ISSN 1514-3465
Análise do desenvolvimento de potência de membros
inferiores em escolares praticantes de kickboxing
Analysis of the Development of the Potency of Lower Limbs in Kickboxing Schoolchildren
Análisis del desarrollo de la potencia de las extremidades inferiores en escolares que practican kickboxing
Rafael Gemin Vidal*
rafaelgemin@hotmail.com
Jessica Sandi**
jesandi1@hotmail.com
*Mestre em Desenvolvimento e Sociedade - UNIARP (SC)
Especialista em treinamento esportivo e personal training - ISPAE (PR)
Especialista em Atividade Física e Fisiologia do Exercício - FUNIP (MG)
Especialista em EAD e novas tecnologias - FAEL (PR)
Bacharel em Educação Física - UNIGUAÇU (PR)
Licenciado em Educação Física - UNIGUAÇU (PR)
Professor do Centro Universitário Vale do Iguaçu
**Bacharel em Educação física - UNIGUAÇU (PR)
Licenciada em Educação Física - UNIGUAÇU (PR)
(Brasil)
Recepção: 28/04/2019 - Aceitação: 31/07/2020
1ª Revisão: 30/06/2020 - 2ª Revisão: 05/07/2020
Documento acessível. Lei N° 26.653. WCAG 2.0
Este trabalho está sob uma licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional (CC BY-NC-ND 4.0) https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/deed.pt |
Citação sugerida
: Vidal, R.G., & Sandi, J. (2020). Análise do desenvolvimento de potência de membros inferiores em escolares praticantes de kickboxing. Lecturas: Educación Física y Deportes, 25(271), 77-86. Recuperado de: https://doi.org/10.46642/efd.v25i271.1320
Resumo
A presente pesquisa buscou obter dados que quantifiquem o desenvolvimento de potência de membros inferiores em praticantes da modalidade de kickboxing, bem como compará-los entre gêneros e com um grupo controle. Utilizou-se o teste de impulsão vertical em 84 alunos do centro de atendimento a criança e ao adolescente do município de Bituruna, no estado do Paraná, os quais foram divididos em dois grupos: grupo de intervenção (GK) com 16 meninas e 33 meninos com idade média de 12,5 ± 0,97 anos e grupo controle (GC) com 18 meninas e 17 meninos com idade média de 12,5 ± 1,22 anos. Os dados obtidos em 8 semanas de treinamento apontaram que GK apresentou melhora significativa em ambos os gêneros e GC manteve-se sem apresentar melhoras. Estes números sugerem o uso das lutas na educação física escolar como uma opção de treinamento viável para desenvolvimento de potência muscular de membros inferiores, capacidade física esta é de total importância no bom desempenho de outros desportos.
Unitermos:
Educação Física. Escola. Lutas. Kickboxing.
Abstract
The present research seeks to obtain data that quantifies the development of lower limb potency in kickboxing practitioners, as well as comparing them between genders and a control group. The vertical impulse test had used in 84 students of the center for child and adolescent care in the city of Bituruna, Pr, which were divided into two groups: intervention group (GK) with 16 girls and 33 boys with a mean age of 12.5 ± 0.97 years and control group (CG) with 18 girls and 17 boys with a mean age of 12.5 ± 1.22 years. The data obtained in 8 weeks of training indicated that GK showed significant improvement in both genders and CG remained without improvement. These numbers suggest the use of fights in school physical education as a viable training option for lower limb power development, physical fitness is of utmost importance in the good performance of other sports.
Keywords:
Physical Education. School. Fights. Kickboxing.
Resumen
La presente investigación buscó obtener datos que cuantifiquen el desarrollo de la potencia de los miembros inferiores en practicantes de la modalidad de kickboxing, así como compararlos entre géneros y con un grupo control. La prueba de impulso vertical se utilizó en 84 estudiantes del centro de atención a la niñez y la adolescencia del municipio de Bituruna, en el estado de Paraná, los cuales se dividieron en dos grupos: grupo de intervención (GK) con 16 niñas y 33 niños con una edad media de 12,5 ± 0,97 años y un grupo control (GC) con 18 chicas y 17 chicos con una edad media de 12,5 ± 1,22 años. Los datos obtenidos en 8 semanas de entrenamiento mostraron que GK mostró una mejora significativa en ambos sexos y que CG permaneció sin mostrar mejoras. Estas cifras sugieren el uso de las luchas en la educación física escolar como una opción de entrenamiento viable para el desarrollo de la potencia muscular de los miembros inferiores; esta capacidad física es de suma importancia en el buen desempeño de otros deportes.
