efdeportes.com

A eficiência do treinamento funcional: 

uma revisão de literatura à cerca de seus aspectos

La eficiencia del entrenamiento funcional: una revisión de la literatura sobre sus aspectos

 

*Discente do Curso de Pós-Graduação em Treinamento Funcional, IBAESP. 

Professor de Educação Física do Instituto Federal do Amapá (IFAP), 

aluno do Programa de Pós Graduação em Educação Agrícola da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ)

**Professor de Educação Física do Instituto Federal do Amapá (IFAP), aluno do Programa

de Pós Graduação em Educação Agrícola da Universidade Federal Rural

do Rio de Janeiro (UFRRJ)

André Luiz Zanella*

Clodoaldo Duarte Aguiar**

zanellasc@hotmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Esta pesquisa de revisão bibliográfica teve origem na necessidade em verificar o treinamento funcional, como método eficiente de saúde e qualidade de vida. O objetivo do estudo foi o de demonstrar a eficiência do treinamento funcional na manutenção e no desenvolvimento da capacidade funcional do ser humano, independentemente da fase de vida em que este se encontre. Assim sendo, buscou-se abordar os princípios do treinamento funcional, sobre a individualidade biológica e a especificidade; o entendimento da metodologia e objetivos do treinamento funcional; e por fim, o método de treinamento funcional e sua eficiência na manutenção e desenvolvimento da capacidade funcional e condicionamento físico global do corpo humano. Concluiu-se que os exercícios do treinamento funcional, desde que bem planejados e orientados, de acordo com as necessidades específicas de cada indivíduo, desenvolvem as capacidades físicas necessárias e indispensáveis para uma eficiente atividade diária e esportiva.

          Unitermos: Treinamento funcional resistido. Capacidade funcional. Força.

 

Abstract

          This literature review of research originated in the need to verify functional training as an efficient method of health and quality of life. The aim of the study was to demonstrate the efficiency of functional training in the maintenance and development of the functional capacity of the human being, regardless of the stage of life in which it lies. Therefore, we sought to address the principles of functional training on the biological individuality and specificity; understanding the methodology and objectives of functional training; and finally, the method of training and its functional efficiency in maintenance and development of functional ability and overall physical condition of the human body. It was concluded that functional training exercises, if well planned and targeted, according to the specific needs of each individual, develop physical skills necessary and indispensable for efficient and everyday sports activity.

          Keywords: Resistance functional training. Functional capacity. Strength.

 

Recepção: 14/12/2014 - Aceitação: 06/02/2015

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 202, Marzo de 2015. http://www.efdeportes.com/

1 / 1

Introdução

    A saúde vem sendo debatida e posta em destaque cada vez mais em nosso dia-a-dia. Nunca se praticou tanta atividade física no mundo como se tem praticado hoje em dia. Como fator relacionado a saúde, relaciona-se diretamente com hábitos alimentares e principalmente a prática de exercícios físicos, a atividade funcional vem aparecendo como uma nova proposta para quem deseja sair das aulas monótonas da musculação ou das rotineiras aulas de ginástica ofertadas pelas academias (CAMPOS; NETO, 2004).

    Ainda segundo os autores citados anteriormente e com a tentativa de se buscar alternativas na área do treinamento resistido, onde muitas pessoas consideram a musculação, método convencional de treinamento contra resistência, um trabalho monótono, surge uma proposta de preparação neuromuscular, onde o corpo é visto como unidade. O treinamento “funcional” que possui uma abordagem dinâmica, motivante, desafiadora e complexa, treinando o corpo para um melhor desempenho nos movimentos necessários nas atividades cotidianas e esportivas.

    O treinamento funcional tem como objetivo melhorar a capacidade funcional, através de exercícios que estimulam os receptores proprioceptivos presentes no corpo, os quais proporcionam melhora no desenvolvimento da consciência sinestésica e do controle corporal; o equilíbrio muscular estático e dinâmico; diminuir a incidência de lesão e aumentar a eficiência dos movimentos.

    Dado o exposto, a presente pesquisa teve por objetivo realizar uma revisão bibliográfica identificando a eficiência do treinamento funcional na manutenção e desenvolvimento da capacidade funcional de acordo com a necessidade específica de cada indivíduo.

Material e métodos

    Este estudo é caracterizado por ser um estudo de revisão bibliográfica, que visa realizar uma avaliação à cerca da literatura existente na área do treinamento funcional. O trabalho busca uma maior reflexão e aprofundamento sobre o tema, justificando a importância do mesmo.

