A saúde do adolescente e o exercício físico: uma revisão integrativa de literatura
The adolescent and the physical exercise: an integrative literature review
Salud adolescente y ejercicio físico: una revisión integradora de la literatura
Francisco Carlos Ribeiro*
fcr.professor@hotmail.com
Ana Claudia Borges Cavalcante Machado**
claudia.bcm@outlook.com
Marina Lima Gomes***
marinaitz2015@hotmail.com
Gina Andrade Abdala****
ginabdala@gmail.com
*Doutorando em História pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP)
Professor do Centro Universitário Adventista de São Paulo (UNASP-SP)
**Graduanda em Psicologia pelo Centro Universitário Adventista de São Paulo (UNASP-SP)
***Graduanda em Nutrição pelo Centro Universitário Adventista de São Paulo (UNASP-SP)
***Enfermeira, doutora em Ciências (USP). Professora do mestrado em Promoção da Saúde
e Enfermagem no Centro Universitário Adventista de São Paulo (UNASP-SP)
(Brasil)
Recepção: 15/12/2019 - Aceitação: 26/01/2020
1ª Revisão: 06/01/2020 - 2ª Revisão: 20/01/2020
Este trabalho está sob uma licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional (CC BY-NC-ND 4.0) https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/deed.pt |
Resumo
Introdução: os adolescentes que praticam exercícios físicos regularmente têm maior possibilidade de se tornarem adultos mais ativos, quando comparados com o grupo dos adolescentes sedentários. Objetivo: esta pesquisa teve por objetivo investigar como a prática regular e moderada de exercícios físicos, entre os jovens de 10 a 19 anos, pode promover a saúde de seus realizadores. Método: trata-se de uma Revisão Integrativa de Literatura de artigos publicados entre 2014 e 2018. Serviu-se das bases de dados BVS (Biblioteca Virtual de Saúde) e PUBMED (U.S. National Library of Medicine), utilizando-se os descritores “Saúde do Adolescente AND Exercício Físico” e “Adolescent Health AND Exercise”. Resultados: foram eleitos 25 artigos para análise, dos quais apenas 10atenderam ao objetivo do estudo. Conclusão: a literatura analisada aponta que a prática regular de exercícios físicos traz benefícios imediatos à saúde do adolescente, bem como o predispõe a uma vida adulta mais saudável.
Unitermos: Exercício físico. Saúde. Adolescente.
Abstract
Introduction: teenagers who exercise regularly are more likely to become more active adults compared to the sedentary group. Objective: this study aims to investigate how regular and moderate physical exercise can promote the health of adolescents from 10 to 19 year old. Method: it is an Integrative Literature Review of articles published between 2014 and 2018. The research was carried out with the databases VHL (Virtual Health Library) and PUBMED (US National Library of Medicine), using the descriptors “Saúde do Adolescente AND Exercício Físico" and "Adolescent Health AND Exercise". Results: 25 articles were chosen for analysis, of which only 10 met the objective of the study. Conclusion: these articles showed that regular physical exercise brings immediate benefits to the health of adolescents, as well as predisposes them to a healthier adult life.
Keywords: Physical exercise. Health. Adolescent.
Resumen
Introducción: los adolescentes que hacen ejercicio regularmente tienen más probabilidades de convertirse en adultos más activos en comparación con el grupo sedentario. Objetivo: esta investigación tuvo como objetivo investigar cómo la práctica regular y moderada del ejercicio físico, entre los jóvenes de 10 a 19 años, puede promover la salud de sus praticantes. Método: se trata una Revisión Integral de Literatura de artículos publicados entre 2014 y 2018. Se utilizaron las bases de datos BVS (Biblioteca Virtual de Salud) y PubMed (U.S. National Library of Medicine), utilizando los descriptores “Saúde do Adolescente” AND “Exercício Físico” y “Adolescent Health AND Exercise". Resultados: veinticinco artículos fueron elegidos para el análisis, de los cuales solo 10 cumplieron el objetivo del estudio. Conclusión: la literatura analizada señala que la práctica regular de ejercicio físico aporta beneficios inmediatos a la salud de los adolescentes, además de predisponerlos a una vida adulta más saludable.
