5,8 |
Estado
nutricional |
100,0 |
|
|
Baixo
peso |
|
26 |
13,3 |
Eutrofia |
|
84 |
43,1 |
Sobrepeso/obesidade |
|
85 |
43,6 |
n: número de participantes; %: percentual.
Fonte: Dados da pesquisa.
No que se refere as morbidades autorreferidas, foi observado que 64,7% dos idosos eram hipertensos, 24,8% apresentavam diabetes mellitus, 34,9% osteoartrite e 21,3% artrite reumatoide. Além disso, verificou-se prevalências de 12,8% e 31,8% de dependência nas atividades básicas e instrumentais de vida diária, respectivamente (Tabela 2).
Tabela 2. Análise descritiva das morbidades autorreferidas e
capacidade funcional nos idosos avaliados. Aiquara-BA, Brasil. 2018
Variável |
%
de resposta |
N |
% |
Hipertensão
arterial |
100,0 |
|
|
Não |
|
91 |
35,3 |
Sim |
|
167 |
64,7 |
Diabetes
mellitus |
100,0 |
|
|
Não
|
|
194 |
75,2 |
Sim |
|
94 |
24,8 |
Doença
de Parkinson |
100,0 |
|
|
Não
|
|
254 |
98,4 |
Sim |
|
04 |
1,6 |
Doença
renal crônica |
100,0 |
|
|
Não
|
|
250 |
96,9 |
Sim |
|
08 |
3,1 |
Câncer
|
100,0 |
|
|
Não
|
|
251 |
97,3 |
Sim |
|
07 |
2,7 |
Infarto
agudo do miocárdio |
100,0 |
|
|
Não
|
|
251 |
97,3 |
Sim |
|
07 |
2,7 |
Osteoartrite |
100,0 |
|
|
Não
|
|
198 |
65,1 |
Sim |
|
90 |
34,9 |
Atrite
reumatoide |
100,0 |
|
|
Não
|
|
203 |
78,7 |
Sim |
|
55 |
21,3 |
Acidente
vascular encefálico |
100,0 |
|
|
Não
|
|
248 |
96,1 |
Sim |
|
10 |
3,9 |
Doença
de Alzheimer |
100,0 |
|
|
Não
|
|
256 |
99,2 |
Sim |
|
02 |
0,8 |
Atividade
básicas de vida diária |
100,0 |
|
|
Independente
|
|
225 |
87,2 |
Dependente |
|
33 |
12,8 |
Atividades
instrumentais de vida diária |
100,0 |
|
|
Independente
|
|
176 |
68,2 |
Dependente |
|
82 |
31,8 |
n: número de participantes; %: percentual.
Fonte: Dados da pesquisa.
Quando analisado a prevalência de dependência nas atividades básicas de vida diária, de acordo com os aspectos sociodemográficos, comportamentais e estado nutricional, verificou-se que o desfecho foi mais frequente nos idosos insuficientemente ativos (20,7%) e nos que não faziam uso de bebida alcoólica (15,0%) (p<0,05).
