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ISSN 1514-3465

 

Efeitos de meias de compressão sobre o 

desempenho intermitente de jogadoras de futsal

Effects of Compression Stockings on the 

Intermittent Performance of Futsal Players

Efectos de las medias de compresión sobre el 

rendimiento intermitente de jugadoras de futsal

 

Izabela Aparecida dos Santos* **

izabelaeduca94@hotmail.com

Marina de Paiva Lemos**

marina_plemos@hotmail.com

Guilherme Gularte de Agostini***

guilherme.faefi@gmail.com

Gustavo Ribeiro Mota*

grmotta@gmail.com

 

*Grupo de Pesquisa Desempenho Humano e Esporte

Programa de Pós-graduação em Educação Física

Departamento de Ciências do Esporte

Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), Uberaba

**Grupo de Pesquisa Fisiologia do Exercício na Saúde e Desempenho Humano (FIESD)

Departamento de Educação Física, Universidade de Uberaba (UNIUBE), Uberaba.

***Laboratório de Fisiologia do Desempenho

Faculdade de Educação Física e Fisioterapia

Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Uberlândia

(Brasil)

 

Recepção: 10/03/2020 - Aceitação: 26/07/2020

1ª Revisão: 21/06/2020 - 2ª Revisão: 25/06/2020

 

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https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/deed.pt

Citação sugerida: Santos, I.A., Lemos, M.P., Agostini, G.L. y Mota, G.R. (2020). Efeitos de meias de compressão sobre o desempenho intermitente de jogadoras de futsal. Lecturas: Educación Física y Deportes, 25(267), 74-85. Recuperado de: https://doi.org/10.46642/efd.v25i267.2048

 

Resumo

    Introdução: O uso de meias de compressão com o objetivo de otimização do desempenho vem se popularizando de maneira significativa, porém muitas ainda são as perguntas para saber se de fato elas possuem capacidade ergogênica. Objetivo: Avaliar agudamente o uso de meias de compressão (MC) sobre o YoYo intermitente endurance teste 2 (YoYoIE2) e indicadores fisiológicos em futebolistas. Métodos: Oito futebolistas do sexo feminino realizaram de maneira cruzada e randômica o YoYoIE2 usando MC ou meias controle (CON). Resultados: A distância percorrida no YoYoIE2 não diferiu (p=0,11) entre MC (827,5 ± 350 metros) e CON (655 ± 237 metros), mas o tamanho do efeito foi moderado (0,60). O desempenho individual em 75% foi maior usando as MC do que as CON. Percepção subjetiva de recuperação, lactato em repouso e pós teste, frequência cardíaca (FC) pico, FC de recuperação e percepção subjetiva de esforço não diferiram (p>0,05) entre MC e CON. Conclusão: O uso de MC durante exercício intermitente pode ter efeito ergogênico quando considerado o tamanho do efeito moderado e as respostas individuais. Porém as MC parecem não influenciar indicadores fisiológicos e de intensidade associados ao YoYoIE2.

    Unitermos: Recursos ergogênicos. Roupas compressivas. Esportes coletivos. Esporte feminino.

 

Abstract

    Background: The use of compression stockings with the objective of optimizing performance has become popular, but there are still many questions to be asked as to whether they have ergogenic capacity. Objective: To acutely evaluate the use of compression stockings (CS) on the intermittent YoYo endurance test 2 (YoYoIE2) and physiological indicators in footballers. Methods: Eight female soccer players performed the YoYoIE2 in a crossed and random way using CS or control socks (CON). Results: The distance covered in YoYoIE2 did not differ (p=0.11) between MC (827.5 ± 350 meters) and CON (655 ± 237 meters), but the effect size was moderate (0.60). The 75% individual performance was higher using CS than CON. Subjective perception of recovery, lactate at rest and post-test, peak heart rate (HR), recovery HR and subjective perception of effort did not differ (p>0.05) between CS and CON. Conclusion: The use of CS during intermittent exercise can have an ergogenic effect when considering the size of the moderate effect and individual responses. However, CS do not seem to influence physiological and intensity indicators associated with YoYoIE2.

    Keywords: Ergogenic feature. Compressive clothing. Team sports. Women’s sport.

