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Cultura, corpo e natureza. Algumas relações

   
*Graduada em Educação Física e Mestre em Ciências da Motricidade pela
Unesp de Rio Claro. Professora do Centro Universitário do Norte Paulista
**Professora da Unesp de Rio Claro - SP, Linha de Pesquisa: Educação, Cultura, Lazer e Natureza.
***Bacharel em Turismo pela Puc-Campinas, especialista em Atividade Física e
Qualidade de Vida pela Unicamp, professora do Centro Universitário Barão de
Mauá dos cursos de Turismo, Gestão em Hotelaria,
Gestão Promoção e Organização de Eventos.
 
 
Mariângela de Oliveira Zanin*
Carmen Maria Aguiar**
Graziele Morelli***

graziele@sigmanet.com.br
(Brasil)
 

 

 

 

 
Resumo
    Este trabalho tem como objetivo estabelecer uma reflexão sobre cultura, corpo e natureza, a partir de literaturas pertinentes, com enfoque aos autores que apresentem, em seus escritos, noções correlatas a este universo. O intuito é organizar um referencial teórico capaz de permitir elaborar conexões e estabelecer pontos de contato entre as áreas discutidas.
    Unitermos: Cultura. Corpo. Natureza.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 10 - N° 93 - Febrero de 2006

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Introdução

    De acordo com Santos (1994) a cultura está associada à educação, lendas e crenças de um povo, sua comida, seu idioma, manifestações artísticas e, de uma forma mais genérica, com tudo o que caracteriza uma população humana. Ele ainda acrescenta as duas concepções existentes de cultura nas suas várias maneiras de entende-la: "A primeira concepção de cultura remete a todos os aspectos de uma realidade social; a Segunda, refere-se, mais especificamente, ao conhecimento, idéias e crenças de um povo"(p. 23).

    Como idéia da primeira concepção podemos dizer que a cultura diz respeito a tudo aquilo que caracteriza a existência de um povo ou nação, referindo-se a realidades sociais distintas, como cultura camponesa, xavante, egípcia e assim por diante: Acrescentamos, ainda nesta concepção, as maneiras de conceber e organizar a vida social.

    Já a segunda concepção refere-se mais especificamente às idéias, crenças, conhecimento e maneiras como estes existem na vida social.

    Vale lembrar que a cultura humana é arbitrária e dinâmica, porém, estudá-la possibilita uma compreensão dos processos de transformação pelos quais passam as sociedades contemporâneas. Tais estudos procuram entender os processos de simbolização, ou seja, os processos de substituição de uma coisa por aquilo que a significa, que permitem que uma idéia expresse um acontecimento, descreva um sentimento. Procura-se o sentido das concepções e práticas para a sociedade que as vive, buscando seu desenvolvimento na sua própria história e mostrando como a cultura se relaciona às forças sociais que movem a sociedade.

    Neste contexto, a cultura é uma construção histórica, um produto coletivo da vida humana, que diz respeito a todos os aspectos da vida social.

    O processo por meio do qual o indivíduo aprende a ser um membro da sociedade é designado pelo nome de socialização, consistindo num processo de interação e identificação com outros sujeitos.


Corpo

    Enquanto ordem simbólica podemos afirma que o corpo é uma representação dos modelos impostos pela cultura. Esse corpo é submetido a uma cultura somática entendida como sistema de regras, que são o produto das condições objetivas, ou seja, conforme o modelo de "dever-se'. Nesse sentido de como o homem deve ser no mundo, considerando as diversas culturas, o antropólogo Mauss (1974) apresenta, em seu discurso das técnicas corporais, o retrato de diferentes culturas. Com ênfase na construção de técnicas, ele analisa diferentes maneiras de se viver, de estabelecer regra e condutas representadas pelo corpo com um objetivo que simboliza as possibilidades da sociedade.

    As técnicas seriam a maneira como os homens, sociedade por sociedade, sabem servir-se de seus corpos. Segundo Mauss (1974), há todo uma classificação das técnicas (técnicas de reprodução , de cuidados de limpeza do corpo, de movimento e repouso, etc...), as quais surgem em função de alguma tradição e eficiência. O corpo seria, então, o primeiro e mais natural objeto do homem.

