ISSN 1514-3465
Produção científica sobre as academias ao ar
livre nos programas de pós-graduação no Brasil
Scientific Production of the Outdoor Gyms in the Post Graduation Programs in Brazil
Producción científica sobre gimnasios al aire libre en programas de posgrado en Brasil
Diego Petyk de Sousa*
diegopetyk@gmail.com
Edilson de Oliveira**
edilsonde.oliveira@outlook.com
Guilherme Moreira Caetano Pinto***
guilherme-coxa@uol.com.br
Bruno Pedroso****
prof.brunopedroso@gmail.com
Gonçalo Cassins Moreira do Carmo*****
goncalocassins@gmail.com
Miguel Archanjo de Freitas Júnior******
mfreitasjr@uepg.br
*Doutorando em Ciências Sociais Aplicadas
na Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG)
Professor Colaborador na UEPG e Faculdade Unicesumar de Ponta Grossa
**Doutorando em Ciências Sociais Aplicadas
na Universidade Estadual do Paraná (UEPG)
Professor Colaborador na UEPG
***Doutorando em Ciências Sociais Aplicadas
na Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG)
Professor Colaborador na UEPG e Faculdade Unicesumar de Ponta Grossa
****Doutor em Educação Física pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)
Professor do Programa em Ciências Sociais Aplicadas
da Universidade Estadual de Ponta Grossa
*****Doutor em Ciências Sociais Aplicadas (UEPG)
Professor do Programa em Ciências Sociais Aplicadas da UEPG
******Doutor em História pela Universidade Federal do Paraná (UFPR)
Professor do Programa em Ciências Sociais Aplicadas da UEPG
Grupo de pesquisa Esporte, Lazer e Sociedade (UEPG)
Centro de Desenvolvimento de Pesquisa em Políticas de Esporte
e de Lazer da Rede Cedes do Paraná (UEPG)
(Brasil)
Recepção: 03/12/2019 - Aceitação: 13/09/2020
1ª Revisão: 04/06/2020 - 2ª Revisão: 24/08/2020
Documento acessível. Lei N° 26.653. WCAG 2.0
Este trabalho está sob uma licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional (CC BY-NC-ND 4.0) https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/deed.pt |
Citação sugerida
: Sousa, D.P. de, Oliveira, E. de, Pinto, G.M.C., Pedroso, B., Carmo, G.C.M. do, & Freitas Júnior, M.A. de (2021). Produção científica sobre as academias ao ar livre nos programas de pós-graduação no Brasil. Lecturas: Educación Física y Deportes, 25(272), 35-48. Recuperado de: https://doi.org/10.46642/efd.v25i272.1842
Resumo
Em face a lacuna na produção existente sobre a sistematização do conhecimento das academias ao ar livre, o presente estudo tem por objetivo identificar as pesquisas que abordam o tema, e que foram produzidas no interior dos programas de pós-graduação do Brasil. Para tanto, foram realizados os procedimentos da revisão sistemática. Ao todo, 12 dissertações foram catalogadas após a etapa de coleta de dados. Por sua vez, a análise dos dados ocorreu por meio do Software Iramuteq. Verificou-se que a produção científica sobre o tema investigado ainda é recente e normalmente estudada em programas de pós-graduação em Educação Física. Ademais, a produção científica se concentra em dois grandes eixos: 1) o uso das academias ao ar livre; 2) a estrutura das academias ao ar livre. Com base nos resultados encontrados, conclui-se que a temática ainda precisa de um aprofundamento e desenvolvimento de novos estudos nos dois eixos supracitados, além da necessidade de pesquisas com o intuito de sustentar a formulação e reformulação de políticas públicas sobre as academias ao ar livre.
Unitermos:
Academias ao ar livre. Idosos. Produção do conhecimento. Brasil.
Abstract
Before the gap in the existent production about the systematization of knowledge of the outdoor gyms, this study aims to identify the researches that address the theme and that were produced within the postgraduation programs in Brazil. For this, were performed the procedures of the systematic review. In all, twelve dissertations were cataloged after the data collection stage. In turn, the date analyzes was realized using Iramuteq Software. It has been verified that the scientific production on the subjected investigated is still recent and normally studied in Physical Education postgraduate programs. Furthermore, the scientific production focuses in two major axes: 1) the use of the outdoor gyms; 2) the structure of outdoor gyms. Based on the results, it is concluded that the subject still reclaims further studies and development in the two axes, besides the necessity of further researches with the purpose of sustain the formulation and reformulation of public policies on outdoor gyms.
