A importância da água na vida dos adolescentes

The importance of water in adolescent’s life

La importancia del agua en la vida de los adolescentes

 

Maria Clara de Sales Rondon*

mariia.sales15@gmail.com

Grasiele de Souza Hinschink da Silva**

culinariadraga@gmail.com

Gina Andrade Abdala***

ginabdala@gmail.com

Nélia de Oliveira Damasceno da Silva****

nelia.damasceno@adventista.edu.br

Sammila Andrade Abdala*****

sammila.abdala@usp.br

 

*Graduanda em enfermagem. Centro Universitário Adventista de São Paulo

**Graduanda em Nutrição. Centro Universitário Adventista de São Paulo

***Enfermeira, doutora em Ciências (USP). Professora do mestrado em Promoção da Saúde

e Enfermagem no Centro Universitário Adventista de São Paulo (UNASP/SP)

****Enfermeira. Mestranda em Promoção da Saúde

e gerente Enfermagem do Hospital Adventista Silvestre

*****Sanitarista. Mestre em Saúde Pública. Universidade de São Paulo

(Brasil)

 

Recepção: 31/12/2019 - Aceitação: 24/01/2020

1ª Revisão: 21/01/2020 - 2ª Revisão: 22/01/2020

 

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Resumo

    Introdução: a água consiste em um elemento vital para a manutenção da vida. Em se tratando da faixa etária que envolve a adolescência, a água auxilia no bom funcionamento dos rins, diminuição do peso e evita a desidratação. A água é essencial para o funcionamento e equilíbrio de todo o metabolismo corporal. Objetivo: constatar por meio da literatura, a importância da água para a saúde dos adolescentes. Método: estudo de revisão integrativa de literatura, recorrendo-se às bases de dados LILACS, Medline e BDENF da BIREME/Biblioteca Virtual em Saúde, utilizando os descritores “Água” AND “Saúde do Adolescente” entre os dias 01 e 04 de outubro de 2019. Resultados: foram encontrados treze artigos que atenderam a pergunta de pesquisa, sendo os temas discutidos à frente sobre a importância da água na vida escolar do adolescente, a relação da água com o índice de massa corporal, peso e sobrepeso, a influência dos pais no consumo de água pelos filhos e o uso de copos descartáveis nos bebedouros para aumentar o consumo de água pelos adolescentes. Conclusão: a água contribui para a diminuição do sobrepeso e da obesidade, melhora a atenção visual e se torna imprescindível para a qualidade de vida dos adolescentes. Encontrou-se que a maioria não faz a ingestão diária recomendada desse líquido, o que se torna uma preocupação para a saúde pública em criar mecanismos que facilitem o acesso à água potável pelos adolescentes.

    Unitermos: Água. Saúde. Adolescente.

 

Abstract 

   Introduction: water is a vital element for sustaining life. It is essential for the functioning and balance of all body metabolism. Objective: to verify through literature, the importance of adequate water intake in adolescent health. Method: an integrative literature review was performed, using the LILACS, Medline and BDENF databases from BIREME/Virtual Health Library, and the descriptors “Water” AND “Adolescent Health” between 1st and 4th October 2019. Results: thirteen articles were found that answered the research question. The following topics summarize the discussions found in these articles: importance of water in the adolescent school life, the relationship of water with body mass index, weight and overweight, the influence of parents on water consumption by children, and the use of disposable cups in drinking fountains to increase water consumption by adolescents. Conclusion: water contributes to the reduction of overweight and obesity improves visual attention and becomes essential for adolescents. The articles analyzed indicate that most adolescents do not drink daily amount recommended, which makes it a public health concern. New mechanisms must be thought out to promote adequate water intake by adolescents.

    Keywords: Water. Health. Adolescent.

