ISSN 1514-3465
Diabetes gestacional e os efeitos do exercício físico em sua prevenção
Gestational Diabetes and the Effects of Physical Exercise in its Prevention
Diabetes gestacional y efectos del ejercicio físico en su prevención
Amanda Ferreira dos Santos*
amanda.santos@csc.ufsb.edu.br
Grasiely Faccin Borges**
grasiely.borges@gmail.com
*Bacharela Interdisciplinar em Saúde e acadêmica de Medicina
da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB)
Bolsista do Laboratório Morfofuncional (Labmorfo/UFSB)
**Doutorado em Ciências do Desporto pela Faculdade de Ciências
do Desporto e Educação Física (FCDEF-UC)
pela Universidade de Coimbra-Portugal
Professora adjunta nível IV no Instituto de Humanidades,
Artes e Ciências Jorge Amado, Universidade Federal do Sul da Bahia
Atua nos Programas de Pós-Graduação de Mestrado
em Educação Física UESB/UESC
e Mestrado em Saúde, Ambiente e Biodiversidade (UFSB)
(Brasil)
Recepção: 24/04/2020 - Aceitação: 13/04/2021
1ª Revisão: 24/02/2021 - 2ª Revisão: 04/03/2021
Documento acessível. Lei N° 26.653. WCAG 2.0
Este trabalho está sob uma licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional (CC BY-NC-ND 4.0) https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/deed.pt |
Citação sugerida
: Santos, A.F. dos, e Borges, G.F. (2021). Diabetes gestacional e os efeitos do exercício físico em sua prevenção. Lecturas: Educación Física y Deportes, 26(278), 186-199. https://doi.org/10.46642/efd.v26i278.2187
Resumo
O diabetes mellitus gestacional (DMG) é uma das complicações mais frequentes da gravidez e o exercício físico é uma proposta para prevenção. O objetivo desta revisão sistemática consiste em sintetizar os estudos randomizados controlados de programas de exercícios físicos, durante a gravidez para e apresentar seus efeitos acerca da prevenção da DMG e seus benefícios. Esta revisão teve como fonte de pesquisa os bancos de dados bibliográficos da Cochrane Library Plus, Wholis, Scielo, PubMed e Web of Science. A estratégia de busca aplicada foi à pesquisa por termos como “gravidez ou gestação”, “exercício físico ou atividade física na gestação”, “diabetes gestacional ou resistência à insulina” e “ganho de peso materno ou ganho de peso gestacional”. Foram recuperadas 665 referências, dos quais 10 deles atendiam aos critérios de inclusão e foram usadas para análise. O estudo verificou que o exercício físico durante a gravidez impede o ganho excessivo de peso materno reduzindo o risco de DMG, sem apresentar risco para o bem-estar materno e fetal. Os benefícios dos programas são maiores quando a intervenção inclui exercícios combinados. Dessa forma mulheres sem contraindicações obstétricas devem ser encorajadas a realizar exercícios físicos com o devido acompanhamento e orientações.
Unitermos:
Diabetes gestacional. Exercício físico. Prevenção.
Abstract
Gestational diabetes mellitus (GDM) is one of the most frequent complications in pregnancy and physical exercise is a prevention proposal. The objective of this systematic review is to synthesize randomized controlled studies of physical exercise programs during pregnancy to show their effects on the prevention of GDM and their benefits. This review was based on the bibliographic databases of the Cochrane Library Plus, Wholis, Scielo, PubMed and Web of Science. An applied research strategy was carried out in a search for terms such as "pregnancy or pregnancy", "physical exercise or physical activity during pregnancy", "gestational diabetes or insulin resistance" and "maternal weight gain or gestational weight gain". 665 references were retrieved, 10 of which meet the inclusion requirements and were used for analysis. The study found that physical exercise during pregnancy prevents excessive maternal weight gain, the risk of GDM, without presenting a risk to maternal and fetal well-being. The benefits of the programs are greatest when the intervention includes combined exercises. Thus, women without obstetric contraindications should be encouraged to perform physical exercises with the necessary monitoring and guidance.
Keywords:
Gestational diabetes. Physical exercise. Prevention.
