Lecturas: Educación Física y Deportes | http://www.efdeportes.com

ISSN 1514-3465

 

Dependência funcional e morbidades referidas em

idosos em um município do nordeste brasileiro

Functional Dependence and Reported Morbidities in the Elderly in a Municipality from Northeastern Brazil

Dependencia funcional y morbilidad reportadas en personas mayores en un municipio del noreste de Brasil

 

Pabline dos Santos Santana*

pablinesantana@yahoo.com.br

Lucas dos Santos**

lsantos.ed.f@gmail.com

Sabrina da Silva Caires***

sabrinacaires9@hotmail.com

Lélia Lessa Teixeira Pinto****

lelia_lessa@hotmail.com

Jefferson Paixão Cardoso*****

jpcardoso@uesb.edu.br
Cezar Augusto Casotti******

cacasotti@uesb.edu.br

 

*Fisioterapeuta pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB)

Mestranda em Ciência da Saúde pelo Programa de Pós-Graduação

em Enfermagem e Saúde, com área de concentração em Saúde Pública

da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (PPGES/UESB)

Colaboradora do Projeto de pesquisa intitulado

"Condições de Saúde e Estilo de Vida de Idosos"

**Licenciado em Educação Física

pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB)

Bacharel em Educação Física

pelo Centro Universitário Leonardo da Vinci (UNIASSELVI)

Mestre e Doutorando em Ciências da Saúde pelo Programa de Pós-Graduação

em Enfermagem e Saúde, com área de concentração em Saúde Pública

da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (PPGES/UESB)

Integrante do Núcleo de Estudos em Epidemiologia

do Envelhecimento (NEPE/UESB)e do Grupo de Estudos e Pesquisa

em Fisiologia Cardiometabólica e Exercício (GEFEX/UESB)

***Graduanda em Fisioterapia

pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB)

Integrante do grupo de pesquisa Epidemiologia do Envelhecimento

****Doutorada em Ciências da Saúde com área de concentração

em Saúde Pública pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia

Mestrado em Educação Física com área de concentração em esporte e exercício

e linha de pesquisa em Esporte, Condições de Vida e Saúde

pela Universidade Federal do Triângulo Mineiro

Especialização em Fisiologia do Exercício - Prescrição do Exercício

pela iProfit - Educação Corporativa

Licenciado em Educação Física

pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia

Professora Assistente da Escola Bahiana

de Medicina e Saúde Pública (Salvador-Bahia)

*****Graduado em Fisioterapia pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia

Especializado em Saúde Pública. Mestre em Saúde Coletiva

pela Universidade Estadual de Feira de Santana

Doutorado em Saúde Pública pelo Instituto de Saúde Coletiva

da Universidade Federal da Bahia. Atualmente é professor Adjunto

da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia

******Graduado em Odontologia pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES)

Mestre em Odontologia Social pela Universidade Federal Fluminense (UFF)

Doutor em Odontologia Preventiva e Social

pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP)

Professor Titular do Curso de Odontologia

da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB)

Docente permanente do Programa de Pós-graduação

stricto sensu em Enfermagem e Saúde

Coordenador da Pós-Graduação no campus de Jequié

(Brasil)

 

Recepção: 24/04/2020 - Aceitação: 29/03/2021

1ª Revisão: 02/02/2021 - 2ª Revisão: 19/03/2021

 

Level A conformance,
            W3C WAI Web Content Accessibility Guidelines 2.0
Documento acessível. Lei N° 26.653. WCAG 2.0

 

Creative Commons

Este trabalho está sob uma licença Creative Commons

Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional (CC BY-NC-ND 4.0)

https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/deed.pt

Citação sugerida: Santana, P. dos S., Santos, L. dos, Caires, S. da S. Pinto, L.L.T., Cardoso, J.P., e Casotti, C.A. (2021). Dependência funcional e morbidades referidas em idosos em um município do nordeste brasileiro. Lecturas: Educación Física y Deportes, 26(279), 126-146. https://doi.org/10.46642/efd.v26i279.2190

 

Resumo

    O envelhecimento é acompanhado por alterações fisiológicas e surgimento de doenças crônicas que podem propiciar declínios na funcionalidade para as atividades básicas (ABVDs) e instrumentais de vida diária (AIVDs). Nesse contexto, este estudo teve como objetivo identificar a associação entre a dependência funcional nas atividades básicas e instrumentais de vida diária e morbidades referidas em idosos. Estudo epidemiológico populacional, transversal, realizado com 258 idosos de Aiquara-BA. As informações sociodemográficas, comportamentais e sobre morbidades autorreferidas foram obtidas por um instrumento próprio. O nível de atividade física foi mensurado a partir do International Physical Activity Questionnaire. A dependência funcional foi identificada pela escala de Katz e escala de Lawton e Brody. Nas análises, adotou-se o teste Qui-quadrado de Pearson e a regressão hierárquica de Poisson, com estimativa robusta e cálculos de razão de prevalência (RP) e intervalos de confiança (IC) de 95%. Observou-se prevalências de dependência nas ABVDs (12,8%) e AIVDs (31,8%). Verificou-se, também, que os idosos que já tinham apresentado infarto agudo do miocárdio (RP: 2,57; IC95%: 1,18-5,59), acidente vascular encefálico (RP: 3,15; IC95%: 1,71-5,81) e os que tinham Alzheimer (RP: 4,76; IC95%: 3,02-7,50), demonstraram maior probabilidade para dependência nas ABVDs. Além disso, os idosos com Alzheimer cursaram com 1,30 (IC95%: 1,10-3,30) vezes maior probabilidade de serem dependentes nas AIVDS. As evidencias do presente estudo demonstraram que o infarto agudo do miocárdio e o acidente vascular encefálico estiveram associados à dependência nas ABVDs. Além disso a doença de Alzheimer mostrou-se associada à dependência nas ABVDs e AIVDs.

    Unitermos: Saúde do idoso. Doenças crônicas. Atividades cotidianas.