Keywords
: Outdoor gyms. Aged. Knowledge production. Brazil.
Resumen
En vista de la brecha en la producción existente en la sistematización del conocimiento sobre los gimnasios al aire libre, el presente estudio tiene como objetivo identificar las investigaciones que abordan el tema, y que se produjeron dentro de los programas de posgrado de Brasil. En este sentido, se llevaron a cabo procedimientos de revisión sistemática. En total, se catalogaron 12 disertaciones después de la fase de recopilación de datos. A su vez, el análisis de datos se produjo a través del Software Iramuteq. Se encontró que la producción científica sobre el tema investigado todavía es reciente y por lo general estudiada en programas de posgrado en Educación Física. Además, la producción científica se centra en dos grandes ejes: 1) la utilización de gimnasios al aire libre; 2) la estructura de los gimnasios al aire libre. Sobre la base de los resultados encontrados, se concluye que el tema todavía necesita una profundización y desarrollo de nuevos estudios en los dos ejes mencionados anteriormente, además de la necesidad de investigación con el fin de apoyar la formulación y reformulación de políticas públicas sobre gimnasios al aire libre.
Palabras clave:
Gimnasios al aire libre. Personas mayores. Producción de conocimiento. Brasil.
Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 25, Núm. 272, Ene. (2021)
Introdução
Os estudos sobre “o idoso” vêm ganhando cada vez mais espaço no campo acadêmico. Tais como: atividade física e envelhecimento (Balbé, Salin, Mazo, Andrade, & Streit, 2012); atividade física adaptada (Alves, Reis, Moraes, & Silva, 2018); atividade física e paralisia cerebral (Oliveira, Silva, & Soares Junior, 2019); mortalidade em idosos (Silva; Cesse & Albuquerque, 2014); políticas públicas para a saúde do idoso. (Camacho, & Coelho, 2010)
A realização destes estudos torna-se ainda mais relevantes, ao observar-se dados como os censos demográficos realizados periodicamente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os quais apontam para um aumento acelerado da população de idosos no país. Segundo a Agência de Notícias do IBGE, de 1940 até 2016, a expectativa de vida do brasileiro aumentou mais de 30 anos. Apenas entre 2012 e 2017, houve um aumento de 18% desse grupo etário no Brasil, ultrapassando a marca de 30,2 milhões de idosos em 2017. (IBGE, 2018)
Embora estes indicadores devam ser “comemorados” como melhorias quantitativas, Motta, & Aguiar (2007) alertam que envelhecer com qualidade de vida, ainda se trata de um privilégio de pequena parcela dos idosos brasileiros. Diante deste cenário, uma das ações governamentais que começou a se desenvolver no Brasil a partir do ano 2000, foi a implantação das Academias ao Ar Livre ou Academias da Terceira Idade. Fato este acontecido logo após o lançamento do Programa Brasil Saudável pelo Ministério da Saúde e pela reformulação feita pelo Departamento de Saúde da Prefeitura Municipal de Maringá – Paraná, no ano de 2004. (Soares apud Da Silva, 2018; Azevedo Filho, 2016; Maia, 2018)
No entanto, as Academias da Terceira Idade (ATI) ou Academias ao Ar Livre (AAL) ainda se apresentam como uma temática não explorada nos estudos de revisão sistemática. Diante do exposto, o presente estudo tem como objetivo: identificar o que tem sido produzido na Pós-graduação brasileira sobre a temática academia ao ar livre no Brasil.
A consecução desta pesquisa torna-se importante ao passo que permite uma compreensão acerca do rumo das publicações relacionadas as ATI ou AAL, evidenciando os principais achados destes estudos e as temáticas não exploradas.