 

Resumen

    Introducción: el agua es un elemento vital para mantener la vida. Es esencial para el funcionamiento y el equilibrio de todo el metabolismo corporal. Objetivo: verificar a través de la literatura, la importancia de una ingesta adecuada de agua en la salud de los adolescentes. Método: se realizó una revisión integral de literatura, utilizando las bases de datos LILACS, Medline y BDENF - BIREME / Biblioteca Virtual de Salud, y los descriptores “Agua” y “Salud del adolescente” entre el 01 y el 04 de octubre de 2019. Resultados: se encontraron 13 artículos que respondieron a la pregunta de investigación. Los siguientes temas resumen las discusiones encontradas en estos artículos: la importancia del agua en la vida escolar de los adolescentes, la relación del agua con el índice de masa corporal, el peso y el sobrepeso, la influencia de los padres en el consumo de agua por parte de los niños y el uso de vasos desechables en bebederos para aumentar el consumo de agua de los adolescentes. Conclusión: el agua contribuye a la reducción del sobrepeso y la obesidad, mejora la atención visual y se vuelve esencial para los adolescentes. Los artículos analizados indican que la mayoría de los adolescentes no beben la cantidad diaria recomendada, lo que lo convierte en un problema de salud pública. Deben pensarse nuevos mecanismos para promover la ingesta adecuada de agua por parte de los adolescentes.

    Palabras clave: Agua. Salud. Adolescente.

 

Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 24, Núm. 260, Ene. (2020)


 

Introdução

 

    A água é “um líquido transparente, inodoro e insípido que é essencial para a maioria dos animais e vegetais, além de ser um excelente solvente para muitas substâncias. A fórmula química é óxido de hidrogênio (H2O)” (DeCS, 2019). A água é de fundamental importância para a manutenção da vida e está relacionada com a prevenção de infecções urinárias, litíase e cefaleia. (Barufaldi et al., 2015)

 

    A água corresponde normalmente a 60% do peso corporal e está distribuída em dois espaços principais, dentro e fora das células, denominados intra e extracelular (Cardoso, 2006). Os músculos e o cérebro possuem cerca de 75% de água, o sangue e os rins em torno de 81%, o fígado possui perto de 71%, os ossos cerca de 22% e o tecido adiposo por volta de 20%. (Cardoso, 2006)

 

    Uma pequena parte da água que precisamos para suprir as nossas necessidades diárias é formada pelo nosso corpo, durante alguns processos do metabolismo, e representa cerca de 19% do total ingerido (Azevedo et al., 2016). A oxidação dos nutrientes presentes nos alimentos produzirá água metabólica como produto final. Sendo assim, ao ingerir os grupos alimentares como carboidratos, proteínas e gorduras, estes contribuirão com a produção de água para o organismo. Por exemplo, a oxidação de 100 g de gordura, carboidrato e proteína produz em média 107 g, 55 g e 41 g de água, respectivamente. Porém, a água endógena proveniente deste processo é insuficiente, tornando-se essencial a ingestão de um volume adequado de água para manutenção das funções vitais do organismo. (Azevedo et al., 2016)

 

    Ingerir água é a maneira mais eficiente para garantir o bom funcionamento geral do organismo e evitar a desidratação em adolescentes, principalmente os praticantes de exercícios. A ingestão da água é um dos meios eficazes de recuperação do atleta durante as competições (Costa, 2019). Os sinais de desidratação podem ser: fadiga, sede intensa, dores de cabeça, câimbras e dificuldade de concentração. Normalmente, os adolescentes têm conhecimento prévio sobre hidratação, porém, não têm compreensão adequada sobre a importância desse assunto, influenciando no nível de hidratação deles. (Prote et al., 2019)

 

    No geral, os adolescentes não estão ingerindo a quantidade adequada de água diariamente. Esse aspecto foi confirmado no “Estudo de Riscos Cardiovasculares em Adolescentes” (ERICA), com 943 alunos em que 53,6% deles bebiam até quatro copos de água por dia. (Barufaldi et al., 2015)

