Lecturas: Educación Física y Deportes | http://www.efdeportes.com

ISSN 1514-3465

 

Conhecimento dos homens sobre a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde

Men’s knowledge about the National Integral Health Care Policy

Conocimiento en hombres sobre la Política Nacional de Atención Integral de Salud

 

Sabrina Furtunato de Ávila*

sabrinafavila@yahoo.com.br

Geiziane Laurindo de Morais**

geizi.morais@unesc.net

Prof. Dr. Jacks Soratto***

jackssoratto@gmail.com

Prof. Dr. Joni Marcio de Farias****

jmf@unesc.net

 

*Pós-Graduação do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde Coletiva

Profissional de Educação Física (Bacharelado)
Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC)

**Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (PPGSCol)
Residente do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde Coletiva
Pesquisadora do Grupo de Estudos e Pesquisa em Promoção da Saúde (GEPPS)
Profissional de Educação Física (Bacharelado)
Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC)

***Docente dos cursos de Enfermagem, Medicina, Residência Multiprofissional

em Saúde e do Programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva

Membro do Práxis - Laboratório de Pesquisa sobre Trabalho, Ética, 

Saúde e Enfermagem Membro do Práxis - Grupo de Pesquisa em Gestão

do Cuidado, Integralidade e Educação na Saúde (GECIES)

Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC)

****Coordenador do Curso de Educação Física

Mestrado Profissional em Saúde Coletiva (PPGScol)

Coordenador do Grupo de Estudos e Pesquisa em Promoção da Saúde (GEPPS)

Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC)

(Brasil)

 

Recepção: 28/10/2019 - Aceitação: 15/06/2020

1ª Revisão: 29/05/2020 - 2ª Revisão: 10/06/2020

 

Level A conformance,
            W3C WAI Web Content Accessibility Guidelines 2.0
Documento acessível. Lei N° 26.653. WCAG 2.0

 

Creative Commons

Este trabalho está sob uma licença Creative Commons

Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional (CC BY-NC-ND 4.0)

https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/deed.pt

Citação sugerida: Ávila, S.F., Moraes, G.L., Soratto, J. y Farias, J.M. (2020). Conhecimento dos homens sobre a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde. Lecturas: Educación Física y Deportes, 25(266), 44-55. Recuperado de: https://doi.org/10.46642/efd.v25i266.1745

 

Resumo

    Introdução: O presente estudo é baseado na Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH), que tem como proposição qualificar a saúde da população masculina na perspectiva de linhas de cuidado que resguardem a integralidade da atenção. Objetivo: Avaliar o conhecimento dos homens sobre a temática “Saúde do Homem”. Métodos: Trata-se de uma pesquisa descritiva e transversal constituída por 58 masculinos usuários da Estratégias Saúde da Família (ESF) do município de Criciúma, Santa Catarina. A coleta dos dados foi a partir de perguntas abertas sobre o acesso e o acolhimento, conhecimento da PNAISH, câncer de próstata e autocuidado. Resultados: Sobre o acesso e acolhimento a compreensão é de cadastro na ESF, o conhecimento sobre a PNAISH aponta o desconhecimento, ações de atenção e cuidado, para o câncer de próstata foram observadas a prevenção, desconhecimento sobre a doença e que pode matar e no autocuidado a importância da saúde preventiva e hábitos saudáveis. Conclusões: O conhecimento dos homens sobre a PNAISH é simplista e não está relacionado com as ESFs, apontando um distanciamento deste público no serviço e no cuidado a saúde.

    Unitermos: Promoção da saúde. Saúde do homem. Saúde pública.

 

Abstract

    Introduction: This study is based on the Policy National of Integral Attention to Men's Health (PNAISH), which proposes to qualify the health of the male population from the perspective of care lines that safeguard the integrality of care. Objective: To evaluate men's knowledge on the theme “Men's Health”. Methods: This is a descriptive and cross-sectional research consisting of 58 male users of Family Health Strategies (FHS) of the city of Criciúma, Santa Catarina. Data collection was based on open questions about access and reception, knowledge of PNAISH, prostate cancer and self-care. Results: About the access and reception understanding is registered in the FHS, knowledge about PNAISH points to the lack of awareness, attention and care actions, for prostate cancer were observed prevention, ignorance about the disease and that can kill and in the self-care the importance of preventive health and healthy habits. Conclusions: Men's knowledge about PNAISH is simplistic and unrelated to the FHS, indicating a distancing from this public in the service and health care.