Tabela 3. Prevalência de dependência nas atividades básicas de vida diária de acordo com os
aspectos sociodemográficos, comportamentais e estado nutricional. Aiquara-BA, Brasil, 2018
Variável |
ABVD |
X² |
p-valor |
|||
Independente |
Dependente |
|||||
n |
% |
n |
% |
|||
Sexo |
|
|
|
|
1,694 |
0,193 |
Masculino |
95 |
90,5 |
10 |
9,5 |
|
|
Feminino |
130 |
85,0 |
23 |
15,0 |
|
|
Grupo
etário |
|
|
|
|
3,160 |
0,206 |
60-69
anos |
97 |
91,5 |
09 |
8,5 |
|
|
70-79
anos |
80 |
85,1 |
14 |
14,9 |
|
|
≥80
anos |
48 |
82,8 |
10 |
17,2 |
|
|
Cor
da pele |
|
|
|
|
1,818 |
0,178 |
Brancos |
33 |
94,3 |
02 |
33,0 |
|
|
Não
brancos |
192 |
86,1 |
31 |
13,9 |
|
|
Escolaridade
|
|
|
|
|
0,482 |
0,488 |
Sim
|
115 |
85,8 |
19 |
14,2 |
|
|
Não |
110 |
88,7 |
14 |
11,3 |
|
|
Arranjo
familiar |
|
|
|
|
1,644 |
0,200 |
Acompanhado(a) |
176 |
85,9 |
29 |
14,1 |
|
|
Sozinho(a) |
49 |
92,5 |
04 |
7,5 |
|
|
Situação
conjugal |
|
|
|
|
0,368 |
0,544 |
Com
companheiro |
110 |
85,9 |
18 |
14,1 |
|
|
Sem
companheiro |
115 |
88,5 |
15 |
11,5 |
|
|
Renda
|
|
|
|
|
0,447 |
0,504 |
≤1
salário mínimo |
177 |
85,9
|
29 |
14,1 |
|
|
>1
salário mínimo |
28 |
90,3 |
03 |
9,7 |
|
|
Nível
de atividade física |
|
|
|
|
6,795 |
0,009 |
Suficientemente
ativo |
160 |
90,9 |
16 |
9,1 |
|
|
Insuficientemente
ativo |
65 |
79,3 |
17 |
20,7 |
|
|
Uso
de álcool |
|
|
|
|
4,671 |
0,031 |
Não |
175 |
85,0 |
31 |
15,0 |
|
|
Sim |
50 |
96,2 |
02 |
3,8 |
|
|
Uso
de tabaco |
|
|
|
|
0,004 |
0,948 |
Não
|
212 |
87,2 |
31 |
12,8 |
|
|
Sim |
13 |
86,7 |
02 |
13,3 |
|
|
Estado
nutricional |
|
|
|
|
0,552 |
0,759 |
Baixo
peso |
33 |
88,5 |
03 |
11,5 |
|
|
Eutrofia |
72 |
85,7 |
12 |
14,3 |
|
|
Sobrepeso/obesidade |
76 |
89,4 |
09 |
10,6 |
|
|
ABVD: atividade básica de vida diária; n: número de participantes; %: percentual.
Fonte: Dados da pesquisa.
A Tabela 4 mostra as análises multivariadas das associações entre a dependência nas atividades básicas de vida diária e as morbidades autorreferidas. Observou-se que os idosos que já tinham apresentado infarto agudo do miocárdio (RP: 2,57; IC95%: 1,18-5,59), acidente vascular encefálico (RP: 3,15; IC95%: 1,71-5,81) e os que tinham a doença de Alzheimer (RP: 4,76; IC95%: 3,02-7,50) estiveram positivamente associados ao desfecho.
Tabela 4. Análise multivariada da associação entre a dependência nas atividades básicas de
vida diária e as morbidades autorreferidas pelos idosos avaliados. Aiquara-BA, Brasil, 2018
Variáveis+ |
Prevalência
(%) |
RP
ajustada |
IC
95% |
p-valor* |
Hipertensão
arterial |
|
|
|
0,424 |
Não |
9,9 |
1 |
|
|
Sim |
14,4 |
1,33 |
0,65-2,73 |
|
Diabetes
mellitus |
|
|
|
0,926 |
Não
|
12,4 |
1 |
|
|
Sim |
14,1 |
1,03 |
0,51-2,10 |
|
Doença
de Parkinson |
|
|
|
- |
Não
|
13,0 |
1 |
|
|
Sim |
- |
- |
- |
|
Doença
renal crônica |
|
|
|
0,474 |
Não
|
12,4 |
1 |
|
|
Sim |
25,0 |
1,50 |
0,49-4,60 |
|
Câncer |
|
|
|
|
Não
|
13,1 |
1 |
|
- |
Sim |
- |
- |
|
|
IAM |
|
|
|
0,017 |
Não
|
12,0 |
1 |
|
|
Sim |
42,9 |
2,57 |
1,18-5,59 |
|
Osteoartrite |
|
|
|
0,926 |
Não
|
13,1 |
1 |
|
|
Sim |
12,2 |
1,03 |
0,52-2,01 |
|
Atrite
reumatoide |
|
|
|
0,943 |
Não
|
12,8 |
1 |
|
|
Sim |
12,7 |
0,97 |
0,45-2,06 |
|
AVE |
|
|
|
<0,001 |
Não
|
11,3 |
1 |
|
|
Sim |
50,0 |
3,15 |
1,71-5,81 |
|
Doença
de Alzheimer |
|
|
|
<0,001 |
Não
|
12,2 |
1 |
|
|
Sim |
100,0 |
4,76 |
3,02-7,50 |
|
IAM: infarto agudo do miocárdio; AVE: acidente vascular encefálico; RP: razão de prevalência;
IC: intervalo de confiança; *teste de Wald. +ajustado pelo nível de atividade física e uso de bebida alcoólica.
