Brincando com slackline nas aulas de Educação Física: um relato de experiência

Playing with slackline in Physical Education classes: A report of experience

Jugando con slackline en las clases de Educación Física: un relato de experiencia

 

Clayton Rodrigo Vital*

rodrigo1clayton@outlook.com

Danilo Zacarias*

danilozacarias77@gmail.com

Leonardo Ribeiro*

leo.aguiaribeiro@outlook.com

Daniela Matielo e Carvalho Eda**

danytarga@hotmail.com

Leopoldo Ortega da Silva***

leopoldo.ortega@yahoo.com.br

 

*Professor Licenciado em Educação Física com atuação

em Educação Física escolar. Faculdade de Mauá - FAMA

**Cursando Mestrado Profissional em Educação Escolar pela UNICAMP

Possui especialização em Direito Educacional; Licenciatura Plena em Pedagogia

pelo Centro Universitário Claretiano e Bacharelado e Licenciatura Plena

em Educação Física pela Universidade Bandeirante de São Paulo

Docente nos cursos de graduação em Educação Física da Faculdade de Ribeirão Pires

e da Faculdade de Mauá e Diretora de Escola titular de cargo efetivo

na Secretária de Estado da Educação de São Paulo

***Doutorando Interdisciplinar em Ciências da Saúde - UNIFESP

Mestrado em Ciências do Movimento Humano

Especialização em Natação e Atividades Aquáticas

Licenciatura e Bacharelado em Educação Física

Professor em cursos de Graduação e Pós Graduação

(Brasil)

 

Recepção: 19/03/2019 - Aceitação: 10/08/2019

1ª Revisão: 26/07/2019 - 2ª Revisão: 08/08/2019

 

Este trabalho está sob uma licença Creative Commons

Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional (CC BY-NC-ND 4.0)

https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/deed.pt

 

Resumo

    Alguns trabalhos sobre os esportes radicais nas aulas de Educação Física foram realizados, todavia, nenhum estudo investigou a aplicabilidade do slackline a partir de brincadeiras em aulas de Educação Física no ensino fundamental I. O objetivo foi descrever e analisar uma aula de Educação Física que utilizou elementos do slackline em brincadeiras didáticas e pedagógicas. Este estudo descritivo foi organizado a partir de um relato de experiência com slackline, realizado em uma aula de Educação Física desenvolvida em formato de circuito historiado para escolares de seis anos, do 1º ano do ensino fundamental I, de uma escola privada localizada em Santo André, SP. As crianças criaram formas diversas de passar pelos obstáculos do circuito, desenvolvendo o seu próprio modo de superar os desafios, uma vez que o professor não trouxe respostas prontas e padronizadas para realização das atividades. Todas as crianças sem nenhuma distinção participaram das atividades propostas, colaborando com os e as colegas para solução de problemas, promovendo a sociabilização entre as crianças, assim como a experimentação de afetos. A aula apresentou-se como possibilidade para ampliação do repertório de conhecimentos sobre as práticas corporais relacionadas aos esportes radicais, em especial o slackline. Pela brincadeira, o slackline (esporte radical) demonstrou ser uma possibilidade para tematização ou de conteúdo para crianças no início da fase escolar, diversificando temas e conteúdos para as aulas de Educação Física. Sugere-se a realização de estudos com maior tempo para intervenção e que façam uso de outras estratégias didáticas.

    Unitermos: Esportes para jovens. Educação Física e formação. Criança. Educação.

 

Abstract

    Some works in radical sports in Physical Education classes have been made, however, there was not been a study that inquires the applicability of slackline from the games in Elementary Physical Education classes. The goal was to describe and analyze a class that uses some elements of slackline in a didactic and pedagogical way. This descriptive study was organized in a Physical Education class developed from a report of slackline experience, realized in a class of Physical Education in a scheme of historical circuit for classmates of 6 years old, from the second year for Elementary from a private school located in Santo André, São Paulo. The children create diverse ways for pass through the obstacles of the circuit, developing their own way of overcoming the challenges since the teacher do not bring any prepared or standardized solutions for the activities realized. Every child, without distinction, participate in the proposed activities, cooperating with colleges for the problems solution process, promoting the socialization between the children, as well as the experimentation of affection. The class presents itself as the possibility for ampliation of bodily activities related to radical sports, in particular, the slackline. As seen, the slackline (radical sport) play showed to be a possibility for a theme or of content for children beginning of classes of Physical Education. It is suggested the realization of the study with more time for the intervention and that use others didactics strategies.

