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Introdução

    O surgimento e o crescimento das academias de ginástica no Brasil acompanharam o movimento mundial, surgido nos anos 70 e 80, em torno da prática regular de exercícios físicos para a melhoria e manutenção de uma vida saudável. Como decorrência desses fatos, a demanda por esse tipo de serviço cresceu extraordinariamente e as academias começaram a proliferar por todos os cantos do país¹.

    Inúmeros fatores são responsáveis pela aderência à atividade física oferecida nas academias como: a figura do professor, a estrutura oferecida para a prática, o ambiente, a higiene, as pessoas que a frequentam, a localização, entre outros, mas todos esses dependem de a pessoa incorporar em seu estilo de vida o do exercício físico, ligando-se a ele de forma permanente, ou pelo menos duradoura, criando condições para que a prática da atividade proposta seja continuada de forma prazerosa e produtiva².

    Para muitos frequentadores a academia tem se transformado em lugar de lazer e socialização, onde os alunos se divertem e fazem novas amizades, pertencendo a grupos de pessoas com objetivos semelhantes. Assim, considerando-se saúde não apenas como ausência de doenças, mas como um estado de bem-estar mental, social e físico, a prática sistemática de atividades faz parte dos valores ligados à manutenção da saúde corporal³.

    Devido à vida agitada com estudos, ao trabalho e à modernidade que ocupam o nosso tempo e nos impedem de praticar atividades ao ar livre, nesse mundo moderno que cada vez oferece mais facilidades como: usar o elevador ao invés de escada, utilização de automóveis em pequenos trajetos, os quais poderiam ser realizados a pé, assim como aparelhos eletrônicos e eletrodomésticos que facilitam a vida, as pessoas vão deixando de exercitar o corpo para os afazeres do dia a dia⁴. Atualmente, cada vez mais pessoas no mundo são completamente sedentárias, sendo, justamente, essas as que mais teriam a ganhar com a prática regular de atividade física, seja como forma de atividades do dia a dia, de prevenir doenças, promover saúde ou sentir-se melhor. A nossa musculatura necessita de movimentos, mas com o mundo moderno passamos cada vez menos a utilizá-la, modificando nossa fisiologia⁵.

    Em virtude disso, muitas pessoas passam a fazer as atividades em locais fechados utilizando cargas para realização dos exercícios dentro de academias, tornando-se uma alternativa quase única para a população urbana. As sociedades contemporâneas, com o crescimento socioeconômico e tecnológico em geral, têm se preocupado com a forma física e a busca pela qualidade de vida, projetando nos aspectos físicos seus êxitos e felicidade. Corpos bem definidos são padrões desejáveis para mulheres, e músculos hipertrofiados, para os homens. Todos procuram buscar esse ideal predeterminado pela sociedade⁶.

    A musculação ou exercícios resistidos, que é realizada com pesos, é conhecida principalmente por proporcionar ganho de força e aumento de massa muscular, sem se tratar de uma modalidade esportiva, mas de uma forma de preparação física, utilizada por atletas em geral⁷. A prática de musculação de forma regular e assistida pode promover ainda mais a qualidade de vida de jovens, adultos e idosos. A melhora da qualidade de vida está ligada diretamente à flexibilidade do esqueleto humano que depende da musculatura para realizar os movimentos. Diante disso, o ganho de massa muscular passou a ser discutido como um potente coadjuvante, justamente em função dessa flexibilidade⁸.

    Diferentes profissionais da área de saúde chegaram à conclusão de que a manutenção da massa muscular corporal só tem a trazer benefícios para os indivíduos nas mais variadas situações. Em síntese, ela contempla desde os fisiculturistas, praticantes de atividades físicas diversas, atletas de elite, portadores de doenças associadas a síndromes de perda muscular, como a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) e portadores de câncer⁹.

    A atividade física e saúde se justificam pelas muitas evidências de que níveis apropriados de aptidão física, mantida durante toda a vida por meio de exercícios regulares, exercem efeitos benéficos nas funções dos órgãos em geral, tendo como consequência o prolongamento da vida e de sua qualidade. Nesse sentido, a academia de ginástica pode ser apontada como sendo um centro com potencial para demanda em serviço de saúde primário, sendo possível sua ampliação para outros níveis de prevenção¹⁰.

    O presente estudo tem como objetivo analisar o perfil de comportamento no exercício físico de praticantes de academias de musculação em regiões opostas da cidade de Santa Cruz do Sul-RS.

Método de investigação

    Os sujeitos do presente estudo, de caráter exploratório e descritivo, foram 30 de cada academia, perfazendo 60 pessoas, sendo 26 do sexo masculino e 34 do sexo feminino, com idades entre 15 e 64 anos. Para a coleta de dados foi aplicado um questionário, adaptado de Markland; Tobin¹¹ referente ao pensamento das pessoas em relação ao exercício físico praticado nas academias de musculação, localizadas em regiões opostas da cidade de Santa Cruz do Sul-RS.

