sentoneforest@hotmail.com

caregnato@hotmail.com

cavicca@hotmail.com

*Mestre e Doutorando em Educação Física

pela Universidade Federal do Paraná

Oficial da Polícia Militar do Paraná

**Mestre e Doutor em Educação Física

pela Universidade Federal do Paraná

***Mestre e Doutor em Educação

pela Universidade Metodista de Piracicaba

(Brasil)

Recepção: 21/08/2019 - Aceitação: 24/11/2020

1ª Revisão: 30/07/2020 - 2ª Revisão: 07/10/2020

Documento acessível. Lei N° 26.653. WCAG 2.0

Citação sugerida: Sentone, R.G., Caregnato, A.F., & Cavichiolli, F.R. (2021). Perfil dos praticantes de atletismo com incentivo ao esporte do município de Curitiba, Paraná. Lecturas: Educación Física y Deportes, 25(272), 159-167. Recuperado de: https://doi.org/10.46642/efd.v25i272.1588

 

Resumo

    O número de atletas pode estar relacionado com o sucesso esportivo em competições esportivas. No Brasil as entidades que administram o atletismo não possuem o registro dos atletas que praticam ou competem. Desta forma o objetivo da presente pesquisa foi identificar os atletas da modalidade de atletismo do município de Curitiba, Paraná por meio da análise da política pública de incentivo ao esporte da cidade. Utilizamos como método o levantamento dos atletas beneficiados por meio da Lei Municipal de Incentivo ao Esporte do Município entre os anos de 2002 a 2015, identificando o número de atletas, sexo e idade. Como resultados identificamos que a lei incentivou 106 atletas diferentes em todo o período dos quais 69 são homens e 37 são mulheres, com idade média de 34,4 anos e 39,1 anos, respectivamente. Concluímos que o número de atletas da modalidade de atletismo no município é pequeno e possuem idade média acima da considerada para atletas de rendimento esportivo.

    Unitermos: Atletismo. Política pública. Desempenho atlético.

 

Abstract

    The number of athletes may be related to sports success in sports competitions. In Brazil, the entities that manage athletics do not have a record of athletes who practice or compete. Thus the objective of the present research was to identify the athletes of the track and field modality of Curitiba / Paraná through the analysis of the public policy of incentive to the sport of the city. We used as a method the survey of athletes benefited through the Municipal Sports Incentive Law of the Municipality between 2002 and 2015, identifying the number of athletes, gender and age. As a result we identified that the law encouraged 106 different athletes throughout the period of which 69 are men and 37 are women, with an average age of 34.4 years and 39.1 years, respectively. We conclude that the number of athletes of track and field in the municipality is small and have an average age above that considered for athletes of sports performance.

    Keywords: Track and field. Public policy. Athletic performance.

 

Resumen

    El número de atletas puede estar relacionado con el éxito deportivo en las competiciones deportivas. En Brasil las entidades que administran el atletismo no cuentan con el registro de deportistas que practican o compiten. Así, el objetivo de la presente investigación fue identificar a los deportistas de la modalidad de atletismo de la ciudad de Curitiba, Paraná a través del análisis de la política pública de incentivo al deporte de la ciudad. Utilizamos como método la encuesta a deportistas beneficiados mediante la Ley de Incentivo Deportivo Municipal de 2002 a 2015, identificando el número de deportistas, sexo y edad. Como resultado, identificamos que la ley incentivó a 106 deportistas diferentes a lo largo del período, de los cuales 69 son hombres y 37 son mujeres, con una edad promedio de 34,4 años y 39,1 años, respectivamente. Concluimos que el número de atletas en el municipio es pequeño y tiene una edad media superior a la considerada para deportistas con rendimiento deportivo.

    Palabras clave: Atletismo. Política pública. Rendimiento atlético.