 

Resumen

    Introducción: El uso de medias de compresión con el objetivo de optimizar el rendimiento se ha vuelto significativamente popular, pero todavía hay muchas preguntas por hacer si realmente tienen capacidad ergogénica. Objetivo: evaluar de manera aguda el uso de medias de compresión (MC) en la prueba de resistencia intermitente YoYo 2 (YoYoIE2) e indicadores fisiológicos en futbolistas. Métodos: Ocho jugadoras de fútbol realizaron el YoYoIE2 de forma cruzada y aleatoria usando MC o medias de control (CON). Resultados: La distancia recorrida en YoYoIE2 no difirió (p=0,11) entre MC (827,5 ± 350 metros) y CON (655 ± 237 metros), pero el tamaño del efecto fue moderado (0,60). El rendimiento individual del 75% fue mayor usando MC que CON. La percepción subjetiva de la recuperación, el lactato en reposo y después de la prueba, la frecuencia cardíaca máxima (FC), la FC de recuperación y la percepción subjetiva del esfuerzo no difirieron (p>0,05) entre MC y CON. Conclusión: El uso de MC durante el ejercicio intermitente puede tener un efecto ergogénico cuando se considera el tamaño del efecto moderado y las respuestas individuales. Sin embargo, MC no parece influir en los indicadores fisiológicos y de intensidad asociados con YoYoIE2.

    Palabras clave: Características ergogénicas. Ropa compresiva. Deportes colectivos. Deporte femenino.

 

Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 25, Núm. 267, Ago. (2020)


 

Introdução 

 

    Inicialmente as investigação acerca de meias de compressão (MC) eram voltadas para aspectos de saúde circulatória devido ao mecanismo de melhora do retorno venoso (Agu, Hamilton, & Baker, 1999). Atualmente, o uso de MC com potencial efeito ergogênico aumentou em razão da comprovação de incremento no desempenho físico, além da acessibilidade (baixo custo) e relatos de praticantes sobre a sensação de menor percepção de tensão na panturrilha durante o exercício fazendo uso das MC. (Vercruyssen et al., 2014)

 

    Uma das razões fisiológicas para usar MC durante exercícios é o potencial incremento do fluxo sanguíneo muscular devido à compressão gradual. Por exemplo, estudo evidenciou que as MC não foram eficazes para desempenho de corrida de endurance, mas houve aumento no fluxo sanguíneo muscular e maior oferta de oxigênio nesse tipo de corrida utilizando MC. Além disso, em velocidades mais rápidas (> 12 km.h–1) as MCs aumentaram a concentração de hemoglobina circulante (dentro do músculo vasto lateral) analisada pela espectroscopia de infravermelho (NIRS) acoplado no músculo durante o exercício, além de diminuir a frequência cardíaca e aumentar índice de oxigenação tecidual, sugerindo melhora no fluxo venoso. (Dascombe, Hoare, Sear, Reaburn, & Scanlan, 2011)

 

    Outro potencial benefício da MC é a chamada proteção muscular, pesquisadores mostraram que a coxa direita sob compressão (ou seja, vs. coxa esquerda sem compressão) apresentou menor dano muscular e retardou o aparecimento de dores musculares em jogadores de futebol após teste de corrida com inclinação negativa foi atribuído o efeito benéfico da vestimenta de compressão a menor estresse mecânico ao tecido, gerando redução do dano muscular causado pelo exercício e ao menor índice de dor muscular de início tardio. Embora o estudo tenha apresentado evidência robusta (isto é, biópsia muscular) de eficácia da roupa de compressão, esses autores usaram exercício inespecífico para o futebol (corrida contínua em esteira) com aplicação prática limitada e não especificaram o grau de compressão, dificultando a reprodutibilidade do experimento. (Valle et al., 2013)

 

    Além desses benéficos fisiológicos, estudos relataram que o uso de MC durante jogos de futebol podem otimizar o desempenho em corridas de alta velocidade (avaliadas por GPS), diminuir a percepção de dor após 72 horas e minimizar a fadiga induzida pelo jogo. (Gimenes et al., 2019; Pavin et al., 2019)

 