Palabras clave: Ejercicio físico. Salud. Adolescente.
Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 24, Núm. 260, Ene. (2020)
Introdução
A atividade física é considerada um dos aspectos mais importantes de um estilo de vida saudável, como também para a promoção da saúde, atuando na prevenção de várias enfermidades crônicas não transmissíveis (Lopes et al., 2012). No caso dos adolescentes, os que praticam exercícios físicos regularmente têm maior possibilidade de se tornarem adultos ativos, quando comparados com o grupo dos adolescentes sedentários. (Costa, 2016)
A palavra portuguesa adolescer vem do latim adolere e significa arder, queimar. “Este verbo inclui o prefixo ad, que indica direção (em direção a). Dolere é a raiz da palavra, que se traduz por sofrer uma dor, lamentar, estar triste. Então adolescer significa ir em direção à dor, ou ir em direção ao que arde, que queima”. (Moser et al., 2007)
Modernamente a expressão “adolescência” pode ser caracterizada como uma fase de transição entre a infância e a vida adulta de uma pessoa, assinalada pelo seu desenvolvimento físico, mental, emocional, sexual e social. Do ponto de vista médico, ela tem início com as mudanças corporais da puberdade e termina quando a pessoa estabiliza esse desenvolvimento e inicia o processo de conquista dos objetivos das expectativas culturais de sua sociedade/época, como a independência financeira, afetiva e cidadã. (Eisenstein, 2005)
Os limites cronológicos da adolescência são definidos de forma variável. Para a Organização Mundial da Saúde (OMS) está entre 10 e 19 anos. Para a Organização das Nações Unidas (ONU) entre 15 e 24 anos. Para as políticas públicas de saúde do Ministério da Saúde do Brasil, os limites da faixa etária são de 10 a 24 anos (Eisenstein, 2005). O Estatuto da Criança e do Adolescente de 1990 (Lei 8.069, artigo 2º) estabelece o limite de 12 a 18 anos de idade (Centro de Defesa dos Direitos, 2019). Adotou-se para este artigo de revisão, a faixa etária estabelecida pela OMS.
A concepção de adolescência, porém, está longe de ser uma unanimidade conceitual. A antropóloga Margaret Mead (1901-1978), por exemplo, afirmou que ela é apenas um fenômeno cultural proporcionado pelas práticas sociais de um determinado momento histórico, manifestando-se ou não, de diferentes formas nos ambientes sociais (Mead, 1995). Eric Hobsbawm (1917-2012), relevante historiador britânico, sustentou que a importância da juventude ou da simples condição de “ser jovem”, se destacou na sociedade ocidental a partir da segunda metade do século XX. Para ele o “juvenescimento” da sociedade fez com que a juventude deixasse de ser uma fase de preparação para a vida adulta, para se tornar o seu produto final. (Hobsbawm, 1995)
“Exercício físico”, por sua vez, qualifica-se como toda atividade que é intencionalmente planejada, estruturada e repetida. A prática de exercícios físicos é vista hoje, como muito mais do que uma simples questão de busca da estética corporal, pois ela proporciona uma série de benefícios a quem a pratica, nas mais diferentes faixas etárias. O exercício físico não deve ser confundido com a “atividade física”, que é entendida como qualquer movimento que realizamos em nosso cotidiano, como varrer, limpar, brincar, andar até a farmácia ou a escola. (World Health Organization, 2014)
O conceito de “saúde”, segundo a OMS, compreende “um estado de completo bem-estar físico, mental e social” e não somente ausência de afecções e enfermidades (World Health Organization, 1948). Essa concepção de saúde tem sido repensada por esta organização ao propor a construção do instrumento World Health Organization Quality of Life (WHOQOL-100) que no domínio VI inclui a dimensão espiritual. A partir de então o grupo de trabalho que construiu o WHOQOL reconheceu a importância dessa dimensão e propôs um novo conceito ampliado de saúde como sendo: “um estado dinâmico de completo bem-estar físico, mental, espiritual e social”. (Fleck, 2000; Forti; Serbena; Scaduto, 2018)
No contexto da integralidade, a ampliação do conceito é uma questão fundamental para a promoção da Saúde, uma vez que, pode refletir em mente e corpo saudáveis e proporcionar um melhor direcionamento à saúde de maneira geral (Koenig, 2015; Venturini et al., 2018). Na adolescência, a aparência corporal recebe uma grande valorização. A procura de uma imagem física “perfeita” idealizada pela mídia, pelos grupos sociais ou pelos próprios adolescentes, tem causado, por vezes, comportamentos que podem comprometer a saúde.