    Keywords: Youth Sports. Physical Education and training. Child. Education.

 

Resumen

    Se han realizado algunos trabajos sobre deportes radicales en clases de Educación Física. Pero ningún estudio ha investigado la aplicación del slackline a partir de juegos en clases de Educación Física en la educación fundamental I. El objetivo fue describir y analizar una clase de Educación Física que utilizó elementos del slackline en juegos didácticos y pedagógicos. Este estudio descriptivo, fue llevado a cabo a partir de un relato de una experiencia con slackline, realizado en una clase de Educación Física desarrollada en formado de circuito narrado, para alumnos de 6 años, en el primer año de enseñanza fundamental I, en una escuela privada localizada en Santo André, SP. Los niños crearon diferentes formas de pasar por los obstáculos del circuito, desarrollando su propio modo de superar los desafíos, ya que el profesor no propuso un patrón de respuestas para la realización de las actividades. Todos los niños sin ninguna distinción participaron de las actividades propuestas, colaborando con los compañeros para solucionar los problemas, promoviendo la socialización entre los niños, así como la vivencia de afectividad. La clase se presentó como una posibilidad de ampliar el bagaje de conocimientos sobre las prácticas corporales relacionadas con deportes radicales, en especial el slackline. En el juego, el slackline (deporte radical) demostró ser una posibilidad para tematizar el contenido para niños en el comienzo de la escolarización, diversificando temas y contenidos para las clases de Educación Física. Se sugiere la realización de estudios con más tiempo para la intervención y que formen parte de otras estrategias didácticas.

    Palabras clave: Deportes para jóvenes. Educación Física y formación. Niño y niña. Educación.

 

Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 24, Núm. 256, Sep. (2019)


 

Introdução

 

    A Educação Física escolar na contemporaneidade pautada na Base Nacional Curricular Comum - BNCC (Brasil, 2017) e em estudos científicos (Neira, 2018; Neira; Nunes; Lima, 2014; Nogueira; Farias; Maldonado, 2017; Darido, 2011), demonstram múltiplas possibilidades de temas (Neira & Nunes 2008; Corazza, 2003) ou conteúdo (Tahara & Darido, 2016; Freire, 2012) para serem abordados nas aulas de Educação Física, considerando diferentes manifestações da cultura corporal. Sendo assim, essa proposta rompe com a abordagem hegemônica de restritas manifestações da cultura corporal expressas nas modalidades esportivas coletivas (futebol, voleibol, basquetebol e o handebol).

 

    Observa-se que os alunos e alunas gostariam de aprender outras práticas corporais além daquelas tradicionalmente abordadas nas aulas (Betti; Ushinohama; Maffei, 2015). Entre os temas/conteúdos possíveis para abordagem nas aulas de Educação Física, temos nos esportes radicais algumas possibilidades. (Pereira, 2013)

 

    Trata-se de uma oportunidade ímpar para a aprendizagem e desenvolvimento humano, considerando aspectos afetivos, sociais, cognitivos e motores (Freire, 2012), além de priorizar a justiça social e o reconhecimento da diversidade. (Neira & Nunes, 2008; Neira & Nunes, 2008)

 

    A criança vive do e para brincar, não havendo expressão de maldade ou agressividade, dependendo muito da oferta do brinquedo que o adulto disponibiliza (Kunz & Costa, 2015). [...] as crianças querem um ativo acompanhamento no seu desenvolvimento, permitindo-lhes novas experiências e vivências significativas pelo brincar e se movimentar” (Kunz & Costa, 2015, p. 35).

 

    Alguns trabalhos sobre os esportes radicais nas aulas de Educação Física foram realizados (Alves et al., 2017; Paixão, 2017; Monteiro, Bernardes & Pereira, 2015; Dalcastagné; Schwammle; Brehmer, 2014; Bernardes, 2013; Poli; Silva; Pereira, 2012; Pereira & Armbrust, 2010), todavia, não foi identificado estudo que tenha investigado a aplicabilidade do slackline a partir de brincadeiras em aulas de Educação Física no Ensino Fundamental I (crianças de 6 anos de idade), apresentando uma lacuna sobre as possibilidades de utilização do slackline nas aulas de Educação Física.

 

    Neste sentido, é proposto, para esse momento, que se realize estudo sobre o uso do slackline nas séries iniciais do Ensino Fundamental I com ênfase em diferentes aspectos, partindo da premissa que a educação básica tem como propósito o desenvolvimento de competências e habilidades para a vida (Brasil, 2017), desta forma, o slackline apresentado de forma lúdica pode ser um potente aliado para educação integral da criança.