 

Abstract

    Ageing goes together with physiological changes and the advent of chronic diseases that can lead to declines in functionality for basic activities (BADLs) and instruments of daily living (IADLs). Given what has been said, this study aimed to identify an association between functional dependence in basic and instrumental activities of daily living and mentioned morbidities and in the elderly. This is a population-based, cross-sectional epidemiological study carried out with 258 elderly people from Aiquara-BA. Sociodemographic, behavioural and self-reported morbidity information was prepared using a specific instrument. The level of physical activity was valued using the International Physical Activity Questionnaire. Functional dependence was identified using the Katz scale and the Lawton and Brody scale. Pearson's chi-square test and Poisson hierarchical regression were used in the analyses, with a robust estimate and calculations of prevalence ratio (PR) and 95% confidence intervals (CI). The prevalence of dependence in the BADLs and IADLs of 12.8 and 31.8%, respectively, was observed. It was also found that the elderly who had already had an acute myocardial infarction (PR: 2.57; 95% CI: 1.18-5.59), stroke (PR: 3.15; 95% CI: 1.71-5.81) and those with Alzheimer's (PR: 4.76; 95% CI: 3.02-7.50) demonstrated a higher probability for dependence on BADLs. Furthermore, the elderly with Alzheimer's had 1.30 (95% CI: 1.10-3.30) times greater dependent probability in IADLs. The evidence from the present study demonstrated that acute myocardial infarction and stroke were associated with dependence on BADLs. In addition, Alzheimer's disease is associated with dependence on BADLs and IADLs.

    Keywords: Health of the elderly. Chronic disease. Activities of daily living.

 

Resumen

    El envejecimiento viene acompañado de cambios fisiológicos y aparecen enfermedades crónicas que pueden conducir a una disminución de funcionalidad de las actividades básicas (ABVD) y actividades instrumentales de la vida diaria (AIVD). El objetivo fue identificar la asociación entre la dependencia funcional en actividades básicas e instrumentales de la vida diaria y morbilidades reportadas en personas mayores. Estudio epidemiológico, transversal, con 258 personas de Aiquara-BA. La información sociodemográfica, conductual y de morbilidad autoinformada se obtuvo mediante un instrumento específico. El nivel de actividad física se midió mediante el Cuestionario Internacional de Actividad Física. La dependencia funcional se identificó mediante escalas de Katz y de Lawton y Brody. En el análisis se utilizó la prueba chi-cuadrado de Pearson y la regresión jerárquica de Poisson, con estimaciones robustas y cálculos de razón de prevalencia (RP) e intervalos de confianza (IC) del 95%. Se observó prevalencia de dependencia en ABVD (12,8%)y AIVD (31,8%). También se encontró que personas que ya habían tenido infarto agudo de miocardio (RP: 2,57; IC del 95%: 1,18-5,59), ictus (RP: 3,15; IC del 95%: 1,71-5,81) y Alzheimer (RP: 4,76; IC del 95%: 3,02-7,50) tenían más probabilidades de depender de ABVDs. Además, las personas mayores con Alzheimer que puntuaron 1,30 (IC del 95%: 1,10-3,30), más probablemente dependan de AIVDs. La evidencia del presente estudio mostró que el infarto agudo de miocardio y el accidente cerebrovascular se asociaron con la dependencia de ABVDs. Además, se ha demostrado que la enfermedad de Alzheimer está asociada con dependencia a ABVD y AIVD.

    Palabras clave: Salud de la persona mayor. Enfermedades crónicas. Actividades diarias.

 

Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 26, Núm. 279, Ago. (2021)


 

Introdução 

 

    O processo de envelhecimento é caracterizado por alterações que comprometem os principais sistemas fisiológicos dos indivíduos (Liberalesso, Dallazen, Bandeira, e Berlezi, 2017), e é acompanhado por maior incidência de doenças crônicas e incapacidade funcional, do ponto de vista físico e mental. (Francisco, Marques, Borim, Torres, e Neri, 2018)

 

    A capacidade funcional pode ser descrita como a habilidade em realizar as atividades básicas de vida diária (ABVD) e instrumentais de vida diária (AIVD), de forma autônoma e independente. A primeira refere-se às atividades de autocuidado e a segunda, as de independência na comunidade. (Amorim, Silveira, Alves, Faleiros, e Vilaça, 2017)

 

    O declínio funcional está associado, dentre outros fatores, à condição geral de saúde (Amorim et al., 2017). Assim, ganha destaque as doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), frequentemente presente em idosos (Gavasso, e Beltrame, 2017), e que são tidas como a principal repercussão negativa do envelhecimento, aumentando os riscos de mortalidade e trazendo consigo o conceito de multimorbidade como um fator preocupante. (Silva et al., 2017)

 

    Apesar da presença de doenças não determinar um quadro de incapacidade, ela se apresenta como um fator de grande relevância para o seu desencadeamento. Assim, a identificação de fatores relacionados à incapacidade funcional é considerada um instrumento de grande valia para as ações destinadas aos idosos. (Gavasso, e Beltrame, 2017)

 

    Diante da vulnerabilidade gerada pelo processo do envelhecimento, e considerando que a perda da funcionalidade acarreta maior institucionalização, hospitalização e óbito (Brito, Menezes, e Olinda, 2016), o presente estudo objetivou identificar a associação entre a dependência funcional nas atividades básicas e instrumentais de vida diária com as morbidades autorreferidas por idosos.

 

Métodos 

 

    Trata-se de um estudo populacional com delineamento transversal. O mesmo foi realizado com idosos (idade ≥ 60 anos), residentes na área urbana de Aiquara, município localizado no centro-sul da Bahia. Foram incluídos no estudo os idosos de ambos os sexos, não institucionalizados que dormiam em sua residência (situado na zona urbana) por pelo menos três vezes na semana. E excluídos: os idosos que apresentaram comprometimento cognitivo, pontuação ≤13 pontos (Melo, e Barbosa, 2015), no Mini Exame do Estado Mental – MEEM (Folstein, Folstein, e Mchugh, 1975); os acamados e/ou hospitalizados; e os que não foram encontrados em seus domicílios após três visitas em dias e horário distintos no período em que ocorreu a coleta dos dados.

 

    A coleta de dados aconteceu entre os meses de janeiro e março de 2018. A mesma foi realizada por entrevistadores (alunos de graduação e pós-graduação), devidamente treinados e padronizados. Inicialmente, 314 idosos foram identificados a partir de um censo realizado por meio de visitas domiciliares em toda zona urbana do município. Todavia, ocorreram 17 recusas para participação da pesquisa e 39 idosos foram excluídos de acordo com os critérios estabelecidos. Sendo assim, a população estudada foi composta por 258 idosos. Todos os participantes foram esclarecidos sobre os objetivos e método de coleta de dados e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

 

    Os dados foram coletados no domicilio do idoso, por meio de entrevista face a face. Foi utilizado como instrumento um formulário com perguntas sociodemográficas: sexo (masculino ou feminino); grupo etário (60-69, 70-79 ou ≥80 anos) cor da pele (brancos ou não brancos [negros, pardos, indígenas ou amarelos]); escolaridade (com escolaridade ou sem escolaridade [nunca foi à escola e/ou não sabiam ler e escrever o próprio nome]); renda (≤1 salário mínimo ou >1 salário mínimo; salário mínimo em 2018: R$ 958,00), comportamentais (uso de álcool e/ou tabaco; sim ou não) e condições de saúde a partir do diagnóstico médico prévio (sim ou não) das seguintes morbidades: diabetes mellitus (DM); doença de Parkinson; doença renal crônica (DRC); câncer; infarto agudo do miocárdio (IAM); artrite reumatoide; osteoartrite; doença de Alzheimer e acidente vascular encefálico (AVE).