 

    Apesar da necessidade hídrica, o consumo de água por parte dos adolescentes é menor do que o recomendado e, existe um aumento da ingestão de bebidas cafeinadas de diversas formas, assim como, o consumo precoce de álcool, que é uma preocupação da saúde pública devido aos riscos que representam à saúde. As crianças devem ser estimuladas desde cedo a tomar mais água para evitar a desidratação. Além disso, elas devem ser incentivadas a evitar os refrigerantes e as bebidas açucaradas, evitando os efeitos adversos da ingestão inadequada desses líquidos. (Jomma et al., 2016)

 

    O consumo de bebidas açucaradas entre os adolescentes é muito facilitado nos Estados Unidos em razão do baixo custo e facilidade de acesso. No estudo de Block et al. (2013), os pesquisadores fizeram algumas intervenções como, mostrar fotos chocantes de vísceras, entrevistar pessoas diabéticas, chamar a atenção sobre as calorias contidas nos diversos alimentos e distribuição gratuita de garrafas de água. Foi evidenciado que os adolescentes têm preferência pelas bebidas açucaradas devido ao sabore ao baixo custo. Interessante destacar que, ao distribuírem gratuitamente a água, eles aumentaram o consumo da mesma.

 

    Cabe lembrar que os seres humanos conseguem sobreviver por algumas semanas sem comida, contudo, é impossível sobreviver sem água e que uma água de boa qualidade é capaz de reduzir a mortalidade infantil (Barboza, 2019). Desta maneira, a fim de promover a manutenção da saúde, é recomendável o consumo de água constantemente. Nesse sentido, esse artigo teve o objetivo de constatar por meio da literatura, a importância da água na saúde dos adolescentes.

 

Método

 

    Tratou-se de uma revisão integrativa de literatura sobre a importância da água na saúde dos adolescentes, contribuindo na discussão de um conhecimento tão significativo. Foram utilizados os seguintes passos: elaboração da questão da pesquisa, busca na literatura, seleção dos artigos, extração e análise dos dados, discussão dos resultados e síntese do conhecimento ou revisão da apresentação. (Mendes, Silveira, Galvão, 2008)

 

    Sendo assim, para guiar essa revisão integrativa, formulou-se a seguinte questão: “Qual a importância da água na promoção da saúde dos adolescentes?”. Para o levantamento dos artigos, realizou-se uma busca na Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e nas seguintes bases de dados: Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Medical Literature Analysis and Retrieval System on-line (Medline) e Base de Dados de Enfermagem (BDENF), em artigos publicados em português e inglês, no período entre os anos de 2015 e 2019.

 

    A coleta de dados ocorreu entre os dias 01 e 04 de outubro de 2019. Foram utilizados, para busca dos artigos os seguintes descritores: “Água” AND “Saúde do Adolescente”.

 

    Os artigos encontrados foram classificados pela sua evidência por meio do método de Stetler et al. (1998) que classifica em: Nível I - Metanálise ou estudos controlados múltiplos; Nível II - Estudo experimental individual; Nível III - Quase-experimental do tipo estudo controlado simples, não randomizado, teste antes e depois, série temporal, ou estudo de caso-controle pareado; Nível IV - estudos não experimentais, tais como estudos descritivos correlacionais e pesquisa qualitativa ou estudos de caso; Nível V - relato de experiência ou estudo sistemático, com qualidade verificável ou avaliação de dados programados; Nível VI - estudos de reflexão, opiniões de autoridades (conhecidas nacionalmente) ou de um comitê especialista não baseado em pesquisa. Inclui opiniões regulamentadoras ou legais. (Stetler et al., 1998)

 

Resultados

 

    A seguir será apresentado o fluxograma de como foi executada a busca na base de dados.