Resumen
La diabetes mellitus gestacional (DMG) es una de las complicaciones más frecuentes del embarazo y el ejercicio físico es una propuesta de prevención. El objetivo de esta revisión sistemática es sintetizar estudios controlados aleatorios de programas de ejercicio físico durante el embarazo para presentar sus efectos sobre la prevención de la DMG y sus beneficios. Esta revisión se basó en las bases de datos bibliográficas Cochrane Library Plus, Wholis, Scielo, PubMed y Web of Science. La estrategia de búsqueda aplicada fue buscar términos como "embarazo o embarazo", "ejercicio físico o actividad física durante el embarazo", "diabetes gestacional o resistencia a la insulina" y "aumento de peso materno o aumento de peso gestacional". Se recuperaron 665 referencias, 10 de las cuales cumplieron los criterios de inclusión y se utilizaron para el análisis. El estudio encontró que el ejercicio físico durante el embarazo previene el aumento excesivo de peso materno al reducir el riesgo de DMG, sin representar un riesgo para el bienestar materno y fetal. Los beneficios de los programas son mayores cuando la intervención incluye ejercicios combinados. Por lo tanto, se debe alentar a las mujeres sin contraindicaciones obstétricas a realizar ejercicios físicos con un seguimiento y orientación adecuados.
Palabras clave:
Diabetes gestacional. Ejercicio físico. Prevención.
Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 26, Núm. 278, Jul. (2021)
Introdução
O diabetes mellitus gestacional (DMG) é uma das complicações mais frequentes da gravidez, trazendo riscos tanto para a mãe quanto para o feto e o neonato (American Diabetes Association, 2018). Na mulher, o desenvolvimento da DMG está associado a distúrbios graves, como pré-eclâmpsia, hipertensão, parto prematuro e maior frequência de partos induzidos e cesarianos. Nos neonatos, está relacionada a macrossomia, a hipoglicemia neonatal, alterações da função cardiorrespiratória, hiperbilirrubinemia e policitemia. (American College of Obstetricians and Gynecologists, 2020)
A prevalência de DMG apresenta média mundial de 16,2%, no Brasil estima-se que seja de aproximadamente 18% das pessoas atendidas pelo Sistema Único de Saúde (Organização Pan-Americana da Saúde, 2016; Hod et al., 2015). Esse número pode variar dependendo dos critérios diagnósticos utilizados e da população estudada. (International Diabetes Federation, 2017)
O DMG é definido a partir da hiperglicemia detectada pela primeira vez durante a gravidez, com níveis glicêmicos sanguíneos que não atingem os critérios diagnósticos estabelecidos pela Organização Mundial de Saúde, para o Diabetes Mellitus em não gestantes e sem diagnóstico prévio, é caracterizado por uma condição na qual a intolerância aos carboidratos desenvolve-se na gravidez. (Sociedade Brasileira de Diabetes, 2019)
Entre os fatores de risco estabelecidos para DMG, estão incluídos um histórico de DMG em uma gravidez anterior, de parto ao recém-nascido macrossômico, idade materna avançada, raça, paridade alta, histórico familiar de diabetes mellitus 1 e 2, ganho excessivo de peso materno, sobrepeso ou obesidade, estilo de vida sedentário e consumir uma dieta pobre em fibras e com alta carga glicêmica. (SBD, 2019; Trujillo et al., 2016)
Nas últimas décadas, o interesse sobre os potenciais efeitos benéficos do exercício físico durante a gravidez cresceu, assim como o aumento das pesquisas que relataram resultados positivos maternos e fetais (May et al., 2016; Cid, e Gonzales, 2016; ACOG, 2020). Foi demonstrado que a prática de exercícios físicos durante a gravidez pode reduzir o ganho excessivo de peso materno, a incidência de DMG e os níveis de glicose em mulheres com DMG. (Ehrlich et al., 2016; Sanabria-Martinez et al., 2015)
Desde 2002 e reafirmado em 2015 e 2020, o Colégio Americano de Obstetras e Ginecologistas (2020) recomenda para as mulheres grávidas, pelo menos 20 a 30 minutos de atividade física (AF) de intensidade moderada, na maioria ou todos os dias da semana. O objetivo desta revisão sistemática foi sintetizar os estudos clínicos randomizados e controlados de programas de exercícios físicos ou esportes, durante a gravidez, verificar seus efeitos acerca da prevenção da DMG e seus benefícios sobre os fatores de risco. Sendo assim, essa revisão vem para contribuir e fornecer evidências sobre os benefícios dos programas estruturados de exercícios físicos durante a gravidez para prevenir a DMG, suas complicações e seus fatores de risco, em especial o ganho de peso excessivo na gestação, de forma a direcionar a prática fundamentada em evidências.