 

    Há necessidade do incentivo de práticas relacionadas às atividades de aventura na escola (Franco, 2011), sendo fundamental pensar na infância como construção social e não como algo natural (Figueiredo; Sá; Ravazzi, 2016), favorecendo o pensamento crítico e autonomia de forma democrática e justa.

 

    O objetivo do presente estudo foi descrever e analisar uma aula de Educação Física que utilizou elementos do slackline em brincadeiras didáticas e pedagógicas.

 

Metodologia

 

    Esse estudo descritivo está pautado por um relato de experiência em uma aula de Educação Física escolar.

 

    Considerou-se aquilo que prevê a resolução nº 466, de 12 de dezembro de 2012, do Conselho Nacional de Saúde (CNS), todos os cuidados éticos foram respeitados para realização deste estudo.

 

Descrição da experiência (aula)

 

    Trata-se de um relato de experiência elaborado e vivenciado pelos discentes e docentes do Curso de Graduação em Educação Física (Licenciatura) de uma Universidade localizada na cidade de Mauá, São Paulo, Brasil, no período de julho a novembro de 2018, que abordou a brincadeira nos esportes radicais em aulas de Educação Física, utilizando possibilidades de processos didáticos pedagógicos com ênfase no slackline.

 

    A proposta surgiu a partir dos questionamentos levantados nas aulas da graduação (curso de formação de professores e professoras) sobre as possibilidades de abordar o tema slackline na escola, em especial entre escolares do 1º ano do ensino fundamental I. Assim, realizamos uma aula de 50 minutos de duração, sendo que os objetivos foram: a) apresentar o esporte radical (slackline); b) ampliar o repertório motor das crianças; c) promover a sociabilização das crianças e d) favorecer o envolvimento das crianças em práticas corporais diversificadas.

 

    A aula foi realizada em uma escola privada, localizada na cidade de Santo André, SP, Brasil, com mais de 90 anos de existência e que considera, em seus princípios, a evangelização de crianças e jovens. O professor de Educação Física atua na escola há mais de 13 anos e é formado desde 2001, disponibilizou sua aula do dia 14/11/2018 para realização da experiência na aula de Educação Física.

 

    O desenvolvimento da aula deu-se por meio de brincadeiras em circuito apoiadas na contação de histórias (Figura 1) com ênfase no slackline em uma turma de 1º ano do ensino fundamental I, composta por 20 discentes de ambos os sexos, com idade média de seis anos. A aula foi realizada no pátio da escola, local escolhido devido à chuva que ocorria no dia e que impossibilitou o uso da quadra poliesportiva. Este espaço nunca havia sido utilizado pelos professores e professoras da escola para as aulas de Educação Física.

 

    Para o desenvolvimento da aula, foi preparado um circuito com seis estações, seguindo o plano de aula pré-definido e aprovado pelo coletivo participante, pautados na teoria curricular construtivista interacionalista. (Freire, 2012)

 

Figura 1. Representação da distribuição do circuito historiado em estações de desafios

 

    O professor da turma afirma trabalhar o protagonismo discente em suas aulas, estimulando a participação ativa das crianças nas atividades. Corroborando com essas premissas, no início da aula, as crianças foram questionadas sobre o conhecimento de que dispunham em relação ao slackline, a partir da pergunta: “alguém conhece o slackline?”

 

    Pelo menos duas crianças já tinham visto o aparelho de slackline em casa de conhecidos, outras relacionaram ao circo, onde temos a corda bamba, e outras, ainda, relacionaram ao surfe. Talvez, a relação com as atividades relatadas possa se justificar pelo fato de que estas necessitam de habilidade para equilibrar-se.

 

    Os professores criaram histórias sobre uma aventura vivenciada em uma floresta, considerando obstáculos com desafios a serem cumpridos pelas crianças. Vale dizer que a imaginação e a ludicidade tiveram presença marcante na experiência, e as crianças puderam criar as próprias histórias, tendo como referência a história apresentada pelo professor, proporcionando uma variação durante a realização da aula (Figura 2).

 

Figura 2. Roda de conversa entre professor e as crianças

 

    O diálogo constante entre o professor e as crianças foi observado em toda aula, uma vez que as crianças tinham a possibilidade de contar a história simultaneamente com o professor. A seguir apresenta-se o Quadro I, com a organização das estações “Desafios da Floresta”.