Metodologia
Este trabalho foi desenvolvido por meio da revisão sistemática, seguindo as indicações de Costa, & Zoltowski (2014), e Gomes, & Caminha (2014). A revisão sistemática é um método que possibilita ao pesquisador a potencialização das buscas pela produção do conhecimento científico de uma forma organizada.
Para a organização dos dados seguimos os seguintes filtros de inclusão e de textos.Os filtros de inclusão: ‘filtro 1’ – seleção das bases de dados; ‘filtro 2’ – busca utilizando a string.No ‘filtro 1’ foi selecionada a base de dados: Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD) (http://bdtd.ibict.br/vufind/). No ‘filtro 2’ foi necessário o acesso a base de dados e a realização da busca no ‘campo pesquisa’ por meio da string: “academia da terceira idade” OR “academia ao ar livre”. Por meio da busca inicial chegamos ao total de 12 textos como referências para o estudo, publicados entre 2013 e 2019. A coleta de dados ocorreu em abril de 2019.
Na sequência, foi elaborado um material compilado dos 12 textos encontrados para posteriormente analisá-los no Software Interface de R pour les analyses Multidimensionnelles de Textes et de Questionnaires (Iramuteq)1. Este software é livre/gratuito e permite a realização de análises de textos e evocações de palavras. A utilização do software Iramuteq emerge como uma possibilidade de análise para os estudos relacionados aos campos da Educação Física, as Ciências Humanas e Sociais. (Paula, Sousa, & Antunes, 2018)
No presente estudo foram utilizadas as seguintes análises: nuvem de palavras, análise de similitude e classificação hierárquica descendente (CHD). A nuvem de palavras é uma análise lexical simples, que agrupa e organiza as palavras de acordo com a frequência, possibilitando a percepção das palavras-chave do corpus. Quanto à análise de similitude, é frequentemente utilizada para analisar a estrutura do conteúdo do corpus textual, identificando se há conexidade entre as palavras. Por fim, a CHD agrupa os principais termos, separando o corpus em classes. (Camargo & Justo, 2013)
Resultados e discussões
As 12 pesquisas analisadas na presente investigação estão dispostas no Quadro 1.
Quadro 1. Dissertações analisadas pelo presente estudo
Id |
Título |
Objetivo |
Referência |
1 |
Espaços públicos como suporte para a prática
atividade física: A percepção dos moradores acima de 40 anos da
cidade de Cambé–PR. |
Analisar
a repercussão da implementação de academias ao ar livre em pessoas
acima de 40 anos que moram em Cambé-PR. |
Bessa
(2018) |
2 |
A utilização das academias da terceira idade na promoção da saúde
em Maringá-PR. |
Avaliar o uso das ATI em idosos de Maringá-PR. |
Nardi (2012) |
3 |
A influencia da prática da Atividade Física
e da Socialização na Qualidade de Vida do idoso: um estudo nos pontos
de encontro comunitário do Distrito Federal. |
Avaliar
em que medida a prática de atividade física nos espaços de lazer
proporciona alterações no estado de humor, socialização e qualidade
de vida em idosos. |
Azevedo
Filho (2016) |
4 |
Academia ao ar livre e a percepção de qualidade de vida de idosos. |
Investigar se o uso não supervisionado
das AALs impacta positivamente a qualidade de vida e indicadores de saúde. |
Trindade (2015) |
5 |
Análise dos programas de atividade física
dos municípios pertencentes à microrregião de saúde de Uberaba-MG. |
Efetuar
a identificação e descrição de programas de atividade física em
municípios de Minas Gerais. |
Pires (2016) |
6 |
Ao ar livre: um estudo na academia popular de Santo Antônio em Vitória-ES. |
Compreender elementos que caracterizam a
promoção de saúde em espaços públicos em Vitória-ES. |
Pinto (2015) |
7 |
Academia popular da pessoa idosa (APPI):
usos e apropriações dos frequentadores do módulo da praia de Camburi
em Vitória-ES. |
Analisar
a apropriação das Academias ao ar livre em Vitória-ES. |
Laurindo