Métodos
Os estudos para essa revisão sistemática foram identificados em cinco bancos de dados: Cochrane Library Plus, Wholis, Scielo, PubMed e Web of Science. Para a realização das buscas, foram utilizados os termos: "gravidez ou gestação", "exercício físico ou atividade física na gestação", "diabetes gestacional ou resistência à insulina" e "ganho de peso materno ou ganho de peso gestacional". As buscas foram realizadas nos idiomas inglês e português, publicados de janeiro de 2009 a outubro de 2019.
Os critérios de inclusão dos estudos foram: (1) população - mulheres saudáveis sedentárias ou com baixo nível de atividade física (exercício <20 minutos em <3 dias por semana), com gestações não complicadas e únicas; (2) tipo de estudo - ensaios clínicos randomizados, no qual o grupo controle não recebeu tipo de exercício físico; (3) intervenção do tipo - programas de exercícios físicos; (4) avaliação dos resultados da gravidez: DMG e/ou fatores de risco; (5) programas de exercícios baseados apenas em exercícios. Nenhuma restrição sobre frequência, duração ou tipo de treinamento foi feita.
Os critérios de exclusão dos estudos foram: (1) mulheres com alto risco de parto prematuro; (2) mulheres com qualquer contraindicação para exercício, como recomendado por um obstetra; (3) artigos em duplicata nas bases de dados; (4) programas de exercícios que incluíam intervenção dietética.
Para inclusão dos artigos na revisão e leitura na íntegra dos textos, foram observados primeiramente o título, em seguida os resumos. Foram extraídos e tabulados em planilha eletrônica os seguintes dados dos estudos incluídos: (1) características dos participantes (local da realização do estudo, número e características obstétricas); (2) características da intervenção (tipo, duração, frequência e intensidade da intervenção do exercício físico, início da intervenção do exercício, tipo de exercício (aeróbico ou combinado, força e flexibilidade); e (3) Número de casos de DMG, fator de risco (ganho de peso excessivo) e complicações (macrossomia e hipertensão). Os resultados foram apresentados por meio de um quadro.
Resultados
A estratégia de pesquisa recuperou 665 referências. Destas, 550 referências foram excluídas com base no título, ficando 115 como referências potencialmente relevantes. Após a leitura dos resumos, 75 foram excluídos e 35 foram avaliados e selecionados para uma avaliação mais detalhada da versão completa publicada. Em seguida, 25 estudos foram excluídos por atenderem aos critérios do estudo: cinco artigos não eram ensaios clínicos randomizados (ECRs), três estudos não consistiam em intervenções do tipo programas de exercícios, cinco artigos não avaliaram os resultados do exercício na DMG e ou fatores de risco na gravidez, quatro artigos eram duplicados e oito artigos as intervenções incluíam intervenção dietética associada ao exercício físico. Totalizando em dez ECRs incluídos na revisão sistemática (Quadro 1).
Quadro 1. Ensaios clínicos randomizados incluídos na revisão sistemática
Autor principal,
ano, país |
Início do programa de
intervenção (Semana de gestação) |
Amostra |
Tipo de Intervenção |
Intensidade/ Duração/
Frequência das sessões |
Principiáis Resultados |
Bacchi (2017) |
8ª-11ª |
GI=49 |
Exercícios aeróbicos e
dança. Exercícios de forças e exercícios aquáticos. |
Leve a moderada/ 50
minutos |
Diminuição do ganho
excessivo de peso materno. Redução de complicações
relacionadas ao DMG. |
Barakat (2012) |
6ª-9ª |
GI=40 |
Dança,
caminhada, Treinamento de resistência, exercícios aquáticos e |
Leve a moderada/ 35-45
minutos |
Prevenção
de DMG no GI. Não houve diferença no
ganho excessivo de peso materno entres os grupos. |
Barakat (2013) |
10ª-12ª |
GI=255 |
Treinamento de
resistência e caminhada. |
Moderada/ 50-55 minutos |
Não verificou-se prevenção
de DMG. Redução de complicações
relacionadas ao DMG. Diminuição do ganho
excessivo de peso materno. |
Barakat (2014) |
9ª -13ª |
G= 107 |
Caminhada, dança, |
Leve a moderada/ 55-60 minutos |
Diminuição do ganho