Palabras clave:
Educación Física. Escuela. Luchas. Kickboxing.
Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 25, Núm. 271, Dic. (2020)
Introdução
O Full-Contact Karate, agora chamado de Kickboxing, nasceu oficialmente em Los Angeles em setembro de 1974. Desde então vem tomando repercussão por todo o mundo e em 1975 o alemão George Bruckner juntamente com outros praticantes da modalidade, fundou a World Association of Kickboxing Organization, a organização internacional que rege as regras e regulamentos da modalidade. (WAKO, 2020)
É um esporte de contato criado com base em esportes de combate e artes marciais, podendo ser praticado em nível competitivo ou de recreação que tem como resposta fisiológica a melhora da saúde, força e resistência em geral. É muito procurado nos dias de hoje como uma alternativa de exercício físico, defesa pessoal ou para condicionamento físico geral. As artes marciais tornaram-se uma ótima escolha de atividade física para crianças, pois ela traz em sua base além dos benefícios físicos, também o bom comportamento, pois trabalha muito mais que técnica, visa a busca de caráter, trabalho em equipe, auto estima, autoconfiança, disciplina e respeito ao próximo. (Palma, Oliveira, & Palma, 2018)
De acordo com a literatura “no espaço de intervenção escolar, podemos afirmar que o tema/conteúdo de lutas é pouco acessado e, inclusive, o seu trato pedagógico suscita questionamentos e preocupações diversas por parte dos profissionais atuantes na Educação Física” (Nascimento, & Almeida, 2007, p. 92). Os argumentos mais utilizados pelos profissionais para a não utilização desse tema em suas aulas é a falta de vivência com a atividade e a preocupação errônea de que a luta incite a violência nos alunos.
Este é um erro cometido pelos profissionais de Educação Física na escola pois, vivenciar a prática de lutas na Educação Física escolar auxilia no desenvolvimento de habilidades motoras e capacidades físicas, assim como atenção, raciocínio, aspectos sociais e afetivos e principalmente “respeito pelo adversário, aceitando a disputa como elemento de competição e não como rivalidade entre colegas”. (Portal Clickideia, 2014)
A prática de lutas apresenta valores que ajudam no desenvolvimento do cidadão, nas expressões corporais, nos movimentos, nas capacidades físicas envolvidas em sua prática, portanto sua realização se encaixa dentro dos conteúdos da Educação Física escolar. (Mazini Filho et al., 2014)
Obedecendo os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s) no que se refere à Educação Física escolar, inclui-se as lutas e suas práticas no seu conteúdo. A disciplina tem como um de seus objetivos fazer com que o aluno seja capaz de “conhecer e cuidar do próprio corpo, valorizando e adotando hábitos saudáveis como um dos aspectos básicos da qualidade de vida e agindo com responsabilidade em relação à sua saúde e à saúde coletiva” (Brasil, 1997, p.10). Desta forma se faz necessário que o profissional esteja capacitado para desenvolver atividades dentro deste conteúdo que se mostra tão importante por agregar elementos como equilíbrio, força, flexibilidade, tempo de reação, potência e agilidade.
As diversas academias de lutas e artes marciais e os projetos de atividades extracurriculares que trabalham a modalidade, indicam que o tema está aos poucos, sendo melhor abordados pelos profissionais e pela sociedade. No âmbito acadêmico é possível perceber também um crescente número de artigos relacionados a essa prática.
As artes marciais fazem parte do contexto das lutas, e são muito mais do que combate, autodefesa ou regras, o filme Karate Kid® relata muito bem que o aprendizado de um lutador vai muito além dos tatames, o Senhor Han ensina ao pequeno Dre Parker boas maneiras, respeito, autoconfiança e persistência ao mesmo tempo que ensina Kung Fu.
A modalidade de kickboxing surgiu na década de 70 nos Estados Unidos derivada do boxe tailandês, tem tido um grande crescimento no município de Bituruna, que conta com algumas academias particulares de artes marciais (Wako, 2020). Notando o escasso trabalho das artes marciais no contexto escolar, implementou-se um projeto voltado para alunos da rede pública que não tem condições de frequentar as aulas particulares. Desde 2014 o Projeto Kickboxing Action - Bituruna vem sendo implantado nos clubes e ginásios do município no contra turno escolar, atendendo em média 360 alunos/ano com idade de 7 a 17 anos.