Como exemplos, podem-se citar lesões físicas (hérnia de disco), morte súbita (para adolescentes portadores de patologias como cardiopatia congênita e hipertensão arterial ou para adolescentes sadios expostos a contusões fatais, choque térmico ou superesforço), o uso de substâncias ilegais que podem com o tempo proporcionar o surgimento do câncer, contusões físicas, além de distúrbios da conduta, como agressividade no esporte, anorexia, e o desenvolvimento de uma obsessão em relação à alimentação e a frequência exagerada às academias de musculação. (Vieira et al., 2011)
O interesse para a realização desta revisão integrativa de literatura surgiu no contexto de se compreender as relações entre a prática do exercício físico e a saúde do adolescente contemporâneo, muito voltado ao sedentarismo. Assim, o objetivo desta pesquisa foi identificar na literatura estudos clínicos que abordam a influência da prática regular e moderada de exercícios físicos na promoção da saúde do adolescente.
Método
Este artigo trata-se de uma Revisão Integrativa de Literatura, método que reúne, avalia e resume os resultados de várias pesquisas sobre uma determinada temática específica. As etapas exploratórias foram: a elaboração da pergunta de pesquisa, a busca na literatura dos estudos primários, a extração dos dados, a avaliação dos estudos primários, a interpretação dos resultados e a escrita do texto do artigo.
A questão a ser respondida pela pesquisa é: Qual a influência do exercício físico na saúde do adolescente?
A busca dos estudos primários se desenvolveu entre 13/05/2019 a 22/06/2019, nas seguintes bases de dados: BVS (Biblioteca Virtual de Saúde) e PUBMED (U.S. National Library of Medicine). Os descritores e os operadores booleanos selecionados para a base BVS foram "Saúde do Adolescente AND Exercício Físico" e "Adolescent Health AND Exercise", para a PUBMED foram “Adolescent Health AND Exercise”.
Os critérios de busca estabelecidos para a filtragem dos artigos foram os seguintes: assunto principal (“exercício” e “promoção da saúde”), tipo de estudo (“estudos de caso e controles”, “ensaio clínico controlado”, “clinical study”, “clinical trial” e “controlled clinical trial”), limite de faixa etária do público alvo (“adolescente”), idiomas (“português”, “espanhol” e “inglês”), ano de publicação (“2014 a 2018”) e o tipo de documento (“artigo completo disponível” de forma gratuita).
Resultados
Dentre os 42.536 artigos encontrados nos sites da BVS e PUBMED, somente 275 foram pré-selecionados para a análise quanto a presença dos descritores nos títulos e resumos. Após a leitura do texto completo, 250 foram eliminados por abordarem temas diferentes da proposta de busca, chegando-se a 25 artigos selecionados. No consenso entre os pesquisadores foram eliminados 15 artigos (3 por repetição, 3 por serem apenas protocolo de estudo e 9 por não responderem à pergunta de pesquisa), ficando apenas 10 estudos incluídos para a discussão do tema (Figura 1 e Tabela1).