    Para realizar a pesquisa, os dados foram coletados através de bibliografias citadas em livros referentes ao tema, revistas cientificas e sites relacionados ao treinamento funcional. Assim foi feita a leitura e fichamento dos trabalhos com posterior análise do material, buscando-se convergências e divergências de autores.

Treinamento Funcional

    Com o passar dos anos e com a evolução do ser humano, pode-se afirmar que a funcionalidade esteve presente em todos os momentos de nossa vida. O homem sempre precisou desempenhar com eficiência as tarefas do dia-a-dia, garantindo assim a sobrevivência em situações muitas vezes adversas. Com a evolução tecnológica, a facilidade e o conforto para a realização de ações que antes eram essencialmente físicas tornaram o homem menos funcional (CAMPOS; NETO, 2004).

    A capacidade funcional declina com a idade a partir dos 30 anos e de acordo com o estilo de vida, faz com que diversas valências físicas sofram uma redução em seu potencial. Apesar de todas as capacidades fisiológicas declinarem em geral, nem todas ocorrem no mesmo ritmo (MCARDLE; KATCH; KATCH, 1998).

    Um estudo realizado por Raso (2002) com mulheres adultas acima de 47 anos, correlacionou a perda da funcionalidade nos gestos e movimentos corporais do dia-a-dia, com o aumento da adiposidade corporal total e as suas atribuições (central e periférica), explicando 30% da limitação na performance em testes de capacidade funcional. Segundo Campos e Neto (2004) a prática de exercícios que possam manter ou recuperar a capacidade funcional é fundamental para todo ser humano, independente da fase da vida em que este se encontra.

    Portanto um indivíduo deveria possuir total autonomia de movimentos e deveria possuir amplitude de movimento, mobilidade articular, força e resistência muscular, bem como a habilidade de coordenar o movimento, alinhar o corpo e reagir quando o peso ou parte do corpo se desloca em uma variedade de planos (D’ELIA; D’ELIA, 2005).

    D’Elia e D’Elia (2005) afirmam que o aparecimento do treinamento funcional se deu em função de três pontos fundamentais:

  • Maior volume de informação que o praticante de atividade física recebe hoje em dia, tornando-o mais exigente em relação ao treinamento que recebe e fazendo com que busque não só uma boa forma física e um ganho de saúde, mas também uma melhor performance nas atividades que desenvolve, sejam elas de lazer ou profissionais.

  • A mudança do padrão estético vigente, com o ideal de boa forma física representado pelos fisiculturistas sendo substituído pelo físico dos atletas de elite, que aliam boa forma física e performance.

  • A estagnação do modelo de atividade física que academias, clubes e escolas apresentam, incluindo-se aí a necessidade do profissional que atua nessa área de possuir mais ferramentas para garantir a retenção de seus alunos e assegurar melhores resultados para seus atletas.

    Atualmente o treinamento funcional representa uma nova forma de condicionamento, guiada pelas leis básicas do treinamento, sustentada cientificamente através de pesquisa e referências bibliográficas em todos os seus pontos principais e principalmente, testadas extensivamente nas salas de treinamento, onde foi possível determinar suas linhas básicas (D’ELIA; D’ELIA, 2005).

    De acordo com Campos e Neto (2004) a essência do treinamento funcional está baseada na melhoria dos aspectos neurológicos que afetam a capacidade funcional do corpo humano, através de exercícios que desafiam os diversos componentes do sistema nervoso e, por isso, estimulam sua adaptação.

Objetivos e metodologia do Treinamento Funcional

    Com o avanço de nossa investigação parece haver um consenso entre os autores consultados que o principal objetivo do treinamento funcional é o de resgatar a capacidade funcional do indivíduo. D’Elia e D’Elia (2005) concorda com tal afirmação e nos diz que independente de seu nível de condição física ou das atividades que o indivíduo desenvolva, utilização de exercícios que se relacionam com a atividade específica do indivíduo ou que transferem seus ganhos de forma efetiva para o seu cotidiano, o treinamento funcional possui a capacidade de resgatar ou melhorar a funcionalidade do indivíduo.

    O treinamento funcional torna a performance, fator até então restrito somente aos atletas, acessível a qualquer pessoa, condicionando de forma plena todas as suas capacidades físicas (força, velocidade, equilíbrio, coordenação, flexibilidade e resistência).