 

    O nível de atividade física foi mensurado por meio do International Physical Activity Questionnaire (IPAQ) (Craig et al., 2003), validado para idosos brasileiros (Benedetti, Antunes, Rodriguez-Añez, Mazo, e Petroski, 2007; Benedetti, Barros, e Mazo, 2004). Foram considerados suficientemente ativos os entrevistados que realizavam atividades físicas com intensidade moderada a vigorosa por pelo menos 150 minutos/semana. (Bull et al., 2020)

 

    Para mensurar a funcionalidade para as atividades básicas e instrumentais da vida diária utilizou-se as escalas de Katz e de Lawton e Brody. A escala de Katz, publicada pela primeira vez em 1963 (Katz, Ford, Moskowitz, Jackson, e Jaffe, 1963), avalia o desempenho do indivíduo para realizar seis atividades básicas da vida diária de autocuidado, que são: alimentação; controle de esfíncteres; transferência; higiene pessoal; capacidade de se vestir; e tomar banho. Para esta variável, os idosos que apresentaram dependência em pelo menos uma das atividades foram considerados dependentes. (Matos et al., 2018)

 

    A escala de Lawton e Brody avalia o nível de dependência do indivíduo para desempenhar atividades instrumentais da vida diária relacionadas a sua participação no contexto social. A avaliação é realizada mediante a capacidade apresentada para: utilizar o telefone; se locomover; fazer compras; preparar refeição; arrumar a casa; lavar roupa; realizar a auto administração de medicamentos; e cuidar das finanças. Em cada quesito da escala de Lawton e Brody, a pontuação pode assumir os valores 1, 2 e 3, indicando a independência, dependência parcial e dependência total, respectivamente. (Lawton, e Brody, 1969)

 

    No presente estudo, os idosos que apresentaram pontuação ≥ percentil 75 (12 pontos) do somatório da escala, foram considerados dependentes. (Santos, e Vitorioso Junior, 2008)

 

    No software Statistical Package for Social Sciences (SPSS® 21.0, 2013, Inc, Chicago, IL)foram calculadas as frequências absolutas e relativas. Para análises inferenciais, inicialmente, foi realizado averiguações bivariadas a partir do teste Qui-quadrado de Pearson, para identificação das variáveis relacionadas aos desfechos. As que apresentaram nível de significância de pelo menos 20,0% foram selecionadas à inclusão em um modelo multivariado da regressão de Poisson, com estimativa robusta, e cálculos de razão de prevalência e seus respectivos intervalos de confiança de 95%.

 

    A entrada no modelo multivariado foi feita de forma hierárquica, onde os aspectos sociodemográficos (Nível 1) foram inicialmente inseridos, seguidos dos comportamentais (Nível 2). Assim, a partir de ajustes intra e interníveis, ficaram no modelo apenas as variáveis que permaneceram com valor de p≤0,20 (ABVDs: nível de atividade física e uso de álcool; AIVDs: sexo, grupo etário, escolaridade e nível de atividade física), as quais foram usadas para ajustar as associações entre os desfechos estudados as morbidades autorreferidas (Nível 3), com nível de significância de 5,0%.

 

    O presente estudo é parte do projeto de pesquisa “Condições de saúde e estilo de vida de idosos residentes em municípios de pequeno porte: Coorte Aiquara” conduzido de acordo com a Declaração de Helsinki da Associação Médica Mundial, estando em conformidade com a determinação da Resolução nº 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde Brasileiro. Portanto, foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (parecer nº 1.575.825/2016; CAAE 56017816.2.0000.0055).

 

Resultados 

 

    Participaram do estudo 258 idosos (59,3% mulheres). A média de idade das mulheres e dos homens foi 72,4 ± 8,3 e 72,9 ± 8,3 anos, respectivamente. Ademais, foi observado que 52,1% dos idosos não apresentavam escolaridade, 50,4% não possuíam companheiro(a), 31,8% eram insuficientemente ativos e 43,6% demonstraram sobrepeso/obesidade. Demais características da população podem ser vistas na Tabela 1.

 

Tabela 1. Análise descritiva das características sociodemográficas, comportamentais 

e estado nutricional dos idosos avaliados. Aiquara-BA, Brasil, 2018

Variável

% de resposta

n

%

Sexo

100,0

 

 

Masculino

 

105

40,7

Feminino

 

153

59,3

Grupo etário

100,0

 

 

60-69 anos

 

106

41,1

70-79 anos

 

94

36,4

≥80 anos

 

58

22,5

Cor da pele

100,0

 

 

Brancos

 

223

86,4

Não brancos

 

35

13,6

Escolaridade

99,6

 

 

Sim

 

123

47,9

Não

 

134

52,1

Arranjo familiar

100,0

 

 

Acompanhado(a)

 

205

79,5

Sozinho(a)

 

53

20,5

Situação conjugal

100,0

 

 

Com companheiro

 

128

49,6

Sem companheiro

 

130

50,4

Renda

91,9

 

 

≤1 salário mínimo

 

70

29,5

>1 salário mínimo

 

167

70,5

Nível de atividade física

100,0

 

 

Suficientemente ativo

 

176

68,2

Insuficientemente ativo

 

82

31,8

Uso de álcool

100,0

 

 

Não

 

206

79,8

Sim

 

52

20,2

Uso de tabaco

100,0

 

 

Não

 

243

94,2

Sim

 

15

5,8

Estado nutricional

100,0

 

 

Baixo peso

 

26

13,3

Eutrofia

 

84

43,1

Sobrepeso/obesidade

 

85

43,6

n: número de participantes; %: percentual.

Fonte: Dados da pesquisa.