Figura 1. Fluxograma de filtragem dos artigos
Fonte: Elaborado pelos autores
Tabela 1. Caracterização dos artigos
Fonte, Ano, Autor e País de Origem |
Título |
Tipo de Estudo e Objetivo |
Amostra |
Resultados e Análises |
BMC
Public Health, 2014 Li, X.
H. et al. China: Pequim |
Effectiveness of a school-based physical activity
intervention on obesity in school children: a nonrandomized controlled
trial |
Transversal. Avaliar a eficácia de uma
intervenção de atividade física em uma escola sobre a obesidade
infanto-juvenil. |
921 adolescentes Idade: 7 a 15 anos Tempo de duração: 12 semanas |
A intervenção de atividade física
baseada na escola foi eficaz para diminuir os níveis de IMC, dobras cutâneas
e glicemia de jejum. |
Asian
Nursing Research, 2016 Ham, O. K. et al. Coreia do Sul: Seul |
Transtheoretical Model Based Exercise Counseling
Combined with Music Skipping Rope Exercise
on Childhood Obesity |
Transversal. Avaliar os efeitos de um
modelo de aconselhamento transteórico baseado em atividade oferecida
com exercício de música pulando corda. |
75 adolescentes Idade: 8 a 13 anos Tempo de duração: 12 semanas |
A intervenção baseada no
modelo de aconselhamento transteórico mostrou-se eficaz na diminuição
do peso corporal e na melhoria da autoeficácia de crianças e
adolescentes com sobrepeso/ obesidade. |
BMC
Cancer, 2018 Braam, K. I. et al. Holanda: Amsterdã, Utrecht e Roterdã |
Effects of a combined physical and psychosocial
training for children with cancer: a randomized controlled trial |
Transversal. Avaliar o efeito de um exercício
físico combinado com intervenção psicossocial na aptidão
cardiorrespiratória, força muscular, composição corporal, função
psicossocial e qualidade de vida relacionada à saúde. |
68 adolescentes Idade: 8 a 18 anos Tempo de duração: 12 meses |
Não foram encontradas diferenças
importantes nos efeitos da intervenção na aptidão física e na função
psicossocial a curto prazo. Porém, houve melhorias significativas
na força muscular dos membros inferiores dos adolescentes do grupo de
intervenção, quando comparado ao grupo controle. |
Psicooncología, 2014 Castellano-Tejedor,
C. et al. Espanha: Barcelona |
Ejercicio físico y calidad de vida en adolescentes
supervivientes a un cáncer |
Transversal. Analisar a relação entre o padrão de realização
da atividade física e a Qualidade de
Vida Relacionada à Saúde (QVRS) em uma amostra de adolescentes
oncológicos em remissão, em comparação com um grupo controle sem
história prévia de câncer. |
393 adolescentes Idade: 14 a 19 anos Tempo de duração: 3 meses |
Em ambos os grupos, houve uma porcentagem,
significativamente, maior de homens ativos para a prática esportiva,
que tiveram escores mais altos nos Componentes Mentais. A QVRS entre os
dois grupos foi semelhante. |
Pediatric Research,
2017 Coimbra, S. et al. Portugal: Cidade do Porto |
Physical exercise
intervention at school improved hepcidin, inflammation, and iron
metabolism in overweight and obese children and adolescents |
Transversal. Estudar o
efeito da intervenção do exercício físico sobre a hepcidina e outros
marcadores de inflamação e sobre o status de ferro em crianças e
adolescentes com sobrepeso / obesidade. |
73 adolescentes Idade: 5 a 17 anos Tempo de duração: 8 meses |
Permitiu uma redução no IMC
e uma melhoria na inflamação, reduzindo os níveis de hepcidina e,
consequentemente, os distúrbios nos níveis de ferro. |
Preventing
Chronic Disease,
2017 Arlinghaus, K. R. et
al. EUA: Huston |
Compañeros: High School Students Mentor Middle
School Students to Address Obesity Among Hispanic Adolescents |
Transversal. Investigar a
eficácia do programa de treinamento Compañeros, criado para envolver
estudantes hispânicos de Ensino Médio como uma estratégia para
promover e manter reduções no Índice de Massa Corporal (IMC). |
