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ISSN 1514-3465

 

O discurso dos professores de Educação Física sobre sua prática 

pedagógica em saúde: um estudo na Rede Municipal de Fortaleza, CE

The Discourse of Physical Education Teachers about their Pedagogical 

Practice in Health: a Study in the Municipal Network of Fortaleza, CE

El discurso de los docentes de Educación Física sobre su práctica 

pedagógica en salud: un estudio en la Red Municipal de Fortaleza, CE

 

Arliene Stephanie Menezes Pereira*

stephanie_ce@hotmail.com

Symon Tiago Brandão de Souza**

symontiago@hotmail.com

 

*Docente do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará-IFCE 

Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Educação

pela Universidade Estadual do Ceará-UECE

Mestra em Educação Física pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte-UFRN

Membro do grupo de pesquisa em Práticas Educativas, Memórias

e Oralidades-PEMO/UECE. Líder do grupo de pesquisa

Corponexões: corpo, cultura e sociedade-IFCE

**Docente do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará-IFCE. 

Mestrando do Programa de Pós-graduação em Educação

pela Universidade Estadual do Ceará-UECE

Membro do grupo de pesquisa em Educação Física Escolar GEPEFE/UECE

e do Núcleo de história, informação e memória

da enfermagem no Ceará-NUDIHEN/UECE

(Brasil)

 

Recepção: 25/10/2019 - Aceitação: 22/07/2020

1ª Revisão: 26/06/2020 - 2ª Revisão: 05/07/2020

 

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Citação sugerida: Pereira, A.S.M. y Souza, S.T.B. (2020). O discurso dos professores de Educação Física sobre sua prática pedagógica em saúde: um estudo na Rede Municipal de Fortaleza, CE. Lecturas: Educación Física y Deportes, 25(267), 21-34. Recuperado de: https://doi.org/10.46642/efd.v25i267.1737

 

Resumo

    No estudo é apresentado uma breve introdução sobre a abordagem pedagógica da saúde na Educação Física escolar. Objetivando traçar um perfil e analisar as práticas pedagógicas dos docentes da disciplina de Educação Física nas escolas da rede municipal de Fortaleza/CE, acerca do tema saúde. A pesquisa é de caráter quantitativa, descritiva, onde foram realizadas entrevistas através de questionários, com o uso das Tecnologias da informação e comunicação, com 87 docentes (33,72% do total de professores da rede) que atuam no ensino fundamental II. Identificou-se que 100% dos professores entrevistados trabalham o tema saúde em suas práticas docentes na escola, indicando assim, a notoriedade do tema na área. Concluindo-se que os docentes usam de temas diversos para se trabalhar a temática saúde, todos versando sobre o que preconiza a versão em construção da Base Nacional Comum Curricular-BNCC. Atribuindo a disciplina um caráter transformador da sociedade por meios de práticas que são explanadas para a promoção e manutenção da saúde e da qualidade de vida.

    Unitermos: Saúde. Educação Física escolar. Prática docente.

 

Abstract

    The study presents a brief introduction on the pedagogical approach to health in Physical Education at school. Aiming to draw a profile and analyze the pedagogical practices of teachers of the discipline of Physical Education in schools in the municipal network of Fortaleza/CE, on the theme of health. The research is quantitative, descriptive, where interviews were conducted through questionnaires, using Information and Communication Technologies, with 87 teachers (33.72% of the total teachers in the network) who work in elementary school II. It was identified that 100% of the interviewed teachers work on the theme of health in their teaching practices at school, thus indicating the notoriety of the theme in the area. In conclusion, teachers use different themes to work on the health theme, all dealing with what the version under construction of the Common Base National Curriculum recommends. Assigning the discipline a transforming character of society by means of practices that are explained for the promotion and maintenance of health and quality of life.

    Keywords: Health. School Physical Education. Teaching practice.