(2014) |
8 |
Perfil dos idosos usuários de academias ao ar livre para a terceira
idade da cidade de Fortaleza, Ceará. |
Efetuar a descrição do perfil de usuários
idosos da AALs em Fortaleza. |
Pinheiro (2016) |
9 |
Espaços públicos e estruturas para
atividade física no lazer em Florianópolis: distribuição, qualidade
e associação com a renda socioeconômica dos setores censitários. |
Analisar
uso e qualidade de espaços públicos de lazer e associação com a
renda em Florianópolis. |
Manta
(2017) |
10 |
Proposta de um instrumento para avaliação da qualidade do ambiente físico
de academias ao ar livre. |
Elaborar método de avaliação de
qualidade das AALs a partir de indicadores de avaliação. |
Maia (2018) |
11 |
Perfil dos usuários, utilização das
academias ao ar livre e características ambientais e individuais
associadas ao volume de uso. |
Analisar
perfil e nivel de atividade física de usuarios de AAL em Uberaba, MG. |
Da
Silva (2018) |
12 |
Uma reflexão sobre a qualidade de vida nos ambientes urbanos: parques
e academias ao ar livre no município de Curitiba. |
Refletir sobre as conexões entre o
crescimento urbano e espaços direcionados a qualidade de vida. |
Maranho (2013) |
Fonte: Autores (2019)
Verifica-se que as pesquisas buscaram analisar a utilização das AAL em diferentes localidades do Brasil, bem como indicadores de saúde e qualidade de vida de seus usuários. Destaca-se ainda o estudo de Maia (2018), que propôs um instrumento de avaliação do ambiente físico de academias ao ar livre, que tem potencial para ser utilizado por pesquisadores da área.
A fim de evidenciar os locais em que predominam as pesquisas, o quadro 2 apresenta as instituições a que estão vinculados os autores, número de textos por instituições, a cidade em qual estão sediadas estas instituições, a cidade em que a pesquisa foi desenvolvida e a referência.
Quadro 2. Locais dos programas de pós-graduação
Instituição
de vínculo dos autores |
Nº
de Textos |
Cidade
da instituição de vínculo do Programa de pós-graduação |
Cidade
de execução da pesquisa |
Referências |
USP |
1 |
Ribeirão
Preto/SP |
Ribeirão
Preto/SP |
Trindade
(2015) |
UEL |
1 |
Londrina/PR |
Cambé/PR |
Bessa
(2018) |
UFES |
2 |
Vitória/ES |
Vitória/ES |
Laurindo
(2014); Pinto (2015) |
UFC |
1 |
Fortaleza/CE |
Fortaleza/CE |
Pinheiro
(2016) |
UFSC |
1 |
Florianópolis/SC |
Florianópolis/SC |
Manta
(2017) |
Universidade
Católica de Brasília |
1 |
Brasília/DF |
Brasília/DF |
Azevedo
Filho (2016) |
Universidade
de Brasília |
1 |
Brasília/DF |
Maringá/PR |
Nardi
(2013) |
Universidade
Tuiutido Paraná |
1 |
Curitiba/PR |
Curitiba/PR |
Maranho
(2013) |
UNESP |
1 |
Bauru/SP |
Não
se aplica |
Maia
(2018) |
UFTM |
2 |
Uberaba/MG |
Microrregião
de Uberaba/MG; Uberaba/MG |
Pires
(2016); Silva (2018) |
Fonte: Autores (2019)
Verifica-se que a Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) e a Universidade Federal do Triângulo Minero (UFTM) são as únicas que apresentaram mais de um trabalho direcionado a temática das AAL. Isto indica que, quando se leva em consideração as teses e dissertações, não há um predomínio de uma instituição sobre a outra. Por se tratar de uma temática recente, cuja dissertação mais antiga encontrada pelo presente estudo é datada do ano de 2013, tal cenário não se trata de uma anormalidade.
Impulsionada pela UFES e UFTM, verifica-se que os municípios de Vitória/ES e Uberaba/MG com duas investigações nas suas AAL. Assim, os estudos sobre AAL têm o caráter local e ainda sem aprofundamento nos contextos regionais e nacional.Ao considerar as regiões do Brasil, observa-se que as AAL da região sudeste foram utilizadas em cinco estudos, a região sul apresentou quatro estudos, e as regiões centro-oeste e nordeste apresentaram um estudo cada. Um estudo não indicou localidade, pois o seu foco foi a construção de um instrumento de avaliação das estruturas das AAL.