Fonte: Dados da pesquisa.
Por outro lado, as análises bivariadas entre as atividades instrumentais de vida diária e as variáveis independentes mostraram que a dependência foi maior entre os idosos longevos (56,9%), entre os sem escolaridade (41,8%), nos idosos que não possuíam companheiro(a) (37,7%), dentre os insuficientemente ativos (59,8%) e no grupo com baixo peso (50,0%) (p<0,05) (Tabela 5).
Tabela 5. Prevalência de dependência nas atividades instrumentais de vida diária de acordo com
os aspectos sociodemográficos, comportamentais e estado nutricional. Aiquara-BA, Brasil, 2018
Variável |
AIVD |
X² |
p-valor |
|||
Independente |
Dependente |
|||||
n |
% |
n |
% |
|||
Sexo |
|
|
|
|
2,138 |
0,114 |
Masculino |
77 |
73,3 |
28 |
26,7 |
|
|
Feminino |
99 |
64,7 |
54 |
35,3 |
|
|
Grupo
etário |
|
|
|
|
23,224 |
<0,001 |
60-69
anos |
84 |
79,2 |
22 |
20,8 |
|
|
70-79
anos |
67 |
71,3 |
27 |
28,7 |
|
|
≥80
anos |
25 |
43,1 |
33 |
56,9 |
|
|
Cor
da pele |
|
|
|
|
0,002 |
0,961 |
Brancos |
24 |
68,6 |
11 |
31,4 |
|
|
Não
brancos |
152 |
68,2 |
71 |
31,8 |
|
|
Escolaridade
|
|
|
|
|
12,880 |
<0,001 |
Sim
|
98 |
79,0 |
26 |
21,0 |
|
|
Não |
78 |
58,2 |
56 |
41,8 |
|
|
Arranjo
familiar |
|
|
|
|
0,003 |
0,959 |
Acompanhado
(a) |
140 |
68,3 |
65 |
31,7 |
|
|
Sozinho
(a) |
36 |
67,9 |
17 |
32,1 |
|
|
Situação
conjugal |
|
|
|
|
4,220 |
0,040 |
Com
companheiro |
95 |
74,2 |
33 |
25,8 |
|
|
Sem
companheiro |
81 |
62,3 |
49 |
37,7 |
|
|
Renda
|
|
|
|
|
0,297 |
0,586 |
≤1
salário mínimo |
136 |
66,0 |
70 |
34,0 |
|
|
>1
salário mínimo |
22 |
71,0 |
09 |
29,0 |
|
|
Atividade
física |
|
|
|
|
43,383 |
<0,001 |
Suficientemente
ativo |
143 |
81,3 |
33 |
18,8 |
|
|
Insuficientemente
ativo |
33 |
40,2 |
49 |
59,8 |
|
|
Uso
de álcool |
|
|
|
|
1,382 |
0,240 |
Não |
39 |
75,0 |
13 |
25,0 |
|
|
Sim |
137 |
66,5 |
69 |
33,5 |
|
|
Uso
de tabaco |
|
|
|
|
1,020 |
0,313 |
Não
|
164 |
67,5 |
79 |
32,5 |
|
|
Sim |
12 |
80,0 |
03 |
20,0 |
|
|
Estado
nutricional |
|
|
|
|
6,645 |
0,036 |
Baixo
peso |
13 |
50,0 |
13 |
50,0 |
|
|
Eutrofia |
58 |
69,0 |
26 |
31,0 |
|
|
Sobrepeso/obesidade |
65 |
76,5 |
20 |
23,5 |
|
|
AIVD: atividade instrumental de vida diária; n: número de participantes; %: percentual.