    Apesar de efeitos benéficos, é desconhecido o efeito das MC em exercícios de característica intermitente e de alta intensidade, como por exemplo, o teste YoYo intermitente endurance nível 2 (YoYoIE2), este teste envolve aceleração, desaceleração/mudança de direção e é sensível para detectar redução de desempenho intermitente agudamente em jogadoras de futsal (Bradley et al., 2011; dos Santos, de Paiva Lemos, & da Mota, 2018). Além disso, o desempenho no YoYoIE2 está associado ao desempenho físico específico em jogo de futebolistas femininas de diferentes níveis competitivos (Bradley et al., 2014), sendo, portanto, altamente indicado para ser utilizado como ferramenta de avaliação física específica em futebolistas.

 

    Considerando que as MC podem minimizar o dano muscular induzido pelo exercício e melhorar o fluxo venoso durante o exercício (Dascombe et al., 2011; Valle et al., 2013), e ainda, que o YoYoIE2 é uma ferramenta altamente reprodutível, sensível e associada ao desempenho de partidas de futebol e futsal, sendo assim, este estudo teve como objetivo avaliar o efeito agudo da MC no exercício intermitente de alta intensidade (YoYoIE2) e indicadores fisiológicos em jogadoras amadoras de futsal feminino.

 

Métodos 

 

Amostra e cuidados éticos 

 

    Oito jogadoras de futsal (idade = 22,3 ± 4,6 anos, estatura (metros) = 1,64 ± 0,3, massa corporal (quilogramas) = 63,9 ± 8,9) com tempo de prática superior a um ano, sem lesões agudas e crônicas, com volume de treino de seis horas por semana, foram selecionadas por conveniência para participar deste estudo. Os procedimentos experimentais foram aprovados pelo comitê de ética e pesquisa da Universidade Federal do Triângulo Mineiro sob o parecer N° 993.636/2015 para experimentos humanos e foram realizados de acordo com a Declaração de Helsinque. Foram explicados todos os procedimentos as participantes e as mesmas assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido previamente à coleta de dados. As participantes foram instruídas a não realizarem exercícios físicos vigorosos, não ingerirem substâncias cafeinadas ou alcoólicas no período de quarenta e oito horas (48-h) que antecederam o teste, além de serem consistentes na dieta, bem como na rotina diária. (da Silva, Simim, Marocolo, Franchini, & da Mota, 2015)

 

Desenho experimental 

 

    O efeito das MC no desempenho do YoYoIE2, bem como respostas da frequência cardíaca (FC), concentração de lactato e escala de percepção de esforço foram avaliados de maneira randomizada, balanceada e cruzada.

 

    As participantes realizaram três sessões de familiarização em dias diferentes (intervalo de 48-h) com todos os procedimentos (teste, escalas). Na última sessão de familiarização, as medidas antropométricas foram realizadas para caracterizar a amostra.

 

    Passados sete dias, as participantes realizaram o YoYoIE2 usando MC (n = 4) ou meias controle (CON - controle, n = 4). 48-h depois, as participantes executaram novamente o YoYoIE2, mas usando a condição oposta (design crossover: MC ou CON).

 

    Todas as meias foram distribuídas por um único pesquisador, no qual informou as participantes que ambas as meias poderiam otimizar o desempenho para evitar potencial efeito placebo/Nocebo, comum em estudos com recursos ergogênicos e desempenho. (Marocolo et al., 2016)

 

    As participantes não tinham conhecimento do tipo de meia que estavam usando, porém, a dificuldade vestir a MC, a sensação de compressão não as cegou. Além disso, as futebolistas foram mantidas cegas para o desempenho e outros indicadores até o final da pesquisa, ou seja, nenhuma informação sobre a distância percorrida (velocidade YoYoIE2 e estágio do teste - áudio em idioma desconhecido), FC, lactato e escalas (Marocolo et al., 2017). O investigador que manipulou os dados não tinha informações sobre a condição do participante (MC ou CON) no momento da análise, para evitar possíveis vieses no experimento.A Figura 1 representa o desenho experimental.