    Keywords: Health promotion. Human health. Public health.

 

Resumen

    Introducción: El presente estudio se basa en la Política Nacional para la Atención Integral a la Salud de los Hombres (PNAISH), que propone calificar la salud de la población masculina desde la perspectiva de líneas de cuidado que protejan la integralidad de la atención. Objetivo: evaluar el conocimiento de los hombres sobre el tema "Salud en hombres". Métodos: Este es un estudio descriptivo y transversal sobre de 58 usuarios masculinos de las Estrategias de Salud Familiar (ESF) en el municipio de Criciúma, Santa Catarina. La recopilación de datos se basó en preguntas abiertas sobre acceso y recepción, conocimiento de PNAISH, cáncer de próstata y autocuidado. Resultados: En cuanto al acceso y la recepción, la comprensión se registra en la ESF, el conocimiento sobre PNAISH apunta a la ignorancia, las acciones de atención y cuidado, para la prevención del cáncer de próstata, el desconocimiento sobre la enfermedad y cuáles pueden matar y autocuidado la importancia de la salud preventiva y hábitos saludables. Conclusiones: El conocimiento de los hombres sobre PNAISH es simplista y no está relacionado con los FSE, lo que apunta a una distancia de este público en el servicio y la atención médica.

    Palabras clave: Promoción de la salud. Salud en hombres. Salud pública.

 

Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 25, Núm. 266, Jul. (2020)


 

Introdução 

 

    Segundo estimativa dos Indicadores e Dados Básicos do Brasil (IDB) a população brasileira masculina totaliza 48,9% de habitantes, com distribuição diferente por região: de 48,3% no Nordeste a 50,3% no Norte, única região com mais de 50% de homens (Brasil, 2011). Destes, aproximadamente 56% estão na faixa etária entre 20 e 59 anos de idade (Moura, Neves, Gomes & Albernaz, 2012). A região Centro-Oeste compreende o menor contingente (7,6%), seguida pela região Norte com 7,9% da população nacional, na qual a maioria dos estados tem menos de 500 mil homens nessa faixa etária (Moura, Neves, Gomes & Albernaz, 2012). O Sul contribui com 14,8% dos habitantes, o Nordeste com 26,2%, destacando-se a Bahia com quase 3,7 milhões de homens entre 20 e 59 anos de idade. O Sudeste comporta 43,5% da população nessa faixa de idade, com relevância para o Estado de São Paulo com quase 12 milhões, do total da população brasileira de 20 a 59 anos, sendo 2,8% de habitantes são do Estado de Santa Catarina. (Brasil, 2010)

 

    Dados epidemiológicos apontam que a população masculina não adere à medidas de atenção integral à saúde, por vezes decorrente das variáveis culturais, ou seja, os estereótipos de gênero, enraizados há séculos em nossa cultura patriarcal, potencializam práticas baseadas em crenças e valores do que é ser masculino e a doença é considerada como sinal de fragilidade que os homens não reconhecem como inerentes a sua própria condição biológica, julgando-se invulnerável, contribuindo para que ele cuide menos de si mesmo e se exponha mais as situações de risco. (Ministério da Saúde, 2008; Oliveira, Lenza, Costa & Souza, 2020)

 

    A Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH), formulada para promover ações de saúde que contribuam significativamente para a compreensão da realidade singular masculina nos seus diversos contextos socioculturais e político-econômicos, está alinhada com a Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) – porta de entrada do Sistema Único de Saúde (SUS), particularmente com suas estratégias de humanização, na busca do fortalecimento das ações e dos serviços disponibilizados para a população. (Silva, 2019)

 

    O Ministério da Saúde em conjunto com as esferas estaduais e municipais que compõem solidariamente o Sistema Único de Saúde, compreenderam que para acelerar o alcance de melhores indicadores de qualidade de vida e padrões de vida mais longa, é essencial desenvolver cuidados específicos para o homem jovem e adulto. Além disso, é na Atenção Básica que o homem é reconhecido como um ser que precisa de cuidado concretizado. (Lima Vasconcelos et al., 2019)

 

    As informações do IDB (Brasil, 2011), apontam que as principais causas de morte no sexo masculino são as doenças do aparelho circulatório, seguidas das causas externas e das neoplasias e a faixa etária com maiores taxas de mortalidade é entre 20 e 39 anos, sendo três vezes maior na população masculina, quando comparada à feminina.