 

Figura 1. Fluxograma da busca de artigos sobre a importância da água na saúde dos adolescentes

Fonte: Elaborado pelos autores (2019)

 

    Após eleição dos estudos que responderam à pergunta de pesquisa, elaborou-se um quadro com os principais tópicos dos artigos: Autor e ano de publicação, objetivo, método e amostragem, resultados e conclusão. Após essa seleção acrescentaram-se mais dois artigos a partir dos originais. Dos 13 artigos eleitos, nove (69,2%) possuem evidência de nível IV e quatro (30,8%) nível III (Stetler et al., 1998).

 

    Na interpretação dos dados, os temas foram subdivididos em: A importância da água na vida escolar dos adolescentes, a relação da água com o IMC, peso, sobrepeso e o exercício físico em adolescentes, a influência dos pais no consumo de água pelos filhos e o uso do copo como estratégia para um maior consumo de água pelos adolescentes.

 

Quadro 1. Distribuição dos artigos encontrados com o tema: Qual a importância da água na vida dos adolescentes?

Autor

Título

Objetivo

Método

Conclusão

A importância da água na vida escolar dos adolescentes

Lee et al.

(2014)

Impact of implementation factors on children’s water consumption in the Out-of-School Nutrition and Physical Activity group-randomized trial

Investigar a influência dos fatores de implementação em uma intervenção para aumentar o consumo de água das crianças.

 

Ensaio Clínico com 20 participantes (10 para grupo experimental e 10 controle) dentre um total de 400 adolescentes.

 

Aumentou o consumo de água pelos adolescentes e destacaram 4 fatores para isso: Administradores eficientes; baixa proporção de crianças/funcionários; forte apoio escolar e uma cozinha no local.

Piernas et al.

(2014)

Current patterns of water and beverage consumption among Mexican children and adolescents aged 1-18 years: analysis of the Mexican National Health and Nutrition Survey 2012

Avaliar o padrão do consume de água proveniente de sucos, refrigerantes e alimentos em Crianças e adolescentes mexicanos e comparar com os padrões diários de referência.

Inquérito populacional tipo Survey com

6.867 crianças e adolescentes (1-18 anos).

A quantidade de água ingerida se mantém abaixo das normas recomendadas em todos os grupos. Refrigerantes ainda representam a maior ingesta entre os adolescentes.

Onufrak et al.

(2014)

Student-reported School Drinking Fountain Availability by youth Characteristics and State Plumbing Codes

Investigar relatos de 1.196 estudantes sobre o acesso às fontes de água (bebedouros) em 47 estados dos EUA e saber se o acesso difere na área individual e código estadual.

Estudo transversal.

Encontrou-se um bebedouro para cada 100 alunos (31 estados). Existem menos bebedouros na região Oeste em relação a Centro-Oeste.

É preciso considerar os mecanismos de como oferecer mais água aos estudantes na tentativa de substituir as bebidas açucaradas por água pura.

Guelinckx et al.

(2015)

Intake of water and beverages of children and adolescents in 13 countries

Descrever a ingestão de água e outras bebidas em crianças e adolescentes em 13 países de 3 continentes.

Estudo de corte transversal em 13 países de 3 continentes com

8.109 adolescentes (10-17 anos).

Esses adolescentes ingeriam até 738 ml/dia de água, variando por países. Os autores sugerem ações para o aumento de ingestão de líquidos.

Gordon et al.

(2015)

Hydration status and fluid intake of urban, underprivileged South African male adolescent soccer players during training

Investigar a quantidade de líquidos ingeridos antes e depois do treino de futebol em adolescentes futebolistas amadores.

Estudo piloto de corte transversal.

Avaliaram ingestão de líquidos e IMC dos 79 participantes.

Apesar da água ser o líquido mais utilizado, eles ainda se encontravam desidratados tanto antes (24%) do treino quando depois (27%). O consumo de água passou para 57% antes do treino e para 70,9% depois do treino.

Nissensohn et al.

