ISSN 1514-3465
Síndrome de Burnout: um estudo com professores da educação básica
Burnout Syndrome: a Study with Teachers of Basic Education
Síndrome de Burnout: un estudio con profesores de escuela primaria
Marilia de Rosso Krug*
mkrug@unicruz.edu.br
Hugo Norberto Krug**
hnkrug@bol.com.br
Solange Beatriz Billig Garces***
sgarces@unicruz.edu.br
Veridiane Nunes****
nunes_veridiane92@hotmail.com
*Graduada em Educação Física Licenciatura Plena (UFPEL)
Mestrado em Ciência do Movimento Humano (UFSM)
Doutorado em Educação em Ciências: Química da Vida e Saúde pela UFSM
Atualmente atua como: Coordenadora e Docente do Curso de Educação Física
Licenciatura da Universidade de Cruz Alta - UNICRUZ
Coordenadora Institucional do PIBID/2018-2020
Docente do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu
em Atenção Integral à Saúde PPGAIS/UNICRUZ
**Licenciado em Educação Física pela Universidade Federal de Pelotas – UFPel
Mestrado em Ciência do Movimento Humano
pela Universidade Federal de Santa Maria – UFSM
Doutorado em Educação e Doutorado em Ciência do Movimento Humano pela UFSM
Professor Aposentado do Departamento de Metodologia
do Ensino do Centro de Educação da UFSM
***Licenciada Plena em Educação Física pela Universidade de Cruz Alta
Especialização em Educação - Teoria e Sistematização do Ensino Superior
pela Universidade Federal de Santa Maria -UFSM (1995)
Mestrado em Ciências do Movimento Humano
pela Universidade do Estado de Santa Catarina -UDESC
Doutorado em Ciências Sociais - área de concentração
Políticas e Práticas Sociais pela UNISINOS - Universidade do Vale do Rio dos Sinos
Atualmente é professor Titular III da Fundação Universidade de Cruz Alta
Professora do PPG em Práticas Socioculturais e Desenvolvimento Social da UNICRUZ
Líder do grupo de Pesquisa Grupo Interdisciplinar
de Estudos do Envelhecimento Humano - GIEEH
****Acadêmica do curso de Educação Física Licenciatura
da Universidade de Cruz Alta – UNICRUZ
Bolsista do Programa Residência Pedagógica da UNICRUZ
(Brasil)
Recepção: 22/04/2020 - Aceitação: 29/12/2020
1ª Revisão: 1711/2020 - 2ª Revisão: 21/11/2020
Documento acessível. Lei N° 26.653. WCAG 2.0
Este trabalho está sob uma licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional (CC BY-NC-ND 4.0) https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/deed.pt |
Citação sugerida
: Krug, M. de R., Krug, H.N., Garces, S.B.B., e Nunes, V. (2021). Síndrome de Burnout: um estudo com professores da educação básica. Lecturas: Educación Física y Deportes, 25(273), 58-70. https://doi.org/10.46642/efd.v25i273.2181
Resumo
Considerada o estágio mais avançado do estresse, a Síndrome de Burnout tem afetado inúmeras profissões, principalmente aquelas que possuem contato direto com pessoas. Dentre essas profissões, pode-se citar o professor de Educação Física. Assim, o presente estudo objetivou analisar a presença ou não de Síndrome de Burnout em professores de Educação Física que atuam na Educação Básica de um município do estado do Rio Grande do Sul (Brasil). Foram sujeitos do estudo dezesseis professores de Educação Física. Para avaliação da Síndrome de Burnout foi utilizada a escala desenvolvida e inspirada no Maslach Burnout Inventory – MBI. Os dados foram tratados por meio da estatística inferencial. Para identificação das diferenças entre os grupos (redes de ensino, jornada de trabalho e tempo de docência) foi utilizado o teste do qui-quadrado (p≤0,05). Quanto ao perfil dos professores dez eram mulheres e seis eram homens, tendo a maioria (60%) idade de 41 a 50 anos, com jornada de trabalho de 40 horas, com tempo de atuação de 11 a 20 anos, atuando em duas redes de ensino, municipal e estadual. Encontrou-se um alto percentual de professores com níveis médios na dimensão exaustão emocional, níveis baixos para a despersonalização e para a realização pessoal o que indica a não presença da Síndrome de Burnout, já que para a ocorrência da Síndrome de Burnout os escores deveriam ser altos para exaustão emocional e despersonalização e baixos para realização pessoal.