 

    No que se refere as morbidades autorreferidas, foi observado que 64,7% dos idosos eram hipertensos, 24,8% apresentavam diabetes mellitus, 34,9% osteoartrite e 21,3% artrite reumatoide. Além disso, verificou-se prevalências de 12,8% e 31,8% de dependência nas atividades básicas e instrumentais de vida diária, respectivamente (Tabela 2).

 

Tabela 2. Análise descritiva das morbidades autorreferidas e 

capacidade funcional nos idosos avaliados. Aiquara-BA, Brasil. 2018

Variável

% de resposta

N

%

Hipertensão arterial

100,0

 

 

Não

 

91

35,3

Sim

 

167

64,7

Diabetes mellitus

100,0

 

 

Não

 

194

75,2

Sim

 

94

24,8

Doença de Parkinson

100,0

 

 

Não

 

254

98,4

Sim

 

04

1,6

Doença renal crônica

100,0

 

 

Não

 

250

96,9

Sim

 

08

3,1

Câncer

100,0

 

 

Não

 

251

97,3

Sim

 

07

2,7

Infarto agudo do miocárdio

100,0

 

 

Não

 

251

97,3

Sim

 

07

2,7

Osteoartrite

100,0

 

 

Não

 

198

65,1

Sim

 

90

34,9

Atrite reumatoide

100,0

 

 

Não

 

203

78,7

Sim

 

55

21,3

Acidente vascular encefálico

100,0

 

 

Não

 

248

96,1

Sim

 

10

3,9

Doença de Alzheimer

100,0

 

 

Não

 

256

99,2

Sim

 

02

0,8

Atividade básicas de vida diária

100,0

 

 

Independente

 

225

87,2

Dependente

 

33

12,8

Atividades instrumentais de vida diária

100,0

 

 

Independente

 

176

68,2

Dependente

 

82

31,8

n: número de participantes; %: percentual.

Fonte: Dados da pesquisa.

 

    Quando analisado a prevalência de dependência nas atividades básicas de vida diária, de acordo com os aspectos sociodemográficos, comportamentais e estado nutricional, verificou-se que o desfecho foi mais frequente nos idosos insuficientemente ativos (20,7%) e nos que não faziam uso de bebida alcoólica (15,0%) (p<0,05).

 

Tabela 3. Prevalência de dependência nas atividades básicas de vida diária de acordo com os 

aspectos sociodemográficos, comportamentais e estado nutricional. Aiquara-BA, Brasil, 2018

 

 

Variável

ABVD

 

p-valor

Independente

Dependente

n

%

n

%

Sexo

 

 

 

 

1,694

0,193

Masculino

95

90,5

10

9,5

 

 

Feminino

130

85,0

23

15,0

 

 

Grupo etário

 

 

 

 

3,160

0,206

60-69 anos

97

91,5

09

8,5

 

 

70-79 anos

80

85,1

14

14,9

 

 

≥80 anos

48

82,8

10

17,2

 

 

Cor da pele

 

 

 

 

1,818

0,178

Brancos

33

94,3

02

33,0

 

 

Não brancos

192

86,1

31

13,9

 

 

Escolaridade

 

 

 

 

0,482

0,488

Sim

115

85,8

19

14,2

 

 

Não

110

88,7

14

11,3

 

 

Arranjo familiar

 

 

 

 

1,644

0,200

Acompanhado(a)

176

85,9

29

14,1

 

 

Sozinho(a)

49

92,5

04

7,5

 

 

Situação conjugal

 

 

 

 

0,368

0,544

Com companheiro

110

85,9

18

14,1

 

 

Sem companheiro

115

88,5

15

11,5

 

 

Renda

 

 

 

 

0,447

0,504

≤1 salário mínimo

177

85,9

29

14,1

 

 

>1 salário mínimo

28

90,3

03

9,7

 

 

Nível de atividade física

 

 

 

 

6,795

0,009

Suficientemente ativo

160

90,9

16

9,1

 

 

Insuficientemente ativo

65

79,3

17

20,7

 

 

Uso de álcool

 

 

 

 

4,671

0,031

Não

175

85,0

31

15,0

 

 

Sim

50

96,2

02

3,8

 

 

Uso de tabaco

 

 

 

 

0,004

0,948

Não

212

87,2

31

12,8

 

 

Sim

13

86,7

02

13,3

 

 

Estado nutricional

 

 

 

 

0,552

0,759

Baixo peso

33

88,5

03

11,5

 

 

Eutrofia

72

85,7

12

14,3

 

 

Sobrepeso/obesidade

76

89,4

09

10,6

 

 

ABVD: atividade básica de vida diária; n: número de participantes; %: percentual.

Fonte: Dados da pesquisa.

 

    A Tabela 4 mostra as análises multivariadas das associações entre a dependência nas atividades básicas de vida diária e as morbidades autorreferidas. Observou-se que os idosos que já tinham apresentado infarto agudo do miocárdio (RP: 2,57; IC95%: 1,18-5,59), acidente vascular encefálico (RP: 3,15; IC95%: 1,71-5,81) e os que tinham a doença de Alzheimer (RP: 4,76; IC95%: 3,02-7,50) estiveram positivamente associados ao desfecho.

 

Tabela 4. Análise multivariada da associação entre a dependência nas atividades básicas de 

vida diária e as morbidades autorreferidas pelos idosos avaliados. Aiquara-BA, Brasil, 2018

Variáveis+

Prevalência (%)

RP ajustada

IC 95%

p-valor*

Hipertensão arterial

 

 

 

0,424

Não

9,9

1

 

 

Sim

14,4

1,33

0,65-2,73

 

Diabetes mellitus

 

 

 

0,926

Não

12,4

1

 

 

Sim

14,1

1,03

0,51-2,10

 

Doença de Parkinson

 

 

 

-

Não

13,0

1

 

 

Sim

-

-

-

 

Doença renal crônica

 

 

 

0,474

Não

12,4

1

 

 

Sim

25,0

1,50

0,49-4,60

 

Câncer

 

 

 

 

Não

13,1

1

 

-

Sim

-

-

 

 

IAM

 

 

 

0,017

Não

12,0

1

 

 

Sim

42,9

2,57

1,18-5,59

 

Osteoartrite

 

 

 

0,926

Não

13,1

1

 

 

Sim

12,2

1,03

0,52-2,01

 

Atrite reumatoide

 

 

 

0,943

Não

12,8

1

 

 

Sim

12,7

0,97

0,45-2,06

 

AVE

 

 

 

<0,001

Não

11,3

1

 

 

Sim

50,0

3,15

1,71-5,81

 

Doença de Alzheimer

 

 

 

<0,001

Não

12,2

1

 

 

Sim

100,0

4,76

3,02-7,50

 

IAM: infarto agudo do miocárdio; AVE: acidente vascular encefálico; RP: razão de prevalência; 

IC: intervalo de confiança; *teste de Wald. +ajustado pelo nível de atividade física e uso de bebida alcoólica.

