ISSN 1514-3465
Ingestão de isotônicos na prática esportiva
e sua influência na lesão cervical não cariosa
Isotonic Ingestion in Sports and its Influence on Non-Carious Cervical Lesion
La ingesta de isotónicos en la práctica deportiva y su influencia en la lesión cervical no cariosa
Samuel Gomes da Silva Teles*
samuel.gomes100@hotmail.com
Emanuelle Rocha de Souza*
emanuellerochadesouza@gmail.com
Erich Lima da Silva*
erick_carapebus@hotmail.com
Victor Paes Dias Gonçalves**
victor_paesdias@yahoo.com.br
Marcus Menezes Alves Azevedo***
menezesazevedo@hotmail.com
Lucas Costa Rangel****
nutricionistalucasrcosta@gmail.com
*Graduanda/o do curso de Odontologia
Centro Universitário Fluminense (UNIFLU), RJ
**Graduado
em Odontologia pelo
Centro Universitário Fluminense (UNIFLU), RJ
Especializando em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial
Faculdade São Leopoldo Mandic
Membro da Academia Brasileira de Odontologia do Esporte
***Mestre em Prótese Dentária. Faculdade São Leopoldo Mandic
Professor de PoliClínica e Clínica Odontológica Integrada Curso de Odontologia
Centro Universitário Fluminense (UNIFLU), RJ
****Graduado em Nutrição. Facultade Estacio de Sá, RJ
Pós-graduando em Nutrição Clínica, Funcional e Fitoterapica
pela Faculdade Cathedral, RJ
(Brasil)
Recepção: 22/04/2020 - Aceitação: 23/06/2020
1ª Revisão: 26/05/2020 - 2ª Revisão: 18/06/2020
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Citação sugerida: Teles, S.G.S., Souza, E.R., Silva, E.L., Gonçalves, V.P.D., Azevedo, M.M.A. y Rangel, L.C. (2020). Ingestão de isotônicos na prática esportiva e sua influência na lesão cervical não cariosa. Lecturas: Educación Física y Deportes, 25(267), 147-156. Recuperado de: https://doi.org/10.46642/efd.v25i267.2179
Resumo
A Odontologia no Esporte tem o compromisso de divulgar para os esportistas, assim como para toda a população, a importância da saúde bucal e da aquisição de hábitos saudáveis para a manutenção da saúde integral. O artigo tem como objetivo avaliar através da revisão da literatura a influência dos isotônicos na lesão cervical não cariosa. A metodologia utilizada partiu da pesquisa em sete bases de dados, incluindo PubMed, Scopus, Lilacs, Scielo, Web of Science, Cochrane Library e Google Scholar, publicados entre os anos de 2002 e 2019. Os resultados recuperaram 220 publicações. Após a leitura dos títulos e resumos, 63 textos foram conduzidos para leitura integral. Com 36 exclusões, 27 publicações foram consideradas para elaboração da síntese do artigo. Concluiu-se que o baixo pH endógeno dos isotônicos é um fator significativo para dissolver os cristais de hidroxiapatita das estruturas dentais, apresentando um fator extrínseco para a formação da lesão cervical não-cariosa.
Unitermos
: Saúde bucal. Isotônicos. Cárie dental.
Abstract
The Sport Dentistry it is committed to disseminating to athletes, as well as to the entire population, the importance of oral health and life skills for integral health maintenance. The article aims to evaluate through the literature review the influence of isotonics on non-carious cervical lesion. The methodology used was based on research in seven databases, including PubMed, Scopus, Lilacs, Scielo, Web of Science, Cochrane Library and Google Scholar, published between the years 2002 and 2019. The results recovered 220 publications. After reading the titles and abstracts, 63 papers were conducted for full reading. With 36 exclusions, 27 publications were considered to elaborate the synthesis of the article. It was concluded that the low endogenous pH of the isotonics is a significant factor to dissolve the hydroxyapatite crystals of the dental structures, presenting an extrinsic factor for the formation of the non-carious cervical lesion.
Keywords
: Oral health. Isotonics. Dental caries.