Unitermos:
Estresse. Síndrome de Burnout. Professores. Educação Física.
Abstract
Considered the most advanced stage of stress, Burnout Syndrome has affected numerous professions, especially those that have direct contact with people. Among these professions, we can mention the Physical Education teacher. Thus, the present study aimed to analyze the presence of Burnout Syndrome in Physical Education teachers who work in Basic Education in a city in the state of Rio Grande do Sul (Brazil). The subjects of the study were sixteen Physical Education teachers. To assess Burnout Syndrome, the scale developed and inspired by the Maslach Burnout Inventory - MBI was used. The data were treated using inferential statistics. The chi-square test (p≤0.05) was used to identify differences between groups (education networks, working hours and teaching time). As for the profile of the teachers, ten were women and six were men, with the majority (60%) aged 41 to 50 years, with a 40-hour workday, with 11 to 20 years of experience, working in two education networks, municipal and state. It was found a high percentage of teachers with average levels in the dimension emotional exhaustion, low levels for depersonalization and low for personal fulfillment, which indicates the absence of the Burnout Syndrome, since for the occurrence of the Burnout Syndrome the scores should being high for emotional exhaustion and depersonalization and low for personal fulfillment.
Keywords
: Stress. Burnout Syndrome. Teachers. Physical Education.
Resumen
Considerada como la etapa más avanzada del estrés, el Síndrome de Burnout viene afectando a numerosas profesiones, especialmente a aquellas que tienen contacto directo con las personas. Entre estas profesiones, podemos mencionar al profesor de Educación Física. Así, el presente estudio tuvo como objetivo analizar la presencia o no del Síndrome de Burnout en docentes de Educación Física que trabajan en la Escuela Primaria en una ciudad del estado de Rio Grande do Sul (Brasil). Fueron del estudio dieciséis profesores de Educación Física. Se utilizó la escala desarrollada e inspirada en el Inventario de Burnout de Maslach - MBI para evaluar el Síndrome de Burnout. Los datos se trataron mediante estadística inferencial. Se utilizó la prueba de chi-cuadrado (p≤0.05) para identificar diferencias entre grupos (redes educativas, jornada laboral y tiempo lectivo). En cuanto al perfil de los docentes, diez eran mujeres y seis hombres, siendo la mayoría (60%) entre 41 y 50 años, con una jornada de 40 horas, con 11 a 20 años de experiencia, trabajando en dos Redes educativas, municipales y estatales. Se encontró un alto porcentaje de docentes con niveles medios en la dimensión de agotamiento emocional, bajos niveles de despersonalización y de realización personal, lo que indica la ausencia del Síndrome de Burnout, ya que para la ocurrencia del este síndrome las puntuaciones deben ser altas para agotamiento y despersonalización y baja para la realización personal.
Palabras clave:
Estrés. Síndrome de Burnout. Profesores. Educación Física.
Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 25, Núm. 273, Feb. (2021)
Introdução
O cenário educacional brasileiro apresenta um quadro bastante problemático no que se refere às questões relacionadas à saúde dos professores e às condições de trabalho (Mariano, e Muniz, 2006). Reis et al. (2006, p. 231) afirmam que “ensinar é uma atividade, em geral, altamente estressante, com repercussões evidentes na saúde física e mental e no desempenho profissional dos professores”.
O adoecimento mental ocorre com frequência em trabalhadores, muitas vezes levando-os ao afastamento do seu trabalho, estando mais presente em uma faixa etária considerada de alta produtividade (Baasch, Trevisan, e Cruz, 2017). Uma das disfunções que acometem os trabalhadores e que vem crescendo a partir de transformações de origem social, política, econômica e psicológica é a Síndrome de Burnout. (Souza et al., 2018)
Burnout origina-se de uma sigla inglesa que significa aquilo que deixou de operar ou esgotamento de energia, exaustão física, emocional e psíquica, pelo fato da não adaptação de determinada pessoa em sua atividade laboral. (Rodrigues et al., 2018)
Decorrente do estresse docente, pode-se citar a Síndrome de Burnout como um dos transtornos que acometem os professores (Benevides-Pereira, 2002). Para Gajewski et al. (2017), essa síndrome se desenvolve através das três seguintes dimensões: exaustão emocional, despersonalização e baixa realização pessoal. Segundo Silveira et al. (2016), a exaustão emocional refere-se à depleção da energia emocional, pela demanda excessiva de trabalho; a despersonalização está relacionada ao senso de distância emocional das pessoas ou do trabalho; e, a baixa realização pessoal representa a sensação de baixa autoestima e baixa eficácia no trabalho. Assim, a Burnout é uma resposta prolongada ao estresse crônico no trabalho.