A notória procura pela modalidade despertou interesse relacionados à aspectos fisiológicos de sua prática. A presente pesquisa buscou obter dados que quantifiquem o desenvolvimento de potência de membros inferiores em praticantes da modalidade de Kickboxing, bem como compará-los entre gêneros e com um grupo controle, obtendo dados científicos que quantifiquem os benefícios, auxiliando professores e praticantes quanto a execução e contribuindo para melhor aceitação do senso comum relacionados a prática de artes marciais.
Método
A pesquisa caracteriza-se sobre sua forma procedimental como pesquisa de campo,aplicada, exploratória, com abordagem longitudinal, comparativa com caráter quantitativo. A pesquisa foi realizada no Centro de Atendimento a Criança e ao Adolescente no município de Bituruna, PR. Este local recebe aproximadamente 400 alunos da rede municipal de ensino, oferecendo diversas atividades no contra turno escolar, sendo coordenados pela Secretaria de Desenvolvimento Social e Comunitário com a parceria da Secretaria de Educação e Cultura do município.
Os participantes dessa pesquisa fazem parte do projeto Kickboxing Action - Bituruna, mantido pela Prefeitura Municipal de Bituruna estado do Paraná, que disponibiliza o treinamento de Kickboxing, com profissional de educação física habilitado em lutas, para uma população de aproximadamente 400 alunos de 7 a 17 anos, em período de contra turno escolar. Sendo assim, a amostra do presente estudo, do tipo não probabilística intencional formada por 84 indivíduos, sendo divididos em dois grupos: Grupo Kickboxing (GK), composto por 16 meninas e 33 meninos, com idade média de 12,5 ± 0,97 anos; e Grupo Controle (GC), composto por 18 meninas e 17 meninos, com idade média de 12,5 ± 1,22 anos. A escolha da idade foi um dos critérios dessa pesquisa, pois acredita-se ser uma idade de maturação fisiológica onde pode-se analisar com precisão os resultados e de ambos os sexo pois busca-se além de analisar o desenvolvimento individual, também comparar as diferenças de desenvolvimento dessa capacidade física entre sexo masculino e feminino, tendo como requisito a frequência nas aulas, que acontecem duas vezes por semana, sendo eliminado o aluno que tiver três faltas consecutivas, visto que a falta de treinamento pode comprometer o resultado da pesquisa.
As coletas de dados foram realizadas em três etapas, nas seguintes datas: 1ª coleta: 15/08/2018; 2ª coleta: 19/09/2018; 3ª coleta: 16/10/2018.
Foi utilizado o teste de impulsão vertical (Sargent Jump Test) para quantificar a potência dos membros inferiores, realizado da seguinte maneira: Foi fixada uma fita métrica em uma parede. O avaliado posicionou-se em pé́, paralelo à parede com a posição dos pés na largura dos ombros, estendendo o braço que se encontra mais próximo da parede para que os avaliadores pudessem registrar a altura inicial de alcance. Para realizar o salto, o avaliado flexionou os joelhos, puxando os braços para traz para assim saltar o mais alto possível. O avaliador colocou-se de frente para a zona de salto e registrou a altura alcançada. O resultado do salto é a distância entre a altura inicial e a altura máxima alcançada com o salto. Foram efetuados dois saltos. O valor registrado é o melhor resultado das duas avaliações em centímetros (cm).
Os testes foram realizados no local de treinamento, em ambiente fechado, com todos os alunos no mesmo dia e respeitando sempre o mesmo horário, os alunos fizeram um pequeno aquecimento antes dos testes, visto que as análises foram feitas no período de inverno, onde o frio poderia influenciar o desempenho nos saltos. Cada aluno teve um minuto para realizar as duas tentativas do teste.
Os dados obtidos nas três coletas foram tratados através de estatística descritiva utilizando o programa Bioestat 5.3, adotando p<0,05 para padrão de significância, permitindo dessa forma ter uma visão global da variação desses valores, apresentando-se assim em forma de tabelas. A pesquisa foi enviada e aprovada pelo Núcleo de Ética e Bioética (NEB) da Uniguaçu. Foi enviado o termo de autorização à entidade mantedora do projeto, e os pais dos alunos que participaram da pesquisa assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) autorizando seu filho a participar da pesquisa pois os mesmos são menores de idade.