 

Figura 1. Desenho experimental

Figura 1. Desenho experimental

Nota: PSREC=Percepção subjetiva de recuperação; 48-h = Quarenta e oito horas; FC = Frequência cardíaca; min = Minutos.

Fonte: Autores (2020)

 

Meias de compressão e meias controle 

 

    As MCs utilizadas no estudo atual eram novas e obtinham compressão de 15-20 mmHg (¾ modelo com “dedo fechado”, Sigvaris® linha Performance). Para atender os tamanhos adequados de meias foram realizadas medições anteriormente ao estudo conforme recomendações do fabricante. Na condição controle, as participantes usaram meias comuns (novas também) normalmente usadas em partidas de futebol/futsal, com a mesma cor das MC. A única diferença foi a compressão, ambas as meias (CON e MC) foram distribuídas pelo mesmo pesquisador.

 

Percepção subjetiva de recuperação (PSREC) 

 

    Antes de cada sessão, todas as participantes indicaram uma pontuação em uma escala de recuperação percebida (Kentta & Hassmen, 1998) (onde 6 indicava "não recuperado" e 20 "totalmente recuperado"), sobre seus aspectos físicos de recuperação percebida para se certificar que a futebolista estava na mesma condição de recuperação em ambos os testes (ambas condições). Caso uma futebolista indicasse 11 ou menos (mal recuperado) pela escala de percepção de recuperação, ela seria excluída da sessão do dia e convidada a esperar até o dia seguinte para realizar novamente os procedimentos (no presente estudo não houve tal ocorrência, ou seja, em ambas as condições, as participantes estavam recuperadas igualmente).

 

YoYo intermitente endurance nível 2 (YoYoIE2) 

 

    Depois de vestir as meias, o aquecimento do YoYoIE2 começou. O aquecimento consistiu nos três primeiros níveis do próprio teste. O YoYoIE2 consiste em corridas repetidas de 2 x 20-m em estágios de velocidade progressivamente crescentes (velocidade inicial ~ 12 km.h-1), guiada por áudio específico (5-s para recuperação em área marcada de 2,5 x 2-m atrás da linha de chegada). O encerramento do teste ocorreu devido à falta de alcance nas metragens e/ou do ritmo por duas vezes. (Bradley et al., 2011)

 

Frequência cardíaca (FC), percepção subjetiva de esforço (PSE), concentração de lactato sanguíneo 

 

    A FC foi monitorizada ao longo do teste e após (recuperação de 3minutos). Utilizamos o monitor cardíaco Polar Team System®, constituído por fitas no tórax da participante.

 

    Após YoYoIE2, era relatada (individualmente para evitar influências externas) a percepção subjetiva de esforço através da escala CR-10 de Borg. A escala varia de 0 a 10, onde 0 é "nada" e 10 é "muito, muito difícil (máximo)". (Borg & Kaijser, 2006)

 

    Amostras de sangue (25 μL) foram coletadas no momento em repouso (sentadas e descansadas), bem como 5 minutos após o YoYoIE2, a concentração de lactato foi medida por um analisador portátil de lactato devidamente calibrado e validado (Sistema Accutrend® Plus, ROCHE, Basiléia, Suíça). (Bishop, 2001)

 

Análise estatística 

 

    Com a distribuição normal da amostra utilizamos o teste T pareado (dados paramétricos) para comparar os resultados das duas sessões (MC vs controle). O nível de significância adotado foi de 5%. Além disso, calculamos o Tamanho do Efeito (ES; Cohen d) para a variável de desempenho e aplicamos a seguinte classificação: trivial (<0.2), pequena (> 0.2 - 0.6), moderada (> 0.6-1.2), grande (> 1.2 - 2.0) e muito grande (> 2.0) com base em recomendações (Batterham & Hopkins, 2006). Todas as análises foram realizadas usando GraphPad®. (Prism 6.0, San Diego, CA, EUA)

 

Resultados 

 

    Os escores da pontuação da percepção de recuperação das futebolistas não diferiu (MC = 13,7 ± 0,4, CON = 13,9 ± 0,5, p = 0,55).

A distância percorrida no YoYoIE2 não diferiu (p = 0,11) entre MC e CON, com valores de 827,5 ± 350-m vs655 ± 237-m, respectivamente (Figura 2). No entanto, o tamanho do efeito foi de 0,60 (moderado).