A Síndrome de Burnout ou Síndrome do Esgotamento Profissional é um fenômeno psicossocial ocasionado pelo estresse crônico do trabalho. Dessa forma, os professores têm sido alvo constante do estresse devido às funções exercidas pela profissão e pelo ambiente do serviço, além de estarem ligados diretamente aos alunos, por longos períodos. (Moraes, e Damasceno, 2018)
Para Iwanicki, e Schwab (1981) e Farber (1991) apud Carlotto (2011, p. 21), “a severidade do Burnout entre profissionais de ensino é superior à dos profissionais de saúde, o que coloca o Magistério como uma das profissões de alto risco”. Essa síndrome trouxe à tona uma nova maneira de se dizer que o profissional está estressado, detalhando um tipo diferente de problema que está se tornando muito comum entre os profissionais da área. Ainda, de acordo com o referido autor, a provável causa do Burnout é a intensa exposição ao estresse, onde o professor está em constante tensão e isso contribui para que o docente tenha uma baixa percepção do seu valor profissional, o que pode ser percebida pela comunidade escolar como um todo.
Melo et al. (2015, p. 1) afirmam que “no trabalho docente estão presentes aspectos potencialmente estressores, como baixos salários, escassos recursos materiais e didáticos, classes superlotadas, tensão na relação com alunos, excesso de carga horária, inexpressiva participação nas políticas e no planejamento institucional” e que evidenciam os riscos a que os docentes com Síndrome de Burnout estão expostos. O estudo de Levi, Nunes Sobrinho, e Souza (2009) revelou que os docentes acometidos pela Síndrome de Burnout são mais vulneráveis a sofrer agressões físicas em sala de aula.
No que concerne à Educação Física, peculiaridades importantes, vivenciadas cotidianamente, como o desenvolvimento das aulas práticas, realizadas nos mais diversos espaços, na maioria das escolas públicas, acentuam o nível de estresse do profissional. Além disso, condições laborais insatisfatórias, tais como: calor, frio, ruídos excessivos, precária higienização e limitações de espaços físicos, também podem levar à Síndrome de Burnout. (Benevides-Pereira, 2002)
Segundo Silva (2014), vale frisar que alguns professores de Educação Física, além da jornada pedagógica escolar, trabalham em academias, clubes entre outras atividades fora da escola, sobrecarregando-os e, dessa forma, ficando vulneráveis ao esgotamento profissional e possivelmente à Síndrome de Burnout.
Desta forma, considerando que a profissão professor tem sido declarada como um trabalho estressante e suscetível à Síndrome de Burnout, torna-se necessário a realização de estudos que identifiquem a presença ou não de tal síndrome, para que assim possa se pensar em estratégias que minimizem suas consequências. Assim, justificamos este estudo que tem como objetivo analisar a prevalência ou não da Síndrome de Burnout em professores de Educação Física da Educação Básica de um município do estado do Rio Grande do Sul, Brasil.
Métodos
A pesquisa caracterizou-se com uma abordagem quantitativa do tipo observacional descritiva. (Knechtel, 2014)
Os sujeitos do estudo foram dezesseis professores de Educação Física da Educação Básica de um município do interior do estado do Rio Grande do Sul (Brasil), das redes de ensino municipal e estadual que se encontravam em regência de classe. Somente participaram do estudo os professores que voluntariamente aceitaram participar e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
O instrumento de pesquisa utilizado foi um formulário contendo as seguintes informações: idade, sexo, ano de formação, tempo de atuação na docência, regime de trabalho, jornada de trabalho e rede de ensino. No formulário, também constou a Escala de Caracterização do Burnout (ECB), validada para o Brasil por Tamayo, e Triccoli (2009) que foi desenvolvida e inspirada no Maslach Burnout Inventory – MBI (Maslach, e Jackson, 1981). Esse instrumento consta de vinte e dois itens fatorados em três sub-escalas correspondentes as três dimensões de Burnout, sendo: exaustão emocional – EE, com nove itens; despersonalização – DE, com cinco itens e realização profissional – RP, com oito itens. O instrumento utiliza uma escala progressiva, tipo Likert de sete pontos, indo de “0” como “nunca” a “6” como “todos os dias”. Com o propósito de discriminar as manifestações do fenômeno em níveis crescentes de severidade foi usada a categorização em “baixo”, “médio” e “alto” para cada um dos fatores da síndrome. Os pontos de corte se deram a partir da obtenção de classificação “alta” para EE e DE e classificação “baixa” para RP, sendo que esse critério vem sendo adotado nas pesquisas sobre Burnout, as quais são baseadas em sugestão contida no manual do MBI. (Tamayo, e Triccoli, 2009)
Os dados foram tratados por meio da estatística inferencial (frequência relativa e percentual). Para identificação das diferenças entre os grupos (redes de ensino, jornada de trabalho, tempo de docência, níveis de atuação, sexo e idade) foi utilizado o teste do qui-quadrado, com um nível de significância de p ≤ 0,05. Para as análises foi utilizado o programa SPSS 20.0.