Resultados
Os dados para avaliar as alterações na potência de membros inferiores foram extraídos de duas tentativas no teste de impulsão vertical, sendo adotado o maior número obtido. Participaram da pesquisa 84 indivíduos, sendo divididos em dois grupos: Grupo Kickboxing (GK), composto por 16 meninas e 33 meninos, com idade média de 12,5 ± 0,97 anos; e Grupo Controle (GC), composto por 18 meninas e 17 meninos, com idade média de 12,5 ± 1,22 anos.
Os escores apontados no início da pesquisa apontam que não existia diferença significativa (p>0,05) entre os integrantes do GK e GC, justificando, portanto, os grupos obtiveram números equivalentes no primeiro dia de teste, apontando uma homogeneidade entre os mesmos.
Para avaliar as alterações nos meses de treinamento, foram coletadas 3 amostras, no dia 15/08/2018 aconteceu a coleta inicial, 19/09/2018 segunda coleta, e 16/10/2018 a coleta final.
No grupo controle, tanto meninos como meninas não apontaram diferença significativa entre os momentos de coleta, permitindo concluir que não houve melhora nos escores destes.
Nos dados obtidos entre os meninos que praticaram o Kickboxing, apresentou-se uma diferença significativa entre a coleta inicial e as coletas subsequentes (p<0,01 e p<0,0001 respectivamente). Entre as meninas os dois momentos pós intervenção com o treinamento também apontaram diferença significativa (p=0,038 e p<0,0001 respectivamente). A Tabela 1 traz os escores de cada grupo nos diferentes momentos.
Tabela 1.Teste de impulsão vertical
|
Meninas |
Meninos |
||
Momento |
GK |
GC |
GK |
GC |
15/08 |
28,15
± 5,65 |
29,88
± 5,44 |
32,37
± 6,87 |
27,91
± 7,46 |
19/09 |
29,5
± 6,16 |
30,75
± 5,15 |
34,09
± 8,01 |
28,11
± 6,24 |
16/10 |
32,65
± 5,71 |
30,28
± 5,68 |
37
± 8,10 |
29,32
± 7,12 |
Nota-se que o grupo controle apresentou dados parecidos nos três momentos, enquanto o grupo que praticou Kickboxing mostrou aumento gradativo nos índices de potência dos membros inferiores.
Para avaliar este aumento, utilizou-se a classificação do teste de impulsão vertical, para classificar a amostra em muito fraco, fraco, abaixo da média, média, acima da média e excelente (Salles et al., 2010), a frequência destas estão dispostas na Tabela 2.
Tabela 2. Classificação da potência de membros inferiores
|
Meninas |
Meninos |
||||
Classificação |
15/08 |
19/09 |
16/10 |
15/08 |
19/09 |
16/10 |
Muito
Fraco |
- |
- |
- |
3,03% |
3,03% |
3,03% |
Fraco |
12,5% |
6,25% |
6,25% |
42,42% |
33,33% |
18,18% |
Abaixo
da Média |
56,25% |
56,25% |
25% |
45,45% |
36,36% |
42,42% |
Média |
31,25% |
37,5% |
62,5% |
9,09% |
24,24% |
33,33% |
Acima
da Média |
- |
- |
6,25% |
- |
3,03% |
3,03% |
No que se refere as meninas, percebe-se que no primeiro momento, diminuiu a frequência na classificação fraco e aumentou na média, sendo que no segundo momento, aumentou significativamente a média, surge a classificação acima da média, enquanto diminui a frequência abaixo da média, ficando evidente que houve alterações nos escores obtidos individualmente, sendo influenciados pela prática do Kickboxing.
Já os meninos, no primeiro momento diminuiu os índices fraco e abaixo da média, enquanto aumentou a média e apresenta um indivíduo acima da média. No momento do teste final, se reduz a classificação fraco, enquanto aumenta a abaixo da média (participantes da amostra que estavam no índice fraco, obtiveram resultados que passaram a classificá-los como abaixo da média). Aumentou também, a porcentagem da média, enquanto acima da média se manteve.
Percebe-se que a porcentagem muito fraca se manteve entre os meninos (3,03%, n=1), porém, mesmo não alterando a classificação, os escores obtidos mostraram melhora (17, 19, 20 cm respectivamente), indicando que a prática desenvolveu tal capacidade física no indivíduo.