    Segundo D’Elia e D’Elia (2005) o treinamento funcional treina movimentos, e não somente músculos, através de movimentos multi-articulares e multiplanares e do envolvimento da propriocepção, criando sinergia entre segmentos corporais e entre qualidades físicas, possibilitando ao indivíduo produzir movimentos mais eficientes através de características inconfundíveis:

  • Transferência de treinamento: quanto maior a especificidade e a semelhança do treino com a atividade, maior será a transferência dos ganhos do treino para essa mesma atividade. Para que os exercícios de força tenham uma transferência efetiva para a atividade, a coordenação, amplitude, velocidade e tipo de contração do movimento devem ser similares à atividade.

  • Estabilização: o treinamento funcional usa quantidades controladas de instabilidade para que o indivíduo aprenda a reagir para recuperar a estabilidade. Com isso, o funcional consegue estimular o sistema proprioceptivo e a capacidade de reação. A instabilidade também recruta os músculos estabilizadores da coluna vertebral e os estabilizadores e neutralizadores do joelho, tornozelo e quadril, principalmente, os estabilizadores da coluna, também conhecidos como “core”.

  • Desenvolvimento dos padrões de movimentos primários: o cérebro não tem a capacidade de armazenar bilhões de movimentos diferentes. O que ele faz é guardar alguns movimentos-chave que possam ser facilmente acessados e modificados quando executamos movimentos com a mesma velocidade e amplitude. O treinamento funcional se baseia em sete movimentos considerados primários para a sobrevivência humana e para a performance esportiva, são eles: agachar, avançar, abaixar, puxar, empurrar, girar e levantar. O treinamento funcional tem nesses movimentos sua matéria-prima, buscando adaptá-los à especificidade da atividade-alvo.

  • Desenvolvimento dos fundamentos de movimentos básicos: existem quatro tipos principais de movimentos básicos: habilidades locomotoras (que movem o corpo de um lugar para o outro: andar, correr, pular), habilidades não-locomotoras ou de estabilidade (que envolvem pouco ou nenhum movimento da base de apoio: virar-se, torcer, balançar, equilibrar-se), habilidades de manipulação (que focam o controle de objetos usando basicamente as mãos e os pés; podem ser propulsores, como arremessar e chutar, ou receptivos, como agarrar) e consciência de movimento (que percebe e responde às informações sensoriais necessárias para executar uma tarefa). Qualquer movimento complexo executado nos esportes ou nas atividades diárias é uma combinação desses movimentos básicos.

  • Desenvolvimento da consciência corporal: é o conhecimento que o indivíduo possui das partes do próprio corpo e da capacidade de movimento dessas partes. O treinamento funcional desenvolve vários aspectos da consciência corporal.

  • Desenvolvimento das habilidades biomotoras fundamentais: o desenvolvimento da força, do equilíbrio, da resistência, da coordenação, da flexibilidade e da velocidade é imprescindível. Uma habilidade raramente domina um exercício; na maioria das vezes, o movimento é produto da combinação de duas ou mais habilidades. O treinamento funcional desenvolve as habilidades de acordo com o grau de participação de cada uma delas no esporte ou atividade específica e de acordo com a fase de treinamento.

  • Aprimoramento da postura: fator determinante no equilíbrio e na qualidade de movimento, o treinamento funcional exercita tanto a postura estática (posição em que o movimento começa e termina) quanto à postura dinâmica (capacidade do corpo de manter o eixo de rotação durante todo o movimento).

  • Uso de atividades com os pés no chão: uma das características mais importantes do treinamento funcional é o uso de exercícios que começam com os pés ou as mãos aplicando força contra o chão (movimentos de cadeia cinética fechada). Esses exercícios são mais parecidos com os movimentos que executamos nos esportes e nas atividades diárias, possibilitando a aplicação de uma força maior do que nos exercícios de cadeia aberta, trabalhando todo o sistema neuromuscular e a habilidade do corpo de estabilizar as articulações ao longo do movimento.

  • Exercícios multi-articulares: o treinamento funcional trabalha com exercícios multi-articulares, desenvolvendo tanto a capacidade de estabilização quanto a coordenação intramuscular necessária para que haja eficiência nos movimentos e transferência dos ganhos para as atividades específicas.

  • Exercícios multiplanares: os esportes e atividades diárias envolvem movimentos das articulações nos três planos: sagital, coronal/frontal, transversal. Ao utilizar exercícios com os pés no chão e movimentos multi-articulares, o treinamento funcional trabalha o corpo nos três planos.

  • Desenvolvimento da sinergia muscular: a sinergia ocorre quando vários músculos trabalham juntos para conseguir uma ação coordenada das articulações. Somente os exercícios que envolvem todo o corpo na sua execução trabalham a sinergia muscular; uma vez que eles requerem alguns músculos para controlar o movimento ao mesmo tempo em que outros exercem a força.