excessivo de peso materno. |
Cavalcante (2009) |
16ª-20ª |
GI=34 |
Hidroginástica |
Moderada/ 50 minutos 3 x semana. |
Não houve diferença no ganho
excessivo de peso materno. Não houve diferença nas
complicações relacionadas ao
DMG. |
Cordero (2015) |
10ª-12ª |
GI=101 |
Dança e exercícios
de força. |
Moderada/ 50-60 minutos |
Prevenção de DMG no GI. |
Garnaes (2016) |
12ª-18ª |
GI=46 |
Caminhada,
corrida em esteira e exercícios de força. |
Moderada/ 60 minutos |
Prevenção de DMG no GI. Redução de complicações
relacionadas ao DMG. |
Hopkins (2010) |
8ª |
GI=47 |
Ciclismo estacionário. |
Moderada/ 40 minutos |
Houve diferença nas complicações
relacionadas ao DMG. Diminuição do ganho
excessivo de peso materno. |
Price (2012) |
12ª-14ª |
GI=43 |
Caminhada,
ciclismo estacionário e exercícios de força. |
Moderada/ 45-60 minutos 4 x semana. |
Redução de complicações
relacionadas ao DMG. Não houve diferença na prevenção
do DMG. |
Tomic (2013) |
6 ª- 8ª |
GI=166 |
Caminhada, dança e natação. |
Leve a moderada/ 50
minutos |
Redução de complicações
relacionadas ao DMG. |
Legenda: DMG: Diabetes mellitus gestacional; GI: Grupo intervenção; GC: Grupo controle; Min: Minuto; N= número amostral; X: vezes. Fonte: Elaboração própria
Os estudos do Quadro 1 incluíram mulheres que tiveram uma gravidez saudável, com uma gestação única, não apresentaram doença materna ou fetal e a evolução da gravidez ocorreu sem complicações. A amostra total dos estudos selecionados incluiu 1835 mulheres: 888 no grupo intervenção (GI) e 947 no grupo controle (GC). Nenhuma das gestantes apresentava contraindicação médica obstétrica para a realização de atividade física, consequentemente para a participação do programa de exercício físico.
Programas de exercícios e diabetes gestacional
Diversos exercícios físicos foram utilizados nos programas, incluindo: caminhada, exercícios aquáticos, hidroginástica, ciclismo estacionário, treinamento de resistência, exercícios de força, dança e flexibilidade. Dentre eles, a natação (Bacchi et al., 2017; Barakat et al., 2012; Cordero et al., 2015; Tomic et al., 2013), a caminhada (Barakat et al., 2012, 2013, 2014; Tomic et al., 2013), e os exercícios de força, tendo como exemplo exercícios de propulsão utilizando equipamentos como halteres, bandas elásticas e bolas suíças (Bacchi et al., 2017; Barakat et al., 2012; Cordero et al., 2015; Garnaes et al., 2016) destacaram-se como sendo as mais estudadas nas intervenções.
Seis programas de exercícios iniciaram ainda no primeiro trimestre de gestação, três entre a 6ª a 9ª semana de gestação (Barakat et al., 2012; Hopkins et al., 2010; Tomic et al., 2013) e três entre a 9ª e a 12ª semana de gestação (Bacchi et al., 2017; Barakat et al., 2013; Cordero et al., 2015). Apenas um deles foi realizado a partir do segundo trimestre (Cavalcante et al., 2019), e três tiveram entradas de gestantes tanto no primeiro, quanto no segundo trimestre de gestação (Barakat et al., 2014; Garnaes et al., 2016; Price et al., 2012), todos com duração até o final da gravidez. As sessões tiveram, em sua maioria, a frequência de três vezes na semana, com exceção de dois, um com quatro semanas (Price et al., 2012) e um de cinco sessões por semana (Hopkins et al., 2010). As sessões duraram entre 35 e 60 minutos. Os níveis de intensidade foram categorizados em leve a moderado e moderado, analisados conforme estratégia de cada estudo e todos os programas foram supervisionados por profissionais qualificados.
Com relação à análise de subgrupos pela duração da intervenção, observou-se menor taxa de DMG no GI, quando o exercício foi realizado no primeiro trimestre da gravidez (Barakat et al., 2012; Cordeiro et al., 2015). No entanto, o ganho excessivo de peso demonstrou redução mesmo quando iniciado a partir do segundo trimestre. Em relação ao tipo de exercício, houve menor risco de DMG com exercícios combinados, principalmente quando foram relacionados a atividades terrestres e aquáticas (Barakat et al., 2012; Cordero et al., 2015).