(2016)

 

Beverage consumption habits and association with total water and energy intakes in the Spanish population: finding of the ANIBES study

Evidenciar que a hidratação inadequada é uma questão de saúde pública que impõe um significativo fardo econômico.

Estudo de Inquérito populacional (survey). Amostra representativa de 2.285 participantes saudáveis entre 9 e 75 anos na Espanha.

É necessário adotar políticas apropriadas de saúde e nutrição para aumentar a ingestão total de água a nível populacional, para promover um padrão saudável de hidratação nos países Mediterrâneos.

Trinies et al.

(2016)

Effects of water provision and hydration on cognitive function among primary-school pupils in Zambia: a randomized trial

Investigar o impacto da provisão de água no desempenho cognitivo entre adolescentes em idade escolar.

Estudo controlado randomizado em 279 estudantes de cinco escolas com acesso limitado à água. Idade variou de 8-17 anos.

43% dos adolescentes já estavam desidratados pela manhã e aumentava ao longo do dia. Com a intervenção essa prevalência baixou para 10% e no grupo controle aumentou em 67%. Não houve associação entre o grau de hidratação e melhor cognição dos alunos.

Vieux et al.

(2016)

Water and beverage consumption children aged 4-13 years in France: analyses of INCA

Examinar o consumo de água pura entre crianças na França e comparar a ingestão total de água com as diretrizes emitidas pela European Food.

Estudo corte transversal.

Avaliar consumo de água por sexo, faixa etária (4-8 anos, 9-13 anos). As bebidas foram classificadas em nove grupos: água (torneira ou engarrafada), leite, suco de frutas 100%, refrigerantes, bebidas de frutas, bebidas quentes, bebidas esportivas e águas com sabor.

A ingestão total de água entre crianças pequenas na França ficou abaixo dos níveis recomendados pela EFSA. Análises dos padrões de consumo de bebidas por ocasião da refeição e a localização pode ajudar a identificar maneiras de aumentar o consumo de água entre as crianças.

A relação da água com o IMC, peso, sobrepeso e o exercício físico em adolescentes

Wong et al.

(2017)

Effects of advice to drink 8 cups of water per day in adolescents with overweight or obesity: a randomized trial

Comparar duas dietas padrão para perda de peso, com água ou sem água (controle). Oferecido apoio comportamental para aumentar a ingestão para 8 copos/dia.

Estudo Caso -Controle.

Participaram 38 adolescentes de um hospital com sobrepeso e obesidade que relataram consumir menos de 4 xicaras de água/dia.

Houve uma maior ingesta de água no grupo experimental, porém, a intervenção não afetou o peso corporal deles e poucos alcançaram o alvo de 8 copos/dia.

Schwartz,

Leardo,

Aneja,

Elbel

(2016)

Effect of a School-Based Water Intervention on Child Body Mass Index and Obesity

Quase-experimental com intervenção de instalação de jatos (bebedouros) de água, com objetivo de diminuir a quantidade de bebidas calóricas consumidas e assim aumentando o consumo de água.

Inquérito Survey.

Incluiu 1.065.562 alunos das 1.227 escolas públicas da cidade de Nova York (ensino fundamental e médio).

IMC de todos os alunos foi utilizado para categorizá-los com sobrepeso e obesidade.

A introdução de jatos de água dos bebedouros elétricos esteve associada a redução do IMC de 0,025 unidades para meninos e 0,022 para meninas. Houve redução de 0,9% sobre o excesso de peso nos meninos e de 0,6% para meninas.

Senterre, Dramaix, Thiébaut

(2014)

Fluid intake survey among schoolchildren in Belgium

Avaliar a ingestão total de líquidos oferecidos, por meio de um registro diário de “líquidos e alimentos líquidos” (volume e frequência de consumo de bebidas em 7 dias).

Estudo prospectivo.