Resumen
La Odontología en el Deporte se compromete a divulgar a los deportistas, así como a toda la población, la importancia de la salud bucal y la adquisición de hábitos saludables para el mantenimiento de la salud integral. El artículo tiene como objetivo evaluar a través de la revisión de la literatura la influencia de los isotónicos en la lesión cervical no cariosa. La metodología utilizada se basó en la investigación en siete bases de datos, incluyendo PubMed, Scopus, Lilacs, Scielo, Web of Science, Cochrane Library y Google Scholar, publicadas entre los años 2002 y 2019. Como resultado se encontraron 220 publicaciones. Después de leer los títulos y los resúmenes, se consideraron 63 textos para su lectura completa. Con 36 exclusiones, se consideraron 27 publicaciones para la elaboración síntesis del artículo. Se concluyó que el bajo pH endógeno de los isotónicos es un factor significativo para disolver los cristales de hidroxiapatita de las estructuras dentales, presentando un factor extrínseco para la formación de la lesión cervical no cariosa.
Palabras clave:
Salud bucal. Isotónicos. Caries dental.
Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 25, Núm. 267, Ago. (2020)
Introdução
A Odontologia no Esporte tem o compromisso de divulgar para os esportistas, assim como para toda a população, a importância da saúde bucal e da aquisição de hábitos saudáveis para a manutenção da saúde integral (Gonçalves et al., 2018). A abordagem interdisciplinar entre a nutrição e a odontologia auxiliam o desempenho do atleta, visto que o bom balanceamento entre atividade física, alimentação e hidratação são imprescindíveis para um bom desempenho na prática esportiva. (Gallagher et al., 2019)
O isotônico é uma bebida que vêm sendo adotado por atletas de diversas modalidades com o intuito de promover uma reposição hidroeletrolítica adequada durante e após atividades físicas de média ou alta intensidade, no entanto, essas bebidas vêm demonstrando que seu uso gera efeitos deletérios para saúde bucal devido ao seu baixo pH endógeno contribuir incisivamente para a lesão cervical não cariosa (LCNC). (Tolentino, 2016)
A lesão cervical não cariosa começa com a desmineralização das camadas superficiais do esmalte, podendo evoluir para uma perda considerável de estrutura dental (Soares et al., 2015). A literatura ainda é escassa à respeito da associação dos isotônicos com a desmineralização do esmalte dental, devido a diferentes tipos de abordagens, ambientes esportivos, considerações do tipo de atletas e apoio multidisciplinar. (Needleman et al., 2019)
Devido ao fato do potencial hidrogeniônico (pH) crítico do esmalte dentário ser de 5,5, qualquer solução com pH inferior a esse poderá causar LCNC, particularmente se o ataque for de longa duração e repetir-se frequentemente. (Zhang et al., 2009)
Durante os Jogos Olímpicos de Londres em 2012, Needleman et al. (2013) realizaram uma pesquisa científica com objetivo de avaliar níveis de má saúde bucal entre os atletas. Ao todo foram abordados 278 atletas de 25 esportes. A partir dos resultados, observaram que a erosão dentária foi diagnosticada em 45% dos atletas. Posteriormente, Needleman et al. (2016) avaliaram oito (8) equipes do Reino Unido, das quais cinco (5) equipes eram da Premier League, 2 da Championship e 1 da League One. O levantamento concluiu que a saúde bucal era deficiente, sendo que, dos participantes, 37% tiveram cárie dentária ativa e 53% erosão dentária.
Com base nessas assertivas, este estudo teve como objetivo investigar pesquisas publicadas à respeito da influência dos isotônicos na lesão cervical não cariosa.
Métodos
Publicações que relatavam sobre o efeito erosivo das bebidas isotônicas e a abordagem integrada da Nutrição e a Odontologia na prática esportiva como estratégia de prevenção em saúde como impacto positivo no desempenho dos atletas foram pesquisadas. Artigos originais, artigos de opinião, editoriais, revisões, trabalhos de conclusão de curso, infográficos, citações de livro, dissertações de mestrado, teses de doutorado, cartas aos editores, comentários, comunicações curtas, perspectivas, relatos especiais e entrevistas foram incluídos na revisão.