 

Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 25, Núm. 272, Ene. (2021)

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Introdução 

 

    O atletismo é a modalidade esportiva mais antiga dos Jogos Olímpicos e também é considerado o desporto de base, caracterizado por movimentos elementares que são comuns e importantes para a aprendizagem de muitos outros esportes. Nos JJ.OO. do Rio em 2016, por exemplo, das 47 provas sendo 24 masculinas e 23 femininas, o atletismo distribui um total de 141 (15%) medalhas dentre as 928 possíveis, das quais o Brasil conquistou um ouro com o atleta Tiago Braz no salto com vara. (COB, 2016)

 

    As chances de uma vitória podem estar atreladas a diversos fatores como políticas públicas, centros de treinamento (Caregnato, Ordonhes, & Cavichiolli, 2018), família, treinadores, equipe especializada para acompanhamento dos atletas e outros (Oakley, & Grenn, 2001; Digel, 2002; Houlihan, & Grenn, 2005; De Bosscher et al., 2015), mas nenhum deles fará sentido se não soubermos onde estão os atletas e principalmente quantos são. As medalhas conquistadas pelos Estados Unidos nas competições de natação têm sido relacionadas com o número de atletas existentes no país. Em 2015 eram 330 mil atletas registrados na confederação de natação (G1, 2015), muitos deles membros da Associação Atlética Universitária Nacional (NCAA) que possuía em 2017 cerca de 460 mil atletas registrados. (NCAA, 2017)

 

    No atletismo os números são ainda maiores aonde mais de 1 milhão de estudantes foram registrados como participantes pela Federação Nacional das Associações Escolares nos Estados Unidos em competições de atletismo (Geer, 2018). O Brasil, ao contrário, não possui uma entidade que controle o registro e participação esportiva de atletas em idade escolar sendo a Confederação Brasileira de Atletismo a instituição responsável pela modalidade no País (CBAT, 2019). A entidade promove as competições e registros de atletas de acordo com as regras da Federação Internacional de Atletismo (IAAF) tendo sido encontrado 4203 atletas presentes no ranking da modalidade entre os anos de 2013 a 2016 (Caregnato, 2018), mas não há um registro de atletas pela confederação e pelas federações estaduais.

 

    Uma das formas encontradas para detectar os atletas de rendimento esportivo foi a partir das políticas públicas existentes no Brasil, sendo possível identificar a modalidade, idade e cidade (Inteligência Esportiva, 2019). De acordo com Corrêa, Silva, Mezzadri, & Cavichiolli (2014) o financiamento do esporte olímpico pelo governo entregou, entre os anos de 2005 e 2011, por meio do Programa Bolsa Atleta, mais de 9 mil bolsas para atletas de 37 esportes diferentes dos quais o atletismo recebeu pouco mais de 1 mil bolsas. Neste caso o número de bolsas não exprime o número de atletas, pois pode ter recebido em mais de um ano seguido.

 

    Outra política pública do governo brasileiro que impulsionou o esporte foi o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) promovendo a compra de materiais esportivos e construção de centros de treinamento (Brasil, 2019). De acordo com o Ministério do Esporte o PAC entregou 15 pistas de atletismo em 11 estados brasileiros entre 2007 e 2015, estabelecendo parcerias com os governos estaduais e municipais, universidades, clubes e federações (Brasil, 2015). De acordo com Caregnato, Ordonhes, & Cavichiolli, (2018) o atletismo carece de estrutura física para a prática da modalidade no Brasil, trazendo como exemplo o centro de treinamento de atletismo no município de Cascavel, PR que, apesar de ser implantado nos padrões internacionais da International Association of Athletics Federations (IAAF) com obras iniciadas em 2014, em 2019 não estava pronto, mas com obras abandonadas (Terra, 2019). Caregnato (2018) cita que os objetivos para a construção do Centro de Treinamento em Cascavel não foram definidos para a utilização.

 

    Embora as formas de se encontrar os atletas brasileiros tendo como referência o ranking de suas modalidades Brito, Fonseca, & Rolim (2004) destacam que o resultado esportivo deve ser um dentre outros fatores a ser analisado na formação de jovens atletas. Reis et al. (2015) demonstraram que o programa federal de incentivo ao esporte no Brasil, apesar de permitir a destinação de bolsas para categorias de base, está focado nos atletas de rendimento esportivo, não sendo possível detectar atletas em diferentes níveis de participação.