Fonte: Dados da pesquisa.
Além disso, conforme demonstrado na Tabela 6, os idosos que apresentaram doença de Alzheimer cursaram com 1,30 vezes maior probabilidade de serem dependentes nas atividades instrumentais de vida diária (IC 95%: 1,10-3,30).
Tabela 6. Análise multivariada da associação entre a dependência nas atividades instrumentais
de vida diária e as morbidades autorreferidas pelos idosos avaliados. Aiquara-BA, Brasil, 2018
Variáveis+ |
Prevalência
(%) |
RP
ajustada |
IC
95% |
p-valor* |
Hipertensão
arterial |
|
|
|
0,529 |
Não |
27,5 |
1 |
|
|
Sim |
34,1 |
1,13 |
0,77-1,66 |
|
Diabetes
mellitus |
|
|
|
|
Não
|
29,4 |
1 |
|
0,127 |
Sim |
39,1 |
1,28 |
0,93-1,78 |
|
Doença
de Parkinson |
|
|
|
|
Não
|
31,9 |
1 |
|
0,271 |
Sim |
25,0 |
0,63 |
0,27-1,43 |
|
Doença
renal crônica |
|
|
|
|
Não
|
32,0 |
1 |
|
0,454 |
Sim |
25,0 |
0,71 |
0,29-1,73 |
|
Câncer |
|
|
|
|
Não
|
31,9 |
1 |
|
0,973 |
Sim |
28,6 |
1,02 |
0,31-3,34 |
|
IAM |
|
|
|
|
Não
|
31,0 |
1 |
|
0,063 |
Sim |
57,1 |
1,40 |
0,98-2,00 |
|
Osteoartrite |
|
|
|
|
Não
|
32,7 |
1 |
|
|
Sim |
30,0 |
0,97 |
0,67-1,41 |
|
Atrite
reumatoide |
|
|
|
0,363 |
Não
|
31,0 |
1 |
|
|
Sim |
34,5 |
1,19 |
0,81-1,75 |
|
AVE |
|
|
|
0,165 |
Não
|
30,6 |
1 |
|
|
Sim |
60,0 |
1,30 |
0,89-1,88 |
|
Doença
de Alzheimer |
|
|
|
0,021 |
Não
|
31,3 |
1 |
|
|
Sim |
100,0 |
1,10 |
1,10-3,30 |
|
IAM: infarto agudo do miocárdio; AVE: acidente vascular encefálico; RP: razão de prevalência; IC: intervalo
de confiança; *teste de Wald; +ajustado por sexo, grupo etário, escolaridade e nível de atividade física.
Fonte: Dados da pesquisa.
Discussão
Na população estudada, as morbidades autorreferidas associadas à dependência dos idosos nas atividades básicas de vida diária foram: infarto agudo do miocárdio, acidente vascular encefálico e doença de Alzheimer. Enquanto as atividades instrumentais de vida diária apresentaram associação com a doença de Alzheimer.
O fato do infarto agudo do miocárdio está associado com a dependência nas atividades básicas de vida diária pode ser justificado, entre outros fatores, pelo repouso prolongado e deletério ao qual o indivíduo acometido por IAM é submetido. Além disso, a angina e a disfunção ventricular esquerda podem ser uma possível causa de limitação da funcionalidade. (Piegas et al., 2015)
O comprometimento funcional após o infarto agudo do miocárdio é evidenciado ainda a partir de programas de reabilitação realizados com esses indivíduos. De acordo com a Diretriz de Reabilitação Cardíaca (2005), há cerca de 50 anos, quando o termo reabilitação cardíaca foi definido pela Organização Mundial de Saúde, as vítimas do infarto agudo do miocárdio apresentavam um grande comprometido de sua funcionalidade, causado na maioria das vezes por longos períodos de restrição ao leito.