Foram pesquisadas sete bases de dados, incluindo PubMed, Scopus, Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (Lilacs), Scielo, Web of Science e Cochrane Library, além da ferramenta de pesquisa acadêmica Google Scholar, publicados entre os anos de 2002 e 2019. As bases de dados foram pesquisadas por um dos pesquisadores usando a variação dos descritores combinados para a pesquisa em dois diferentes idiomas, sendo o inglês e o português para possibilitar diferentes resultados de busca. Os descritores pesquisados foram: “Acids”, “Surface Properties”, “Carbonated beverages”, “Isotônicos”, “Potencial erosivo”, “Erosão Dental” e “Lesão Cervical não cariosa”. Artigos em outro idioma que não o inglês e o português foram excluídos desta revisão.
Foi realizada uma pesquisa no banco de dados e as publicações foram acessadas. O rastreamento ocorreu da seguinte forma.
Apenas publicações que relatavam abordagem integrada da Nutrição e a Odontologia na prática esportiva e o efeito erosivo das bebidas isotônicas sobre as estruturas dentais foram incluídos. Os resumos das publicações armazenadas foram lidos, e, se necessário, as seções de introdução e/ou resultados e discussão foram cuidadosamente investigadas para garantir que as publicações atendessem aos critérios de inclusão. Foi realizada a triagem dos títulos e resumos de acordo com os critérios de elegibilidade. Discordâncias foram discutidas e posteriormente resolvidas por consenso. Todas as publicações identificadas foram revisadas.
As referências de cada publicação foram pesquisadas manualmente na busca de outros estudos de interesse desta revisão.
Aquelas publicações que não propunham relações específicas entre o potencial erosivo das bebidas isotônicas sobre as estruturas dentais, mas relatavam a composição delas e também sobre o estilo de vida dos atletas de diferentes modalidades, foram coletadas e consideradas.
A questão a ser respondida pela pesquisa foi: “Qual a possível relação entre o pH dos isotônicos como fator de risco para a formação de lesão cervical não-cariosa?”.
Resultados
Foram excluídas as duplicatas entre as bases de dados (n = 12), e o procedimento de buscas eletrônicas recuperou 220 publicações. Após a leitura dos títulos e resumos, 63 textos foram conduzidos para leitura integral. Com 36 exclusões (não discutiram diretamente as relações específicas entre o potencial erosivo das bebidas isotônicas sobre as estruturas dentais, nem relatavam sobre o estilo de vida dos atletas de diferentes modalidades: n = 11; os termos Isotônicos e Erosão Dental constavam apenas na afiliação dos autores ou nas referências da publicação: n = 25), 27 publicações foram consideradas para elaboração da síntese do presente artigo.
Os tipos de publicações encontrados foram variados, quais sejam: 20 (74,1%) artigos originais, 2 (7,4%) artigos de revisão, 1 (3,7%) Dissertação de Mestrado, 1 (3,7%) Citação de livro, 1 (3,7%) Infográfico, 1 (3,7%) Trabalho de Conclusão de Curso, 1 (3,7%) Tese de Doutorado.
Foram encontrados autores de 8 países representando cinco continentes. Dentre estas publicações, 18 (66,7%) apresentavam relação entre a influência da composição dos isotônicos sobre a erosão dental ou aos materiais restauradores odontológicos. As investigações relacionadas ao estilo de vida dos atletas e a saúde bucal foram frequentes (9; 33,3%). Destes trabalhos laboratoriais e ensaios clínicos foram os mais encontrados (14; 51,9%). A participação de Cirurgiões-Dentistas em equipes multidisciplinares, com foco em estratégias preparatórias dos atletas também foram propostas encontradas (9; 33,3%). Outras 4 (14,8%) publicações, apenas relatavam a importância da abordagem interdisciplinar entre a Odontologia e a Nutrição como fator essencial no desempenho esportivo.