 

Resumen

    El estudio presenta una breve introducción sobre el enfoque pedagógico de la salud en la Educación Física escolar. Con el objetivo de trazar un perfil y analizar las prácticas pedagógicas de los docentes de Educación Física en las escuelas de la red municipal de Fortaleza/CE, en el tema de salud. La investigación es cuantitativa, descriptiva, donde se realizaron entrevistas a través de cuestionarios, utilizando Tecnologías de la Información y la Comunicación, con 87 docentes (33,72% del total de docentes de la red) trabajando en la escuela primaria II. Se identificó que el 100% de los docentes entrevistados trabajan el tema de la salud en sus prácticas docentes en la escuela, lo que indica la importancia del tema en el área. En conclusión, los docentes utilizan diferentes temas para trabajar la temática de la salud, todos ellos relacionados con lo que recomienda la versión en producción de la Base Curricular Común Nacional-BNCC. Se asigna a la disciplina un carácter transformador de la sociedad mediante prácticas que se explican para la promoción y mantenimiento de la salud y la calidad de vida.

    Palabras clave: Salud. Educación Física escolar. Práctica docente.

 

Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 25, Núm. 267, Ago. (2020)


 

Introdução 

 

    A saúde está ligada historicamente a Educação Física, embora tal ligação sempre esteve voltada a um caráter eminentemente biológico. As propostas e os objetivos educacionais da Educação Física escolar no Brasil foram se transformando ao longo dos anos, e alguns autores relacionam a história da área com a saúde, entre eles Ghiraldelli Júnior (1998) e Soares (1994). Ainda para entender-se a saúde na Educação Física escolar, faz-se necessário resgatar o histórico da disciplina no Brasil, como é feito logo no início deste trabalho.

 

    O objetivo do estudo é traçar um perfil e analisar as práticas pedagógicas dos docentes da disciplina de Educação Física que atuam no ensinam fundamental II nas escolas da prefeitura municipal de Fortaleza-CE, acerca do tema saúde. Justificando-se a importância do trabalho no âmbito de analisar como os docentes de Educação Física estão tratando deste tema na educação básica e as estratégias metodológicas utilizadas.

 

    Neste estudo foi traçado um perfil e analisou-se as práticas pedagógicas dos docentes atuantes no ensino fundamental II, acerca do tema saúde, na disciplina de Educação Física da Rede Municipal de Educação de Fortaleza/CE. Onde foram apresentados dados obtidos através de questionário on-line sobre a abordagem da temática nas aulas da disciplina referida, como os docentes abordam o tema saúde em suas aulas, quais estratégias metodológicas utilizam para isso e quais temas são usados para se abordar o assunto.

 

A saúde em Educação Física escolar 

 

    A introdução da disciplina nas escolas brasileiras se deu através da Reforma Couto Ferraz, em 1851. Em 1882 com a reforma Rui Barbosa, houve uma recomendação que a ginástica fosse obrigatória. Mas, é somente a partir de 1920 que vários estados a incluem em suas reformas educacionais. (Betti, 1991)

 

    O conceito dominante de saúde se deu através do higienismo, onde a preocupação central era com a saúde e os hábitos de higiene a partir das atividades físicas. 

    No desenvolvimento de seu conteúdo da Educação Física Escolar o médico, e mais especificamente o médico higienista, tem um papel destacado, sendo esse profissional um personagem quase indispensável, porque exerce uma autoridade perante o conteúdo de ordem biológica por ele dominado. Esse conhecimento vai orientar a função a ser desempenhada pela Educação Física na escola: desenvolver a aptidão física dos indivíduos. As aulas eram ministradas por instrutores do exército, que traziam para as instituições os rígidos métodos militares da disciplina e da hierarquia. (Soares et al., 1992, p.53)

    O higienismo nasceu com o liberalismo, na primeira metade do século XIX quando o governo começou a dar maior atenção à saúde da população. De acordo com Ghiraldelli (1998) após a tendência higienista (até 1930) imperou a tendência militarista (de 1930 a 1945). Nas concepções higienista e militarista a Educação Física era uma disciplina exclusivamente prática, e não necessitava assim de uma fundamentação teórica e ou pedagógica. (Darido, 2011, 2003; Soares et al., 1992; Betti, 1991; Brasil, 1997)

 

    Em seguida vieram as tendências pedagogicista (1945 a 1964) e competitivista (1964 a 1985). Já nos anos 80 surgem novas abordagens pedagógicas: construtivista-interacionista, desenvolvimentista, psicomotricidade, jogos cooperativos, abordagem sistêmica, crítico-superadora e crítico-emancipatória.