189 adolescentes Idade: alunos de 6º ao 12º
ano Tempo de duração: 6 meses |
A prática de atividades físicas
usando estudantes do Ensino Médio de mesma etnia foi eficaz na promoção
e manutenção de reduções no IMC. |
BMC
Pediatrics, 2016 Andrade, S. et al. Equador: Cuenca |
Two years of school-based intervention program could
improve the physical fitness among Ecuadorian adolescents at health risk:
subgroups analysis from a cluster-randomized trial |
Transversal. Avaliar o efeito diferencial
de uma intervenção em adolescentes com sobrepeso. |
1.440 adolescentes Idade: alunos de 8º e 9º ano Tempo de duração: 28 meses |
Os resultados apontam que as
Intervenções nas escolas que visam aprimorar a dieta e a atividade física,
podem melhorar os aspectos de velocidade e força da aptidão física em
adolescentes com sobrepeso / obesidade. |
International Journal Cardiovascular Sciences,
2017 Lima,
L. R. A. et al. Brasil: Florianópolis |
Exercício
melhora o Risco Cardiovascular, Aptidão Física e Qualidade de Vida em
Crianças e Adolescentes Hiv+: Estudo Piloto |
Transversal. Analisar o efeito de um programa de exercícios
físicos lúdicos sobre os desfechos cardiovasculares, morfológicos,
metabólicos, de aptidão e qualidade de vida. |
10 adolescentes Idade: 11 a 15 anos Tempo de duração: 8 semanas |
Após a intervenção, observou-se a diminuição
da pressão arterial sistólica. Observou-se também o aumento na resistência
muscular dos membros superiores, bem como melhores índices na qualidade
de vida. |
Brazilian Journal of Pain,
2018 Navarro, G. et al. Brasil: Araraquara |
Parafunctional habits and its association with the
level of physical activity in adolescents |
Transversal. Avaliar
a associação entre a presença de hábitos parafuncionais (bruxismo,
sonambulismo etc.) e a prática de atividade física na adolescência. |
200 adolescentes. Idade: 10 a 19 ano Tempo de duração: Não indicado |
O nível de atividade física não se associou
à parafunção oral nem com pontos de dor extrafacial. |
Revista
de Saúde Pública, 2016 Cureau, F. V. et al. Brasil: todas as capitais |
ERICA:
inatividade física no lazer em adolescentes brasileiros |
Transversal. Avaliar a prevalência de inatividade física
no lazer em adolescentes brasileiros e sua associação com variáveis
geográficas e sócio demográficas. |
74.589 adolescentes Idade: 12 a 17 anos Tempo de duração: 10 meses |
A prevalência de inatividade física no lazer
foi de 54,3%, superior no sexo feminino (70,7%,) comparado ao masculino
(38,0%). |
Fonte: Elaborado pelos autores (2019)
Discussão
A prática de exercícios físicos é influenciada por fatores intrínsecos e extrínsecos. Os fatores intrínsecos estão relacionados com as características do próprio indivíduo, como a sua composição corporal. Os fatores extrínsecos estão ligados aos elementos que o envolvem, como por exemplo, o seu contexto sociocultural. (Souza, 2017)
A globalização tem homogeneizado certos padrões de conduta, como o consumo do mesmo modelo de roupas e calçados, ou a adesão ao mesmo estilo de cabelo. O problema se agrava quando esse padrão se relaciona com o estilo de alimentação e a prática de atividades físicas, pois dentre outros, esses fatores são primordiais para promoção de um estilo de vida saudável. (Castro et al., 2016)
Catalisada por esse processo igualitário dos padrões de estilo de vida e o aumento das Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT), a Organização Mundial de Saúde lançou dois documentos sobre o tema da atividade física: “Active: A Technical Package for Increasing Physical Activy” (World Health Organization, 2018a) e “Global Action Plan on Physical Activity 2018-2030” (World Health Organization, 2018b). No entanto, a relação alimentação-atividade física está cada vez mais complexa na maioria dos países do mundo.