Discussão
Os isotônicos, ou bebidas esportivas, são bastante consumidos pela população, principalmente por atletas profissionais e por pessoas que praticam esportes. Uma bebida isotônica é aquela que apresenta concentração de substâncias ou minerais semelhantes às encontradas nos fluidos orgânicos (Wang et al., 2012). O balanço entre os eletrólitos (minerais) evita a desidratação durante a prática esportiva. Um isotônico deve possuir a mesma pressão osmótica que o sangue humano. Essa característica permite que a bebida seja rapidamente absorvida após o consumo. (Tolentino, 2016)
A erosão dental é um tipo de lesão cervical não cariosa e pode ser classificada de várias formas, sendo a mais usual a classificação segundo a etiologia, ocorre pela dissolução química dos tecidos mineralizados, sendo independentes da presença de microrganismos podendo ser causada por ácidos de origem interna ao corpo humano (endógenos) ou externa (exógeno). (Ehlen et al., 2008)
O efeito erosivo de uma solução sobre os tecidos dentários depende de seu pH e de sua titrabilidade ácida (Zeola et al., 2019). Conforme descrito por Gomes (2010), alguns dos componentes salivares são capazes de equilibrar os diversos desafios ácidos que se apresentam na boca, sendo eles o pH salivar na secreção (normalmente entre 6.5 e 7.5), a capacidade tampão e a presença de amônia e ureia. Contudo, já foi demonstrado que a saliva não anula totalmente a ação deste tipo de agressão. Com a exposição prolongada e frequente às soluções ácidas, a secreção salivar vai se tornando mais escassa, e, consequentemente, a saliva acaba reduzindo ou até perdendo sua atuação tão importante na proteção dos componentes bucais. (Roithmann, 2018)
A função de limpeza da cavidade bucal pela saliva é alcançada durante a estimulação máxima, a qual é observada após a ingestão de alimentos e bebidas (Teixeira et al., 2018). Portanto, no momento da ingestão de bebida isotônica após a prática de atividade física, o atleta pode ter uma redução no fluxo salivar. Assim, a frequência de consumo de bebidas potencialmente erosivas durante a prática prolongada de exercícios pode também contribuir para reduzir a ação de limpeza da bebida. Logo, uma redução no fluxo salivar e um prolongado tempo de contato entre a bebida e os dentes poderia aumentar o risco de LCNC. (Venables et al., 2005)
A recomendação para uso de isotônico se dá a partir de sessenta minutos de duração da atividade desempenhada, pois a partir desse momento, o corpo humano necessita repor os sais minerais e carboidratos perdidos para o equilíbrio homeostático, seja para dar continuidade a atividade física ou repor uma parte do glicogênio muscular e hepático no pós-exercício (Vargas et al., 2013). Ressaltando-se que ao ingerir o isotônico, deve-se consumir a mesma quantidade de água, melhorando sua absorção e efeito. Contudo, recomenda-se a utilização de repositores hidroeletrolíticos apenas por atletas sem determinadas patologias, como Hiperglicemia ou Hipertensão Arterial Sistêmica, além disso, devido a sua grande carga de sódio pode levar evoluções de quadros de insuficiências cardiovasculares e doenças renais. (Fontan e Amadio, 2015)
A redução do pH está associada ao aumento da concentração de espécies H+ no meio, desta forma o equilíbrio do sistema se desloca para a direita favorecendo o processo de dissolução da hidroxiapatita (Galvão et al.,2019). Todas as bebidas analisadas no estudo de Assis et al. (2015) apresentam de acordo com este parâmetro potencial erosivo, pois os valores de pH mensurados encontram-se abaixo do valor crítico para a erosão dentária que é de 5,5. O baixo valor de pH encontrado está relacionado com a composição química das bebidas avaliadas que podem conter ácidos cítrico, fosfórico, tartárico, maleico, tânico e flavonoides, além de citrato de sódio. Estes resultados estão de acordo com os encontrados por diversos pesquisadores que avaliaram o pH de diversas bebidas ácidas. (Daibs et al., 2012, Low e Alhuthali, 2008)
Cavalcanti et al. (2010) realizam uma pesquisa cientifica avaliando nove bebidas isotônicas de diferentes sabores de duas distintas marcas comerciais. Todas apresentaram um pH ácido, com menor e maior valor de, respectivamente, 2,03 (sabor tangerina) e 2,93 (sabor limão). Nos estudos realizados por Buratto et al. (2002) e por Zandim et al. (2008), o pH das bebidas esportivas analisadas apresentaram uma variação de 2,92 a 3,38 e de 3,02 a 3,08 respectivamente, valores estes que diferem dos encontrados na pesquisa de Cavalcanti et al. (2010), mas que corroboram a constatação de que essas bebidas possuem pH abaixo do considerado crítico e, portanto, têm a capacidade de produzir efeito erosivo sobre a superfície do esmalte dental. Confirmando esta assertiva, Xavier et al. (2010) verificaram a diminuição dos valores de microdureza do esmalte dentário após a exposição a diferentes bebidas isotônicas, comprovando a perda mineral do tecido dentário.
