A influência da alimentação na saúde do adolescente: uma revisão integrativa
The influence of feeding on adolescent health: an integrative review
La influencia de la alimentación en la salud de los adolescentes: una revisión integradora
Márcia Capioto Bonzanini*
mamarcitha@gmail.com
Francisco Carlos Ribeiro**
fcr.professor@hotmail.com
Antônio Fernando Teixeira Farias***
fernandonutri2015@gmail.com
Simone Conceição do Amor Divino****
simoneamordivino@gmail.com
Maria Dyrce Dias Meira***
dyrcem@yahoo.com.br
*Mestranda em Promoção da Saúde
pelo Centro Universitário Adventista de São Paulo (UNASP-SP)
**Doutorando em História pela Pontifícia Universidade Católica de São (PUC-SP)
Professor do Centro Universitário Adventista de São Paulo (UNASP-SP)
***Mestrando em Promoção da Saúde
pelo Centro Universitário Adventista de São Paulo (UNASP-SP)
****Graduanda em Enfermagem pela Faculdade Sequencial
*****Doutora em Ciências pela Escola de Enfermagem
da Universidade de São Paulo (EEUSP)
Docente do Curso de Mestrado em Promoção da Saúde
do Centro Universitário Adventista de São Paulo (UNASP-SP)
(Brasil)
Recepção: 16/12/2019 - Aceitação: 27/01/2020
1ª Revisão: 20/01/2020 - 2ª Revisão: 27/01/2020
Este trabalho está sob uma licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional (CC BY-NC-ND 4.0) https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/deed.pt |
Resumo
Introdução: os adolescentes constituem um grupo considerado vulnerável em suas necessidades nutricionais, estilo de vida e influências ambientais. Objetivo: investigar na literatura a influência da alimentação na saúde do adolescente. Método: Revisão Integrativa de Literatura que incluiu estudos de Ensaio Clínico, publicados entre 2014 e 2018, disponíveis nas bases de dados PubMed (US National Library of Medicine) e BVS (Biblioteca Virtual de Saúde) e utilizou os descritores “Saúde do Adolescente” AND “Alimentação Saudável”. Resultados: dos 3.478 artigos, 41 foram eleitos, dos quais apenas nove foram selecionados para a discussão, por atenderem ao objetivo do estudo. A literatura analisada aponta que uma alimentação saudável melhora o estado nutricional dos adolescentes e também melhorou sua capacidade de aprender. Promove também o controle do diabetes, aumentando a ingestão de alimentos ricos em fibras, com baixo índice glicêmico. Em pacientes obesos, a adoção de um estilo de vida mais ativo com a redução do consumo de Junk food é a medida preventiva básica para a saúde metabólica. Conclusão: uma alimentação saudável e equilibrada na fase da adolescência promove a saúde com efeitos que podem se estender na fase adulta.
Unitermos: Alimentação saudável. Saúde do adolescente. Promoção da saúde.
Abstract
Introduction: adolescents are part of a group considered vulnerable in their nutritional needs, lifestyle and environmental influences. Objective: to investigate the influence of diet on adolescent health. Method: Integrative Literature Review that included Clinical Trial studies published between 2014 and 2018, available from the PubMed (US National Library of Medicine) and VHL (Virtual Health Library) databases, using the descriptors “Adolescent Health” AND “Healthy Diet". Results: out of the 3.478 articles, 41 articles were elected resulting from the electronic search of the two databases accessed, of which only nine were selected for discussion because they met the objective of this study. This integrative literature review indicated that healthy eating improved the nutritional status of adolescents and also improved their school performance. It also promoted diabetes control by increasing the intake of fiber-rich foods with low glycemic index. In obese patients, adopting a more active lifestyle with reduced Junk food consumption is the basic preventive measures for metabolic health. Conclusion: a healthy and balanced diet in adolescence promotes health with effects that can extend into adulthood.
Keywords: Adolescent health. Healthy diet. Health promotion.