Resultados
Na Tabela 1 encontram-se os resultados de caracterização dos professores em relação a: sexo, faixa etária, jornada de trabalho, tempo de atuação no magistério, redes de ensino de atuação e tempo de formação.
Tabela 1. Caracterização dos professores
Variáveis |
Indicadores |
% |
Sexo |
Masculino |
37 |
Feminino |
63 |
|
Faixa
etária |
30-40 anos |
31 |
41-50 anos |
51 |
|
Mais de 50 anos |
18 |
|
Jornada
de trabalho |
20 horas |
30 |
40 horas |
51 |
|
60 horas |
19 |
|
Tempo
de atuação |
1-10 anos |
31 |
11-20 anos |
38 |
|
Mais de 30 anos |
19 |
|
Redes
de ensino que
atuavam |
Rede municipal |
37 |
Rede estadual |
19 |
|
Rede municipal e estadual |
44 |
|
Tempo
de formação em
Educação Física |
1 a 10 anos |
31 |
21 a 30 anos |
25 |
|
Mais de 30 anos |
13 |
Ao analisar-se os resultados apresentados na tabela 1 pode-se observar que, os participantes do estudo eram, na maioria, mulheres, com idade de 41 a 50 anos, com jornada de trabalho de 40 horas, tempo de atuação de 11 a 20 anos, atuando em duas redes de ensino, municipal e estadual e com tempo de formação entre 21 e 30 anos.
No Gráfico 1 estão ilustrados os resultados de exaustão emocional, despersonalização e realização pessoal, obtidos por meio da escala de Maslach.
Observando-se os resultados apresentados no Gráfico 1 nota-se que a maioria dos professores apresentaram níveis médios de Burnout na exaustão emocional (56%), baixo para a despersonalização (56%) e baixo para realização profissional (75%).
Destaca-se que níveis baixos de Burnout reproduzem-se em escores baixos nas dimensões de exaustão emocional e despersonalização e escores elevados na realização pessoal. Níveis médios de Burnout são representados por valores médios nas três dimensões, já o nível alto de Burnout traduz-se em escores altos para as dimensões exaustão emocional e despersonalização e escores baixos na realização profissional. Desta forma e observando os resultados apresentados na figura 1 pode-se inferir que os professores não apresentam Síndrome de Burnout. No entanto destaca-se o alto percentual (75%) de professores com baixa realização profissional, ou seja, avaliações negativas sobre si mesmo, particularmente com referência à habilidade de obter sucesso no trabalho docente.
As variáveis exaustão emocional, despersonalização e realização profissional, foram associadas com as variáveis faixa etária, sexo, rede de ensino, tempo de atuação e tempo de formação (Tabela 2).