 

    O padrão de mortalidade entre os homens brasileiros expressa, por si, a diferença de gênero. Comparado às mulheres, as taxas de mortalidade chegam a ser quatro vezes maiores entre os homens de 20 a 29 anos, caindo para 2,7 vezes entre 30 e 39 anos, 2,1 vezes entre 40 e 49, e 1,9 vezes entre 50 e 59 anos, assim como na mortalidade, os homens também apresentam padrões característicos de morbidade (Moura, Neves, Gomes & Albernaz, 2012; Bruno & Soratto, 2020). Tomando como parâmetro os casos novos da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (SIDA-AIDS), no ano de 2010 as taxas de incidência são muito maiores entre os homens do que entre as mulheres (37,9 casos novos por 100 mil habitantes versus 21,0), com diferenças importantes por faixa etária: 49,0 versus 24,1, entre 30 e 39 anos; 45,0 versus 16,3, entre 40 e 49; e 28,6 versus 21,0, entre 50 e 59 anos. (Moura, Neves, Gomes & Albernaz, 2012)

 

    Quanto à tuberculose, a taxa de incidência atingiu 85,9 por 100 mil homens no ano de 2010, com variação de 26,7, em Tocantins, a 165,3, no Rio de Janeiro, no que diz respeito às doenças relacionadas ao trabalho, a razão da incidência entre homens e mulheres é de 1,6, mas está indiretamente associada com o aumento da idade, chegando a 2,5, entre os mais jovens (16 a 24 anos de idade) e caindo para 1,2, na faixa etária de 45 a 59 anos, assim reforçando a diferenciação entre gênero, em que os homens apresentam mais riscos de acidentes por imprudência do que por exposição. (Moura, Neves, Gomes & Albernaz, 2012; Oliva et al., 2019)

 

    Nesse sentido, o objetivo do estudo é avaliar o conhecimento dos homens sobre a temática “Saúde do Homem”, estabelecendo interface entre o conhecimento e a utilização do serviço público de saúde, a fim de rediscutir e/ou construir estratégias eficazes para o conhecimento e a utilização dos serviços.

 

Métodos 

 

    A pesquisa caracteriza-se de uma abordagem qualitativa, devido ao software Atlas.ti que corresponde a esta abordagem,fundamentada nos princípios teóricos de Minayo (2014). A escolha dos avaliados e do local da pesquisa seguiu alguns critérios de representatividade tipológica, que segundo Molina e Molina Neto (2010) o próprio investigador define os casos que mais podem contribuir para as informações e desfecho da pesquisa. Foram incluídos no estudo homens com idade igual ou superior a 20 anos, residentes nos locais da pesquisa. A amostra foi composta por 58 homens cadastrados nas Estratégias Saúde da Família do município de Criciúma, Santa Catarina (Brasil). A coleta de dados ocorreu entre agosto e novembro de 2017.

 

    Para a avaliação do conhecimento sobre a saúde do homem, foi aplicado um roteiro de perguntas, contendo nove perguntas abertas sobre o conhecimento dos homens e pautadas nos eixos temáticos da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem. O questionário foi distribuído para os participantes que aceitaram participar voluntariamente da pesquisa, estes foram orientados pelo pesquisador e pelas Agentes Comunitárias de Saúde (ACS) a levar o questionário para casa, responder individualmente as questões e posteriormente entregar para o pesquisador.

 

    Para a análise dos dados qualitativos foi utilizado o software Atlas.ti versão 8, sendo interpretados através do método de análise de conteúdo, numa perspectiva temática. Segundo Bardin (2011), a análise de conteúdo se caracteriza como um conjunto de técnicas de análise das comunicações, visa os procedimentos sistemáticos e os objetivos de descrição do conteúdo das mensagens. Desse modo, os indicadores permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção destas mensagens. Esta maneira de análise de dados consiste em identificar os núcleos de sentido que compõe uma comunicação, cuja frequência signifique alguma coisa para o objeto analítico visado. Já a análise temática subdivide-se em três etapas, entre elas a pré-análise, exploração do material, tratamento dos resultados obtidos e interpretação. (Minayo, 2014)

 

    Na primeira etapa de análise, foram inseridos 9 (documents) documentos contendo 58 respostas cada um. Na segunda etapa, a partir da leitura dos documents foram selecionadas as (quotations), frases ou trechos e atribuindo (codes) significados a cada uma das quotations. A criação dos codes levou em consideração o objetivo da pesquisa e foram agrupados conforme semelhança no assunto. Na terceira etapa, para os resultados iniciais foram realizadas associações utilizando as ferramentas de análises do software, estabelecendo relações entre quotations, codes e codegroups.