 

    Na década de 90 surge a abordagem da saúde renovada (Darido, 2003). Para a autora a mesma dava outro enfoque à questão da saúde na escola, tendo como objetivo principal uma proposta de combater problemas orgânicos pela falta de atividade física. A mesma aplicada nos anos escolares pode auxiliar à uma cultura de hábitos saudáveis no decorrer de toda a vida (Guedes e Guedes, 1996). Não apenas repetindo os conceitos da tendência higienista, mas ampliando a discussão (Darido, 2003).

 

    Guedes e Guedes (1996) e Nahas (1997) passam a discutir a ideia de uma Educação Física escolar dentro da perspectiva das questões sociais, entretanto dando um enfoque a questão biológica, para justificar fundamentos do tema saúde, discutindo o sentido de bem estar e qualidade de vida; e alertando para a apreensão com a incidência cada vez maior de doenças e de distúrbios orgânicos associados a falta de atividade física.

 

    Os conhecimentos acerca da saúde no cenário escolar brasileiro têm tentado se efetivar através de meras informações sobre a descrição de doenças e suas causas, os aspectos biológicos do corpo e de hábitos e de higiene. Estas situações não são a resolução para que os educandos desenvolvam atitudes de vida saudável. A carta de Otawa1 descreve a importância da escola na promoção da saúde.

    É essencial capacitar as pessoas para aprender durante toda a vida, preparando-as para as diversas fases da existência, o que inclui o enfrentamento das doenças crônicas e causas externas. Esta tarefa deve ser realizada nas escolas, nos lares, nos locais de trabalho e em outros espaços comunitários. As ações devem ser realizadas por intermédio de organizações educacionais, profissionais, comerciais e voluntárias, e pelas instituições governamentais. (Brasil, 1996, s/p)

    A prática da atividade física pode estimular, na fase adulta, um estilo de vida saudável, prevenindo e controlando doenças crônicas. Entretanto esse hábito deve começar na escola, com vistas à promoção de um estilo de vida ativo.Guedes e Guedes (1996) propõem a reformulação do programa da disciplina como um meio de promover uma educação em saúde crendo que os hábitos adquiridos na juventude, como por exemplo os níveis de prática de atividade física, cotidiano alimentar e comportamentos de risco, podem ser transferidos para a fase adulta. Os autores acreditam que a Educação Física pode intervir com conteúdos que estimulem um estilo de vida e hábitos saudáveis, numa perspectiva dos educandos adotarem condutas positivas com relação aos seus próprios hábitos, possibilitando assim, uma melhor qualidade de vida. Uma das formas de se levar tal consciência aos educandos, é justamente por meio da ação docente de intervenção pelo professor de Educação Física.

 

    A Educação Física escolar é capaz de possibilitar a adoção de hábitos saudáveis (Oliveira Júnior et al., 2018; Santana e Costa 2016), pois como afirma Oliveira (2019) a escola não é um espaço apenas para trabalhar a saúde biológica, ou seja, a aptidão física, mas também oferecer oportunidades para que os discentes se tornem sujeitos de sua própria saúde. Para isso, é essencial um diagnóstico do perfil da prática de atividade física desses escolares. Bem como de se fazer um levantamento bibliográfico sobre a temática da saúde renovada. (Bandeira et al., 2014; Silva et al., 2015)

 

    Para Darido e Rangel (2011), essa abordagem da Educação Física escolar defendida por Guedes e Guedes (1996) e Nahas (1997) é considerada um abordagem renovada na saúde, pois abrange os preceitos do higienismo, descarta soluções negativas, como o eugenismo e recorre mais a um enfoque mais sociocultural do que essencialmente biológico.