Fonte: Dados da pesquisa.

 

    Por outro lado, as análises bivariadas entre as atividades instrumentais de vida diária e as variáveis independentes mostraram que a dependência foi maior entre os idosos longevos (56,9%), entre os sem escolaridade (41,8%), nos idosos que não possuíam companheiro(a) (37,7%), dentre os insuficientemente ativos (59,8%) e no grupo com baixo peso (50,0%) (p<0,05) (Tabela 5).

 

Tabela 5. Prevalência de dependência nas atividades instrumentais de vida diária de acordo com 

os aspectos sociodemográficos, comportamentais e estado nutricional. Aiquara-BA, Brasil, 2018

 

 

Variável

AIVD

 

p-valor

Independente

Dependente

n

%

n

%

Sexo

 

 

 

 

2,138

0,114

Masculino

77

73,3

28

26,7

 

 

Feminino

99

64,7

54

35,3

 

 

Grupo etário

 

 

 

 

23,224

<0,001

60-69 anos

84

79,2

22

20,8

 

 

70-79 anos

67

71,3

27

28,7

 

 

≥80 anos

25

43,1

33

56,9

 

 

Cor da pele

 

 

 

 

0,002

0,961

Brancos

24

68,6

11

31,4

 

 

Não brancos

152

68,2

71

31,8

 

 

Escolaridade

 

 

 

 

12,880

<0,001

Sim

98

79,0

26

21,0

 

 

Não

78

58,2

56

41,8

 

 

Arranjo familiar

 

 

 

 

0,003

0,959

Acompanhado (a)

140

68,3

65

31,7

 

 

Sozinho (a)

36

67,9

17

32,1

 

 

Situação conjugal

 

 

 

 

4,220

0,040

Com companheiro

95

74,2

33

25,8

 

 

Sem companheiro

81

62,3

49

37,7

 

 

Renda

 

 

 

 

0,297

0,586

≤1 salário mínimo

136

66,0

70

34,0

 

 

>1 salário mínimo

22

71,0

09

29,0

 

 

Atividade física

 

 

 

 

43,383

<0,001

Suficientemente ativo

143

81,3

33

18,8

 

 

Insuficientemente ativo

33

40,2

49

59,8

 

 

Uso de álcool

 

 

 

 

1,382

0,240

Não

39

75,0

13

25,0

 

 

Sim

137

66,5

69

33,5

 

 

Uso de tabaco

 

 

 

 

1,020

0,313

Não

164

67,5

79

32,5

 

 

Sim

12

80,0

03

20,0

 

 

Estado nutricional

 

 

 

 

6,645

0,036

Baixo peso

13

50,0

13

50,0

 

 

Eutrofia

58

69,0

26

31,0

 

 

Sobrepeso/obesidade

65

76,5

20

23,5

 

 

AIVD: atividade instrumental de vida diária; n: número de participantes; %: percentual.

Fonte: Dados da pesquisa.

 

    Além disso, conforme demonstrado na Tabela 6, os idosos que apresentaram doença de Alzheimer cursaram com 1,30 vezes maior probabilidade de serem dependentes nas atividades instrumentais de vida diária (IC 95%: 1,10-3,30).

 

Tabela 6. Análise multivariada da associação entre a dependência nas atividades instrumentais 

de vida diária e as morbidades autorreferidas pelos idosos avaliados. Aiquara-BA, Brasil, 2018

Variáveis+

Prevalência (%)

RP ajustada

IC 95%

p-valor*

Hipertensão arterial

 

 

 

0,529

Não

27,5

1

 

 

Sim

34,1

1,13

0,77-1,66

 

Diabetes mellitus

 

 

 

 

Não

29,4

1

 

0,127

Sim

39,1

1,28

0,93-1,78

 

Doença de Parkinson

 

 

 

 

Não

31,9

1

 

0,271

Sim

25,0

0,63

0,27-1,43

 

Doença renal crônica

 

 

 

 

Não

32,0

1

 

0,454

Sim

25,0

0,71

0,29-1,73

 

Câncer

 

 

 

 

Não

31,9

1

 

0,973

Sim

28,6

1,02

0,31-3,34

 

IAM

 

 

 

 

Não

31,0

1

 

0,063

Sim

57,1

1,40

0,98-2,00

 

Osteoartrite

 

 

 

 

Não

32,7

1

 

 

Sim

30,0

0,97

0,67-1,41

 

Atrite reumatoide

 

 

 

0,363

Não

31,0

1

 

 

Sim

34,5

1,19

0,81-1,75

 

AVE

 

 

 

0,165

Não

30,6

1

 

 

Sim

60,0

1,30

0,89-1,88

 

Doença de Alzheimer

 

 

 

0,021

Não

31,3

1

 

 

Sim

100,0

1,10

1,10-3,30

 

IAM: infarto agudo do miocárdio; AVE: acidente vascular encefálico; RP: razão de prevalência; IC: intervalo 

de confiança; *teste de Wald; +ajustado por sexo, grupo etário, escolaridade e nível de atividade física.

Fonte: Dados da pesquisa.

 

Discussão 

 

    Na população estudada, as morbidades autorreferidas associadas à dependência dos idosos nas atividades básicas de vida diária foram: infarto agudo do miocárdio, acidente vascular encefálico e doença de Alzheimer. Enquanto as atividades instrumentais de vida diária apresentaram associação com a doença de Alzheimer.

 

    O fato do infarto agudo do miocárdio está associado com a dependência nas atividades básicas de vida diária pode ser justificado, entre outros fatores, pelo repouso prolongado e deletério ao qual o indivíduo acometido por IAM é submetido. Além disso, a angina e a disfunção ventricular esquerda podem ser uma possível causa de limitação da funcionalidade. (Piegas et al., 2015)

 

    O comprometimento funcional após o infarto agudo do miocárdio é evidenciado ainda a partir de programas de reabilitação realizados com esses indivíduos. De acordo com a Diretriz de Reabilitação Cardíaca (2005), há cerca de 50 anos, quando o termo reabilitação cardíaca foi definido pela Organização Mundial de Saúde, as vítimas do infarto agudo do miocárdio apresentavam um grande comprometido de sua funcionalidade, causado na maioria das vezes por longos períodos de restrição ao leito.