Foi realizado em 1.045 crianças, meninos e meninas, divididas em 3 grupos: meninos e meninas de 8 anos, meninas e meninos de 9 a 13 anos (separados por sexo) + níveis de IMC e níveis de atividade física.

Poucos têm ingestão adequada de líquidos e a atividade física influenciou em um maior consumo de bebidas. 56% bebiam água menos de 2x/dia. As meninas bebiam mais água que os meninos e estes preferiam bebidas açucaradas.

Influência dos pais no consumo de água pelos filhos

Van de Gaar et al.

(2016)

 

Do children report differently from the parents and from observed data? Cross-sectional data on fruit, water, sugar-sweetened beverages and break-time foods

Investigar o nível de concordância entre os relatórios das crianças e os de seus pais em relação ao consumo geral de frutas, água e bebidas açucaradas.

Corte transversal.

As 275 crianças deste estudo tinham entre 9 e 13 anos de idade, foram observadas em relação a quantidade de água ingerida e outros alimentos comparado com a ingesta dos pais.

Apesar das dificuldades no recordatório (considerado fraco) dos pais e filhos, as crianças relataram tomar a mesma quantidade de água que os pais informaram (consumo abaixo do necessário).

Uso do copo como estratégia para um maior consumo de água pelos adolescentes

Kenney et al.

(2015)

Grab a Cup, Fill It Up! Na Intervention to Promote the Convenience of Drinking Water and Increase Student Water Consumption During School Lunch

Avaliar uma estratégia de baixo custo nas escolas para melhorar a conveniência e o apelo da ingestão de água potável.

Estudo randomizado, controlado em 10 escolas de Boston, Massachusetts. Placas de sinalização promovendo o uso de copos descartáveis foram instaladas.

Uso somente de bebedouros em cafeterias resulta em baixo consumo de água. Este estudo mostrou que o fornecimento de copos pode aumentar o consumo de água pelos alunos.

Fonte: Elaborado pelos autores (2019)

 

Discussão

 

    Ao interpretar os resultados obtidos por meio das publicações encontradas, separou-se por grupos temáticos da seguinte maneira: “A importância da água na vida dos adolescentes”, “A relação da água com o Índice de Massa Corporal (IMC)”, "O sobrepeso e o exercícios físico em adolescentes”; “A influência dos pais no consumo de água pelos filhos” e por fim, o “Uso do copo como uma estratégia para aumentar o consumo de água pelos adolescentes”.

 

A importância da água na vida escolar dos adolescentes

 

    Ao introduzir um programa de intervenção por meio de jarras de água em vários locais da escola e orientações aos alunos sobre os seus benefícios para a saúde, houve um aumento da quantidade de água ingerida por esses adolescentes e os autores destacaram quatro fatores importantes para isso: uma administração eficiente, baixa proporção de crianças/funcionários, forte apoio escolar e uma cozinha no local. (Lee et al., 2014)

 

    O consumo de água por estudantes foi avaliado em outro estudo com 6.867 crianças e adolescentes (1-18 anos) no México em que a quantidade de água ingerida também esteve abaixo do padrão recomendado (Piernas et al., 2014).

 

    Quanto à quantidade de bebedouros por crianças, que, segundo a recomendação seria de um para cada 100 alunos, encontrou-se que em 31 estados, dos 47 pesquisados nos EUA, possuíam pelo menos 1/100 adolescentes. Os pesquisadores recomendam que é preciso considerar os mecanismos de como oferecer mais água aos estudantes na tentativa de substituir as bebidas açucaradas por água pura. (Onufrak et al., 2014)

 

    Em um grande estudo feito em 13 países de três continentes, os pesquisadores encontraram que os 8.109 adolescentes, participantes da pesquisa, ingeriam em média 738 ml/dia de água, medida abaixo do recomendado (aproximadamente 2 litros/dia) pela European Food Safety Authority (EFSA), variando um pouco entre os países. Os autores sugerem ações para o aumento de ingestão de líquidos. (Guelinckx et al., 2015)