Para demonstrar essa situação resolveu-se organizar os estudos pelos seus países de origem. Começando pela Ásia (n=2), passando pela Europa (n=3), pela América anglo-hispânica (n=2) e finalizando no Brasil (n=3). No caso da África, foi necessário a escolha de um estudo de fora do processo de filtragem adotado, devido à escassez de artigos nas bases de dados.
Na China (Li et al., 2014), devido a prevalência da obesidade em crianças e adolescentes entre 7 e 18 anos, foi realizada uma pesquisa junto a quatro escolas localizadas no Distrito de Changping (Pequim), para avaliar a eficácia de intervenções de atividade física durante o horário escolar. Verificou-se que esse tipo de ação foi eficaz para diminuir os níveis de IMC, dobras cutâneas e glicemia de jejum dos alunos com obesidade.
Na Coreia do Sul (Ham et al., 2016), em decorrência do aumento da obesidade infanto-adolescente, elaborou-se em Seul um estudo sobre os efeitos de um modelo transteórico com 75 adolescentes com sobrepeso/obesidade. O modelo aplicado foi composto por oito sessões de aconselhamento teórico sobre a prática de exercícios físicos, e com a realização de atividades de corda. Constatou-se que esse tipo de intervenção, foi eficaz na diminuição do IMC e na melhoria da autoeficácia. O estudo apontou também que o envolvimento dos pais das crianças/adolescentes foi muito interessante para os resultados obtidos.
Na Holanda (Amsterdã, Utrecht e Roterdã) (Braam et al., 2018), por sua vez, um estudo avaliou o efeito do exercício físico ao longo de um tratamento de câncer que incluiu 68 adolescentes. A pesquisa apontou que após 12 meses de acompanhamento, houve uma melhora do quadro de saúde dos pacientes, com resultados positivos no aumento da força muscular de seus membros inferiores. Os adolescentes também receberam um acompanhamento psicossocial, com um programa estruturado e individualizado buscando melhorar o funcionamento sócio emocional no enfrentamento dos efeitos relacionados a doença. Nesse estudo, também houve um efetivo acompanhamento dos pais em casa.
O estudo realizado na Espanha (Barcelona) (Castellano-Tejedor et al., 2014), buscou analisar a relação entre o padrão de realização de exercício físico, e a qualidade de vida relacionada à saúde (QVRS) em uma amostra de adolescentes oncológicos em remissão comparados a um grupo de referência. Constatou-se que em ambos os grupos houve uma porcentagem significativamente maior de homens ativos para a prática esportiva, que tiveram escores mais altos nos índices de Componentes Mentais (MCS). A QVRS entre os dois grupos foi semelhante, porém significativamente maior no aspecto MCS para o grupo de adolescentes oncológicos em remissão.
Em Portugal (Coimbra et al., 2017), o estudo foi efetuado na Cidade do Porto sobre o efeito do exercício físico sobre a hepcidina, o status de ferro no organismo, e em outros marcadores de inflamação de adolescentes com sobrepeso/obesidade. Verificou-se que houve uma redução do IMC, com uma melhoria na inflamação, reduzindo os níveis de hepcidina e, consequentemente, a regulação de ferro. Além disso, o grupo de exercícios físicos (n = 44), quando comparado ao grupo de controle (n = 29) apresentou melhor peso, IMC, circunferência de cintura e relação cintura/estatura.