 

    A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética e Pesquisa em Seres Humanos da Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC), tendo como base a Resolução nº. 466/12, do Conselho Nacional de Saúde, sob o Parecer n. 2.158.013, no ano de 2017. Para garantir o anonimato dos participantes, foi atribuído um algarismo a cada um deles, por exemplo, P1 - Participante Número 1.

 

Resultados 

 

    Os codes foram distribuídos em quatro categorias, sendo elas: Acesso e acolhimento; Conhecimento sobre a PNAISH; Conhecimento sobre o câncer de próstata e Autocuidado.

 

Acesso e acolhimento 

 

    A Tabela 1 evidencia que 66,7% das quotations selecionadas estão relacionadas ao cadastro na ESF, demonstrando a existência de uma aproximação dos participantes com a Estratégia Saúde da Família (ESF).

 

Tabela 1. Distribuição de quotations (57) de acordo com os codes (3) de Cadastro na ESF

Codes

Quotations

N

%

Sim

38

66,7

Não

18

31,6

Não sei

1

1,8

Fonte: Elaborada pelos autores (2017)

 

    Em relação ao conhecimento das ações que são desenvolvidas para a população masculina (Tabela 2), os resultados mostram que a maioria das quotations selecionadas estão relacionadas ao desconhecimento sobre as ações.

 

Tabela 2. Distribuição de quotations (56) de acordo com os codes (4) de Conhecimento das ações desenvolvidas na ESF

Codes

Quotations

N

%

Não sabe

35

62,5

Consultas, exames, curativos

10

17,9

Campanha Novembro Azul

8

14,3

Informações (palestras, rodas de conversa)

3

5,4

Fonte: Elaborada pelos autores, 2017

 

Conhecimento sobre a PNAISH 

 

    Quando avaliado a categoria sobre o conhecimento da PNAISH (Figura 1), observou-se 20,5% das quotations e reúne os seguintes codes: não conhece (91,2%), prevenção e orientação (5,3%) e atenção e cuidado (3,5%).

 

Figura 1. Conhecimento sobre a PNAISH

Figura 1. Conhecimento sobre a PNAISH

 

Conhecimento sobre o câncer de próstata 

 

    Essa categoria corresponde a 19,4% das quotations e reúne os seguintes codes: prevenção (50%), nada (44,4%) e pode matar (5,6%), conforme sintetizados na Figura 2.

 

Figura 2. Conhecimento sobre câncer de próstata

Figura 2. Conhecimento sobre câncer de próstata

 

Autocuidado 

 

    A Figura 3 apresenta essa categoria com 19,4% das quotations e reúne os seguintes codes: hábitos saudáveis (63%) e exames preventivos e vacinação (37%).

 

Figura 3. Entendimento sobre os cuidados com a saúde

Figura 3. Entendimento sobre os cuidados com a saúde

 

Discussão 

 

    Os resultados demonstraram que na categoria acesso e acolhimento, o cadastro na ESF não se torna um fator determinante para que o indivíduo conheça e se envolva nas atividades realizadas na ESF. Pereira e Barros (2015), ao entrevistarem profissionais da saúde de uma ESF de Parnaíba, observaram nas falas dos sujeitos que existem características do comportamento masculino, como a pressa e a objetividade, representando os principais fatores para explicar a frágil relação dos homens com o serviço de saúde. No estudo de Carneiro, Adjuto e Alves (2019), os homens informaram outros motivos, como a demora no atendimento, estudos, trabalho e a falta de tempo.

