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Atividade física na gestação: uma revisão integrativa da literatura

La actividad física en el embarazo: una revisión integradora de la literatura

Physical activity in pregnancy: an integrative literature review

 

*Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde da Universidade Cruzeiro do Sul

**Programa de Pós-graduação em Ciências Farmacêuticas da UFPI

Laboratório de Anatomia. Campus CSHNB-UFPI

***Acadêmica de medicina da Faculdade de Ciências Médicas da Paraíba

(Brasil)

Verônica Macêdo de Souza Nóbrega*

Inêz Cristina Remígio Leite*

Renata de Oliveira Guaré*

Katia Laureano dos Santos*

Larissa Nathália Macêdo de Souza Nóbrega*

Gilberto Santos Cerqueira**

Rosemari Otton***

giufarmacia@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O objetivo do presente artigo foi realizar uma revisão integrativa sobre a influência da atividade física na gestação. Foi realizada uma revisão integrativa da literatura, que teve como questão norteadora: “Como se caracterizam as publicações online que discorrem sobre a atividade física na gestação, indexadas nas bases de dados Lilacs e SciELO, publicadas de 2007 a 2012, em Português, Inglês e Espanhol?” Utilizaram-se os termos “atividade física” e “gestação” e suas respectivas traduções. Resultados: a amostra compreendeu 12 artigos que foram analisados através da técnica de análise de conteúdo, modalidade temática; as seguintes categorias emergiram: I- A prática de atividades físicas durante o período gestacional (sete estudos); e II- Atividades físicas e sua influência no parto e na saúde fetal (cinco estudos). Conclusão: Os estudos sobre gestação e atividade física ainda são incipientes, cabendo aos profissionais de saúde o desenvolvimento de novas pesquisas visando um aprofundamento nesta temática.

          Unitermos: Atividade Física. Gestação. Revisão.

 

Abstract

          Aim: to characterize online journals about physical activity during pregnancy published from 2007 to 2012, in Lilacs and SciELO databases. Method: integrative review of literature which had as leading question: How are characterized the online publications concerning physical activity in pregnancy, that are indexed in Lilacs and SciELO, from 2007 to 2012, in Portuguese, English and Spanish? Results: the sample was comprised of 12 articles that were analyzed through thematic analysis technique; the following thematic cathegories emerged: I- Physical activities during pregnancy (seven studies); and II- Physical activities and its influence on the delivery and fetal health (five studies). Conclusion: Studies on pregnancy and physical activity are still incipient, behooving the health professionals to develop new research aiming at deepening the theme.

          Keywords: Physical activity. Pregnancy. Review.

 

Recepção: 14/06/2014 - Aceitação: 12/09/2014.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 199, Diciembre de 2014. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    As atividades físicas são consideradas como essenciais para a manutenção de uma vida saudável, pois oferecem melhorias na saúde e nas condições físicas de seus praticantes, além de reduzir os níveis de ansiedade, estresse, fortalecer a função imunológica, promover o ganho físico e flexibilidade, incrementar a capacidade cardiorrespiratória, dentre outras vantagens.

    A inatividade física na gestação é um problema de saúde pública, pois bia parte da população brasileira não pratica atividade física regularmente. No passado, a maioria das mulheres grávidas foram aconselhadas a ficar em casa e evitar esforços físicos a fim de não a arriscar a sua saúde e a vida do feto. Esta percepção da gravidez e atividade física mudou um pouco nos últimos anos, com a maioria das mulheres ativas durante este período. (DOMINGUES; BARROS, 2007).

    Nos países desenvolvidos, nota-se maior número de estudos relacionados à prática regular de atividade física (exercício). Já nos países em desenvolvimento, o menor envolvimento das mulheres com a prática de exercícios direciona a atenção às atividades domésticas e ocupacionais, cujas demandas físicas e psicológicas são específicas de cada país ou região (TAKITO et al., 2009)

    A prática de atividade física vem sendo incentivada por vários organismos internacionais e pelo Ministério da Saúde para promoção da saúde buscando-se e melhoria da qualidade de vida da população, desde que praticadas com o acompanhamento de profissionais (TAKITO et al., 2009). Esta percepção da gravidez e da atividade física mudou nos últimos anos, com cada vez mais mulheres buscando permanecer ativas na gravidez (DOMINGUES; BARROS, 2007).

    Para as mulheres, nas diferentes fases de suas vidas, o exercício físico tem relevância singular devido aos efeitos favoráveis a nível psicológico, biológico e social. Independentemente da idade, a realização de tais exercícios traz benefícios múltiplos ao organismo feminino, principalmente quando aliados a uma nutrição equilibrada e saudável, tais exercício devem ser de preferência aeróbios.

    Durante a gestação, as atividades físicas devem ter continuidade, especialmente quando a mulher tem enfermidades concomitantes à gravidez, desde que se respeitando as contra-indicações obstétricas (WEINERT et al., 2011).

    De maneira geral, as atividades mais indicadas para a gestante, com intensidades de leve a moderada, são: atividades aeróbicas como atividades aquáticas (hidroginástica e natação), caminhada, ciclismo estacionário, exercícios de resistência muscular, yoga e alongamentos (MAN et al., 2009).