Resumen
Introducción: los adolescentes son parte de un grupo considerado vulnerable en sus necesidades nutricionales, estilo de vida e influencias ambientales. Objetivo: investigar la influencia de la dieta en la salud de los adolescentes. Método: Revisión de literatura integradora que incluyó estudios de ensayos clínicos, publicados entre 2014 y 2018, disponibles en las bases de datos PubMed (U.S. National Library of Medicine) y BVS (Biblioteca Virtual de Salud) y utilizaron los descriptores “Salud del adolescente” AND “Alimentación saludable”. Resultados: de los 3.478 artículos, se eligieron 41 artículos, de los cuales solo nueve fueron seleccionados para discusión, ya que cumplieron con el objetivo del estudio. La literatura revisada indica que una alimentación saludable mejora el estado nutricional de los adolescentes e también mejoró su capacidad de aprendizaje. También promueve el control de la diabetes por una mayor ingesta de alimentos ricos en fibra con bajo índice glucémico. En pacientes obesos, adoptar un estilo de vida más activo con un consumo reducido de comida chatarra es la medida preventiva básica para la salud metabólica. Conclusión: una dieta sana y equilibrada en la adolescencia promueve la salud con efectos que pueden extenderse hasta la edad adulta.
Palabras clave: Alimentación saludable. Salud del adolescente. Promoción de la salud.
Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 24, Núm. 260, Ene. (2020)
Introdução
O ato de alimentar faz parte da base cultural de todas as pessoas (Flandrin & Montanari, 1998) e, normalmente, os hábitos alimentares se estabelecem na primeira infância sob a influência direta da família, com consequências sobre a saúde que podem se estender por toda a vida (Silva & Silva, 2019). Por alimentação entende-se, nesse artigo, como “todas as substâncias sólidas e líquidas que, levadas ao tubo digestivo, são degradadas e depois usadas para formar e/ou manter os tecidos do corpo, regular processos orgânicos e fornecer energia” (Recine & Radaelli, s/d). Portanto, o ato de alimentar-se não pode se concentrar apenas no sabor ou no prazer que os alimentos podem proporcionar. É por meio deles que o organismo obtém os nutrientes necessários para a manutenção das funções vitais, tais como o crescimento, a reprodução celular e a temperatura do corpo, contribuindo para a promoção e proteção da saúde. (Milanski, Silva, & Aquino, 2017)
O padrão alimentar desse grupo tem-se caracterizado, na maioria dos casos, pelo consumo excessivo de refrigerantes, açúcares e comidas de preparação rápida e reduzida ingestão de hortaliças e frutas. Também, tem se tornado preocupante a adoção de dietas ou modismos alimentares, como a exclusão de alguma (s) refeição (ões) diária (s). Com isso, entende-se que várias práticas alimentares adotadas na adolescência, têm correspondido a dietas ricas em gorduras, açúcares e sódio, com pequena participação de alimentos in natura, aumentando a prevalência da obesidade e a incidência precoce de doenças crônicas. (Philippi et al., 1999; Milanski, Silva & Aquino, 2017)
É necessário, portanto, prover aos adolescentes as informações necessárias para que possam avaliar seus hábitos alimentares e pensar em estratégias adequadas para superarem as barreiras encontradas para a adoção de práticas mais saudáveis de alimentação.
Vale ressaltar que a educação em saúde, entendida como um instrumento de ação para o profissional da saúde, deve promover a valorização dos saberes de cada um no seu contexto de vida e ampliar as escolhas saudáveis. Dessa forma, deve-se favorecer a construção de propostas terapêuticas que considerem o protagonismo dos clientes. Há que se considerar a cultura alimentar dos adolescentes e jovens em ações de educação em saúde, proporcionando a reflexão crítica dos mesmos, com vistas a conquista de uma melhor qualidade de vida. (Silva, 2012; Brasil, 2014)
Esse estudo teve por objetivo investigar o conhecimento divulgado em publicações especializadas sobre a influência da alimentação na saúde e bem-estar do adolescente contemporâneo.
Método
Trata-se de uma revisão integrativa de literatura. As etapas exploratórias para a sua elaboração foram: identificação do tema; formulação da pergunta de pesquisa; estabelecimento de critérios de inclusão; busca na literatura dos estudos primários; extração dos dados; avaliação dos estudos, interpretação dos resultados e, por último, a síntese do conhecimento descrita neste artigo. (Mendes, Silveira, & Galvão, 2008)
A questão a ser respondida pela pesquisa foi: “Qual a influência da alimentação saudável na vida do adolescente?”.
Os descritores e operadores booleanos utilizados foram: “alimentação saudável” AND “saúde do adolescente”. Os critérios de inclusão para a presente revisão foram: Estudos clínicos publicados no período de 2014 a 2018, que incluíam participantes com faixa etária entre 10 e 19 anos, nos idiomas português, inglês e espanhol. A busca dos dados foi realizada em maio de 2019, nas bases da BVS/BIREME (Biblioteca Virtual em Saúde) e a PubMed (US National Library of Medicine). As referências excluídas foram por duplicação de estudos e foco temático diferente do proposto na pesquisa.