 

    Avaliando o nível de hidratação de 79 jogadores amadores de futebol de 14-17 anos, no sul da África, o estudo comprovou que apesar da água ser o líquido mais utilizado, os futebolistas adolescentes ainda se encontravam desidratados tanto antes (24%) do treino quando depois (27%). O consumo de água passou para 57% antes do treino e para 70,9% depois do treino. (Gordon et al., 2015)

 

    Em um inquérito populacional tipo survey na Espanha, com 2.285 participantes, incluindo adolescentes, não foram encontrados registros fidedignos da ingesta de líquidos e água pela população. Contudo, essa pesquisa nacional mostrou que a hidratação inadequada é um problema de saúde pública. É necessário adotar políticas apropriadas para aumentar a ingestão de água. (Nissensohn et al., 2016)

 

    Um estudo controlado, randomizado, com 279 estudantes de cinco escolas na Zâmbia, demonstrou que 43% dos adolescentes estavam desidratados pela manhã e essa desidratação aumentava ao longo do dia. Com a intervenção que consistia em oferecer garrafa de água para os estudantes, esse percentual baixou para 10% e no grupo controle que não recebia a intervenção aumentou para 67%. Encontrou-se poucas associações entre hidratação e melhor cognição dos alunos, muito embora tenha evidenciado associação sugestiva entre melhor hidratação e melhores testes de atenção visual. (Trinies et al., 2016)

 

    Em outro estudo na França com 835 crianças de 4-13 anos, com o objetivo de examinar a quantidade de água que eles consumiam, observou-se que 90% dessas crianças não consumiam a quantidade diária recomendada, segundo os parâmetros da EFSA (European Food Safety Authority). Os autores sugeriram fazer análises dos padrões de consumo de bebidas por ocasião da refeição e a localização das refeições, para poder ajudar a identificar maneiras de aumentar o consumo de água entre crianças e adolescentes. (Vieux et al., 2016)

 

A relação da água com o IMC, peso, sobrepeso e o exercício físico em adolescentes

 

    Em um estudo de Caso-Controle com 38 adolescentes com sobrepeso e obesos, acompanhados por 6 meses em um hospital de Boston, o grupo experimental até aumentou a quantidade de água ingerida, mas não houve interferência estatisticamente significante no peso corporal desses adolescentes. Poucos alcançaram o alvo de oito copos por dia. Os autores sugerem que haja estímulos no ambiente para promover uma maior ingesta de água por esses adolescentes. (Wong et al., 2017)

 

    Por outro lado, em um estudo com 1.065.562 alunos em 1.227 escolas públicas da cidade de Nova York, do ensino fundamental e médio, mostrou que a introdução de jatos mais fortes de água nos bebedouros elétricos foi associada à uma redução de 0,025 unidades no IMC de meninos e 0,022 nas meninas. Houve também redução no excesso de peso de 0,9 para os meninos e de 0,6% para as meninas. Essa intervenção foi uma estratégia de baixo custo que incentivou o consumo de água e automaticamente a redução de outros tipos de líquidos, promovendo assim mais saúde e diminuindo a obesidade e doenças associadas pela falta de ingestão de água. (Schwartz et al., 2016)

 

    Já no estudo que envolveu 1.045 adolescentes na Bélgica, com idade entre 8 e 13 anos, os autores avaliaram a ingesta de líquidos, os níveis de IMC e a atividades física. Encontraram que poucos adolescentes apresentaram ingestão adequada de líquidos (até 865 ml/dia de líquidos e 355 ml/dia de água). Afirmaram que entre eles, 56% bebiam água menos de 2 x/dia e que a atividade física influenciou em maior consumo de bebidas. As meninas bebiam mais água que os meninos e estes preferiam bebidas açucaradas. (Senterre, Dramaix e Thiébaut, 2014)

 