A redução no ganho excessivo de peso materno foi o achado mais constatado, encontrado em quatro estudos (Bacchi et al., 2017; Barakat et al., 2013, 2014; Hopkins et al., 2010), e dois não identificaram diferença no ganho de peso (Barakat et al., 2012; Cavalcante et al., 2009) e nenhum foi associado a ganho excessivo. Relacionado à prevenção da DMG, três estudos apresentaram GI com um menor número de diagnóstico comparado ao GC (Barakat et al., 2012; Cordero et al., 2015; Garnaes et al., 2016), dois não observaram prevenção de DMG no GI, comparando com o GC. Estudos demonstraram diminuição das complicações relacionadas à DMG como a diminuição dos níveis de pressão arterial (Garnaes et al., 2016; Price et al., 2012), a necessidade de uma cesariana (Barakat et al., 2013; Cordero et al., 2015; Price et al., 2012), e de nascimentos prematuros ou baixo peso (Barakat et al., 2013; Cavalcante et al., 2009). E quatro deles com resultados diretamente relacionados a prole, representando menor ocorrência de macrossomia (Bacchi et al., 2017; Barakat et al., 2013; Hopkins et al., 2010) e de restrição de crescimento intrauterino. (Tomic et al., 2013)
Alguns estudos não observaram diferenças entre os grupos em relação à pressão arterial, a frequência cardíaca, a incidência de DMG, duração média da gravidez, índice de Apgar neonatal, duração do trabalho de parto ou no ganho de peso durante a gravidez. (Price et al., 2012; Cavalcante et al., 2009)
Em relação às alterações endócrinas, um estudo pesquisou as mudanças nos hormônio do crescimento (GH), do fator de crescimento semelhante à insulina (IGF) e da leptina, a atividade utilizada foi o ciclismo estacionário, o qual não demonstrou alterações no eixo materno (GH e do IGF), mas demonstrou aumento de leptina no GI (Hopkins et al., 2010), refletindo mudanças sutis dentro da placenta em resposta ao exercício físico e que contribuiu para redução no peso da prole, evitando assim uma macrossomia.
Discussão
De acordo com os resultados desta revisão, observou-se uma relação estatisticamente significativa entre a intensidade da AF leve e moderada e o início até as primeiras 20 semanas de gravidez com um menor risco de desenvolver DMG. Evidências relatam benefícios relacionados a níveis mais altos de atividade física antes da gravidez ou no início da gestação está associado a um menor risco de desenvolver DMG (Doi et al., 2020; Galliano et al., 2019; Nasiri-Amiri et al., 2016). Mottola et al. (2018), relatam que ao aumentar o nível de atividade em gestantes, maiores benefícios podem ser observados, no entanto, não foram identificadas evidências sobre a segurança ou benefício adicional de se exercitar em níveis significativamente acima das recomendações.
Além disso, o presente estudo reforça e fortalece que exercícios físicos de intensidade leve a moderada, durante a gestação não acarreta riscos para o bem-estar maternos ou fetais, indo de encontro com outras pesquisas que investigam os possíveis impactos adversos (Bacchi et al., 2017; da Silva et al., 2017). Acredita-se que esses resultados podem estar relacionados ao início do exercício físico, que nos programas ocorreram antes do aumento normal da resistência à insulina, que ocorre a partir do segundo trimestre, de modo que as alterações crônicas na regulação da captação de glicose no músculo esquelético já estão estabelecidas quando esse aumento da resistência é alcançado (ADA, 2018). Portanto, as mulheres podem ter melhores condições para lidar com o estresse metabólico da gravidez.