O instrumento utilizado para a coleta de dados foi um formulário contendo informações sobre: identificação (fonte, ano de publicação, autor, título); tipo do estudo e objetivo, tipo de amostra, resultados e análises.
Resultados
Foram encontrados, inicialmente, 3.478 referências. Ao aplicar como filtro os estudos que incluíam adolescentes, cuja faixa etária abrangia entre 10 e 19 anos, restaram 3.306. Destes, 1.597 estavam entre os estudos de 2014 a 2018. Ao selecionar os artigos escritos em espanhol, inglês e português, encontrou-se 1.457 referências. Na busca de casos clínicos obteve-se 295 estudos. Sendo que apenas 164 artigos estavam disponíveis integralmente para consulta nas bases de dados. Após a primeira seleção dos resumos, 123 artigos foram excluídos por estarem repetidos ou não responderem à pergunta proposta, quanto à influência da alimentação saudável na saúde do adolescente, restando nove artigos para análise final (Figura 1).
Figura 1. Estratégia de pesquisa nas bases de dados
Fonte: Elaborado pelos autores (2019)
As principais informações referentes aos artigos selecionados no processo de revisão para a análise nesta revisão são apresentadas na Tabela 1.
Tabela 1. Caracterização dos artigos incluídos
Fonte,
Ano e Autor |
Título |
Tipo
de Estudo e Objetivo |
Tipo
de Amostra |
Resultados
e Análises |
Nutrients,
2018 |
Comprehensive Nutritional and Dietary
|
Randomizado
de intervenção. Investigar
uma intervenção nutricional e alimentar abrangente para tratar crianças
e adultos com Transtorno do Espectro Autista (TEA). |
67
pessoas entre 3 e 58 anos com TEA. |
Os
suplementos nutricionais e a dieta saudável melhoraram o estado
nutricional e, portanto, presumivelmente, aumentaram a capacidade do cérebro
de funcionar e aprender. |
Anales
de Pediatría, 2015 |
Efectividad de una intervención
|
Não
randomizado de intervenção. Avaliar
a eficácia de uma intervenção contra a obesidade em crianças. |
382
adolescentes |
O
grupo de intervenção diminuiu o Índice
de Massa Corporal (IMC) de 1, 14 a 1, 02. Houve a melhora na
proporção dos estudantes de 42, 6% para 52, 3% para uma dieta mais
saudável. |
American
Journal of Clinical Nutrition, 2016 |
Greater diet quality is associated
|
Randomizado
longitudinal. Examinar
a associação da alimentação com múltiplos indicadores
de controle glicêmico em jovens com diabetes tipo 1. |
136
adolescentes com idade média de 12, 8 anos. |
O
controle glicêmico pode ser melhorado aumentando a ingestão de
alimentos ricos em carboidratos, com alto teor de fibras e baixo índice
glicêmico. |
Nutrients,
2018 |
Improved Diet Quality and Nutrient
|
Randomizado
de intervenção. Avaliar
o efeito de uma intervenção no estilo de vida sobre a adequação de
nutrientes e qualidade da dieta, em crianças e adolescentes com
obesidade abdominal. |
107
crianças e adolescentes de 7
a 16 anos. |
A
intervenção intensiva foi capaz de reduzir a IMC em crianças e
adolescentes com obesidade abdominal. |
International
Journal of Behavioral Nutrition, 2015 Nansel
et al. |
Improving dietary quality |
Randomizado
longitudinal. Avaliar
o efeito de uma intervenção comportamental baseado na família. |
136
adolescentes entre 8 e 16 anos com diabetes tipo 1. |
A
intervenção nutricional comportamental melhorou a qualidade da dieta
entre os jovens com diabetes tipo 1, mas não teve impacto no controle
glicêmico. |
Journal of Pediatric Endocrinology and Metabolism, 2017 |
Risk factors that affect metabolic
|
Observacional. Avaliar
os fatores que afetam a saúde metabólica de crianças e adolescentes
obesos. |
1.085
crianças e adolescentes entre 6 e 18 anos. |
Os
fatores mais importantes que afetam a saúde metabólica na obesidade são
idade e IMC. Efeitos positivos de um estilo de vida ativo e hábitos
alimentares saudáveis são proeminentes no período pré-puberal e
esses hábitos devem ser formados mais cedo na vida. |
Journal
of Advanced Nursing, 2017 Ardic
et al. |
The effectiveness of the COPE
|
Experimental. Avaliar
a aplicabilidade e eficácia a longo prazo do programa T-COPE Healthy
TEEN na saúde do adolescente. |
87
adolescentes |
Os
adolescentes dos grupos de intervenção apresentaram melhorias no
comportamento nutricional, atividade física e controle do estresse. |
Cadernos