 

    Reconhecer as especificidades da saúde do homem, se torna fundamental para estabelecer as ações de saúde, sob uma perspectiva de cuidado continuado e integral, assim favorecendo o reconhecimento dos serviços de saúde pelos homens, como um espaço onde podem en­contrar assistência, visando o acolhimento e na construção de vínculo com essa população. (Básica & Especializada, 2005; Moreira et al., 2019)

 

    Os fatores relacionados ao conhecimento sobre as ações realizadas na ESF estão muito associados ao serviço que os homens utilizam nesses espaços. Algumas experiências têm possibilitado aos homens mais jovens a atuação junto às Equipes de Saúde da Família o que lhes permite entender os determinantes do processo saúde-doença, a importância das medidas de promoção e prevenção e da ESF como processo de gestão do cuidado e ambientes de saúde (Arruda, Mathias & Marcon, 2017). Em um estudo realizado com homens no município de Maringá–Paraná, os indivíduos de forma geral estabelecem maior relação com o profissional de saúde o médico por motivos de doenças, sintomas e urgências. Também em torno de 56,3% da população em estudo utiliza os serviços públicos (Carvalho et al., 2013). No presente estudo, o desconhecimento das ações realizadas na ESF representa mais de 60% das quotations selecionadas, evidenciando uma fragilidade no vínculo com esses usuários.

 

    O conhecimento sobre a PNAISH por parte dos sujeitos entrevistados acontece numa perspectiva superficial e não leva em consideração todos os aspectos que estão envolvidos na política. Corroborando com esses achados, um estudo realizado com profissionais de uma ESF, demonstrou que o conhecimento sobre a política está pautado apenas em alguns aspectos, não considerando a integralidade da atenção e tendo como foco o componente centrado na doença (Arruda, Corrêa & Marcon, 2014; Silva, 2019). Além disso, evidencia-se o desconhecimento tanto dos usuários como dos profissionais, o que acarreta em uma desvalorização da política e a dificuldade de implantação.

 

    A formulação da PNAISH no Brasil teve como objetivo principal “facilitar e ampliar o acesso com qualidade da população masculina às ações e aos serviços de assis­tência integral à saúde do SUS, por meio da atuação nos aspectos socioculturais, sob a perspectiva de gênero, contribuindo de modo efeti­vo para a redução da morbidade, da mortalidade e a melhoria das condi­ções de saúde” (Rocha et al., 2016). Neste sentido, a política afirma princípios relativos ao SUS relacionados, por exemplo, à “humanização, qualidade de vida e promoção da integralidade do cuida­do na população masculina, promovendo o reconhecimento, o respeito à ética, os direitos dos homens e obedecendo às suas particularidades socioculturais”. (Básica & Especializada, 2005)

 

    A categoria relacionada ao conhecimento sobre o câncer de próstata constatou que quase 50% das quotations selecionadas tiveram como code não conhecer nada sobre a doença. Sendo assim, se torna um dado preocupante visto os inúmeros de casos constatados deste tipo de neoplasia. Segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA), no Brasil, o câncer de próstata é o mais incidente, representando 33,7% do total de cânceres diagnosticados (Básica & Especializada, 2005). Uma pesquisa realizada no local de trabalho com homens entre 18 e 70 anos, apresentou que uma intervenção educativa aumentou o nível de conhecimento sobre os fatores de risco das doenças cardiovasculares. (Souza, Silva & Pinheiro, 2011)

 

    Modelos de intervenções são estratégias eficazes no controle e combate das doenças mais prevalentes na população masculina. As quotations selecionadas para o code prevenção evidenciam o conhecimento sobre práticas que podem ser realizadas para o controle da doença.

 

    De acordo com Villela (2005), em seu estudo realizado com gaúchos tradicionalistas evidenciou a baixa adesão ao exame de toque retal e ainda constatou que uma alta porcentagem (46,6%) de indivíduos desconhecem os sinais e sintomas do câncer de próstata, apesar de 95,5% terem recebido orientação sobre a doença. Uma das explicações sobre o motivo do desconhecimento pode ser o modelo assistencial biomédico, centrado na doença e no tratamento, no qual torna as ações de promoção da saúde pouco incentivadas.

 

    O entendimento sobre os cuidados de saúde dos participantes do estudo consistiu nas práticas do autocuidado voltado em sua grande maioria para os hábitos saudáveis. O conhecimento dos homens está relacionado a uma complexidade de aspectos socioculturais que é representado neste estudo pelas relações que envolve o modo como eles compreendem sua masculinidade e pela atenção integral à saúde do homem, pautada nas suas necessidades e peculiaridades. As relações que eles estabelecem com os serviços de saúde se tornam significativas para o conhecimento sobre as ações em saúde. A dificuldade encontrada na construção de vínculo com essa população nos serviços de saúde, é decorrente dos aspectos culturais, como os estereótipos de gênero, em que desassocia o autocuidado desta população, pois se o homem é a representação de força na família e a concepção de que ele é invulnerável as doenças, cuidar da sua saúde fere sua masculinidade. (Gomes, Nascimento & Araújo, 2007; Carneiro, Adjuto & Alves, 2019; Oliveira, Lenza, Costa & Souza, 2020)

 

    Sendo assim, indica-se a necessidade de ações, seja para a promoção da saúde e/ou prevenção de agravos, que contribuem para o fortalecimento do vínculo e o acolhimento desta população, pois são dispositivos que favorecem aos homens a percepção das suas necessidades em saúde.