    Mauss (1974), assim como Hertz (1980), acreditam que a educação do corpo deve ser pensada para além da dimensão biológica. Hertz observa a presença de interdições estabelecidas pela sociedade, que repercutem na predominância do uso da mão direita em detrimento da esquerda. O autor parte do pressuposto que a explicação fisiológica sobre a predominância do uso da mão direta é incompleta, demonstrando que a relação entre sagrado e profano é que determina o uso preferencial de uma das mãos.

    O corpo é símbolo social e significa ao mesmo tempo vida e morte, puro e impuro, sagrado e profano. Tal separação é criadora dos sentidos onde o indivíduo demonstra socialmente que segue ou não padrões culturais que programam a emoção.


As relações corpo, homem, natureza

    De acordo com Lopes (1995), a cultura surge na relação homem/natureza. Ela se apresenta como o conjunto de interpretações, apropriações e transformações que o homem realiza junto à natureza.

    Somos corpo, cultura e natureza, temos essa dualidade em nós. A reintegração do homem, ou seja, o encontro de cultural e natural se dá, por exemplo, no ato sexual. Todavia o sexo proibido, ou seja, fora da relação matrimonial, transgride a rodem da cultura e entra no reino da natureza.

    Em nossa sociedade, tornam-se naturais alguns comportamentos quando adotamos determinadas regras. O ser humano é capaz de produzir e difundir sua cultura, isto significa que certas posturas e atitudes acabam por assumir um caráter "natural", não porque são naturais em si, mas porque são culturalmente naturalizados. E muitas vezes, mesmo que inconscientemente é com esta naturalidade que assumimos postura que, nos levam a transgredir com a estrutura social formada.

    Comer é natural, porém, comer com garfo e faca é cultural. Há, nos dois exemplos anteriores, respectivamente, uma ação determinada biologicamente e a outra que permite relativizar as regras.


Trabalho e Lazer - questão dualista

    Da mesma forma que no exemplo sobre comer pode-se abordar o trabalho e o lazer, vistos em nossa sociedade como atividades diferentes. Culturalmente, somos condicionados a dissociar o trabalho e o lazer, essas, duas manifestações não podem ocupar o mesmo espaço. Há, frequentemente, regras, senão princípios a serem seguidos, elaborados, difundidos e instituídos nos ambientes de trabalho. Dessa forma, podemos salientar que as posturas estão codificadas num determinado modo de vir-a-ser, exlcuindo a possibilidade de diversos tipos de manifestações corporais, pois as mesmas não se enquadram nas posturas que devem ser adequadas ao ambiente de trabalho (culturalmente estabelecidos).

    Na sociedade capitalista em que vivemos, o corpo do trabalhador não é só um corpo alienado, mas é um corpo deformado pela mecanização e pelas condições precárias da realização de movimentos. Segundo a lógica capitalista, cumprimos horários e deveres para podermos ser merecedores e desfrutarmos momentos mais "livres, referente principalmente ao lazer". Há uma determinação cultural no que se refere ao uso dos espaços e, consequentemente, nas formas dos indivíduos se expressarem nesses ambientes.

    Neste contexto, percebe-se o quanto somos seres enraizados e dotados de cultura, possuímos a dualidade natureza e cultura. Mas até que ponto somos naturais? E culturais?

    Estas questões nos levam a refletir sobre estes conceitos dualistas, a fim de identificar características particulares da cultura e até que ponto estão atreladas ao conceito cultural que, frequentemente, tem distanciado o homem do seu universo natural. Pode-se afirmar que a cultura está naturalizada e natureza se encontra "culturalizada".


Bibliografia

  • AGUIAR, Carmem Maria. Educação, Cultura e Criança. Campinas. Papirus. 1994.

  • ________ Educação, Natureza e Cultura Um Modo de Ensinar. 1998. 206 f. Dissertação (mestrado em educação) - Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo. São Paulo.

  • MAUSS, M. As técnicas corporais. In: Sociologia e Antropologia. São Paulo: EPU-EDUSP, 1974.v2.

  • HERTZ, R. A. A preeminência da mão direita: um estudo sobre as polaridades religiosas. Revista Religião e Sociedade, v. 6, 1980, p. 99-128.

  • LOPES, J.R. Cultura e ideologia. São Paulo: Cabral, 1995.

  • SANTOS, José Luiz. O que é Cultura. São Paulo Brasiliense, 1994.

  • VEBLEN, T. A Teoria da classe ociosa. São Paulo: Pioneira, 1995.

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