de Saúde Pública, RJ, 2015 Leme
et al. |
The “Healthy Habits, Healthy Girls”
|
Randomizado
de intervenção. Descrever
o delineamento, protocolo de estudo e resultados da linha de base do
programa “Hábitos Saudáveis, Meninas Saudáveis”. |
253
adolescentes |
Para
a maioria das variáveis, com exceção de idade e circunferência da
cintura, não houve diferença significativa entre os grupos estudados. |
Pediatrics,
2016 Bogart
et al. |
Two-Year BMI Outcomes from
|
Randomizado
de intervenção. Examinar
os efeitos do exercício e nutrição, a longo prazo, no IMC de um grupo
de estudantes do ensino médio. |
1.368
adolescentes de 12 a 19 anos. |
Intervenções
com base na escola podem ter efeitos a longo prazo sobre o IMC entre os
estudantes que são obesos. |
Fonte: Elaborado pelos autores (2019)
Discussão
Nos últimos anos, houve aumento no consumo de alimentos altamente energéticos em detrimento da utilização do consumo de frutas e legumes na população infanto-juvenil (Ojeda-Rodríguez et al., 2018). Isto provocou um aumento da população de adolescentes obesos que, em alguns casos, vem acompanhada de complicações adicionais de saúde como a hipertensão, resistência à insulina e maior risco de mortalidade e morbidades relacionadas às doenças cardiovasculares na vida adulta. (Elmaogullari, Demirel & Hatipoglu, 2017)
Os fatores que mais têm contribuído para a obesidade na população infantil são o ilimitado tempo de tela, os hábitos não saudáveis de alimentação (Leme & Philippi, 2015) como o consumo excessivo de Junkfood (Elmaogullari et al., 2017) e o aumento do sedentarismo. (Ojeda-Rodríguez et al., 2018)
Segundo Solís et al. (2015), os programas escolares que incluem em seu currículo a promoção do desenvolvimento de hábitos alimentares e de atividade física estão entre os mais eficazes para a saúde dos adolescentes. Corroborando esse pensamento, Leme e Philippi (2015, p. 1.382) consideram que as intervenções realizadas nas escolas são importantes, pois “padrões de comportamento saudáveis estabelecidos em idade escolar e em ambientes escolares oferecem a oportunidade para intervenções dirigidas à maioria dos jovens, em um ambiente seguro e com educadores especificamente treinados”.
No Brasil a prevenção do ganho de peso entre os adolescentes tem sido muito difícil. Alguns programas de intervenção nas escolas não têm alcançado sucesso quanto as mudanças de comportamento relacionados à saúde, trazendo como consequência o aumento da obesidade. Isto ocorre devido a algumas razões fundamentais. Primeiro, cita-se a escassez de métodos mais rigorosos e baseados em teorias para apoiar estratégias de intervenções voltadas para adolescentes; em segundo lugar, destaca-se a dificuldade dos adolescentes de fazerem escolhas saudáveis, em favor de alimentos mais essenciais com prejuízo das iguarias não primordiais; em terceiro lugar, menciona-se a influência da família, dos amigos e do ambiente social do adolescente. (Leme & Philippi, 2015)
Nesse contexto, torna-se importante valorizara influência dos familiares que deveriam motivar os adolescentes a transformarem as intenções em comportamentos saudáveis. Outro aspecto complicador que se aponta é a facilidade que os adolescentes têm para adquirir alimentos não saudáveis, com seus preços baixos e a disponibilidade de lojas nos ambientes mais frequentados pelos adolescentes. (Leme & Philippi, 2015)
Em outra pesquisa que se realizou intervenções breves baseada na escola, os autores argumentam em favor do potencial de transmitir orientações e habilitar os estudantes, nessa fase da vida, a promoverem mudança de comportamento que, seguramente trará consequências benéficas a longo prazo. (Bogart et al., 2016)
Embora o estudo de Adams et al. (2018) não tenha sido realizados com adolescentes, vale destacar que a melhoria nos hábitos alimentares favoreceu o grupo incluído, que sofriam Transtorno do Espectro Autista (TEA). Os suplementos nutricionais e a dieta saudável sugerem uma redução nos sintomas do autismo. Os relatórios apresentados pelos pais também apontam melhorias do comportamento dos filhos autistas como a irritabilidade, o desinteresse social, a hiperatividade, no processamento sensorial e nos sintomas gastrointestinais, embora não apresentando melhora na força de agarrar e segurar manualmente os objetos. O consumo diário de frutas e vegetais e a quantidade de água ingerida, também contribuem com melhoras no controle do estresse de adolescentes que apresentam transtornos mentais. (Ardic & Erdogan, 2017)