Tabela 2. Correlação entre as variáveis de caracterização da amostra com as dimensões da Síndrome de Burnout
Variáveis |
Dimensão
da Síndrome de Burnout |
|||||
Exaustão |
Despersonalização |
Realização
Profissional |
||||
r |
p |
R |
p |
r |
p |
|
Sexo |
0,00 |
0,500 |
0,358 |
0,083 |
-0,140 |
0,282 |
Faixa etária |
-0,217 |
0,183 |
-0,482 |
0,025* |
0,081 |
0,370 |
Carga horária |
-0,352 |
0,071 |
-0,170 |
0,244 |
-0,970 |
0,346 |
Tempo de atuação |
-0,202 |
0,193 |
-0,462 |
0,026* |
0,166 |
0,242 |
Rede de ensino |
0,482 |
0,022* |
-0,476 |
0,026* |
-0,112 |
0,324 |
Tempo de formação |
-0,126 |
0,321 |
-0,512 |
0,021* |
0,130 |
0,315 |
Observando-se os resultados apresentados na Tabela 2 percebe-se uma associação significativa negativa entre: faixa etária e despersonalização o que indica que quanto maior a faixa etária menor o distanciamento das relações pessoais. O tempo de atuação correlacionou-se de forma significativa negativa com a despersonalização, o que nos leva a inferir que quanto maior a carga horária menor é o distanciamento das relações pessoais. O número de redes de ensino de atuação do professor, também se correlacionou de forma significativa negativa com a despersonalização e de forma positiva com a exaustão, indicando que a exaustão aumenta e a despersonalização diminui à medida que aumenta o número de redes que o professor atua. O tempo de formação apresentou correlação significativa negativa com a despersonalização, indicando que quanto menor o tempo de atuação, menor a despersonalização.
Discussão
O maior número de mulheres atuando na rede de ensino básico, observada no presente estudo, vai ao encontro dos dados do Plano Nacional de Qualificação, do Ministério do Trabalho e Previdência Social – MTPS. Segundo o referido plano, as mulheres lideram a presença em escolas, universidades e cursos de qualificação. Apesar de revelar um avanço significativo no âmbito de sua escolarização, o estudo comprovou que as mulheres ainda estão sujeitas a uma menor remuneração em relação aos homens, mesmo que desempenhem uma atividade idêntica a eles. (Brasil, 2016)
Quanto às dimensões da Síndrome de Burnout, observou-se, no presente estudo, um alto percentual de professores com classificação média na exaustão, isto não caracteriza a presença da síndrome, no entanto, pode vir a se desenvolver com o tempo se nada for realizado.
Segundo Silva (2014), a classificação alta em exaustão emocional reflete a incidência da síndrome. O autor acredita que a Síndrome de Burnout se inicia por essa dimensão que, posteriormente causa a despersonalização, como uma defesa para amenizar a exaustão ou o esgotamento emocional, levando ao sentimento de baixa realização profissional e ao baixo envolvimento pessoal.
A imagem do professor frente à despersonalização traduz a figura de uma pessoa cansada, de um profissional que está desiludido com a sua profissão, que não possui mais vontade de ensinar, não desejoso do contato com seus alunos, prejudicando o nível de aprendizagem. Ao sentir-se frustrado e esgotado, o professor se torna incapaz de ter relações mais próximas com seus alunos, e, dessa forma, o indivíduo pode estar emitindo um alerta, enfrentado por muitos professores. (Silva, 2010)
A análise dos entrevistados mostrou que 56% dos professores se encontram no nível baixo de despersonalização, não indicando sinais de Burnout. No entanto, 75% dos professores apresentaram níveis baixos de realização profissional, indicando um alerta para a síndrome.
Segundo Codo (1999 apud Bremm; Dorneles, e Krug, 2017), sentir-se não realizado profissionalmente é algo muito delicado, pois não depende apenas do profissional, mas sim do contexto social em que ele está inserido. Ainda conforme o referido autor, falar em realização profissional é falar de sentir prazer naquilo que está desempenhando, ao contrário de quando se fala em baixa realização profissional, quando sentimentos de desprazer, desencanto, frustração acometem o indivíduo.
Concordando com os resultados do presente estudo, Moraes, e Damasceno (2018), ao analisarem a presença da Síndrome de Burnout, em professores de Educação Física na Educação Básica de Siqueira Campos-PR (Brasil), também evidenciaram que os professores apresentaram apenas uma tendência para adquirir a Síndrome de Burnout. Ainda, de acordo com Moraes, e Damasceno (2018), uma possível causa, talvez a mais importante, para o não surgimento da Síndrome de Burnout, é a atividade física que o professor realiza nas aulas ou fora dela, como um plano de ação para o não surgimento da Síndrome de Burnout. O exercício regular melhora o equilíbrio psicológico, o humor, alivia/previne a depressão, diminui a tensão, melhora a autoestima. Todos esses fatores podem contribuir para a melhoria da saúde mental.
Os resultados do presente estudo indicaram que quanto maior a faixa etária, menor o distanciamento das relações pessoais, o que vai ao encontro das afirmações de Maslach, e Jakson (1981). Segundo os referidos autores, professores com idades inferiores a 40 anos possuem maior possibilidade de adquirirem a Síndrome de Burnout, pelo fato de possuírem pouca maturidade e experiências para solucionar problemas do cotidiano, além de alimentarem expectativas em relação à carreira profissional, o que de fato não condiz com a realidade.