Nos EUA (Huston, Texas) (Arlinghaus et al., 2017), o estudo investigou a eficácia da criação de um programa com a utilização de mentores durante as atividades de exercício físico em uma escola de estudantes hispânicos de baixa renda. Percebeu-se que o grupo de intervenção com mentores (n=71) em relação ao grupo de controle sem mentores (n=69) demonstrou que a prática de atividades físicas usando mentores foi eficaz na promoção e manutenção das reduções no IMC. O estudo apontou que o uso de mentores da mesma cultura dos estudantes, promoveu uma melhor interação social entre eles, demonstrando assim, que o ambiente cultural influencia na constituição da subjetividade, melhorando as atividades afirmativas de saúde na escola.
No Equador (Cuenca) (Andrade et al., 2016), um programa de intervenção escolar, realizado com uma amostra de 1.440 adolescentes, verificou que os jovens com baixa aptidão física, apresentaram uma melhora na força muscular. Os adolescentes com excesso de peso, por sua vez, tiveram uma diminuição no tempo necessário para a realização do teste de velocidade, em comparação com os adolescentes com peso normal e baixo peso. Com isso, concluiu-se que intervenções realizadas em escolas, com a adoção de uma dieta adequada e a prática de exercícios físicos regulares, podem ser benéficas para adolescentes com sobrepeso/obesidade.
Nesta direção, Beltran-Pedreros, Gomes & Alencar (2019) consideram que a realização de pesquisas no âmbito escolar mobiliza os alunos a refletirem criticamente sobre a influência da adoção de um estilo de vida saudável na promoção da saúde. Os autores defendem que no espaço das aulas de Educação Física deveria se incorporar atividades que possibilitem aos estudantes analisar a correlação entre os dados antropométricos, obesidade e hábitos alimentares.
Para se examinar a questão da influência do exercício físico na saúde do adolescente brasileiro foram selecionados três estudos. O primeiro estudo (Lima et al., 2017) foi realizado em Florianópolis (SC) com um grupo de crianças e adolescentes infectados pelo HIV. Seu objetivo foi analisar o efeito de um programa de exercícios físicos lúdicos sobre os desfechos cardiovasculares, morfológicos, metabólicos, de aptidão e de qualidade de vida. Verificou-se que após a intervenção, houve uma diminuição da pressão arterial sistólica dos adolescentes após 24 sessões. Observou-se também um aumento na resistência muscular dos membros superiores dos pesquisados.
O segundo estudo (Navarro et al., 2018) que foi feito em Araraquara (SP) buscou avaliar a associação entre a presença de hábitos parafuncionais orais (apertamento de lábios, bruxismo, roer unhas, mastigar de um só lado, etc.) e a prática de atividade física na adolescência. Notou-se que a prática de exercícios não apresentou associação significativa em relação a presença, a quantidade ou o tipo de hábito parafuncional, e nem com a presença de dor extrafacial. Verificou-se, porém, que a atividade física na adolescência diminui o estresse que agrava os problemas psicofísicos, trazendo vários benefícios a saúde, como a prevenção da insônia e do estresse.
O terceiro estudo (Cureau et al., 2016), realizado em todas as capitais de cada Estado da Federação, mais a Capital Nacional, teve por objetivo avaliar a prevalência da inatividade física no lazer dos adolescentes brasileiros, e sua associação com variáveis geográficas e sócio demográficas. Verificou-se que a inatividade prevaleceu em 54,3% dos casos, sendo superior no sexo feminino (70,7%) quando comparado ao masculino (38,0%). O estudo ressalta que 30 minutos/dia de atividade física são suficientes para obtenção de benefícios a saúde cardiovascular, reduzindo os riscos de desenvolver diabetes, o percentual de gordura e da gordura visceral. A pesquisa apontou que deve ser dada especial atenção “às meninas e aos que não praticam nenhuma atividade física no lazer, a fim de que estes possam adotar estilo de vida mais ativo”.