    A abordagem da saúde renovada tem por paradigma a Aptidão Física relacionada à saúde e por objetivos: informar, mudar atitudes e promover a prática sistemática de exercícios. Embora seus pressupostos e finalidades sejam semelhantes ao modelo biológico higienista, que promovia a saúde por meio de atividades nas aulas de Educação Física, alguns aspectos distinguem esta proposição mais recente, conferindo-lhe um caráter renovado. Isto se deve principalmente à incorporação de certos princípios à proposta como o da não exclusão. (Brasil, 1999 apud Darido e Rangel, 2011, p.16)

    Os Parâmetros Curriculares Nacionais-PCN’s de Educação Física do Ensino Fundamental (Brasil, 1997), que se situava como o documento norteador do conteúdos de Educação Física escolar, apesar de trazerem outra perspectiva com relação à saúde, muito embora bem parecida com a Base Nacional Comum Curricular-BNCC, fundamentam-na como uma concepção de exercício da cidadania, fazendo com que os sujeitos se apropriem do conceito de saúde realizando ações para gerarem atitudes saudáveis na realidade em que estão inseridos, reportando-a como um dos objetivos do Ensino Fundamental. “Conhecer e cuidar do próprio corpo, valorizando e adotando hábitos saudáveis como um dos aspectos básicos da qualidade de vida e agindo com responsabilidade em relação à sua saúde e à saúde coletiva(Brasil, 1997, p. 10). Assim, a área de Educação Física hoje contempla múltiplos conhecimentos produzidos e usufruídos pela sociedade e com possibilidades de promoção, recuperação e manutenção da saúde. (Brasil, 1997)

 

    Os Parâmetros Curriculares Nacionais-PCN’s-Saúde que era outro documento norteador com relação aos temas transversais atrelam-se a um conceito de saúde que ultrapassa o paradigma exclusivamente biológico, trazendo uma concepção mais dinâmica dessa temática, buscando um modelo de compreensão mais abrangente, o de uma saúde ampliada.No documento são apontadas diversas perspectivas que formam a composição do cenário da saúde, incluindo aspectos sociais, culturais, psicológicos, econômicos e afetivos (Brasil, 1998), embora Oliveira (2019) nos aponte que existem estudos na área acadêmica que relacionam a EF e a temática da saúde se mostrando em esforços individuais.

 

    A introdução do texto dos Parâmetros Curriculares Nacionais-PCN’s-Saúde apresenta o desafio de educar para a saúde, no que se referem a hábitos, estilos e atitudes de vida (Brasil, 2000). No âmbito da Educação Física, os Parâmetros Curriculares Nacionais-PCN’s orientam que os conhecimentos construídos devem possibilitar uma análise crítica acerca da saúde, dos valores sociais e dos padrões de beleza, “que se tornaram dominantes na sociedade, seu papel como instrumento de exclusão e discriminação social e a atuação dos meios de comunicação em produzi-los, transmiti-los e impô-los” (Brasil, 1997, p. 25). Orientam ainda quanto à seleção dos conteúdos elencando como fator a promoção e a manutenção da saúde pessoal e coletiva. Objetivando “conhecer a diversidade de padrões de saúde que existem nos diferentes grupos sociais, compreendendo sua inserção dentro da cultura em que são produzidos, analisando criticamente os padrões divulgados pela mídia e evitando o consumismo e o preconceito”. (Brasil, 1997, p.33)

 

    A Base Nacional Comum Curricular-BNCC (Brasil, 2018), um dos documentos mais recentes sobre currículo e educação, mantém no ensino da Educação Física o cuidado com o corpo e a saúde. Nesse sentido, é importante salientar que a disciplina, neste documento, apesar de não trazer o tema saúde explicitamente nos conteúdos, entende esse universo, devendo trazer o tema como elemento fundamental em seu objetivo, pois como afirmam Silva et al. (2017) as condições físicas e patológicas não são a única maneira de abordar a saúde na escola, mas também as condições psicológicas e as relações sociais e ambientais, e ainda a coletividade.

 

    Com base nisso, adotar “hábitos saudáveis de higiene, alimentação e atividades corporais, relacionando-os com os efeitos sobre a própria saúde e de recuperação, manutenção e melhoria da saúde coletiva” (Idem, p.33). Assim, Oliveira et al. (2017) afirmam que no que se refere a essa temática, os saberes caminham de forma convergente entre os fatores individuais e biológicos, como também de forma coletiva e pública, que se completam mutuamente. Permitindo constatar que “embora o documento se paute numa compreensão de saúde em uma dimensão coletiva, aborda-a sob o viés comportamental, muitas vezes relegando ao indivíduo a responsabilidade sobre sua saúde e vendo o uso das instâncias públicas como fruto dos desleixos do cidadão”. (Oliveira et al., p. 109)