Destaca-se ainda que não encontramos estudos registrados em AAL na região norte e, adicionalmente, fica reforçado que as análises nas AAL publicadas em dissertações ocorreram com maior frequência em instituições da região sudeste.
Observa-se que as publicações mais antigas sobre as AAL são do ano de 2013. Além disso, observa-se que os picos de dissertações produzidas ocorreram nos anos de 2016 e 2018. Por se tratar de uma temática ainda recente, a notar pela dissertação mais antiga ser do ano de 2013, é natural que não se tenha uma tendência clara em relação a evolução das pesquisas com esta temática. No entanto, é possível identificar que o número de produções não é elevado, ainda que seja considerado o tempo para confecção de trabalhos desta natureza.
O Quadro 3 indica a formação dos autores que publicaram sobre AAL nas pesquisas investigadas no presente estudo.
Quadro 3. Formação em nível de graduação dos autores
Área de formação |
Número de Ocorrências |
Educação Física |
5 |
Arquitetura e Urbanismo |
2 |
Medicina |
1 |
Enfermagem |
1 |
Odontología |
1 |
Fonte: Autores (2019)
Fica evidente que a maior parte dos autores que publicaram sobre AAL são formados em Educação Física (5). Este cenário não se trata de uma anormalidade, tendo em vista que as AAL são direcionadas para a prática de exercício físico, temática intimamente ligada à Educação Física.
Na análise por meio do Iramuteq foi possível identificar o conteúdo dos trabalhos das 12 dissertações sobre AAL. O corpus geral foi constituído por 113 segmentos de texto (ST), com aproveitamento de 94 ST (83,19 %). Emergiram 3.971 ocorrências (palavras, formas ou vocábulos), sendo 1.255 palavras distintas e 771 com uma única aparição.
Na sequência, foi realizada a análise de Classificação Hierárquica Descendente (CHD), na qual é possível classificar os ST em classes, em função da proximidade do seu vocabulário e frequência (Camargo, & Justo, 2013). O conteúdo analisado foi categorizado em quatro classes: Classe 1, com 42 ST (44,68%); Classe 2, com 18 ST (19,15%); Classe 3, com 16 ST (17,02%); Classe 4, com 18 ST (19,15%). Essas quatro classes se encontram divididas em duas ramificações. A primeira delas é composta pela classe 4. E a segunda delas é formada pelas classes 1,2 e 3, conforme a Imagem 1.
A classe 4 (condições estruturais das academias ao ar livre) é formada por palavras no intervalo entre x2 (qui-quadrado)=4,52 (instrumento) e x2=47,52 (estrutura). Essa classe é composta por palavras como: estrutura (x2=47,25); qualidade (x2=47,08); espaços públicos (x2=41,44); bom e renda (x2=31,93); atividades físicas (x2=27,72); setores censitários (x2=22,3); presença (x2=21,67) entre outras.
Na análise realizada, verificamos que nas pesquisas existe uma preocupação sobre a estrutura das AAL. O estudo de Manta (2017) é o que tem o índice de significância dentro classe 4. Assim, foi possível destacar que as condições estruturais para os usos das AAL são melhores em locais próximos ao centro das cidades e situados em locais com outras opções de práticas de lazer, como exemplos: praças esportivas e parques.
Dessa maneira, o estudo de Manta (2017) destaca a disparidade de espaços públicos com boas condições de uso e a relação de renda dentro dos setores censitários. Portanto, os estudos demonstram que os espaços públicos para atividades ao ar livre estão situados em locais onde os moradores têm um maior poder aquisitivo e uma gama de opções para o lazer.
A classe 1 (problemas e objetivos de pesquisas) é estabelecida por palavras no espaçamento entre x2=3,84 (importância) e x2=25,69(idoso). Essa classe é concebida por palavras como: idoso (x2=25,69); atividade física (x2=19,33); academia ao ar livre (x2=9,36); usuário (x2=7,87); qualidade de vida (x2= 7,64); socializar e evidenciar (x2=6,54); população (x2=6,49); objetivo (x2=5,65); demonstrar e diverso (x2=5,17); promoção da saúde (x2=5,12) entre outras.