 

    Assim, na alta hospitalar, esses indivíduos encontravam-se debilitados, sem condições de retomar suas atividades no âmbito familiar, social e profissional. Após implantação de programas de reabilitação cardíaca, que tinham por objetivo capacitar os indivíduos para realização de suas atividades diária, passou a ser observada alta hospitalar precoce, sem declínio da capacidade funcional. (Diretriz de Reabilitação Cardíaca, 2005)

 

    A relação entre dependência funcional e doenças do aparelho cardiovascular também pode ser observada a partir dos resultados apresentados por Pinto Junior et al. (2016), em estudo conduzido com idosos no município de Jequié-BA. Corroborando com os achados do presente estudo, os autores identificaram que a presença de doenças do aparelho cardiovascular se comportava como fator de risco para o desenvolvimento de dependência funcional (RP: 1,46; IC 95%: 1,07-1,99; p=0,015) na amostra de 191 idosos. (Pinto Junior et al., 2016)

 

    Em relação ao AVE, destaca-se que, no contexto atual, tem sido observado altos níveis de dependência funcional em idosos após acometimento da doença. Percentual de 66,0% de incapacidade funcional foi encontrado nesse público em Vitória-ES, após episódio de acidente vascular encefálico (Carmo, Oliveira, e Morelato, 2016). Além desses, foi evidenciado em Campina Grande–PB, um maior predomino de dependência na maioria das ABVDs, dentre as quais ganham destaque: se arrumar, 64,4%; se alimentar, 61,9%; tomar banho, 61%; e se vestir, 51,7%. (Dutra, Coura, França, Enders, e Rocha, 2017)

 

    Resultados semelhantes foram encontrados no município de Montes Claros-MG, em um estudo conduzido com 360 idosos de ambos os sexos. Na análise bivariada, os autores identificaram maior prevalência (52,6%) de incapacidade funcional para as ABVD entre os idosos que autorreferiram o acidente vascular encefálico (p<0,001), quando comparado aos idosos que não referiram a doença (17,7%). Tal associação foi mantida na análise múltipla (RP ajustada: 1,20; IC 95%: 1,08-1,32; p=0,000). (Aguiar, Silva, Vieira, Costa, e Carneiro, 2019)

 

    Além desse, um estudo de base populacional, conduzido com 1.593 idosos de Bagé-RS, também revelou associação da dependência nas ABVD com o diagnóstico do acidente vascular encefálico (RP: 2,72; IC95%: 1,91-3,87; p<0,001). Além das ABVD, os autores identificaram ainda associação da doença com a dependência funcional nas atividades instrumentais de vida diária (RP: 1,42; IC95%: 1,19-1,69; p<0,001). (Nunes et al., 2017)

 

    Embora o acidente vascular encefálico seja caracterizado por ser uma doença incapacitante, o fato de o mesmo ter apresentando associação somente com a atividade básica de vida diária, pode estar relacionado com a região do encéfalo que foi acometida pela doença, com o nível da lesão e com a capacidade de recuperação do idoso, visto que são os diferentes graus de incapacidades que vão determinar os níveis de dependência. (Faria, Martins, Schoeller, e Matos, 2017)

 

    E no que tange a doença de Alzheimer, observa-se que na população de Aiquara-BA, tal morbidade mostrou-se associada tanto à dependência nas ABVD, como nas AIVD. É evidenciado, na literatura, que a mesmas e caracteriza pela perda progressiva da cognição, o que leva o indivíduo a perda de sua funcionalidade e autonomia, resultando em quadros de dependência. Além disso, outro fator relacionado é a perda de memória, provocado pela doença, o que limita a realização das atividades de vida diária. (Santos, e Borges, 2015)

 

    Nesse contexto, Pedroso et al. (2018), em estudo realizado com idosos cadastrados em programas de saúde da Universidade Estadual Paulista, campus Rio Claro, identificaram comprometimento funcional e diminuição das atividades de vida diária em idosos com doenças de Alzheimer(p<0,01). O grupo acometido pela doença apresentou pontuação final na avaliação funcional inferior (Md: 62,5; IIQ: 55,0-72,0) aos idosos sem a doença (Md: 85,5; IIQ: 73,0-97,0).

 

    Ademais, outro estudo realizado com adultos e idosos do município do Guarapuava-PR, encontrou diferença significativa ao comparar os níveis de funcionalidade nas ABVD (p<0,001) e AIVD (p<0,001) com as fases da doença de Alzheimer. Os autores evidenciaram, por exemplo,que a prevalência da dependência total nas ABVD foi maior (29,3%) entre os idosos que estavam na terceira fase na doença, quando comparados aos que estavam na fase 1 (0%) e fase 2 (12,2%). O mesmo aconteceu para as AIVD, onde a dependência total assumiu a mesma prevalência entre os idosos que se encontravam na fase mais avançada (29,3%), em relação aos da fase inicial (2,0%) e fase 2 (5,2%) da doença de Alzheimer. (Haskel et al., 2017)

 

    Assim, destaca-se que quanto maior o comprometimento cognitivo, decorrente de uma patologia como é evidenciado na doença de Alzheimer, maiores serão os déficits de memória, o que por sua vez, refletirá na realização de atividades mais especificas, as atividades instrumentais de vida diária. (Lini, Lima, Cardoso, Portella, e Doring, 2020)

 

    Achados internacionais também evidenciam a relação entre a dependência funcional e a doença de Alzheimer em um estudo conduzido com 115 participantes, cadastrados em uma clínica neurológica da Universidade Católica da Coreia, Hospital Daejeon St. Mary, com idade média de 68,82 anos. Neste estudo, os indivíduos com doença de Alzheimer apresentaram maiores pontuação (0,49 ± 0,26) nas atividades instrumentais de vida diária (p<0,001), em relação aos outros dois grupos do estudo (grupo com deficiência cognitiva subjetiva: 0,18 ± 0,13; e grupo com comprometimento cognitivo leve 0,22 ± 0.14), o que no estudo representou um pior desempenho nas AIVD. (Ryu, Lee, Kim, e Lee, 2016)

 

    De modo geral, pode-se afirmar que ao analisar a associação das morbidades com às ABVD e as AIVD, devem ser levados em consideração tanto os distintos fatores relacionados a cada morbidade (como início, progressão e complicações), bem como as características e as condições apresentadas pelos idosos, visto que o processo de envelhecimento não ocorre da forma igual para todos.