 

Quadro 1. Etapas de organização do circuito com estações historiadas

1º Fazer a travessia sobre um tronco de árvore, representado por um banco sueco.

2° Desviar das árvores ou animais, representados por cones e arcos, passando por baixo.

3° Pular de uma pedra grande para outra, representadas por bambolês no chão.

4° Fazer a travessia por um tronco mais estreito, representado por outro banco sueco invertido.

5° Pular por mais duas pedras grandes, representadas por bambolês no chão.

6° Fazer a travessia do rio, representado pela fita do slackline, fixada entre duas colunas do pátio da escola.

Fonte: Elaboração própria.

 

    A criança demonstra que começou a pensar quando inicia conosco uma comunicação em linguagem verbal, social. Nesse momento, ela já tem o que comunicar: fala sobre o que representa suas ações no mundo. Nessa nova etapa da viagem, a criança penetra num mundo extremamente diferente do mundo dos adultos, que é o mundo da fantasia, o faz de conta. (Freire, 2012, p. 33)

 

    Na primeira volta, as crianças participaram para entender como que era o circuito; cada uma percorreu o trajeto livremente, sem qualquer padronização ou demonstração de movimento por parte dos mediadores. As crianças realizaram o percurso conforme seus conhecimentos, capacidades e habilidades, adquiridas ao longo da vida. Para a participação do circuito não foi sugerida a separação de grupos (meninos e meninas), assim como outras de segregação relacionada a formas de ser e estar no mundo.

 

    A experiência de meninas e meninos na educação infantil pode ser considerada como um rito de passagem contemporâneo que antecipa a escolarização, por meio da qual se produzem habilidades. O minucioso processo de feminilização e masculinização dos corpos, presente no controle dos sentimentos, no movimento corporal, no desenvolvimento das habilidades e dos modelos cognitivos de meninos e meninas está relacionado à forca das expectativas que nossa sociedade e nossa cultura carregam. Esse processo reflete-se nos tipos de brinquedos que lhes são permitidos e disponibilizados: para que as crianças “aprendam”, de maneira muito prazerosa e mascarada a comportar-se como “verdadeiros” meninos e meninas. (Vianna & Finco, 2009, p. 272-273)

 

    Durante todo o circuito, as crianças se deparavam com desafios variados que apresentavam grau de dificuldade diversos, considerando a diversidade individual apresentada por elas, variando de uma criança para outra. As crianças, ao realizar as atividades propostas, tiveram a liberdade de fazê-las autonomamente. Ficou claro, a partir do repertório motor apresentado e pela organização no circuito, que as crianças traziam consigo uma experiência em relação às necessidades apresentadas para realização e participação na atividade proposta. Vale dizer que os mediadores não precisaram, em momento algum, demonstrar, corrigir ou orientar como as crianças deveriam se movimentar.

 

    A psicologia infantil e depois a psicomotricidade dedicaram parte dos seus trabalhos à descrição dos movimentos que as crianças realizam ao longo de seu desenvolvimento, muitas vezes, contudo, desconsiderando aspectos fundamentais desse desenvolvimento, como o cultural e social. [...] resumindo, o que quero dizer é que não acredito na existência de padrão de movimento, pois, para tanto, teria que acreditar também na padronização do mundo. (Freire, 2012, p.19)

 

    Na primeira volta no circuito, a fita do slackline estava baixa e não muito tensionada, sendo necessário em três momentos a regulagem de altura e tensionamento da fita, promovendo aumento do grau de dificuldade para as crianças, contudo toda a turma obteve êxito na atividade.

 

    Foi perguntado para as crianças quais eram as partes da história que mais gostavam. Com isso, foi possível a cada volta contar uma história diferente, considerando sempre a proposta de “Aventura na Floresta”. As crianças acompanharam o professor contando tais histórias, propiciando maior envolvimento na atividade.

 

    As atividades lúdicas contribuem e influenciam na formação da criança, possibilitando um crescimento sadio, um enriquecimento permanente, integrando-se ao mais alto espírito democrático enquanto investe em uma produção séria do conhecimento. Sua prática exige a participação ativa, criativa, livre, promovendo a interação social e tendo em vista o compromisso de transformação e modificação do meio. (Almeida, 1995, p. 41)

 

    Assim como no começo da aula, uma roda de conversa foi realizada para que as crianças pudessem revelar suas percepções e realizar perguntas a respeito das indagações que surgiram durante a vivência, assim como propor adaptações para o desenvolvimento da prática.