Vale destacar que na África (Nhantumbo et al., 2006), o problema do sedentarismo e suas consequentes doenças não constituem uma prioridade, ou um assunto de relevância social. Por ser um continente onde a maior parte da população vive fundamentalmente com atividades de subsistência, os problemas da inatividade corporal não se apresentam. Isso talvez explique a ausência de pesquisas mais recentes sobre a influência do exercício físico nas bases de dados em que foram feitas as buscas para esta revisão integrativa.
Uma pesquisa de revisão de literatura, em que foram analisados artigos científicos sobre a saúde das crianças e dos adolescentes do Zaire, Moçambique, Senegal, Tanzânia, Botswana e Zimbábue, confirmou que a aptidão física das populações africanas, é superior em relação à que é observada nas populações europeias e estadunidenses. A predominância da atividade física habitual daquelas populações, testemunha a ausência de um estilo de vida sedentário. Isso parece contribuir, segundo a pesquisa, para que os níveis de aptidão física sejam superiores aos observados nos países industrializados. (Nhantumbo et al., 2006)
Conclusão
Com base nas informações obtidas pela pesquisa, conclui-se que apesar dos efeitos do exercício físico sobre a saúde das crianças e dos adolescentes seja evidente, a sua aplicação cotidiana é um desafio constante diante das comodidades do estilo de vida proporcionado pela tecnologia das modernas sociedades industrializadas e cosmopolitas.
Percebeu-se que o problema da inatividade física tem dimensões globais, independentemente das culturas locais. Notou-se também, uma preocupação crescente dos governos e da Organização Mundial da Saúde em procurar enfrentar as consequências provocadas por ela. Doenças como a hipertensão, o diabetes tipo 2, a apneia do sono, a resistência à insulina, a obesidade crônica e os problemas psicossocioemocionais, demonstram que a promoção da saúde, por meio do exercício físico moderado e regular, constitui-se em um poderoso recurso natural de curto, médio e longo prazo.
Uma nova pesquisa sobre este tema, focada na análise das políticas públicas governamentais, pode favorecer uma troca de experiências e de ideias de como a sociedade pode se organizar melhor, para implantar medidas mais eficazes para combatera inatividade física dos jovens (e adultos).
Espera-se que os resultados apresentados nesta revisão integrativa possam contribuir para a conscientização de seus leitores, ajudando-os no entendimento de que o exercício físico é um recurso natural, não farmacológico, que pode auxiliar na prevenção de doenças crônicas não transmissíveis em adolescentes e promover saúde como um todo.
Referências
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Arlinghaus,
K. R., Moreno, J. P., Reesor, L., Hernandez, D. C. & Johnston, C. A. (2017).
Compañeros: high school students mentor middle school students to address
obesity among Hispanic adolescents. Preventing
Chronic Disease,
14(E92). DOI:10.5888/pcd14.170130
Beltran-Pedreros,
S., Gomes, G. & Alencar, P. (2019). Avaliação antropométrica de escolares
do Ensino Básico de uma escola particular em Manaus, AM, Brasil. Lecturas:
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24(255), 12-15. Recuperado
de: https://www.efdeportes.com/index.php/EFDeportes/article/view/1362/881
Braam,
K. I., Van Dijk-Lokkart, E. M., Kaspers, G. J. L., Takken, T., Huisman, J. et
al. (2018). Effects of a combined physical and psychosocial training for
children with cancer: a randomized controlled trial.
BMC
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Castellano-Tejedor,
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físico y calidad de vida en adolescentes supervivientes a un cáncer.
Psicooncología
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2014.v11. n2-3.47390
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& Machado, A. S. (2016). Alimentação,
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Alimentação, Nutrição & Saúde, 11(3), 803-824. DOI:10.12957/demetra.2016.21995
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Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 24, Núm. 260, Ene. (2020)