As alterações endócrinas estimuladas através dos exercícios físicos na gestação, respaldam sua indicação para atingir benefícios na saúde. No período após o exercício, a captação de glicose muscular é mais sensível à insulina, facilitando assim a ressíntese dos estoques de glicogênio muscular (Davenport et al., 2016). Dado o exposto, verificou-se que as intervenções ajudam com o quadro de hiperglicemia na gestação, pois melhoram a tolerância à glicose ao atenuar a resistência à insulina, que foi induzida no período gestacional, ajudando assim a gestante na prevenção DMG e no controle do principal fator de risco que é o ganho de peso excessivo. (Davenport et al., 2018)
Respaldando assim, as recomendações para a realização dos exercícios físicos durante a gestação da ACOG (2020) e fundamentando que a atividade física na gestação diminui a resistência à insulina e pode ajudar a diminuir a incidência de DMG. (Ming et al., 2018; Barakat et al., 2019; Gilinsky et al., 2015)
As atividades as quais o equilíbrio da mulher grávida pode ser afetado por movimentos rápidos e aumentam o risco de quedas (exemplo: esqui aquático em declive, esqui aquático, ciclismo de estrada, ginásticas artística e cavalgadas), ou que provoquem contato físico brusco deveriam ser evitados (exemplo: hóquei no gelo, boxe, futebol e basquete), outras atividades como paraquedismo e mergulho em profundidade não são recomendáveis. Já a corrida e treinamento de força podem ser seguros para mulheres grávidas que já realizavam essas atividades regularmente antes da gravidez. (Barakat et al., 2017; ACOG, 2020)
Nos últimos anos o tema vem sendo amplamente debatido, entretanto, existem controvérsias a respeito dos efeitos dos exercícios físicos durante a gravidez na prevenção de DMG e ganho de peso materno excessivo, mas essas variações tendem a ter relação com a qualidade das evidências. Em 2017, uma revisão da Cochrane concluiu que as evidências de alta qualidade sugeriram riscos reduzidos de DMG, cesariana e reduções no ganho de peso gestacional. E que as evidências de qualidade moderada a muito baixa mostraram capacidade limitada para apoiar que a atividade física diminui o risco de DMG ou melhora a sensibilidade à insulina durante a gravidez (Shepherd et al., 2017). Entretanto verificou-se, que a falta de evidência para alguns desfechos pode ser atribuída a fragilidades no design ou no tamanho da amostra dos estudos publicados. (Shepherd et al., 2017; Bain et al., 2015)
Por fim, a interpretação do presente estudo com a apresentação de ensaios clínicos randomizados bem projetados, com um número considerável de participantes, nos quais os programas de intervenção com exercícios físicos são reproduzíveis e padronizados, publicados em uma maior janela temporal, onde os estudos apresentam-se em diferentes momentos e países, permitindo uma análise mais ampla e credibilizando a orientação de as mulheres devem ser incentivadas a praticar atividades físicas diárias regulares durante a gravidez, caso não haja contraindicação específica para tal.
Corroborando com as evidências que indicam o exercício físico para prevenção do DMG, pois de maneira geral, todos demonstraram benefícios, sendo eles de forma direta com a prevenção (número de casos diagnosticados), apresentaram pelo menos um benefício, seja ele relacionado aos fatores de risco, como o peso, ou a complicações como a hipertensão arterial materna, macrossomia e hipoglicemia neonatal.
Conclusão
O estudo permitiu verificar que a prática de exercícios físicos regularmente de intensidade moderada, com exercícios combinados durante a gravidez, principalmente quando iniciados antes do terceiro trimestre, está associada a uma menor incidência de DMG, a diminuição do ganho de peso excessivo materno e a redução nas complicações provenientes da DMG. Foi possível observar os efeitos protetores do exercício físico durante a gestação contra a DMG. Vários efeitos fisiológicos para o exercício físico foram propostos e são relevantes para as características fisiopatológicas do DMG. O exercício físico tem efeitos independentes na utilização da glicose aumentando o descarte de glicose mediada por insulina e não mediada por insulina. E o exercício físico também irá exercer um efeito a longo prazo, melhorando a sensibilidade à insulina facilitando assim a ressíntese dos estoques de glicogênio muscular.
Desse modo, nosso estudo tem importantes implicações clínicas e de saúde pública, incorporando-se a um corpo de literatura relativamente grande que documenta os benefícios da atividade física na prevenção do DMG ou resistência à insulina nas mulheres grávidas, fornece suporte à recomendação das diretrizes gerais de incentivar e aconselhar as gestantes a se envolverem em exercícios físicos combinados, regular e de intensidade moderada, sendo assim uma estratégia eficaz e segura para experimentar gestações mais saudáveis.
Portanto, todas as gestantes saudáveis devem ser estimuladas a praticar atividade física e podem se beneficiar de exercícios planejados, programados e adaptados por profissionais adequadamente treinados e qualificados.
Referências
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