 

    Hoje se percebe através das diversas abordagens pedagógicas que a saúde não deve possuir mais um caráter excessivamente dominante nas aulas da disciplina em questão, mas que o tema ainda é muito recorrente e ainda é o discurso usado muitas vezes para se estabelecer a importância da atividade física no ambiente escolar. Esse tema vem ocupando destaque na literatura relacionada à promoção da saúde. Emergindo junto com a discussão, programas de intervenções sócio-políticos diversos para fomentar a prática de atividade física inclusive na escola, como o Programa Saúde na Escola (PSE2). Assim, como ao mesmo tempo, torna-se crescente o número de pessoas no mundo todo com doenças associadas à falta de atividade física.

 

    Uma das respostas a essa situação seriam as iniciativas voltadas à (re)definição do papel dos programas de Educação Física escolar como meio de promoção da saúde (Guedes & Guedes, 1993; Nahas e Corbin, 1992); numa compreensão que se aproxime de ideais da saúde coletiva, considerando fatores externos, e não somente a prática de exercícios, como indicadores de saúde, mas o conhecimento e educação acerca da saúde, a humanização, o cuidado consigo e com o outro, o vínculo, o diálogo e programas político-sociais.

 

Métodos 

 

    A abordagem do estudo assume um caráter quantitativo e descritivo (Bracht et al., 2011). Nesse sentido, este estudo buscou contribuir para uma visão do panorama existente entre saúde e práticas pedagógicas dos docentes de Educação Física escolar que atuam no ensino fundamental II na Rede Municipal de Educação de Fortaleza/CE.

 

    A 1º etapa desse estudo foi a elaboração e posteriormente a aplicação do questionário para os professores de Educação Física lotados na Secretaria Municipal de Educação de Fortaleza/CE, para isso utilizando-se das TIC’s (tecnologias da informação e comunicação), sendo o questionário distribuído através do grupo de professores de Educação Física da prefeitura de Fortaleza/CE no WhatsApp Messenger (grupo Professores de Ed. Física)3 e no Facebook (grupo Professores de Educação Física da PMF)4. Onde no grupo de whatsapp tem-se 123 usuários e no grupo do Facebook tem-se 278 usuários. Os professores acessavam e respondiam o questionário de livre e espontânea vontade, sendo apenas convidados através do link (Pode ser acessado em: https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSff6H9iz7vEBFbpBN2T30VbwpLvOZVFCLOP_tAfzzqSXRGYw/viewform?fbzx=3983299467531374000) e assim respondiam as seguintes perguntas explanadas na Figura 1.

 

Figura 1. Questionário on-line aplicado aos professores

Figura 1. Questionário on-line aplicado aos professores

 

Resultados e discussão 

 

    Após a aplicação do questionário, que foi respondido por 87 professores (totalizando 33,72% de professores da rede municipal, sendo o total de 258 professores lotados no ano de 2016), todos professores da rede, das seis regionais existentes na capital. Os professores responderam 100% “sim” à pergunta: “Professor você já abordou o tema saúde nas suas aulas?”. Esse dado se aproxima dos estudos de Zancha et al. (2013) onde verificou-se que 100% dos professores entrevistados trabalham com elementos da temática saúde em suas aulas, ainda que esta não seja o eixo central contemplado em suas ações docentes. Paiva et al. (2017) também afirmam que a saúde na escola está vinculada a um processo continuado com pólos divergentes, com os positivos, ligados a capacidade de apreciar a vida, e com os negativos, referentes a morbidade.

 

    Posteriormente foi feita a análise quantitativa através de 3 gráficos. Os mesmos foram construídos acerca do questionamento: “Se a resposta foi sim a pergunta anterior, comente através de que atividades você proporciona este conhecimento”. Posteriormente foi feita uma síntese e análise quantitativa dos dados através do programa Excel5. O 1º gráfico analisou quantitativamente os temas que os professores descreveram para tratar sobre o tema saúde em suas aulas. O 2º gráfico analisou quais estratégias metodológicas eram usadas para abordar os temas anteriormente citados. E o 3º gráfico descreveu algumas das atividades físicas utilizadas pelos docentes nas aulas. A última fase consistiu-se no tratamento descritivo dos resultados para as inferências e interpretações do estudo.