 

Resultados

 

    As crianças disseram que a atividade foi muito legal e que gostariam de fazer outras vezes; algumas crianças afirmaram conhecer o esporte, contudo, outras relataram o desconhecimento deste tipo de atividade.

 

    No decorrer da aula, as crianças foram criando formas diversas de passar pelos obstáculos. Cada uma criou seu próprio modo de superar os desafios, uma vez que o professor não trouxe respostas prontas e padronizadas para realização das atividades.

 

    Assim, todas as crianças, sem nenhuma distinção, participaram de todas as atividades realizadas nas aulas, colaborando com os colegas para solução de problemas. Isto evidenciou a sociabilização entre as crianças, assim como a experimentação de afetos.

 

    A aula apresentou-se como possibilidade para ampliação do repertório de conhecimentos sobre as práticas corporais relacionadas aos esportes radicais. Algumas crianças associaram a atividade do slackline com o surfe e o skate, oportunidade que ocasionou uma explicação de que estes também são esportes radicais com características distintas, porém, com similaridades, entre elas à necessidade de equilibrar-se.

 

    Após o término da oficina, em particular com o professor Fernando, foi dito que na turma havia uma criança autista, e mesmo com a adversidade de serem outros professores e em outro local da aplicação da aula, este aluno participou sem problemas da atividade proposta, o que demonstrou a viabilidade deste tipo de atividade, considerando a diversidade e os direitos humanos.

 

    Nós, anteriormente à realização da atividade, tínhamos questionamentos sobre a possibilidade e viabilidade de aplicação de elementos dos esportes radicais em vivência com crianças que estão na transição da educação infantil para o ensino fundamental I.

 

    Todavia, as atividades foram realizadas, superando as expectativas propostas na apresentação do plano de aula, rompendo com paradigmas, entre eles: o medo dos professores e professoras de que os alunos e alunas não consigam realizar atividades associadas aos esportes radicais ou de aventura, uma vez que estas práticas pelo senso comum e alguns profissionais são vistas como perigosas, promovendo limitações que impossibilitam a aplicação dessas práticas entre crianças menores.

 

    Em conversa com o professor de Educação Física da turma, após o término da oficina, perguntamos: O slackline pode ser conteúdo de aula da educação infantil e nas séries iniciais do ensino fundamental I?

    Professor: Com certeza. Já trabalhei com skate e outros esportes radicais, sempre trabalhando o equilíbrio, mas nunca pensei em trabalhar o slackline com o infantil, só a partir do segundo ou terceiro ano do fundamental, mas isso não mostrou ser uma barreira, pelo contrário, mostrou que não é uma barreira.

    O professor da escola disse, ainda, que é praticante de slackline, e, ao ver os discentes ao final da aula terem executado toda a proposta, ficou encantando com a desenvoltura e conhecimento motor desenvolvido na aula.

 

    A direção da escola gostou muito da intervenção e solicitou ao departamento de marketing da instituição que fotografassem a aula, para posteriormente publicarem no perfil das redes sociais.

 

Conclusões

 

    A estratégia didático pedagógica proposta demonstrou ser uma possibilidade viável para as aulas de Educação Física entre crianças, atingindo os objetivos propostos para as aulas.

 

    Percebemos que a aula em circuito historiado promoveu o envolvimento dos alunos e alunas nas atividades. Ainda, deve-se dizer que as crianças participaram da vivência, inclusive uma criança com deficiência (autismo).

 

    A atividade apresentou segurança e facilidade para aplicação, inclusive em relação ao espaço físico e utilização de materiais. Todavia, deve-se destacar que a direção da escola, assim como o professor da turma, esteve disponível para a realização da proposta, compreendendo sua importância para formação das crianças e a necessidade de inserção no currículo escolar.

 

    Pela brincadeira, o slackline demonstrou ser uma possibilidade para tematização ou de conteúdo entre crianças do ensino fundamental I, com seis anos de idade, ampliando o leque de temas e conteúdos disponíveis para as aulas de Educação Física.

 

    A experiência relatada contribui para ampliação de discussões sobre tematização ou conteúdos relacionados aos esportes radicais entre crianças na tenra idade escolar. Sugere-se a realização de estudos com maior tempo para intervenção e que façam uso de outras estratégias didáticas.

 

Referências

 

Almeida, P. N. (1995). Educação lúdica: técnicas e jogos pedagógicos. São Paulo: Loyola.