 

Conclusões 

 

    O presente estudo aponta para alguns desafios em relação aos homens com os serviços de saúde, nos quais há um desconhecimento das ações realizadas na Estratégia Saúde da Família, pois apenas o cadastro não é fundamental para que o usuário se envolva e conheça as atividades realizadas na ESF e a falta de conhecimento sobre a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem. Também pode-se identificar um percentual relativamente grande dos homens que não conhecem nada sobre a doença de câncer de próstata.

 

    É importante salientar que a maioria dos entrevistados apresentaram a prática do autocuidado voltado para os hábitos saudáveis. No entanto, são evidentes as dificuldades para a efetiva implementação da PNAISH no âmbito da EFS, assim como a necessidade de conhecimento por parte dos profissionais e dos gestores, visando à melhoria das ações em saúde, seguido pelo acolhimento e a busca do vínculo com os homens nos serviços de saúde.

 

    Neste contexto, evidencia-se a necessidade de aperfeiçoamento deste serviço direcionado aos usuários masculinos, perpassando na realização de ações educativas e atividades voltadas para a prevenção e promoção da saúde, assim possibilitando maior envolvimento do usuário e ampliando o seu conhecimento a respeito das atividades realizadas na ESF.

 

    Além disso, deve haver a organização dos serviços de saúde e o desenvolvimento de estratégias que atraia mais este público, com flexibilização dos horários de funcionamento das unidades, a busca ativa, intensificar as campanhas de saúde e arranjos tecnológicos que contribuem para maior conhecimento da PNAISH e sensibilizando o usuário a cuidar mais da sua saúde. Também reitera-se a importância de políticas públicas concretas, para que de fato haja melhoria das condições de saúde para os homens.

 

Referências 

 

Arruda, G. O. D., Corrêa, A. C. D. P., & Marcon, S. S. (2014). Fatores associados aos indicadores de necessidades em saúde de homens adultos. Acta Paulista de Enfermagem27(6), 560-566. Recuperado de: https://doi.org/10.1590/1982-0194201400091

 

Arruda, G. O. D., Mathias, T. A. D. F., & Marcon, S. S. (2017). Prevalência e fatores associados à utilização de serviços públicos de saúde por homens adultos. Ciência & Saúde Coletiva22, 279-290. Recuperado de: https://doi.org/10.1590/1413-81232017221.20532015

 

Bardin, L. (2011). Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70.

 

Básica, N. A., & Especializada, N. A. (2005). Ministério da Saúde Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Área Técnica Saúde da Pessoa com Deficiência.

 

Brasil (2010). Censo demográfico2010. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. 

 

Brasil, I. D. B. (2011). Indicadores e Dados Básicos para a Saúde. Informações sobre Mortalidade. Recuperado de: http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/tabcgi.exe?idb2012/c04.def

 

Bruno, P. S., & Soratto, M. T. (2020). Saúde do homem: limites e possibilidades. Enfermagem Brasil, 10(5), 274-279. Recuperado de: http://dx.doi.org/10.33233/eb.v10i5.3874

 

Carneiro, V. S. M., Adjuto, R. N. P., & Alves, K. A. P. (2019). Saúde do homem: identificação e análise dos fatores relacionados à procura, ou não, dos serviços de atenção primária. Arquivos de Ciências da Saúde da UNIPAR23(1). Recuperado de: https://doi.org/10.25110/arqsaude.v23i1.2019.6521

 

Carvalho, F. P. B., Silva, S. K. N., de Oliveira, L. C., Fernandes, A. C. L., da Cruz Solano, L., & Barreto, É. L. F. (2013). Conhecimento acerca da política nacional de atenção integral à saúde do homem na estratégia de saúde da família. Revista de APS16(4). Recuperado de: https://periodicos.ufjf.br/index.php/aps/article/view/15265