Discussão
O programa de treinamento estabelecido para este estudo foi de duas vezes semanais em um período 8 semanas, o qual demonstrou de maneira geral, que o grupo de intervenção apresentou resultados positivos, quando comparados tanto dentro do mesmo grupo quanto com o grupo controle.
Esses resultados já eram esperados, pois “sem dúvida alguma, o treinamento de potência deve ter um treinamento especial, pois durante uma luta, golpes rápidos e vigorosos costumam ter mais eficácia” (Silva et al., 2013, p.17). “Atividades desportivas tais como esforços curtos e intensos, saltos, lançamentos ou chutes demandam alta velocidade de movimentos combinados com alta geração de força, requerendo músculos para gerar altas potências”. (Cruz, 2003, p. 7)
Outros autores encontraram diferenças significativas na potência e na capacidade anaeróbica com períodos relativamente menor do que o imposto no atual estudo (2 semanas x 8 semanas). Tais dados permitem avaliar que o ganho de potência pode ser identificado em curto espaço de tempo, devido a prática de modalidades esportivas de combate. (Fortes et al., 2017)
Corroborando com os achados da atual pesquisa, um estudo avaliou os índices de potência através do salto vertical, classificando 71,4% da amostra com um nível excelente para esta variável. Os autores concluíram que a potência muscular em praticantes de artes marciais é um dos fatores determinantes no ótimo desempenho nos treinos e nas competições e que a avaliação da mesma é fundamental para melhorias, se necessárias no condicionamento do atleta e na sistemática de treinos. (Oliveira et al., 2016)
Pinno, & González (2008) realizaram uma revisão bibliográfica na literatura brasileira referente a musculação e o desenvolvimento de potência nos esportes coletivos de invasão (ECI), concluindo que, por mais que apresente resultados significativos, o treinamento resistido possui uma carência quanto a sua utilização, remetendo o seu uso a dois casos, prevenção e reabilitação de lesões e não como método de aprimoramento desta capacidade física, o que abre espaço para a utilização dos esportes de oposição vinculado às lutas como optativa para treinamento.
Bernardi et al. (2019) complementam ainda que a composição corporal é fator influenciador no desempenho na prática das artes marciais, tendo correlação com o desempenho da potência, capacidade aeróbica e velocidade de deslocamento. Analisando os dados da pesquisa citada e relacionando a idade da amostra da atual pesquisa, é possível afirmar que o desenvolvimento físico relacionado a puberdade pode ter subestimado a classificação do índice de potência.
Um estudo realizado por Durigan et al. (2013) utilizou uma amostra de 5 atletas (4 masculinos e 1 feminino) com idade média de 16 ± 1,22 anos para grupo controle (GC) e 6 atletas (5 masculinos e 1 feminino) com idade média de 16,6 ± 3,61 ano como grupo de intervenção (GI) para quantificação de potência em tenistas utilizando treinamento pliométrico, verificando que o GI apresentaram resultados significativos enquanto o GC não apresentou resultados positivos, corroborando resultados similares aos deste estudo.
A correlação dos números obtidos nesse estudo com os encontrados na literatura disponível, comprova que o treinamento de Kickboxing nessa faixa etária pode ser uma opção viável a ser utilizada para o desenvolvimento de potência de membros inferiores.
Conclusões
A abordagem utilizada para análise confirmou os resultados esperados para este estudo, inicialmente os grupos GK e GC não apresentavam diferenças significativas (p>0,05), com a progressão dos treinos, GC manteve-se sem apresentar aumento no escores, já GK demonstrou que, tanto meninos quanto meninas obtiveram melhoras significativas na potência de membros inferiores em 8 semanas de treinamento.
O GC apenas não praticou a modalidade de Kickboxing, mas praticou outros desportos como futsal e vôlei, sem viés de treinamento, o GK praticou o Kickboxing supervisionado e os demais desportos também com finalidade recreativa.
Assim podemos concluir que, o uso das lutas são uma ótima opção a ser trabalhada dentro das escolas, pois além dos benefícios para a saúde e comportamentais que já tínhamos conhecimento, agora possuímos dados que comprovam que seu uso pode melhorar a potência de membros inferiores, capacidade física esta, que serve de base para todos os desportos que utilizam da movimentação do corpo, seja ela com corrida, saltos ou chutes.
Contudo, sugere-se que mais estudos envolvendo esta temática sejam realizados, com maiores populações, diferentes faixas etárias, e maior tempo de prática esportiva.
Referências
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Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 25, Núm. 271, Dic. (2020)