 

Alves, M. P., Martins, C., Farias, G. A., Pereira, D. W., & Silva, C. G. (2017). Educação Física, slackline e o cotidiano de uma escola pública. Revista Práxis, 97-108.

 

Bernardes, L. A. (2013). Atividades e esportes de aventura para profissionais de Educação Física. São Paulo: Phorte.

 

Darido, S. C. (2011). Educação Física Escolar: compartilhando experiências. São Paulo, Phorte.

 

Betti, M., Ushinohama, T. Z., & Maffei, W. S. (2015). Os saberes da Educação Física na perspectiva de alunos do ensino fundamental: o que aprendem e o que gostariam de aprender. Revista Brasileira de Educação Física Escolar, 1(1)179-191.

 

Brasil (2017). Base Nacional Comum Curricular: Educação Infantil e Ensino Fundamental. Brasília: MEC/Secretaria de Educação Básica.

 

Corazza, S. (2003). Tema gerador: concepções e práticas. Ijuí: Editora Ijuí.

 

Dalcastagné, G., Schwammle, E. R., & Brehmer, J. R. (2014). Os esportes radicais e de aventura no contexto escolar: uma revisão da literatura. Lecturas: Educación Física y Deportes, Revista Digital. 19(195). https://www.efdeportes.com/efd195/os-esportes-de-aventura-no-contexto-escolar.htm

 

Figueiredo, B. D., Sá, K. R., & Ravazzi, L. (2016). A valorização das culturas infantis em um currículo multiculturalmente orientado. Em M. G. Neira & M. L. Nunes, A valorização das culturas infantis em um currículo multiculturalmente Educação Física Cultural: escritas sobre a prática. (pp. 95-120). Curitiba: CRV Editora.

 

Franco, L. C. P. (2011). A adaptação das atividades de aventura na estrutura da escola. Anais... 5º CBAA – Congresso Brasileiro de Atividades de Aventura. São Paulo: Editora Lexia.

 

Freire, J. B. (2012). Educação de corpo inteiro: teoria e prática da Educação Física. São Paulo: Scipione.

 

Kunz, E., & Costa, A. R. (2015). A imprescindível e vital necessidade da criança: brincar e se-movimentar. Em E. Kunz, Brincar & se- movimentar: tempos e espaços de vida da criança. (pp. 13-38). Ijuí: Editora Ijuí.

 

Monteiro, L. M., Bernardes, L. A., & Pereira, D. W. (2015). Atividades de Aventura na educação infantil. Lecturas: Educación Física y Deportes, Revista Digital, 19(202), 1-10. https://www.efdeportes.com/efd202/atividades-de-aventura-na-educacao-infantil.htm

 

Neira, M. G. (Org.) (2018) Educação Física Cultural: relatos de experiência. Jundiaí, SP: Paco.

 

Neira, M. G., & Nunes, M. L. (2008). Pedagogia da cultura corporal: crítica e alternativas. São Paulo: Editora Phorte.

 

Neira, M. G., Nunes, M. L. F., & Lima, M. E. (2014) Educação Física e culturas: ensaios sobre a prática, v.2. São Paulo: FEUSP.

 

Nogueira, V. A., Farias, U. S., & Maldonado (2017). Práticas pedagógicas inovadoras nas aulas de Educação Física Escolar: indícios de mudanças 2. v. 32, Curitiba: CRV Editora.

 

Paixão, J. A. (2017). O esporte de aventura como conteúdo possível nas aulas de Educação Física Escolar. Revista Motrivivência, 170-182.

 

Pereira, D. W. (2013). Slackline: vivências acadêmicas na Educação Física. Revista Motrivivência, 0(41) 223-233.

 

Pereira, D. W., & Armbrust, I. (2010). Pedagogia da aventura: os esportes radicais, de aventura e de ação na escola. São Paulo: Fontoura.

 

Poli, J. D., Silva, A. O., & Pereira, D. W. (2012). Slackline uma nova opção nas aulas de Educação Física. Lecturas: Educación Física y Deportes, Revista Digital, 17(174). https://www.efdeportes.com/efd174/slackline-nas-aulas-de-educacao-fisica.htm

 

Tahara, A. K. & Darido, S. C. (2016). Práticas corporais de aventura em aulas de Educação Física na escola. Conexões: Educação Física, esporte e saúde, 14(2), 113-136.

 

Vianna, C., & Finco, D. (2009). Meninas e meninos na educação infantil: uma questão de gênero e poder. Cadernos Pagu, 0(33), 265-283.


Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 24, Núm. 256, Sep. (2019)