Assim, na alta hospitalar, esses indivíduos encontravam-se debilitados, sem condições de retomar suas atividades no âmbito familiar, social e profissional. Após implantação de programas de reabilitação cardíaca, que tinham por objetivo capacitar os indivíduos para realização de suas atividades diária, passou a ser observada alta hospitalar precoce, sem declínio da capacidade funcional. (Diretriz de Reabilitação Cardíaca, 2005)
A relação entre dependência funcional e doenças do aparelho cardiovascular também pode ser observada a partir dos resultados apresentados por Pinto Junior et al. (2016), em estudo conduzido com idosos no município de Jequié-BA. Corroborando com os achados do presente estudo, os autores identificaram que a presença de doenças do aparelho cardiovascular se comportava como fator de risco para o desenvolvimento de dependência funcional (RP: 1,46; IC 95%: 1,07-1,99; p=0,015) na amostra de 191 idosos. (Pinto Junior et al., 2016)
Em relação ao AVE, destaca-se que, no contexto atual, tem sido observado altos níveis de dependência funcional em idosos após acometimento da doença. Percentual de 66,0% de incapacidade funcional foi encontrado nesse público em Vitória-ES, após episódio de acidente vascular encefálico (Carmo, Oliveira, e Morelato, 2016). Além desses, foi evidenciado em Campina Grande–PB, um maior predomino de dependência na maioria das ABVDs, dentre as quais ganham destaque: se arrumar, 64,4%; se alimentar, 61,9%; tomar banho, 61%; e se vestir, 51,7%. (Dutra, Coura, França, Enders, e Rocha, 2017)
Resultados semelhantes foram encontrados no município de Montes Claros-MG, em um estudo conduzido com 360 idosos de ambos os sexos. Na análise bivariada, os autores identificaram maior prevalência (52,6%) de incapacidade funcional para as ABVD entre os idosos que autorreferiram o acidente vascular encefálico (p<0,001), quando comparado aos idosos que não referiram a doença (17,7%). Tal associação foi mantida na análise múltipla (RP ajustada: 1,20; IC 95%: 1,08-1,32; p=0,000). (Aguiar, Silva, Vieira, Costa, e Carneiro, 2019)
Além desse, um estudo de base populacional, conduzido com 1.593 idosos de Bagé-RS, também revelou associação da dependência nas ABVD com o diagnóstico do acidente vascular encefálico (RP: 2,72; IC95%: 1,91-3,87; p<0,001). Além das ABVD, os autores identificaram ainda associação da doença com a dependência funcional nas atividades instrumentais de vida diária (RP: 1,42; IC95%: 1,19-1,69; p<0,001). (Nunes et al., 2017)
Embora o acidente vascular encefálico seja caracterizado por ser uma doença incapacitante, o fato de o mesmo ter apresentando associação somente com a atividade básica de vida diária, pode estar relacionado com a região do encéfalo que foi acometida pela doença, com o nível da lesão e com a capacidade de recuperação do idoso, visto que são os diferentes graus de incapacidades que vão determinar os níveis de dependência. (Faria, Martins, Schoeller, e Matos, 2017)
E no que tange a doença de Alzheimer, observa-se que na população de Aiquara-BA, tal morbidade mostrou-se associada tanto à dependência nas ABVD, como nas AIVD. É evidenciado, na literatura, que a mesmas e caracteriza pela perda progressiva da cognição, o que leva o indivíduo a perda de sua funcionalidade e autonomia, resultando em quadros de dependência. Além disso, outro fator relacionado é a perda de memória, provocado pela doença, o que limita a realização das atividades de vida diária. (Santos, e Borges, 2015)
Nesse contexto, Pedroso et al. (2018), em estudo realizado com idosos cadastrados em programas de saúde da Universidade Estadual Paulista, campus Rio Claro, identificaram comprometimento funcional e diminuição das atividades de vida diária em idosos com doenças de Alzheimer(p<0,01). O grupo acometido pela doença apresentou pontuação final na avaliação funcional inferior (Md: 62,5; IIQ: 55,0-72,0) aos idosos sem a doença (Md: 85,5; IIQ: 73,0-97,0).