 

    No Paraná, a Secretaria Municipal de Esporte Lazer e Juventude (SMELJ) de Curitiba, promulgou uma Lei no ano de 2002 tornando possível a destinação do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) para ser investido no esporte (Curitiba, 2001). A Lei Complementar nº 40, por meio do Decreto nº 426 de 30 de julho de 2002 permite que os recursos sejam destinados nos segmentos do esporte educação, esporte de rendimento e esporte de participação, classificando os projetos apresentados pelos interessados em concorrer a bolsa de incentivo municipal desde as categorias escolares até o alto rendimento. A presente política pública, além de permitir o financiamento de diversos níveis do atleta, está em funcionamento desde o ano de 2002, antes mesmo dos programas federais de incentivo ao esporte.

 

    Desta forma, tendo em vista que não existe pela Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt) e pela Federação de Atletismo do Paraná (FAP) o registro de atletas praticantes da modalidade, bem como as políticas públicas serem uma forma de identificar tais atletas, a presente pesquisa tem como objetivo identificar os atletas da modalidade de atletismo do município de Curitiba, Paraná por meio da análise da política pública de incentivo ao esporte da cidade de Curitiba, Paraná.

 

Método 

 

    A presente pesquisa foi dividida em duas fases sendo a primeira fase com abordagem quantitativa e descritiva tendo como procedimento técnico a averiguação documental e bibliográfica da Lei de Incentivo ao Esporte do Município de Curitiba buscando os Diários Oficiais do Município de Curitiba entre os anos de 2002 e 2015, sendo selecionados os projetos da modalidade de atletismo contemplados pela legislação. A segunda fase teve abordagem qualitativa tendo como procedimento técnico o levantamento (Marconi, & Lakatos, 2008) através dos resultados dos subsídios destinados e da política pública da Lei de Incentivo ao Esporte do Município de Curitiba.

 

    Depois de identificados os projetos da modalidade de atletismo os dados foram inseridos em uma planilha do Programa Microsoft Office Excel 2007 compostos por nome do proponente, gênero, esporte, idade, classificação do projeto, valor recebido e ano, dados elementares da presente pesquisa os quais serviram para os desdobramentos do estudo.

 

    Após identificados os atletas da modalidade de atletismo foi estabelecido o número de projetos e de atletas, assim como a idade por decênios (até 17 anos, 18-30 anos, 31-40 anos, 41-50 anos, 51-60 anos, 61-70 anos e acima de 71 anos), estabelecendo a idade média entre homens e mulheres.

 

Resultados 

 

    Verificou-se que entre os anos de 2002 a 2015 foi identificado que a política pública de incentivo ao esporte no Município de Curitiba/Paraná beneficiou 7225 projetos aprovados de pessoa física e jurídica de diversas modalidades esportivas, dos quais 6475 somente de pessoa física. Destas 372 foram aprovados para a modalidade de atletismo, a quarta mais beneficiada atrás do judô, natação e triatlo.

 

Elaborado pelos autores (2019)

 

    Foi verificado que o mesmo atleta foi beneficiado em vários anos, assim os 372 projetos aprovados da modalidade beneficiaram 106 atletas diferentes naquele período, sendo 69 homens e 37 mulheres, de forma ininterrupta nos 14 anos. Os atletas receberam um total de R$ 628.791,00 reais em bolsas com uma média de R$ 5.931,00 reais por atleta.

 

    De acordo com a Lei Municipal de Incentivo ao Esporte do município de Curitiba/Paraná os projetos poderiam ser classificados de acordo com o nível do atleta, variando daqueles participantes dos jogos escolares estaduais até o nível olímpico. Assim, os atletas da modalidade de atletismo incentivados tiveram 36 projetos classificados como nível mundial, 100 de nível sul-americano, 195 de nível nacional, 23 de nível regional e 8 de nível escolar.

 

    Entre os anos de 2002 a 2006 não foi possível extrair a data de nascimento dos documentos públicos disponíveis, assim os projetos aprovados de acordo com a idade, a partir do ano de 2007 demonstraram que houveram 15 beneficiados com até 17 anos (9,8%), 54 entre 18 e 30 anos (35,2%), 25 entre 31 e 40 anos (16,3%), 22 entre 41 e 50 anos (14,3%), 21 entre 51 e 60 anos (13,7%), 12 entre 61 e 70 anos (7,8%), 4 mais de 71 anos (2,6%). A idade dos atletas tem como referência o ano de aprovação do projeto. A média de idade dos homens ficou em 34,4 anos e das mulheres em 39,1 anos sendo o atleta mais novo com 14 anos e o mais velho com 72 anos.