Conclusão

    Com tudo o que foi exposto anteriormente, pode-se concluir que o treinamento funcional é um método eficiente para melhorar a manutenção e a evolução das qualidades físicas bem como as atividades da vida diária, contribuindo para o desenvolvimento da força, da resistência muscular e cardiovascular, da flexibilidade, da coordenação motora, da lateralidade, do equilíbrio e do aperfeiçoamento no controle motor, de acordo com a funcionalidade de cada indivíduo, enfatizando exercícios que trabalhem o corpo como um todo.

    O treinamento funcional envolve o trabalho do corpo humano em sua totalidade, uma vez que exige de todas as capacidades físicas uma relação direta na manutenção e controle da força, equilíbrio, coordenação, flexibilidade, agilidade, resistência e tudo o que engloba atividades da vida diária.

    Por oferecer uma enorme variação de aplicação de seus exercícios, o treinamento funcional, exige de seu praticante um melhor controle motor, ocasionando o desenvolvimento das principais capacidades físicas, e de uma maneira geral, indicado a todo tipo de população, respeitando-se apenas os limites de cada um.

    Para que se alcance resultados positivos, é indicado que se prescreva tal atividade baseando-se nos princípios e métodos do treinamento desportivo uma vez que a melhora das capacidades físicas com o treinamento funcional conforme nosso estudo se torna evidente.

Referências bibliográficas

  • ARAGAO, J. C. B.; DANTAS, E. H. M.; DANTAS, B. H. A. Efeitos da resistência muscular localizada visando a autonomia funcional e a qualidade de vida do idoso. Revista Fitness & Performance. v.1, n.3, 2002.

  • CAMPOS, M. A.; NETO, B. C. Treinamento funcional resistido: para melhoria da capacidade funcional e reabilitação de lesões musculoesqueléticas. Rio de Janeiro: Revinter, 2004.

  • CARVALHO, J.; BORGES, G. A. Exercícios de alongamento e as suas implicações no treinamento de força. Caderno de Educação Física, Estudos e Reflexões. v.3, n.2, p.67-78, 2001.

  • DANTAS, E. H. M. A prática da preparação física. 5ª ed. Rio de Janeiro: Shape, 2003.

  • DANTAS, E. H. M.; SOARES, J. S. Flexibilidade aplicada ao personal training. Revista Fitness & Performance. v.1, n.0, 2002.

  • D’ELIA, R.; D’ELIA, L. Treinamento funcional: 6º treinamento de professores e instrutores. São Paulo: SESC - Serviço Social do Comércio, 2005. Apostila.

  • FARIA, J. C. et al. Importância do treinamento de força na reabilitação da função muscular, equilíbrio e mobilidade de idosos. Revista Acta Fisiátrica. 10(3): 133-137, 2003.

  • GOULART, F. et al. O movimento de passar de sentado para de pé em idoso: implicações para o treinamento funcional. Revista Acta Fisiátrica. São Paulo, v.10, n.3, p.138-143, dezembro, 2003.

  • MANIDI, M. J.; MICHEL, J. P. Atividade física para adultos com mais de 55 anos. 1ª ed. São Paulo: Manole, 2001.

  • McARDLE, W.; KATCH, F.; KATCH, V. Fisiologia do exercício: energia, nutrição e desempenho humano. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1998.

  • NETO, F. R.; PARCA, R. Correlação das valências físicas força, flexibilidade e equilíbrio com o teste de atividade de vida diária levantar-se do solo. Disponível em: www.jvianna.com.br/jefe/artv2n4_05.pdf. Acesso em: 04/11/2014.

  • PACHER, L. A. G.; FISCHER, J. Lateralidade e Educação Física. Revista Leonardo Pós – Órgão de Divulgação Científica e Cultural do ICPG. v.1, n.3, p.53, ago/dez, 2003.

  • RAMOS, C. R. S. Perspectivas dos métodos e sistemas do treinamento de força. Disponível em: http://www.efartigos.atspace.org/fitness/artigo42.html. Acesso em: 03/11/2014.

  • RASO, V. A adiposidade corporal e a idade prejudicam a capacidade funcional para realizar as atividades da vida diária de mulheres acima de 47 anos. Revista Brasileira de Medicina do Esporte. v.8, n.6, p.225-233, nov/dez, 2002.

Outros artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/
Búsqueda personalizada

EFDeportes.com, Revista Digital · Año 19 · N° 202 | Buenos Aires, Marzo de 2015
Lecturas: Educación Física y Deportes - ISSN 1514-3465 - © 1997-2015 Derechos reservados