 

    Ao primeiro questionamento de acordo com a pesquisa e como relatado, 100% dos professores abordam o tema saúde nas aulas de educação da prefeitura.Podendo-se concluir que a disciplina de Educação Física nas escolas da Prefeitura Municipal de Fortaleza/CE mantém uma ligação muito forte com esse tema, estabelecendo algumas relações entre a prática de atividades corporais e a melhora da saúde individual e coletiva. Para Paiva et al. (2017, p. 5) “as propostas curriculares como um campo intencionalmente planejado na trajetória de formação dos sujeitos e campo de disputa, fundado por teorias que apontam explicações de como se constrói o conhecimento científico, permitem a ressignificação de políticas e práticas pedagógicas”. Corroborando com esse pensamento Couto et al. (2016) afirmam que os professores devem estar preparados para abordar o tema saúde na escola, partindo de informações e estratégias educacionais condizentes para a construção do conhecimento.

 

    Para responder à pergunta 3: “se a resposta foi sim a pergunta anterior, comente através de que atividades você proporciona este conhecimento.” Os docentes responderam sempre mais que um tema para tratar sobre a saúde em suas aulas. Através do gráfico 1 pode-se visualizar os temas que os professores descreveram. Constituindo-se em 22 temas, dentre os quais o com maior número de respostas foi o de hábitos alimentares/nutrição (que englobava outras respostas como pirâmide alimentar e transtornos e distúrbios alimentares). Logo em seguida o tema da importância e benefícios da atividade física para a saúde tendo quase o mesmo número de respostas. Pode-se evidenciar que os professores trabalham através da percepção do próprio corpo dos educandos, que começar a compreender as relações entre a prática de atividades corporais, o desenvolvimento das capacidades físicas e os benefícios que trazem à saúde. Ademais, Couto et al. (2016) afirmam que a escola deve oferecer espaços de forma integral entre a educação e a saúde, fomentando flexibilizar o currículo da EF com o enfoque integral e participativo.

 

    O tema doenças abordado pelos docentes englobavam desde as doenças crônico-degenerativas, DST’s (Doenças Sexualmente Transmissíveis), doenças cardiovasculares e dengue. A vivência de situações de socialização e de atividades lúdicas, sem caráter utilitário, são essenciais para a manutenção da saúde e contribuem para o bem-estar coletivo. Sabe-se, por exemplo, que a mortalidade por doenças cardiovasculares vem aumentando e entre os principais fatores de risco estão a vida sedentária e o estresse. (Brasil, 1998)

 

Gráfico 1. Temas usados pelos docentes de Educação Física para abordar o tema saúde em suas aulas

Gráfico 1. Temas usados pelos docentes de Educação Física para abordar o tema saúde em suas aulas

 

    Já o tema medidas e avaliação englobava assuntos como IMC (índice de massa corpórea, relação cintura/quadril e antropometria). Deu-se também um enfoque a temática obesidade e sedentarismo onde é associada à importância da atividade física. Para Nahas (1997) e Guedes e Guedes (1996) a compreensão de saúde deve envolver temas que foram abordados pelos docentes como: estresse, sedentarismo, doenças hipocinéticas, problemas cardíacos, entre outros. Compreendendo que a Educação Física escolar tem uma importância na discussão desses temas.

 

    Através do Gráfico 2, foram evidenciadas as práticas docentes citadas pelos professores e chegou-se aos seguintes números.

 

Gráfico 2. Estratégias metodológicas pelos docentes de Educação Física nas aulas de Educação Física

Gráfico 2. Estratégias metodológicas pelos docentes de Educação Física nas aulas de Educação Física

 