 

Gomes, R., Nascimento, E. F. D., & Araújo, F. C. D. (2007). Por que os homens buscam menos os serviços de saúde do que as mulheres? As explicações de homens com baixa escolaridade e homens com ensino superior. Cadernos de Saúde Pública23, 565-574. Recuperado de: https://doi.org/10.1590/S0102-311X2007000300015

 

Lima Vasconcelos, I. C. B., Prestes, J. Y. D. N., Ribeiro, R. R. S., Lima, S. J. L., Farias, S. D. C. F., dos Santos Barbosa, L. D. et al. (2019). Política nacional de atenção integral a saúde do homem e os desafios de sua implementação. Brazilian Journal of Development, 5(9), 16340-16355. Recuperado de: https://doi.org/10.34117/bjdv5n9-185

 

Minayo, M. C. S. (2014). O Desafio do Conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. (14ª ed.). São Paulo: Hucitec.

 

Ministério da Saúde. (2008). Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem: princípios e diretrizes. Recuperado de: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_nacional_atencao_homem.pdf

 

Molina, R. M. K., & Molina Neto, V. (2010). Pesquisar com narrativas docentes. A pesquisa qualitativa na Educação Física: alternativas metodológicas3.

 

Moreira, H. B. R., Barbosa, A. L., Cunha, Y. M., Brandão, F. M., de Souza Lacomini, L., & Dias, E. C. (2019). Educação em saúde: enfermagem em atuação à saúde do homem. ANAIS SIMPAC10(1). Recuperado de: https://academico.univicosa.com.br/revista/index.php/RevistaSimpac/article/viewFile/1112/1232

 

Moura, E. C., Neves, A. C. M., Gomes, R., & Albernaz, L. (2012). Perfil da situação de saúde do homem no Brasil. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz. Recuperado de: http://www.saude.gov.br/images/pdf/2014/maio/21/CNSH-DOC-Perfil-da-Situa----o-de-Sa--de-do-Homem-no-Brasil.pdf

 

Oliva, H. N. P., Oliveira, A. G., de Quadros, A. C. V. C., Alves, B. L. R., Ramos, M. T. B. P., Galdino, V. D. A. C. et al. (2019). Estudo epidemiológico da tuberculose no estado de Minas Gerais. Revista Eletrônica Acervo Saúde, (18), e78-e78. Recuperado de: https://doi.org/10.25248/reas.e78.2019

 

Oliveira, I. S. B., Lenza, N. D. F. B., Costa, A. A. C., & Souza, C. B. L. (2020). Saúde do Homem: Ações de Prevenção na Estratégia de Saúde da Família. Revista Atenas Higeia2(1), 48-54. Recuperado de: http://www.atenas.edu.br/revista/index.php/higeia/article/view/24

 

Pereira, M. C. A., & Barros, J. P. P. (2015). Públicos masculinos na estratégia de saúde da família: estudo qualitativo em Parnaíba-PI. Psicologia & Sociedade27(3), 587-598. Recuperado de: https://doi.org/10.1590/1807-03102015v27n3p587

 

Rocha, E. M., Medeiros, A. D. L., Rodrigues, K. S. L. F., Cruz, J. P. M., Siqueira, M. F. C., Farias, E. F. N., & Lemes, A. G. (2016). A Política Nacional de Saúde do homem e os desafios de sua implementação na atenção primária à saúde. Revista Eletrônica Interdisciplinar1(15). Recuperado de: https://doi.org/10.5020/18061230.2016.sup.p128

 

Silva, B. S. D. R. (2019). Política nacional de atenção integral à saúde do homem na estratégia saúde da família: uma revisão integrativa da literatura. Recuperado de: http://dspace.sti.ufcg.edu.br:8080/jspui/handle/riufcg/12146

 

Souza, L. M. D., Silva, M. P., & Pinheiro, I. D. S. (2011). Un toque a la masculinidad: la prevención del cáncer de próstata en gauchos tradicionalistas. Revista Gaúcha de Enfermagem32(1), 151-158. Recuperado de: https://doi.org/10.1590/S1983-14472011000100020

 

Villela, W. (2005). Gênero, saúde dos homens e masculinidades. Ciência & Saúde Coletiva10, 29-32. Recuperado de: https://doi.org/10.1590/S1413-81232005000100008


Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 25, Núm. 266, Jul. (2020)