    Usando uma escala de 0 a 2, os participantes deveriam indicar qual o seu pensamento com o intuito apenas de saber como eles se sentem em relação à prática do exercício físico. Os alunos responderam minutos antes da realização de sua sessão semanal, onde deveriam indicar o nível mais verdadeiro para sabermos como eles se sentem em relação a essa prática. A análise de dados foi realizada no programa SPSS v. 20.0, através de estatística descritiva (frequência e percentual).

Resultados

    Através da Tabela 1, observa-se que a amostra compreende sujeitos entre 15 a 64 anos, sendo, em ambos as academia a amostra composta por um maior percentual de sujeitos na faixa etária dos 15 a 24 anos (53,3% em ambas).

Tabela 1. Faixa etária das pessoas que frequentam academias de musculação em Santa Cruz do Sul – RS

    A Tabela 2 demonstra o gênero dos frequentadores das duas academias, observando-se que 56,6% são do sexo feminino, enquanto 43,3% são do sexo masculino, em ambas as academias.

Tabela 2. Gênero das pessoas que frequentam as academias de musculação em Santa Cruz do Sul – RS

    Analisando os resultados da Tabela 3 sobre os objetivos dos frequentadores da zona norte, observa-se que a maioria dos homens (16,6%) busca a academia pela saúde/qualidade de vida, seguida pela hipertrofia com 13,2%. Já no feminino (16,5%) praticam pela perda de peso/emagrecimento, seguido pela hipertrofia e fortalecimento muscular, ambos com (13,2%). Nos objetivos dos frequentadores masculinos da zona sul, observa-se que a saúde/qualidade e a hipertrofia foram as mais citadas, com (16,6%). Já 16,6% das mulheres buscam a saúde/qualidade de vida, seguida pelo fortalecimento muscular com 13,3%.

Tabela 3. Objetivos por gênero das pessoas que freqüentam academias de musculação em Santa Cruz do Sul – RS

    A Tabela 4 observa-se que quanto ao comportamento no exercício físico, os indivíduos salientaram que não é verdade que fazem musculação porque outras pessoas dizem que devem fazer, com percentuais de 92,4% para a ZN e 86,6% para a ZS. Eles manifestaram que sentem alguma culpa quando não fazem musculação, com 72,9% para a ZN e 59,9% para a ZS, mas dão muito valor aos benefícios/vantagens da musculação com 82,5% para a ZN e 76,6% para a ZS. Nas respostas das duas academias, quanto aos exercícios serem feitos como prática divertida há um equilíbrio de opiniões entre divertimento e obrigação, embora 93,3% tenham respondido ser importante fazer musculação.

    Dos indivíduos da ZN, 85,8% disseram que não é verdade que participam da musculação porque os amigos/familiares dizem que devem fazer musculação; quanto à importância e ao porquê se deve fazer musculação, o resultado alcança 75,9% e 100% respectivamente. Quanto a outras pessoas ficarem insatisfeitas se não fizerem musculação, 100% dos da ZN e 96,7% da ZS não dão importância com essa opinião. Com relação a gostar de suas sessões de musculação, os sujeitos de ambas, ZN e ZS perfazem em torno de 72,0%; já em ambas as academias, 90% sentem satisfação e disposição ao fazer musculação. Em relação ao objetivo de fazer musculação, a maioria da ZN que representa 96,7% e 86,6% dos da ZS entendem o porquê do fazer, enquanto 100% dos da ZN e 90% da ZS não acham uma perda de tempo a prática. Ambos os sujeitos das academias sentem-se ansiosos quando não fazem musculação e 90% deles ficam satisfeitos quando realizam os exercícios.

Tabela 4. Comportamento no exercício físico das pessoas que freqüentam academias de musculação em Santa Cruz do Sul – RS

Discussão

    A faixa etária das pessoas que frequentam as academias de musculação da zona norte ZN e da zona sul ZS, em Santa Cruz do Sul, é de 15 a 64 anos, sendo 26 masculinos totalizando 43.3% e 34 femininos com 56,6%, perfazendo um total de 60 indivíduos. Numa pesquisa realizada no Rio Grande do Sul, resultados em relação ao gênero salientam que são as mulheres que mais frequentam as academias de musculação com 56,6%; já os homens representam 43,3% praticando essa modalidade3.

    Pelo presente estudo, observou-se que, através dos resultados encontrados, a maioria dos frequentadores das academias em ambas as zonas da cidade estão no grupo jovem entre as idades de 15 a 24 anos. No estudo realizado por Saba8no estado de São Paulo, verificou-se que a maioria dos clientes da academia era jovem com a faixa etária média de 25 anos.

    Em ambas as academias analisadas observa-se que a maioria dos homens busca a academia pela hipertrofia, seguidos da saúde e da qualidade de vida. Já no feminino praticam pela perda de peso, seguida da saúde e da qualidade de vida e do fortalecimento muscular. De acordo com Tahara; Schwartz; Silva¹², os motivos que levaram os sujeitos a aderir à prática de exercícios físicos em academias incidem sobre as questões estéticas, bem como na expectativa da melhoria da qualidade de vida.