Influência dos pais no consumo de água pelos filhos

 

    Van de Gaar et al. (2016) elaboraram um recordatório para os pais e filhos com o objetivo de investigar o nível de concordância entre os relatórios das crianças e os de seus pais em relação ao consumo geral de frutas, água e bebidas açucaradas. Os participantes desse estudo tinham entre 9 e 13 anos de idade. Elas foram observadas em relação a quantidade de água ingerida e outros alimentos comparado com a dos pais. Apesar das dificuldades no recordatório (considerado fraco) dos pais e filhos, as crianças relataram tomar a mesma quantidade de água que os pais tomavam, porém com um consumo abaixo do necessário.

 

Uso do copo como estratégia para um maior consumo de água pelos adolescentes

 

    Um estudo interessante nesse tópico foi elaborado em 10 escolas de Boston, em que orientações por meio de placas nos bebedouros, promovendo o uso de copos, foram instaladas. Os autores chegaram a conclusão que houve aumento do consumo de água pelos adolescentes e que somente bebedouros em cafeterias não são suficientes para a ingesta adequada desse líquido tão precioso na vida deles. (Kenney et al., 2015)

 

Conclusão

 

    Após a realização da investigação relativa à importância da água para a saúde do adolescente, pôde-se inferir que a água consiste em um elemento vital para o ser humano e em especial nesta faixa etária, contribuindo inclusive para a diminuição do sobrepeso e da obesidade. No entanto, algumas medidas públicas precisam ser adotadas para que o consumo de água se torne um hábito, pois é fato que o consumo por essa faixa etária ainda é escasso e que a água acaba competindo com outras bebidas. A escola pode atuar de modo a contribuir para o aumento da ingestão, visto que atitudes simples como a instalação de jatos mais adequados nos bebedouros, oferta de copos e garrafas descartáveis e a prática de atividade física se fazem muito eficazes. Tão importante quanto o incentivo na escola é o incentivo ao consumo advindo dos pais e responsáveis, estes, devem estar sempre buscando ofertar e ingerir água, para que sirvam de exemplo aos filhos.

 

Referências

 

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Barboza, L. F. (2019). Programa Água para todos: análise dos efeitos da qualidade da água na redução da mortalidade infantil. Dissertação (Mestrado) – Universidade Católica de Brasília.

 

Block, J. P., Gillman, M. V., Linakis, S. K., & Goldman, R. E. (2013). If it Tastes Good, I´m Drinking It: Qualitative Study of Beverage Consumption among College Students. Journal of Adolescent Health, 52(6):702-706.

 

Barufaldi, L. A, Magnanini, M. M. F., Abreu, G. A., & Bloch, K. V. (2015). Café da manhã: vinculado a consumo e comportamentos alimentares em adolescentes. Revista Adolescência e Saúde, 12(2):7-16.

 

Cardoso, M. A. (2006). Nutrição e Metabolismo – Nutrição Humana. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan.

 

Costa, G. (2019). A importância da recuperação após competição. Lecturas: Educación Física y Deportes, 24(255): agosto. https://www.efdeportes.com/index.php/EFDeportes/article/view/1353/876

 

DeCS. (2019). Descritores em Ciências da Saúde. https://pesquisa.bvsalud.org/portal/decslocator/?lang=pt&mode=&tree_id=D01.045.250.875

 

Gordon, R. E., Kassier, S. M., & Biggs, C. (2015). Hydration status and fluid intake of urban, underprivileged South African male adolescent soccer players during training. Journal of the International Society of Sports Nutrition, 12:21. DOI: 10.1186/s1297—015-0080-0

 

Guelinckx, I., Iglesia, I., Bottin, J. H., Miguel-Etayo, P., González-Gill, E. M., & Salas-Salvado, J. et al. (2015). European Journal of Nutrition, 54 Supplement (2):S69-S79.

 

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Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 24, Núm. 260, Ene. (2020)