 

Figura 2. Distância percorrida no teste YoYoIE2. p > 0,05

Figura 2. Distância percorrida no teste YoYoIE2. p > 0,05

 

    Ao analisarmos individualmente as oito futebolistas, seis melhoraram o desempenho do teste em média ~200 metros a mais percorridos na condição MC quando comparado ao CON.

 

    A Tabela 1 mostra que não houve diferença significativa (p > 0,05) entre MC e CON sobre as respostas das FCs durante e após o teste, da lactatemia e PSE. A concentração de lactato sanguíneo aumentou significativamente ao pré-teste, sem diferença entre MC e CON (17,7% vs 19,4%; respectivamente).

 

Tabela 1. Variáveis associadas ao desempenho, intensidade e recuperação aguda

Variáveis

Meias de compressão

Controle

Valor de p

Lactato em repouso (mmol/L-1)

FCpico (bpm)

1,1 ± 0,1

191,9 ± 2,4

1,3 ± 0,1

189,9 ± 4,7

0,49

0,17

% FCpico

97%

96%

___

PSE

9,2 ± 2,2

9,6 ± 1,7

0,52

Lactato pós teste (mmol/L-1)

6,2 ± 2,8

6,7± 2,7

0,32

% aumento de lactato

27,7 %

29,4 %

___

FCrec. 1min (bpm)

165,1 ± 6,4

166,9 ± 7,1

0,68

FCrec. 3min (bpm)

94,6 ± 5,8

97,3 ± 5,5

0,13

Nota: Os dados são expressos como média ± desvio padrão e porcentagem (%); FCpico (bpm) = Frequência cardíaca máxima atingida dada em batimentos por minuto; % FCpico = Porcentagem de FCpico em relação à FC máxima; PSE = percepção subjetiva de esforço; aumento de% de lactato (pré vs pós teste); FCrec. = Frequência cardíaca de recuperação.

 

Discussão 

 

    Este é o primeiro estudo a avaliar o uso de MC no YoYoIE2 e indicadores fisiológicos em futebolistas do sexo feminino. Nosso principal achado foi que, embora a MC não apresentou efeito ergogênico sobre o YoYoIE2 quando consideramos a análise estatística tradicional (valor de p), o tamanho do efeito foi moderado, sugerindo importante benefício prático da MC. Além disso, quando analisamos individualmente, seis das oito participantes (ou seja, 75%) apresentaram maior desempenho com MC.

 

    Os escores de percepção subjetiva de recuperação, bem como a concentração sanguínea de lactato basal não se diferiram (MC vs. CON), sugerindo que as participantes partirão de um status de recuperação semelhantes. Como a recuperação é uma variável que interfere diretamente sobre o resultado (sucesso ou fracasso) no desempenho (Fullagar et al., 2015), valores similares entre as condições reforçam a segurança para testar nossa hipótese.

 

    O fato de que 75% da nossa amostra melhoraram o desempenho no YoYoIE2 (maior distância percorrida) fazendo uso das meias é importante porque pode significar resultados expressivos na prática. Como outros estudos mostraram que há forte correlação entre o desempenho no YoYoIE2 e o desempenho em corridas de alta intensidade em jogos de futebol feminino, o resultado atual é promissor.

 

    Estudos mostraram que roupas de compressão podem ajudar mecanicamente reduzindo o dano muscular induzido pelo exercício, mais especificamente no futebol, onde a atenuação de biomarcadores de dano muscular foi visto em jogadores utilizando roupas compressivas durante a partida, bem como pós-jogo usando por 7 horas em 3 dias (Marques-Jimenez et al., 2018). Pesquisadores encontraram que o uso de roupas compressivas demonstrou atraso na dor muscular causada pelo exercício, além da redução no dano muscular (analisado por biopsia muscular) (Valle et al., 2013). Visto isso, um possível mecanismo de explicação para manutenção e melhoria de desempenho da maioria das futebolistas do atual estudo é a redução do dano muscular, uma vez que este está diretamente ligado ao declínio de performance.