    Quanto ao comportamento no exercício físico dos frequentadores, notou-se que, no modo em geral, os praticantes da ZN dão muito valor aos benefícios e às vantagens da musculação, gostam de sessões de musculação, além da satisfação e disposição ao fazerem seus exercícios, embora não considerem uma prática divertida. Em contrapartida, os da ZS gostam e estão satisfeitos quando realizam os exercícios; dão valor aos benefícios e às vantagens da musculação, ficam bem dispostos e satisfeitos, apesar de não considerarem uma prática divertida. Num estudo realizado na cidade de Juazeiro do Norte, CE, em 2008, Cedrão¹³ identificou os motivos pelos quais as pessoas procuravam a prática de atividades em academias, associando questão de saúde à qualidade de vida.

    Já, em outro estudo, o bem-estar pessoal é o principal motivo de permanência na prática de exercícios, tendo também como consequência a vivência de emoções positivas, a superação dos próprios limites provenientes de debilidade fisiológica e a avaliação dos efeitos positivos do exercício físico, apresentando altos índices de regulações motivacionais internas. Essa regulação, uma vez identificada, trata do comportamento de forma mais interna, em que o indivíduo considera importante e percebe o valor dos benefícios proporcionados pela atividade física.¹⁴

Considerações finais

    Com a realização da presente pesquisa, foi possível identificar que a população jovem é a que mais pratica musculação em duas academias de regiões opostas na cidade de Santa Cruz do Sul, com ênfase à busca pela saúde e pela qualidade de vida, seguida pela parte estética. Na análise do comportamento no exercício, nota-se que a busca pela atividade vem da própria vontade dos praticantes que encontram grande satisfação com a realização de exercícios de musculação.

    Apesar de as academias se situarem em duas regiões opostas da mesma cidade, não há uma diferença significativa entre o perfil geral do comportamento dos frequentadores, tanto na sua disposição para os exercícios físicos em geral quanto para a prática da musculação.

Referências

1. Kantikas MGL. Avaliação do uso nutricional de soro bovino pelos praticantes de musculação em academias da cidade de Curitiba-PR. [dissertação]. Curitiba: Universidade Federal do Paraná. p.12,13; 2007.

2. Saba F. Mexa-se: atividade física, saúde e bem-estar. 2.ed. São Paulo: Phorte, 2008.

3. Rufino VF, Soares LFS, Santos DL. Característica dos frequentadores de academia de ginásticas do Rio Grande do Sul. Kinesis 22, 57– 68, 1998.

4. Medeiros FG, Andrade RS, Oliveira TA, Araújo AT, Sousa MSC. Gestão empresarial em academias de ginástica: relação cliente e utilização dos serviços na cidade Campina Grande-Paraíba. Pesquisa em Educação Física 11(4), 01-12, 2012.

5. Estevão A, Bagrichevsky, C. Cultura da Corpolatria e Body-building: notas para reflexão. Campinas: Rev Mack de Edu Fís e Esp, 3,13-25, 2004.

6. Baudrillard J. A sociedade de consumo. Lisboa: Edições 70, 2003.

7. Zanette ET. Análise do perfil dos clientes de academias de ginástica: o primeiro passo para o planejamento estratégico, [Dissertação]. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 01-154 , 2003.

8. Saba F. Aderência: A prática de exercício físico em academias. São Paulo: Manole, 2001.

9. Balbinotti M. Inventário da motivação aplicada à atividade física. Porto Alegre: laboratório de psicologia do esporte da Universidade Federal do Rio Grande do Sul 2003.

10. Santos SC, Coelho JD, Sousa P. Motivos de adesão à prática de atividade física na vida adulta. Rev Mack de Edu Fís e Esp, 5(1), 23-34, 2000.

11. Markland D, Tobin VA. Modification to the Behavioural Regulation in Exercise Questionnaire to Include an Assessment of Amotivation. Journal of Sport e Exercise Psychology, 26 (1), 191-196, 2004.

12. Tahara AK, Schwartz GM, Silva KA. Aderência e manutenção da prática de exercícios em academias. Rev Bras. Ciên e Mov. 11(4), 7-12, 2003.

13. Cedrão TS. Os motivos pelos quais as pessoas praticam ginástica nas academias na cidade de Juazeiro do Norte, Ceará. Livro de Memórias do V Congresso Científico Norte-Nordeste: 5(1), 121-132, 2008.

14. Wilson PM. The Relationship Between Psychological Needs, Self Determined Motivation, Exercise Attitudes, and Physical Fitness. Journal of Applied Social Psychology, 33(11), 2373-2392, 2003.

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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 19 · N° 202 | Buenos Aires, Marzo de 2015 Lecturas: Educación Física y Deportes - ISSN 1514-3465 - © 1997-2015 Derechos reservados