efdeportes.com

Perfil dos pacientes atendidos no setor
de psicologia em uma clínica-escola

Perfil de los pacientes atendidos en el sector de psicología en un hospital-escuela

 

*Acadêmicas do curso de psicologia da Faculdade de Saúde Ibituruna

**Docente do curso de Educação Física da Funorte

Laboratório do Exercício da Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES

Programa de Pós Graduação Stricto Sensu em Ciências da Saúde

da Universidade Estadual de Montes Claros, UNIMONTES
(Brasil)

Caroline da Silva Santos*

Miriam Lena Silva Freitas*

Vinícius Dias Rodrigues**

carolinesantosll@yahoo.com.br

 

 

 

 

Resumo

          As clínicas-escolas de Psicologia tem sido uma possibilidade para a população ter acesso aos serviços de saúde mental. Consiste em ambiente associado a uma instituição de ensino, que tem a dupla função de proporcionar o crescimento acadêmico ao estagiário e simultaneamente atender a comunidade prestando atendimentos gratuitos. O presente trabalho teve como objetivo caracterizar o perfil sociodemográfico dos pacientes atendidos em uma clínica-escola de uma instituição privada no norte de Minas Gerais e analisar as principais queixas apresentadas no período de janeiro a junho de 2014 Trata-se de um estudo descritivo e com abordagem quantitativa, os dados foram obtidos através de uma análise documental. Verificou-se que a população atendida é formada principalmente por crianças, mulheres, solteiras, com ensino fundamental incompleto, que chegam à instituição através de demanda espontânea e apresentando principalmente sintomas de ansiedade e depressão. Os dados obtidos com o estudo poderão ser usados para aprimoramento dos serviços da instituição a partir de maior clareza das demandas e do público assistido.

          Unitermos: Clínica-escola. Psicologia. Perfil.

 

Recepção: 04/10/2014 - Aceitação: 02/12/2014

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 202, Marzo de 2015. http://www.efdeportes.com/

1 / 1

Introdução

    De acordo com a OMS (2001), em todo o mundo, mais de 400 milhões de pessoas sofrem transtornos mentais ou de comportamento, mas apenas uma pequena minoria delas recebe mesmo o tratamento mais básico. Os problemas de saúde mental ocupam cinco posições entre as dez principais causas de incapacidade no mundo, totalizando 12% da carga global de doenças, entretanto, as verbas orçamentárias para a saúde mental na maioria dos países representam menos de 1% dos seus gastos totais em saúde (OMS, 2001). Os serviços de saúde mental em diversas partes do mundo se encontram pouco custeados, inadequados e de difícil acesso às pessoas que deles necessitam. Certos países mal chegam a ter quaisquer serviços, enquanto, em outros, os serviços são disponíveis apenas a certos segmentos da sociedade (OMS, 2005).

    No Brasil, 12% da população, o equivalente a 23 milhões de pessoas precisam de algum atendimento em saúde mental. Cinco milhões de brasileiros são afetados com transtornos mentais graves e persistentes (BRASIL, 2010). De acordo com a Associação Brasileira de Psiquiatria, apesar de a política de saúde mental priorizar as doenças mais graves, como esquizofrenia e transtorno bipolar, as mais prevalentes estão ligadas à depressão, ansiedade e a transtornos de ajustamento (BRASIL, 2010).

    Diante do exposto em relação à situação da saúde mental no Brasil e no mundo, as clínicas-escola são possibilidades de acesso ao atendimento psicológico para a população. De acordo com Gauy e Fernandes (2008), a clínica-escola é um ambiente associado a uma instituição de ensino e visa promover ações e procedimentos que possibilitem o ensino e pesquisa e simultaneamente atende à comunidade. É o ambiente no qual o aluno completa sua formação ao realizar a prática clínica sob a orientação de um professor supervisor. Os autores relatam ainda que, apesar da importância para a formação dos futuros psicólogos, esse tema ainda tem recebido pouca atenção (GAUY; FERNANDES, 2008). O presente trabalho teve como objetivo conhecer o perfil sociodemográfico dos pacientes atendidos por uma clínica-escola e as principais queixas apresentadas por eles.

Materiais e métodos

    Esse estudo se constituiu de pesquisa documental, priorizando um caráter descritivo e com abordagem quantitativa. O projeto foi avaliado e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da FUNORTE com parecer número 721.270. Para obter os resultados propostos, foi realizada uma análise documental dos prontuários de uma clínica-escola de uma instituição privada no norte de Minas Gerais no setor de psicologia.