A terapia nutricional é um componente da educação em saúde essencial para o controle do Diabetes Mellitus tipo 1. O conhecimento a respeito da quantidade e origem dos carboidratos na dieta para essa população, além da adoção das recomendações para uma dieta saudável, são de fundamental importância. A dieta do adolescente, de um modo geral, é caracterizada por padrões inadequados, que aumentam o risco das doenças crônicas, principalmente do diabetes. (Nansel et al., 2015)
Segundo estudo realizado por Nansel et al. (2015), que incluiu também adolescentes de até 16 anos, portadores de diabetes mellitus tipo 1, a ingestão de frutas, verduras e grãos integrais está muito abaixo das recomendações dietéticas indispensáveis para os adolescentes portadores de Diabetes tipo 1. O consumo de gordura total e saturada está acima das recomendações. A quantidade substancial de ingestão diária de grãos refinados e alimentos impróprios, como a batata frita e os doces, estão além do ideal. (Nansel et al., 2015)
Dietas caracterizadas por maior consumo de carboidratos complexos, menor teor de gordura, menor adição de açúcar, maior consumo de fibras e frutas e vegetais estão associadas a um melhor controle glicêmico. No entanto, a pesquisa de Nansel, Lipsky e Liu (2016) apontou que crianças e adolescentes com Diabetes tipo 1 consomem menos frutas do que os jovens da população geral. Presume-se que suas famílias podem estar evitando a oferta de frutas devido à preocupação de que o alto teor de açúcar possa elevar a glicose. Os autores consideram que os açúcares naturais de frutas com baixo teor glicêmico e ricas em fibras não afetam negativamente o controle da glicose no sangue.
Ressalta-se a importância de se orientar as famílias quanto aos benefícios do consumo de frutas, aliviando suas preocupações incorretas de que as frutas podem afetar desfavoravelmente o teor de açúcar no sangue. Nesse sentido, as famílias também podem ser aconselhadas em relação ao consumo de frutas de baixo índice glicêmico, que estão associados a melhores resultados em pessoas com Diabetes tipo 2. (Nansel, Lipsky & Liu, 2016)
Devido à instabilidade do controle glicêmico nos portadores de diabetes, principalmente do Tipo 1, existe o receio de realizar mudanças na alimentação que objetivem melhorar os índices glicêmicos. Alerta-se que, quando estas mudanças são feitas sem o devido acompanhamento de um profissional habilitado, muitas vezes têm provocado o aumento da ocorrência de hipoglicemia. Esse pode ser um elemento inibidor para algumas famílias quando se propõe a implementação de uma dieta saudável, baseada na ingestão de mais frutas e vegetais. Ressalta se também que utilização de grãos integrais podem promover uma melhora nos indicadores de risco de doenças cardiovasculares. (Nansel et al., 2015)
Conclusão
Com base nas informações obtidas pela pesquisa, conclui-se que a prática da alimentação saudável contribui para a saúde e, consequentemente, uma melhor qualidade de vida dos adolescentes. Os estudos apontam que doenças como diabetes, obesidade e autismo apresentaram uma melhora significativa coma ingestão de alimentos mais naturais.
Reforçam a necessidade de se oferecer uma educação alimentar ao adolescente, que possa favorecer escolhas alimentares que promovam um melhor estado de saúde aliado a um estilo de vida equilibrado.
Depreende-se, ainda, que as intervenções clinicas, principalmente, as que envolvem educação em saúde devem estimular os adolescentes a refletirem e compreenderem suas práticas, comportamentos, conhecimentos e aptidões, lhes proporcionando condições para a tomada de decisões e resoluções dos problemas de saúde que possam aparecer em sua vida futura. Portanto, uma alimentação saudável e equilibrada na fase da adolescência pode promover a saúde com efeitos que se estenderão para a fase adulta.
Referências
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Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 24, Núm. 260, Ene. (2020)