 

Discussão 

 

    Diferente do que foi apontado por Corrêa, Silva, Mezzadri, & Cavichiolli (2014) a política pública de incentivo ao esporte no município de Curitiba demonstrou financiar atletas de diferentes níveis, variando desde aqueles em idade escolar até os de rendimento mundial. O perfil dos atletas incentivados e praticantes da modalidade de atletismo em Curitiba demonstra um perfil eclético no que diz respeito a idade dos atletas tendo cerca de 54,7% deles com mais de 31 anos.

 

    Para Massa et al. (2014) os atletas do judô brasileiro começaram a praticar a modalidade em média com 6 anos, permanecendo por mais 22 anos, não passando dos 30 anos de idade. Já Santos, & Guimarães (2002) verificaram que a média de idade de atletas da modalidade de atletismo paraolímpico era de 28,8 anos e 26,6 anos para atletas não paraolímpicos. (Pastres et al., 2007)

 

    O perfil de idade dos atletas em Curitiba nos mostra que estão em idade não competitiva ao nível olímpico, pois mais da metade passou dos 30 anos de idade, logo, se levássemos em consideração este fator para determinar a formação de jovens atletas teríamos uma cidade pouco fértil para se investir. No entanto, como alertam Brito, Fonseca, & Rolim (2004) quanto mais tardia for a iniciação esportiva melhores serão as chances de resultados futuros, tratando-se das categorias de base.

 

    Já sobre as destinações de recursos para construção e implementação de programas que desenvolvam o esporte, a atual conjuntura fica inviável para que a cidade de Curitiba seja escolhida para receber uma pista de atletismo ou centro de treinamento, pois como pudemos observar ao longo de 14 analisados somente 106 atletas da modalidade de atletismo foram identificados, em idades variadas.

 

    Outro fator que pode ter levado os atletas da modalidade de atletismo em Curitiba, PR a terem o perfil identificado é justamente o fato de haver poucas estruturas para treinamento profissional no município, existindo três das quais uma está em instituição de ensino privada e duas em instituições de ensino pública (Caregnato, Ordonhes, & Cavichiolli, 2018), a mais recente inaugurada no ano de 2017 e as outras duas depois do ano 2000. Desta forma no início da política pública os atletas possuíam locais restritos, podendo indicar o motivo dos atletas beneficiários pelo município terem idade acima da considerada para atletas de rendimento e serem em número pequeno para o tamanho da cidade de Curitiba, PR.

 

    Por fim, podemos inferir que as poucas bolsas de incentivo aos atletas de atletismo na categoria escolar podem estar ligadas ao baixo número de competições esportivas existentes no município, ligado também ao pequeno número de locais para competição, ao contrário do que foi indicado pela Associação Atlética Universitária Nacional (NCAA) com um número muito superior ao existente no Brasil.

 

Conclusão 

 

    De acordo com o objetivo desta pesquisa de identificar os atletas da modalidade de atletismo do município de Curitiba, Paraná por meio da análise da política pública de incentivo ao esporte da cidade de Curitiba, Paraná, constatou-se que o número de atletas de atletismo é pequeno se comparado aos encontrados no Brasil e o perfil destes atletas no município demonstra que possuem idade média acima de um atleta de alto rendimento.

 

    Inferimos que o número pode estar relacionado com a pouca disponibilidade de locais para treinamento e baixo número de competições existentes. A pesquisa ficou limitada pela ausência de registros de atletas na federação estadual de atletismo, assim como das competições realizadas. Desta forma indicamos que pesquisas que busquem fazer um levantamento das competições existentes nos últimos anos em Curitiba, PR, assim como outros mecanismos de identificação de atletas possam ratificar os achados deste estudo.

 

Referências 

 

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Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 25, Núm. 272, Ene. (2021)