 

    Quanto à intensidade interna avaliada no presente estudo pelos dados de FC, esses não se divergiram (MC vs. CON), indicando assim que a intensidade interna não é influenciada pelo uso de MC. Nossos valores de FCpico (191,9 ± 2,4 bpm) são similares ao estudo (dos Santos et al., 2018), onde a FCpico em relação a máxima de futebolistas do sexo feminino no mesmo teste (YoYoIE2) chegou nos 90%, adiante, outro estudo testou a vestimenta compressiva no exercício intermitente em corredores, comparando as FC máxima nas situações compressão e controle, as mesmas também não se diferenciaram estatisticamente. (Ali, Creasy, & Edge, 2011)

 

    As vestimentas compressivas estão relacionadas desde sua invenção a melhora do retorno venoso por meio de sua compressão gradual na superfície da pele favorecendo a otimização da circulação e consequentemente o auxílio do sangue de volta ao coração (Vercruyssen et al., 2014). A FC não é um método direto dessa avaliação, porém parte-se do pressuposto que se há um aumento do retorno venoso por meio das MC beneficiará o volume diastólico final e volume sistólico, gerando assim uma resposta reduzida da FC para manter débito cardíaco. Em nosso estudo os dados de FC não se diferiram (MC vs. CON), podendo afirmar que neste caso as meias não influenciaram no retorno venoso, eventualmente pelo grau de compressão não ser o maior existente.

 

    Ainda sob o parâmetro de FC, mais especificamente de recuperação, analisamos agudamente (1 e 3min pós-teste) não havendo diferenças, corroborando como estudo onde a FC de recuperação após 1 hora do exercício intermitente não se distinguiram entre compressão e controle. (Ali et al., 2011)

 

    A concentração de lactato sanguíneo (5minutos pós-teste) aumentou considerável, o que é respaldado pela literatura para YoYoIE2 (Krustrup et al., 2015) em individuos parecidos com nossa amostra (baixo nível de treinamento) sendo assim, mostrando a colaboração da via anaeróbia para o suprimeto de adenosina trifosfato (ATP). Estudos que redução em níveis de lactato fazendo uso de vestimentas compressivas sugerem a utilização no período de recuperação (após o exercício) para eficiência desse parâmetro, já que durante o exercício não está claro seus efeitos. (Berry & McMurray, 1987; Lovell, Mason, Delphinus, & McLellan, 2011)

 

    A PSE é utilizada na prática e em estudos como indicador confiável e validado da intensidade interna do exercício (Borg & Kaijser, 2006). No presente estudo a PSE foi avaliada após o teste e alcançou valores próximos a 10, ou seja, ao máximo, propondo uma aproximação da intensidade interna máxima no teste em ambas situações (MC vs. CON). O fato da PSE não se diferenciar no experimental versus controle, sugere que o auxílio das MC no desempenho (melhora e manutenção) está voltada para mecânica da corrida e não a variáveis de intensidade.

 

    É necessário apresentar as limitações presente no estudo: a dificuldade em estabelecer uma condição placebo das MC, apesar de informarmos que ambas as meias (MC e controle) poderiam melhorar o desempenho no teste, a sensação de aperto da MC é inevitável e pode levar ou não ao efeito placebo. O tamanho amostral pequeno também pode ser considerado outra limitação. Embora se trate de um estudo pioneiro com essas variáveis e população, a presença de um analisador de gases, bem como marcadores bioquímicos viria contribuir na compreensão de mecanismos intrínsecos envolvendo as MC. Como recomendações futuras, analisar o efeito do uso das meias durante um jogo específico de futsal feminino se faz relevante.

 

Conclusão 

 

    Nossos resultados demonstram que o uso de MC durante exercício intermitente de alta intensidade (YoYoIE2) pode ter efeito ergogênico quando considerado o tamanho do efeito moderado e as respostas individuais de jogadoras amadoras de futsal. Entretanto as MC não alteram as respostas da frequência cardíaca, níveis de lactato sanguíneo e percepção subjetiva de esforço.

 

Agradecimentos 

 

    Fundação de amparo à pesquisa de Minas Gerais – FAPEMIG.

 

Referências 

 

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Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 25, Núm. 267, Ago. (2020)