    Foram analisados todos os prontuários dos usuários cadastrados no período de janeiro a junho de 2014 atendidos pelas diversas abordagens teóricas. Foram excluídos os prontuários em que os pacientes não assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, os incompletos ou sem evolução por acadêmico ou supervisor. Os instrumentos utilizados foram: o Formulário padrão para avaliação da Psicologia e a Ficha de Informações Psicológicas, ambos elaborados pela coordenação da Clínica-escola. Esses documentos são preenchidos pelos estagiários no primeiro atendimento realizado com o paciente.

Resultados e discussão

    Após a coleta de dados verificou-se que foram atendidos 196 pacientes no período de janeiro a julho de 2014. Conforme demonstrado na tabela 1.

Tabela 01. Distribuição percentual do perfil dos usuários da clínica-escola

    A partir dos dados obtidos, constatou-se que a maioria, 62, 8% dos atendidos eram do sexo feminino e 37,2% do sexo masculino, resultados parecidos foram encontrados em outros estudos sobre a clientela de clínicas-escola (SIMÕES, et al. 2009; CAMPEZATTO; NUNES, 2007; MARAVIESKI; SERRALTA, 2011, SANTOS et al. 1993) e justifica-se segundo Santos et al. (1993) por questões culturais. De acordo com os autores, esses dados são resultados dos condicionamentos socioculturais caracterizados pelas relações de gênero, pois durante o processo de socialização há uma construção de gênero que modela as características psicológicas mais associadas a cada sexo, geralmente, os homens aprendem desde cedo que devem ocultar seus sentimentos e problemas psíquicos e cultivar a bravura e a resistência à manifestação emocional diante das adversidades que encontradas durante a vida. É importante ressaltar que somente entre as crianças até dez anos de idade predominou-se o sexo masculino.

    Quanto à distribuição por faixa etária, as crianças até dez anos foram 23% dos atendidos, os jovens de 11 a 20 anos somaram 18,4%, de 21 a 30 anos foram 19,9%, os pacientes de 31 a 40 anos foram 6,6% dos atendidos, de 41 a 50 foram 5,1% e as pessoas com mais de 60 anos foram 8,2% dos pacientes atendidos. Destaca-se que as idades mínima e máxima dos pacientes no período do estudo foram 3 e 79 anos respectivamente.

    Verificou-se portanto, que a maior parte dos atendimentos no período do estudo foi de crianças. De acordo com Andrade, Mishima-Gomes e Barbieri (2012), a procura de psicoterapia para crianças tem sido uma forma freqüente de pedido de ajuda dos pais, sejam através de encaminhamentos da escola, por profissionais da saúde, ou ainda por demanda espontânea. Buscar a psicoterapia para os filhos representa uma forma de assegurar o bem-estar e o desenvolvimento deles diante das dificuldades. De acordo com os dados obtidos, 14,8% dos pacientes atendidos são crianças até dez anos do sexo masculino, as meninas dessa idade somaram 8,2%. Segundo Campezatto e Nunes (2007), a faixa etária de crianças de 6 a 10 anos de idade, corresponde ao período de escolarização, momento que tende a trazer maiores dificuldades no sexo masculino do que no feminino. As queixas relacionadas a processos cognitivos, que referem a dificuldades de aprendizagem, são mais comuns nos meninos do que nas meninas de mesma faixa etária (CAMPEZATTO; NUNES, 2007).

    No que se refere ao estado civil dos pacientes, prevaleceram os solteiros com 48,8%, os casados ou que vivem em união estável somam 25% dos atendidos, os divorciados são 9,2% e os viúvos 4,1%. Destaca-se que, mesmo desconsiderando as crianças, os solteiros continuam a maioria, com 37,2%. Quanto à fonte de encaminhamentos, 65,3% dos pacientes chegaram ao serviço por demanda espontânea. Seguidos pelos encaminhamentos das diversas especialidades médicas, 19,9% e pelas escolas 6,6%.

    Em relação à escolaridade, 71% dos pacientes possuem até o ensino médio completo. Dentre eles, 33,2% possuem o nível fundamental incompleto, 9,2% concluíram o ensino fundamental. Apenas 5,1% possuem nível superior completo. Resultados parecidos foram encontrados nos estudos de Simões (2009); Campezatto e Nunes (2007), onde a maioria dos atendidos nas clínicas-escola pesquisadas pelos autores também é formada por pessoas que possuem o nível fundamental incompleto. De acordo com os supracitados, esse dado é coerente com a renda familiar dos pacientes, pois famílias com uma baixa renda geralmente possuem níveis de escolaridade menores. Diante disso, a clínica-escola tem um papel imprescindível, uma vez que cumpre as funções de criar condições para o treinamento profissional para o acadêmico e oferecer serviços psicológicos gratuitos à comunidade.