Ademais, outro estudo realizado com adultos e idosos do município do Guarapuava-PR, encontrou diferença significativa ao comparar os níveis de funcionalidade nas ABVD (p<0,001) e AIVD (p<0,001) com as fases da doença de Alzheimer. Os autores evidenciaram, por exemplo,que a prevalência da dependência total nas ABVD foi maior (29,3%) entre os idosos que estavam na terceira fase na doença, quando comparados aos que estavam na fase 1 (0%) e fase 2 (12,2%). O mesmo aconteceu para as AIVD, onde a dependência total assumiu a mesma prevalência entre os idosos que se encontravam na fase mais avançada (29,3%), em relação aos da fase inicial (2,0%) e fase 2 (5,2%) da doença de Alzheimer. (Haskel et al., 2017)
Assim, destaca-se que quanto maior o comprometimento cognitivo, decorrente de uma patologia como é evidenciado na doença de Alzheimer, maiores serão os déficits de memória, o que por sua vez, refletirá na realização de atividades mais especificas, as atividades instrumentais de vida diária. (Lini, Lima, Cardoso, Portella, e Doring, 2020)
Achados internacionais também evidenciam a relação entre a dependência funcional e a doença de Alzheimer em um estudo conduzido com 115 participantes, cadastrados em uma clínica neurológica da Universidade Católica da Coreia, Hospital Daejeon St. Mary, com idade média de 68,82 anos. Neste estudo, os indivíduos com doença de Alzheimer apresentaram maiores pontuação (0,49 ± 0,26) nas atividades instrumentais de vida diária (p<0,001), em relação aos outros dois grupos do estudo (grupo com deficiência cognitiva subjetiva: 0,18 ± 0,13; e grupo com comprometimento cognitivo leve 0,22 ± 0.14), o que no estudo representou um pior desempenho nas AIVD. (Ryu, Lee, Kim, e Lee, 2016)
De modo geral, pode-se afirmar que ao analisar a associação das morbidades com às ABVD e as AIVD, devem ser levados em consideração tanto os distintos fatores relacionados a cada morbidade (como início, progressão e complicações), bem como as características e as condições apresentadas pelos idosos, visto que o processo de envelhecimento não ocorre da forma igual para todos.
Como limitação do presente estudo destaca-se a utilização de morbidades autorreferidas. Pode ter ocorrido subnotificações de morbidades nessa população, devido à falta de busca pelo serviço de saúde. Além disso, o viés de memória pode ter influenciado no autorreferimento das doenças. Contudo, salientamos o uso do MEEM com ponto de corte recomendado para o nível socioeconômico e educacional dos idosos (Melo, e Barbosa, 2015), com o objetivo de diminuir o impacto de déficit cognitivo e consequentemente, excluir do estudo os idosos que pudessem apresentar uma perda considerada da memória.
Como ponto forte do estudo, ganha evidência a sua perspectiva censitária, a qual possibilitou a avaliação de um contingente representativo da população de um município de pequeno porte do nordeste brasileiro, que apresenta baixos indicadores sociodemográficos. Nesse contexto acredita-se que esses resultados possam subsidiar ações da vigilância à saúde, no âmbito da atenção primária, possibilitando o rastreamento de idosos com maior probabilidade de dependência, a partir das morbidades autorreferidas.
Conclusão
Na população avaliada, a doença de Alzheimer esteve associada à dependência nas atividades básicas e instrumentais de vida diária. Enquanto o IAM e o AVE mostrou associação somente com as atividades básicas. Tal conhecimento é de grande valia no âmbito da saúde pública por permitir o planejamento de ações voltadas a esse público, visando reduzir os impactos promovidos pelo comprometimento funcional da população idosa.
Assim, compete aos profissionais de saúde identificar idosos com essas morbidades, e incluir no seu plano de tratamento ações promocionais, preventivas, curativas e reabilitadoras, que visem reduzir a dependência funcional, e assim melhorar a qualidade de vida dos idosos com esses agravos.
Referências
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Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 26, Núm. 279, Ago. (2021)