Nessa análise, verifica-se elementos que problematizaram e objetivaram as pesquisas sobre AAL. Os estudos de Nardi (2013), Trindade (2015) e Azevedo Filho (2016) destacaram preocupação crescente do uso das AAL como meio para obtenção da qualidade de vida e melhoria da saúde em idoso.
Com base nessa revisão sistemática das dissertações sobre as AAL, pode-se responder à pergunta acima da seguinte forma: A prática de atividades físicas para idosos em AAL está muito mais ligada ao seu caráter de socialização e lazer para idosos do que a melhora significativa na sua aptidão física.
No entanto, como a temática ainda é recente no campo acadêmico, sugerimos ainda futuros estudos sobre AAL como possibilidade para subsidiar Políticas Públicas de Saúde para Idoso.
A classe 2 (relação distribuição e ocupação das academias ao ar livre) é estruturada por palavras entre x2=4,11 (lazer) e x2=22,3 (esporte). Essa classe é integrada por palavras como: esporte (x2=22,3); região, implantação e aplicar (x2=17,64); parque (x2=17,05); município (x2=13,35); morador, nordeste e microrregião (x2=13,08); programas de atividade física(x2=9,35); público (x2=8,42); espaço (x2=6,88); verificar e praça (x2=5,69) entre outras.
Na análise da classe 2, encontramos elementos que permitem evidenciar a relação entre o uso das AAL e seus usuários. Os estudos de Pires (2016), Pinheiro (2016), Maia (2018) e Bessa (2018), que são classificados como estudos transversais sobre AAL, demonstraram que os idosos procuram frequentar as AAL mais próximas da sua residência. Normalmente, utilizam esse espaço de duas a três vezes por semana, com uma variação de 30 a 90 minutos de permanência. Contudo, as AAL não são utilizadas somente por idosos. As crianças e adultos também se apropriam desse espaço. Porém, os estudos não relataram as formas e os porquês esses outros grupos buscam as AAL. Essa constatação não foi foco das pesquisas investigadas. Todavia, o entendimento dos porquês outros grupos buscam as AAL poderá ser uma das possibilidades de estudos futuros sobre o tema.
A classe 3 é agregada por termos entre o distanciamento de x2=5,3 (partir) e x2=25,74 (forma). Essa classe é incorporada por palavras como: forma (x2=25,74); inserção e desenvolvimento (x2=20,37); avaliação (x2=19,95); lócus e indicador (x2=15,11); análise (x2=11,18); pesquisa (x2=10,46) entre outras.
Na análise de similitude é possível reconhecer as ocorrências entre as palavras e o seu desfecho, que exemplifica a conexidade entre os termos, contribuindo na visualização da estrutura do corpus textual e particularizando as partes comuns e as específicas. (Camargo, & Justo, 2013)
Observamos que a palavra central é AAL. Dela se ramificam outras expressões significativas, como idoso, atividades físicas e qualidade de vida. No extremo das ramificações, se destacam as relações: a)a estrutura de qualidade dos espaços públicos, com base na renda; b) e a relação atividade física e qualidade de vida (ver Imagem 2).
Nesse sentido, inferimos que as dissertações sobre as AAL têm duas grandes preocupações de estudo. A primeira relacionada à questão estrutural das AAL, que também podemos relacionar com a classe 4 (condições estruturais das academias ao ar livre). A segunda está relacionada com as classes 1, 2 e 3 que destaca o ponto de vista do idoso sobre a sua própria participação nas AAL.
Em seguida foi analisada a nuvem de palavras obtida por meio dos resumos das dissertações (Imagem 3). Na nuvem de palavras, podemos reconhecer a organização gráfica em relação a sua frequência. Ela permite uma distinção rápida das principais palavras-chave no corpus de análise (Camargo, & Justo, 2013). Dessa forma, quanto maior a palavra na nuvem, maior é a sua importância e representatividade.
As palavras como maior frequência no corpus textual analisado foram: academia ao ar livre (f=36); atividade física (f=25); idoso (f=23); qualidade (f=22); maior (f=19); qualidade de vida (f=18); uso (f=18) e espaços públicos (f=17), mostrando novamente que para os pesquisadores sobre AAL, a temática tem duas grandes concentrações de estudo: Uso e estrutura.