Carlotto, e Câmara (2017) demostraram que professores que têm maior carga horária, que atendem a um maior número de alunos e que trabalham em escolas públicas apresentaram maior risco de desenvolvimento de Burnout.
Silva (2014) reforça que o aumento da jornada de trabalho e a probabilidade de desenvolvimento da Síndrome de Burnout estão relacionados, pois o professor ao assumir uma carga horária de 40 ou mais horas pode sentir-se exausto. Ainda, de acordo com o referido autor, não é só o mundo da escola e o contato com o aluno, já que o professor, também, assume várias tarefas extras que fazem parte da docência, consequentemente, o tempo de dedicação à profissão docente torna-se maior que o tempo para sua vida particular, (Silva, 2014)
Quanto à correlação observada, no presente estudo, entre a exaustão e a despersonalização com as redes de ensino municipal e estadual em que o professor atua, ou seja, os professores que trabalhavam em duas redes de ensino apresentaram maior tendência a desenvolver a Síndrome de Burnout em relação aos professores que atuavam somente em uma rede de ensino, vão ao encontro do que cita Campos (2019). De acordo com o referido autor, a jornada de trabalho e a carga horária indicam ser um elemento associado à exaustão emocional. Assim, para atender mais alunos e mais atividades, o professor tem aumentado sua carga horária para, em sua maioria, melhorarem suas condições financeiras, fazendo com que esse se esgote emocionalmente mais rápido. (Campos, 2019)
O presente estudo também indicou que quanto menor o tempo de atuação, menor a despersonalização. De acordo com Tiera, Ulbricht, e Ripka (2011), há dois períodos em que a Síndrome de Burnout é mais presente, o primeiro seria nos anos iniciais de carreira profissional e o segundo seria nos indivíduos com mais de 10 anos de experiência. Nesse sentido, Farias, e Nascimento (2012) reforçam que é necessário atenção e apoio aos professores em geral, bem como especial olhar na acolhida àqueles com menor faixa etária, que se encontram no ciclo de entrada da carreira, de acordo com a classificação profissional proferida por Farias, e Nascimento (2012), para que eles exerçam a profissão docente com saúde e qualidade, minimizando o abandono da carreira.
Segundo Silva et al. (2017), cabe, portanto, ações de promoção, valorização e proteção à saúde dos professores por parte dos governos e demais entidades representantes da classe, na busca de melhoria e proteção da qualidade de vida desses, refletindo assim no bom desenvolvimento de suas atividades as quais exercem influência na vida de seus educandos.
Conclusão
Após analisar os dados do presente estudo, foi possível concluir que mulheres com certa experiência em relação à idade, tempo de serviço e de formação predominam em relação aos homens na atuação com a disciplina de Educação Física na rede pública de ensino, sendo ainda, que a maioria tem jornada de 40 horas semanais, atuando tanto na rede estadual quanto na rede municipal de ensino.
Embora os resultados não tenham apontado para a existência da Síndrome de Burnout entre os professores, encontrou-se uma alta prevalência de professores com nível médio na dimensão exaustão o que pode significar um alerta já que essa dimensão desencadeia a despersonalização e a baixa da realização profissional.
Um nível mais preocupante encontrado foi o da baixa realização profissional, tendo em vista que a baixa realização profissional traz ao professor um sentimento de insatisfação e fracasso profissional. Quando existe a baixa realização profissional é complicado, principalmente quando é necessário enfrentar salários baixos, falta de material, a exposição em diferentes situações climáticas. Esses fatores colaboram com a ruptura da identidade e, muitas vezes, no abandono da profissão.
Estudar a saúde do professor se tornou cada vez mais necessário, sendo que eles estão, cada vez mais, sucessíveis às más condições de trabalho e a grande responsabilidade social. Os professores de Educação Física, assim como os de outras áreas, vêm abraçando novas responsabilidades no contexto escolar, sobrecarregando e encaminhando o professor ao cansaço e desmotivação do exercício da sua profissão. Nesse sentido, as situações em que os professores convivem diariamente em seus ambientes de trabalho podem, com o passar do tempo, traduzirem-se em um quadro suscetível ao acontecimento da Síndrome de Burnout.
Referências
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Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 25, Núm. 273, Feb. (2021)