Estudos in vitro de Assis et al. (2015) demonstraram dentes que estavam armazenados em formol, e estes foram secos com papel absorvente e pesados individualmente em balança analítica da marca Bel Engineering e modelo MARK 205A, obtendo assim os valores do peso inicial (PI). Em seguida os dentes foram imersos em béqueres contendo 80 mL de cada bebida citada anteriormente, e pesados nos tempos: 5 minutos, 30 minutos, 1 hora, 24 e 48 horas, obtendo os valores finais (PF). Sendo realizado o seguinte cálculo para cada tempo: PI – PF. Como controle foi realizado medidas de perda de massa em dentes submersos em 80 mL de água destilada e deionizada. Após 24 e 48 horas de imersão dos dentes, o Gatorade® apresentou o maior potencial erosivo (1, 135%; 1,812%) do estudo.
Em relação a materiais restauradores, Leal et al., (2016), destacam que os ácidos degradam estes materiais através da perda das partículas de carga do agente de união (silano) e matriz resinosa. Com um período prolongado de exposição, os polímeros sofrem enfraquecimento na interação entre as pontes de hidrogênio, o que diminui a microdureza da resina. Os materiais restauradores odontológicos são prejudicados pelos ácidos devido ao aumento da solubilidade e consequente absorção de água, que se difunde na matriz causando degradação e diminuição das propriedades mecânicas, podendo gerar falha do material. Quanto aos cimentos de ionômero de vidro resinosos, o ácido gera dissolução da matriz resinosa periférica às partículas de vidro, o que ocasiona dissolução da camada de hidrogel e favorece a absorção de água, prejudicando as propriedades do cimento. O cimento de ionômero de vidro convencional naturalmente apresenta propriedades inferiores de resistência e maior solubilidade em meio ácido.
Estes resultados são concordantes com os relatados por Ehlen et al. (2008) que observaram lesões maiores no esmalte após 25h de contato em relação ao Gatorade®. Este fato está associado à composição da bebida que contém ácido cítrico relatado na literatura como um ácido mais agressivo que o fosfórico, bem como elevado teor de sais.
Sugere-se também por alguns profissionais e pesquisadores que a água de coco verde (pH em torno de 5,0) pode ser usada em substituição de isotônicos, proporcionando a hidratação necessária sem provocar danos significativos às estruturas dentais durante o exercício físico (Namba e Padilha, 2016). Sendo um produto natural, tem suas benesses estabelecidas e comprovadas para todo o sistema digestório humano, sendo um excelente repositor de sais minerais.
É importante que o cirurgião-dentista e o nutricionista promovam a adoção de práticas saudáveis entre os usuários de bebidas isotônicas, sejam eles atletas profissionais, amadores ou apenas praticantes regulares de atividades físicas, tais como a diminuição do tempo em que as mesmas permanecem em contato com os elementos dentários e a redução na frequência de uso dessas bebidas. (Cavalcanti et al., 2010)
Conclusão
A literatura ainda é escassa em relação aos estudos sobre os efeitos adversos das bebidas isotônicas no que se refere à sua influência sobre o esmalte dental. Entretanto, é possível considerar que o baixo pH endógeno dos isotônicos ser inferior ao limite crítico da integridade dental ser um fator significativo para dissolver e enfraquecer os cristais de hidroxiapatita das estruturas dentais, apresentando um fator extrínseco para a formação da lesão cervical não-cariosa. Nota-se também a importância de uma visão interdisciplinar entre a nutrição e a odontologia, visto que, a saúde bucal está atrelada à saúde integral e consequentemente ao desempenho positivo do atleta.
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