 

    Como limitação do presente estudo destaca-se a utilização de morbidades autorreferidas. Pode ter ocorrido subnotificações de morbidades nessa população, devido à falta de busca pelo serviço de saúde. Além disso, o viés de memória pode ter influenciado no autorreferimento das doenças. Contudo, salientamos o uso do MEEM com ponto de corte recomendado para o nível socioeconômico e educacional dos idosos (Melo, e Barbosa, 2015), com o objetivo de diminuir o impacto de déficit cognitivo e consequentemente, excluir do estudo os idosos que pudessem apresentar uma perda considerada da memória.

 

    Como ponto forte do estudo, ganha evidência a sua perspectiva censitária, a qual possibilitou a avaliação de um contingente representativo da população de um município de pequeno porte do nordeste brasileiro, que apresenta baixos indicadores sociodemográficos. Nesse contexto acredita-se que esses resultados possam subsidiar ações da vigilância à saúde, no âmbito da atenção primária, possibilitando o rastreamento de idosos com maior probabilidade de dependência, a partir das morbidades autorreferidas.

 

Conclusão 

 

    Na população avaliada, a doença de Alzheimer esteve associada à dependência nas atividades básicas e instrumentais de vida diária. Enquanto o IAM e o AVE mostrou associação somente com as atividades básicas. Tal conhecimento é de grande valia no âmbito da saúde pública por permitir o planejamento de ações voltadas a esse público, visando reduzir os impactos promovidos pelo comprometimento funcional da população idosa.

 

    Assim, compete aos profissionais de saúde identificar idosos com essas morbidades, e incluir no seu plano de tratamento ações promocionais, preventivas, curativas e reabilitadoras, que visem reduzir a dependência funcional, e assim melhorar a qualidade de vida dos idosos com esses agravos.

 

Referências 

 

Aguiar, B.M., Silva, P.O., Vieira, M.A., Costa, F.M., e Carneiro, J.A. (2019). Avaliação da incapacidade funcional e fatores associados em idosos. Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia, 22(2), e180163. https://doi.org/10.1590/1981-22562019022.180163

 

Amorim, D.N.P., Silveira, C.M.L., Alves, V.P., Faleiros, V.P., e Vilaça, K.H.C. (2017). Associação da religiosidade com a capacidade funcional em idosos: uma revisão sistemática. Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia, 20(5), 722-730. https://dx.doi.org/10.1590/1981-22562017020.170088

 

Benedetti, T.R.B., Antunes, P.C., Rodriguez-Añez, C.R., Mazo, G.Z., e Petroski, É.L. (2007). Reprodutibilidade e validade do Questionário Internacional de Atividade Física (IPAQ) em homens idosos. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, 13(1), 11-16. https://dx.doi.org/10.1590/S1517-86922007000100004

 

Benedetti, T.B., Mazo, G.Z., e Barros, M.V.G. (2004). Aplicação do Questionário Internacional de Atividades Físicas para avaliação do nível de atividades físicas de mulheres idosas: validade concorrente e reprodutibilidade teste-reteste. R. bras. Ci. e Mov., 12(1), 25-34. http://portalrevistas.ucb.br/index.php/RBCM/article/viewFile/538/562

 

Brito, K.Q.D., Menezes, T.N., e Olinda, R.A. (2016). Incapacidade funcional: condições de saúde e prática de atividade física em idosos. Revista Brasileira de Enfermagem, 69(5), 825-832. https://dx.doi.org/10.1590/0034-7167.2016690502

 

Bull, FC, Al-Ansari SS, Biddle, S., Borodulin, K., Buman, MP, Cardon, C., Carty, C., Chaput, J., Chastin, S., Chou, R., Dempsey, P., DiPietro, L., Ekelund, U., Firth, J., Friedenreich, CM, Garcia, L., Gichu, M., Jao, R., Katzmarzyk, PT, Lambert, E., Leitzmann, M., Milton, K., Ortega, FB, Ranasinghe, C., Stamatakis, E., Tiedemann, A., Troiano, R., Ploeg, HP, Wari, V., e Willumsen, JF (2020). Diretrizes da Organização Mundial da Saúde 2020 sobre atividade física e comportamento sedentário. British Journal of Sports Medicine, 54, 1451-1462. https://bjsm.bmj.com/content/54/24/1451

 

Carmo, J.F., Oliveira, E.R.A., e Morelato, R.L. (2016). Incapacidade funcional e fatores associados em idosos após o Acidente Vascular Cerebral em Vitória - ES, Brasil. Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia, 19(5), 809-818. https://www.redalyc.org/articulo.oa?id=403848026009

 

Craig, CL, Marshall, AL, Sjöström, M., Bauman, AE, Booth, ML, Ainsworth, BE, Pratt, M., Ekelund, U., Yngve, A., Sallis, JF, e Oja, P. (2003). International physical activity questionnaire: 12-country reliability and validity. Medicine, e science in sports, e exercise, 35(8), 1381-1395. https://doi.org/10.1249/01.MSS.0000078924.61453.FB

 

Diretriz de Reabilitação Cardíaca (2005). Arquivos Brasileiros de Cardiologia, 84(5), 431-440. https://www.scielo.br/pdf/abc/v84n5/a15v84n5.pdf

 

Dutra, M.O.M., Coura, A.S., França, I.S.X., Enders, B.C., e Rocha, M.A. (2017). Fatores sociodemográficos e capacidade funcional de idosos acometidos por acidente vascular encefálico. Revista Brasileira de Epidemiologia, 20(1), 124-135. https://dx.doi.org/10.1590/1980-5497201700010011

 

Faria, A.C.A., Martins, M.M.F.P.S., Schoeller, S.D., e Matos, L.O. (2017). Percurso da pessoa com acidente vascular encefálico: do evento à reabilitação. Revista Brasileira de Enfermagem, 70(3), 495-503. https://dx.doi.org/10.1590/0034-7167-2016-0579

 

Folstein, M.F., Folstein, S.E., e Mchugh, P.R. (1975). “Mini-Mental State”: a practical method for grading the cognitive state of patients for the clinician. Journal of Psychiatric Research, 12(3), 189-198. https://doi.org/10.1016/0022-3956(75)90026-6

 

Francisco, P.M.S.B., Marques, P.P., Borim, F.S.A., Torres, S.F., e Neri, A.L. (2018). Disability relating to instrumental activities of daily living in the elderly with rheumatic diseases. Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia, 21(5), 570-578. https://dx.doi.org/10.1590/1981-22562018021.180089

 

Gavasso, W.C., e Beltrame, V. (2017). Capacidade funcional e morbidades relatadas: uma análise comparativa em idosos. Rev. bras. Geriatr. Gerontol, 20(3), 398-408. https://dx.doi.org/10.1590/1981-22562017020.160080.