Conclusão
O presente estudo teve como objetivo identificar a produção acadêmica sobre as academias ao ar livre. Dessa forma, concentrou-se a análise em dois fatores principais: a) quem e em qual local há a concentração dos estudos sobre AAL; b) qual é o conteúdo estudado sobre AAL.
Observou-se que as AAL foram analisadas predominantemente pela área da Educação Física (5). Ademais, as cidades em que as AAL foram analisadas são Ribeirão Preto-SP (1), Cambé-PR (1), Vitória/ES (2), Fortaleza/CE (1), Florianópolis (1), Brasília/DF (1), Maringá-PR (1), Curitiba-PR (1) e Uberaba/MG (2). Em um estudo a cidade de execução não era relevante em virtude do objetivo da pesquisa.
As instituições que apresentaram maior número de trabalhos sobre as AAL foram a UFES (2) e a UFTM (2). As demais instituições apresentaram apenas um trabalho sobre a temática. Com base no exposto observa-se que a área da Educação Física se destaca nas investigações da AAL, e que não há um evidente predomínio no local em que as AAL foram analisadas e nas instituições de ensino que estudaram a temática.
Observou-se que estudos sobre AAL focam em questões sobre quem está usando esse espaço público e como é a estrutura desses locais de práticas de atividades físicas de lazer. Portanto, os estudos sobre AAL podem avançar ainda nessas duas perspectivas aqui identificadas, e também em outras. Porém, destacou-se a emergência em estudos sobre as AAL como ação governamental focalizada na socialização e lazer, visando um caminho oposto às justificativas problematizadoras dos estudos atuais.
Nota
Interface de R para Análise Multidimensional de Textos e Questionários está disponivel para download no site: http://iramuteq.org/
Referências
Alves, T., Reis, R., Moraes, & Silva, M. (2018). Panorama da produção do conhecimento em atividade física adaptada nos programas de pós-graduação em Educação Física do estado do Paraná. Motrivivência, 30(53), 69-83. Recuperado de: https://doi.org/10.5007/2175-8042.2018v30n53p69
Azevedo Filho, E. R. (2016). A influência da prática da atividade física e da socialização na qualidade de vida do idoso: um estudo nos pontos de encontro comunitário do Distrito Federal. Dissertação de Mestrado em Gerontologia. Universidade Católica de Brasília, Brasília, DF, Brasil. Recuperado de: https://bdtd.ucb.br:8443/jspui/handle/tede/2185
Bessa, R. G. (2018). Espaços públicos como suporte para a prática atividade física: a percepção dos moradores acima de 40 anos da cidade de Cambé–PR. Dissertação de Mestrado em Arquitetura e Urbanismo. Universidade Estadual de Londrina, Londrina, PR, Brasil. Recuperado de: https://bdtd.ibict.br/vufind/Record/UEL_ba9c0d3242026246d4063349a4e161bf
Balbé, G., Salin, M., Mazo, G., Andrade, A., & Streit, I. (2012). Produção científica sobre atividade física E envelhecimento em programas brasileiros de pós-graduação em educação física. Movimento, 18(1), 261-279. Recuperado de: https://doi.org/10.22456/1982-8918.19902
Camargo, B. V., & Justo, A. M. (2013). IRAMUTEQ: um software gratuito para análise de dados textuais. Temas em Psicologia, 21(2), 513-518. Recuperado de: https://dx.doi.org/10.9788/TP2013.2-16
Camacho, A. C. L. F., & Coelho, M. J. (2010). Políticas públicas para a saúde do idoso: revisão sistemática. Revista Brasileira de Enfermagem, 63(2), 279-284. Recuperado de: https://dx.doi.org/10.1590/S0034-71672010000200017
Costa, A. B., & Zoltowski, A. P. C. (2014). Como escrever um artigo de revisão sistemática. In S. H. Koller, M. C. P. de Paula, J. Couto & V. Hohendorff (Orgs.), Manual de Produção Científica, (p. 55-70), Porto Alegre: Penso.
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Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 25, Núm. 272, Ene. (2021)