    Analisando as estratégias metodológicas utilizadas pelos docentes, pode-se perceber que as atividades práticas (as quais não foram citadas) ainda têm o caráter essencial na abordagem do tema, o que conceitua a disciplina na dimensão procedimental (Darido & Rangel, 2011) através das vivências práticas. Sentiu-se a ausência apenas de relatos ou experiências práticas dos docentes com relação à inclusão dos alunos em programas nas Unidades Básicas de Saúde próximas as escolas, ou da inserção de outros profissionais da saúde nas aulas, sejam para palestras, debates e etc. Assim como, pode-se notar que há uma mudança nas aulas de Educação Física, as quais os docentes não se limitam apenas as práticas corporais, mas abordam o tema através de diversas estratégias metodológicas,como vídeos, cartazes, oficinas, atividades escritas, leitura de textos e outras como a explanação oral do tema.Guedes e Guedes (1996) e Nahas (1997) destacam a importância das diferentes metodologias ao afirmarem que a compreensão de saúde e o entendimento dos benefícios que a atividade física produz no organismo são informações que não se resumem apenas à prática costumeira dos esportes. Estes conceitos devem ser assimilados e, sendo incorporados, produzirão futuros adultos conscientes dos hábitos saudáveis ao longo da vida.

 

    As práticas corporais também são apresentadas no Gráfico 3. Pode-se observar outro dado relevante sobre o tema esportes, o qual ainda domina o cenário das aulas práticas em educação física, mesmo que para abordar o tema saúde. A maioria das práticas não foi citada, sendo relatadas apenas como atividade física, práticas corporais ou exercícios físicos.

 

Gráfico 3. Práticas corporais para abordar o tema saúde nas aulas de Educação Física

Gráfico 3. Práticas corporais para abordar o tema saúde nas aulas de Educação Física

 

Conclusões 

 

    As últimas considerações são para retomar o objetivo do estudo que é traçar um perfil e analisar as práticas pedagógicas dos docentes da disciplina de Educação Física nas escolas da prefeitura municipal de Fortaleza-CE, acerca do tema saúde, onde foram apresentados dados sobre a abordagem da temática nas aulas da disciplina.

 

    Assim, foi identificado que 100% dos professores entrevistados trabalham a temática da saúde, observando que os docentes se utilizam de estratégias metodológicas e assuntos diversos para se chegar a tratar dessa abordagem. Indicando a notoriedade do mesmo na área de Educação Física, tendo as aulas tanto um caráter conceitual, como procedimental e atitudinal. Para isso, Silva et al. (2017) nos afirmam que as unidades temáticas da Educação Física que consideram diferentes aspectos históricos, sociais e culturais em seus objetivos podem e devem acrescentar em seu planejamento a abordagem temática relacionada a saúde.

 

    Pode-se também observar através do perfil das práticas, que os docentes trabalham dentro das perspectivas em construção da Base Nacional Comum Curricular, para se abordar a temática em questão. Atribuindo a disciplina um caráter transformador da sociedade por meios de práticas que são explanadas para a promoção e manutenção da saúde e da qualidade de vida.

 

    Nos instigou o propósito de futuras pesquisas quanto ao entendimento e percepção dos escolares sobre essas aulas. Indica-se assim, que o próximo passo é produzir estudos mais relevantes acerca da temática, assim como aprofundar as discussões sobre o tema na área e sobre suas concepções na escola.

 

Notas 

  1. A Carta de Ottawa é um documento apresentado na 1º Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde, realizado em Ottawa, no Canadá, em novembro de 1986. Trata-se de uma Carta com Intenções que buscam contribuir com políticas de saúde em todos os países.

  2. Programa Saúde na Escola (PSE) visa à integração e articulação permanente da educação e da saúde, proporcionando melhoria da qualidade de vida da população brasileira. O PSE tem como objetivo contribuir para a formação integral dos estudantes por meio de ações de promoção, prevenção e atenção à saúde, com vistas ao enfrentamento das vulnerabilidades que comprometem o pleno desenvolvimento de crianças e jovens da rede pública de ensino. Trazendo também algumas orientações gerais sobre a ação de Práticas Corporais, Atividade Física e Lazer (Brasil, 2012; Brasil, 2013).

  3. WhatsApp Messenger é um aplicativo gratuito para a troca de mensagens disponível para Android e outras plataformas. 

  4. Facebook é uma rede social privada.

  5. Microsoft Office Excel é um programa editor de planilhas produzido pela Microsoft para computadores que utilizam o sistema operacional Microsoft Windows.

Referências 

 

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Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 25, Núm. 267, Ago. (2020)