    As clínicas-escola surgem como uma alternativa de atendimento para a população em geral, que provavelmente não teria condições financeiras de pagar por um atendimento particular. De acordo com Vilwock et al (2007), essa instituição tem por objetivos atender a demanda da comunidade no que se refere ao atendimento psicológico, proporcionar ao acadêmico de psicologia a utilização dos conhecimentos adquiridos através da atuação prática e possibilitar o desenvolvimento de habilidades e competências pessoais e profissionais. Segundo Stocco et al. (2012), ao longo de poucas décadas as clínicas-escola ocuparam um lugar importante na sociedade, e atualmente começaram a se consolidar como polos de referência no atendimento psicológico a comunidade. Entre os serviços prestados à comunidade a clínica-escola tem se destacado por atender uma diversidade de problemas e demandas, tanto pessoais como de encaminhamentos de diversas entidades e da rede de saúde em geral.

    No que concerne às queixas apresentadas, prevalecem os sintomas de ansiedade 19,4% e os sintomas depressivos 12,8%. De acordo com a Associação Brasileira de Psiquiatria, apesar de a política de saúde mental priorizar as doenças mais graves, como esquizofrenia e transtorno bipolar, as mais prevalentes estão ligadas à depressão, ansiedade e a transtornos de ajustamento (BRASIL, 2010). Segundo dados da Associação Brasileira de Psiquiatria (2006), os transtornos depressivos, ansiosos e alimentares acometem aproximadamente 22 milhões de pessoas, correspondendo a 12% da população brasileira. Apesar de geralmente não necessitar de internações, esses pacientes demandam serviços extra hospitalares e respondem por uma das maiores causas de afastamento no trabalho, necessitando de acompanhamento ambulatorial específico (ABP, 2006).

    De acordo com as informações obtidas, as mulheres apresentam uma prevalência maior de transtornos de ansiedade (26%) em comparação com os homens (8,2%), As evidências na literatura também mostraram que, além de ocorrer uma maior prevalência de transtornos de ansiedade nas mulheres, as diferenças de gêneros também existem na apresentação clínica e nas características de tais transtornos e na prevalência de comorbidade com transtornos psiquiátricos. Mulheres com transtornos de ansiedade relatam maior gravidade dos sintomas e tendem a apresentar com mais freqüência uma ou mais comorbidades psiquiátricas em comparação aos homens. Essas diferenças podem resultar em um curso mais crônico da doença e em maior prejuízo funcional entre as mulheres. Evidências de vários estudos têm sugerido que os fatores genéticos e os hormônios sexuais femininos podem desempenhar papéis importantes na expressão dessas diferenças de gênero (KINRYS; WYGANT, 2005).

    Destacam-se ainda os problemas escolares, que foram responsáveis por 12, 8% dos atendimentos, neles estão incluídos os problemas comportamentais e dificuldades de aprendizagem na escola. Quanto a essa queixa, predominaram-se as crianças do sexo masculino e geralmente encaminhadas pela escola. De acordo com Neves e Araújo (2006), o encaminhamento para os psicólogos de crianças ou adolescentes que apresentam dificuldades escolares representa a queixa mais freqüente, no Brasil, da demanda por atendimento psicológico nessa faixa etária.

    Ainda de acordo com os dados obtidos, 9,2% dos pacientes procuraram atendimento psicológico devido a problemas familiares, problemas conjugais 4,6%, agressividade 4,6% e problemas físicos 4,6%. Outras queixas também apareceram, porém em menor número, como o estresse, timidez, luto, autoconhecimento, síndrome de pânico e medo que somaram 18,4% dos atendimentos.

Considerações finais

    Foi possível verificar com o presente estudo, que a maior parte dos pacientes atendidos é do sexo feminino, solteiro, com nível de escolaridade fundamental incompleto. Geralmente chegam até a clínica por demanda espontânea ou através de encaminhamentos das diversas especialidades médicas. Quanto à faixa etária, o público atendido é formado principalmente por crianças até dez anos, idade em que prevalece o sexo masculino e pessoas entre 31 e 40 anos. No que concerne as queixas apresentadas, prevalecem os sintomas de ansiedade e depressão, seguidos por problemas escolares.

    Com base no exposto, destaca-se que os serviços prestados por uma clínica-escola contribuem não apenas para formação acadêmica, mas também para o compromisso social, possibilitando o acesso aos serviços de psicologia para a população. Conclui-se que conhecer o perfil dos usuários e suas demandas para o atendimento psicológico é uma conduta que pode favorecer na melhoria das condições de ofertas dos serviços prestados aos usuários. Portanto são necessários novos estudos com períodos diferentes para esclarecer possíveis duvidas advindas desse trabalho.

Referências

Outros artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/
Búsqueda personalizada

EFDeportes.com, Revista Digital · Año 19 · N° 202 | Buenos Aires, Marzo de 2015
Lecturas: Educación Física y Deportes - ISSN 1514-3465 - © 1997-2015 Derechos reservados