 

Haskel, MVL, Bonini, JS, Santos, SC, Silva, WCFN, Bueno, CFO, Bortolanza, MCZ, e Daniel, CR (2017). Funcionalidade da doença de Alzheimer leve, moderada e grave: um estudo transversal. Acta Fisiatr, 24(2), 82-85. https://doi.org/10.5935/0104-7795.20170016

 

Katz, S., Ford A.B., Moskowitz, R.W., Jackson, B.A., e Jaffe, M.W. (1963). Studies of illness in the aged. The index of ADL: a standardized measure of biological and psychosocial function. JAMA, 185(12), 914-9. https://doi.org/10.1001/jama.1963.03060120024016

 

Lawton, M.P., e Brody, E.M. (1969). Assessment of older people: self-maintaining and instrumental activities of daily living. Gerontologist, 9(3), 179-86. https://doi.org/10.1093/geront/9.3_Part_1.179

 

Liberalesso, T.E.M., Dallazen, F., Bandeira, V.A.C., e Berlezi, E.M. (2017). Prevalência de fragilidade em uma população de longevos na região Sul do Brasil. Saúde em Debate, 41(113), 553-562. https://dx.doi.org/10.1590/0103-1104201711316

 

Lini, E.V., Lima, A.P. Cardoso, F.B., Portella, M.R., e Doring, M. (2020). Fatores associados às atividades instrumentais de dependência da vida diária em idosos: um estudo caso-controle. Ciência, e Saúde Coletiva, 25(11), 4623-4630. https://dx.doi.org/10.1590/1413-812320202511.03432019

 

Matos, F.S., Jesus, C.S., Carneiro, J.A.O., Coqueiro, R.S., Fernandes, M.H., e Brito, T.A. (2018). Redução da capacidade funcional de idosos residentes em comunidade: estudo longitudinal. Ciência, e Saúde Coletiva, 23(10), 3393-3401. https://dx.doi.org/10.1590/1413-812320182310.23382016

 

Melo, D.M., e Barbosa, A.J.G. (2015). O uso do Mini-Exame do Estado Mental em pesquisas com idosos no Brasil: uma revisão sistemática. Ciência, e Saúde Coletiva, 20(12), 3865-3876. https://doi.org/10.1590/1413-812320152012.06032015

 

Nunes, JD, Saes, MO, Nunes, BP, Siqueira, FCV, Soares, DC, Fassa, MEG, Thumé, E., e Facchini, LA (2017). Indicadores de incapacidade funcional e fatores associados em idosos: estudo de base populacional em Bagé, Rio Grande do Sul. Epidemiologia e Serviços de Saúde, 26(2), 295-304. https://dx.doi.org/10.5123/s1679-49742017000200007

 

Pedroso, R.V., Corazza, D.I., Andreatto, C.A.A., Silva, T.M.V., Costa, J.L.R., e Santos-Galduróz, R.F. (2018). Comprometimento cognitivo, funcional e da atividade física em idosos com doença de Alzheimer. Dementia, e Neuropsychologia, 12(1), 28-34. https://doi.org/10.1590/1980-57642018dn12-010004

 

Piegas, LS, Timerman, A., Feitosa, GS, Nicolau, JC, Mattos, LAP, Andrade, MD, Avezum, A., Feldman, A., De Carvalho, ACC, Sousa, ACS, Mansur, AP, Bozza, AEZ, Falcão, BAA, Markman Filho, B., Polanczyk, CA, Gun, C., Serrano Junior, CV, Oliveira, CC, Moreira, D., Précoma, DB, Magnoni, D., Albuquerque, DC, Romano, ER, Stefanini, E., Santos, ES, God, EMG, Ribeiro, EE, Brito Júnior, FS, Feitosa-Filho, GS, Arruda, GDS, Oliveira, GBF, Oliveira, GBF, Lima, GG, Dohmann, HFR, Liguori, IM, Costa, JR, Saraiva, JFK, Maia, LN, Moreira, LFP, Arrais, M., Canesin, MF, Coutinho, MSSA, Moretti, MA, Ghorayeb, N., Vieira, NW, Dutra, OP, Coelho, OR, Leães, PE, Rossi, PRF, Andrade, PB, Lemos, PA, Pavanello, R., Vivacqua Costa, RC, Bassan, R., Esporcatte, R., Miranda, R., Giraldez, RRCV, Ramos, RF, Martins, SK, Esteves, VBC, e Mathias Junior, W. (2015). V Diretriz da Sociedade Brasileira de Cardiologia sobre Tratamento do Infarto Agudo do Miocárdio com Supradesnível do Segmento ST. Arq. Bras. Cardiol., 105(2), supl. 1, 121p. https://doi.org/10.5935/abc.20150107

 

Pinto Junior, E.P., Silva, I.T., Vilela, A.B.A., Casotti, C.A., Pinto, F.J.M., e Silva, M.G.C. (2016). Dependência funcional e fatores associados em idosos corresidentes. Cadernos Saúde Coletiva, 24(4), 404-412. https://doi.org/10.1590/1414-462x201600040229

 

Ryu, S.Y., Lee, S.B., Kim, T.W., e Lee, T.J. (2016). Memory complaints in subjective cognitive impairment, amnestic mild cognitive impairment and mild Alzheimer's disease. Acta Neurol Belg, 116(4), 535-541. https://doi.org/10.1007/s13760-016-0604-7

 

Santos, M.D., e Borges, S.M. (2015). Percepção da funcionalidade nas fases leve e moderada da doença de Alzheimer: visão do paciente e seu cuidador. Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia, 18(2), 339-349. https://doi.org/10.1590/1809-9823.2015.14154

 

Santos, R.L., e Virtuoso Júnior, J.S. (2008). Confiabilidade da versão brasileira da escala de atividades instrumentais da vida diária. Revista Brasileira em Promoção da Saúde,21(4), 290-296. https://periodicos.unifor.br/RBPS/article/viewFile/575/2239

 

Silva, A.R., Sgnaolin, V., Nogueira, E.L., Loureiro, F., Engroff, P., e Gomes, I. (2017). Doenças crônicas não transmissíveis e fatores sociodemográficos associados a sintomas de depressão em idosos. Jornal Brasileiro de Psiquiatria, 66(1), 45-51. https://doi.org/10.1590/0047-2085000000149


Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 26, Núm. 279, Ago. (2021)