    As gestantes que não possuem contra indicação devem ser orientadas a realizar programas de atividade física, por pelo menos 30 minutos diários, divididas em três sessões de dez minutos, em cicloergômetro ou caminhadas, em 50% da capacidade aeróbica da paciente, de preferência após as principais refeições (WEINERT et al., 2011).

    Diante do exposto, considerando-se a importância da atividade física na promoção de uma vida saudável às gestantes, buscou-se realizar uma revisão sobre a atividade física na gestação em nível populacional.

Metodologia

    Trata-se de um estudo de revisão integrativa da literatura, a qual permite a compreensão de fatos com base em estudos anteriores, reunindo-se dados de diferentes modalidades de pesquisas, promovendo a disseminação e aprofundamento de determinado fenômeno.

    Para a construção desta revisão integrativa, seis etapa foram rigorosamente seguidas (MENDES et al., 2008), sendo demonstradas na figura abaixo.

Figura 1. Etapas da revisão integrativa da literatura

    Este trabalho norteou-se na seguinte questão: Como se caracterizam as publicações em ambiente online que discorrem sobre a atividade física na gestação, que estejam indexados nas bases de dados Lilacs e SciELO, publicadas de 2007 a 2012, nas línguas Português, Inglês e Espanhol.

    A identificação dos estudos foi realizada por meio das bases de dados Lilacs e SciELO, utilizando-se os seguintes termos indexados no DeCS (Descritores em Ciências da Saúde), juntamente com o operador booleano “AND”: atividade física AND gestação, physical activity AND pregnancy, actividad física AND embarazo.

    Para a seleção das publicações desejadas, foram utilizados os seguintes critérios de inclusão: artigos originais disponíveis na íntegra, nos idiomas Português, Inglês e Espanhol, publicados durante o período de 2007 a 2012, que contemplassem a temática proposta. Seriam considerados excluídos aqueles estudos que não atendessem aos critérios de inclusão e os estudos presentes nas duas bases de dados.

    Após um primeiro refinamento mediante os critérios acima, na base de dados SciELO, foram encontrados vinte e um estudos e apenas três na base Lilacs, totalizando vinte e quatro. Procedeu-se à leitura dos resumos de tais artigos a fim de buscar os que mais responderam ao nosso objetivo proposto. Posteriormente, chegou-se ao número de doze trabalhos a serem lidos na íntegra e analisados mais profundamente, que compuseram a amostra a ser estudada.

    Após leitura exaustiva dos artigos, seguiu-se a construção de uma tabela resgatando dados importantes como: nome do artigo; autores; periódico/ano; metodologia e resultados referentes a cada estudo. Por meio deste instrumento foi possível categorizar os trabalhos, momento no qual emergiram as seguintes categorias: I- A prática de atividades físicas durante o período gestacional; e II- Atividades físicas e sua influência no parto e na saúde fetal.

    Seguiu-se então a análise dos conteúdos encontrados, utilizando-se a técnica de análise temática (MINAYO, 2006) que consiste em descobrir os núcleos de sentido que compõem uma comunicação cuja presença ou freqüência tenham significado para o objetivo analítico visado.

Resultados e discussões

    Os doze estudos selecionados como amostra desta pesquisa foram rigorosamente selecionados e atenderam aos critérios mencionados acima. Como forma de visualizar as principais informações obtidas, organizamos os resultados na tabela abaixo.

Tabela 1. Artigos selecionados para compor a amostra

Nome do artigo

Autor (es)

Periódico/

Ano

Metodologia

Resultados

Actividade física e qualidade de vida na gravidez.

 

Tendais I, Figueiredo B, Mota J.

Análise Psicológica

2007

Estudo longitudinal com 59 grávidas;

 

Com a gravidez, não se verificaram alterações no tempo médio em diferentes tipos de atividade física, mas a atividade física no lazer registrou uma diminuição significativa no 1.º trimestre face ao período anterior à concepção. No 2.º trimestre, o nível de limitação é significativamente maior nas dimensões físicas, à exceção da Dor Corporal, e nos resultados sumários dos Componentes Físicos e Mental. As mulheres que no 1.º trimestre atingem os níveis recomendados de atividade física no lazer (≥150 minutos por semana) apresentam melhor estado de saúde geral e estados de humor mais positivos do que as menos ativas.

 

 

Aplicação de programa educativo multidisciplinar em gestações de alto risco devido a doenças endócrinas.

Feitosa ACR et al.

Rev. Bras. Ginecol. Obstet.

2010

Estudo retrospectivo em 185 gestantes com doenças endócrinas.

A principal patologia de encaminhamento foi o diabetes. Após a intervenção multidisciplinar, o percentual de gestantes que excedeu o ganho de peso semanal recomendado reduziu em todas as categorias de IMC pré-gestacional (IMCPG), embora diferença estatisticamente significativa tenha sido encontrada apenas no grupo com IMCPG normal. A macrossomia foi mais frequente nas mulheres com sobrepeso e obesidade pré-gestacional. Cesariana foi a via mais frequente de parto, independentemente do IMCPG.

 

Associação entre o padrão de atividade física materna, ganho ponderal gestacional e peso ao nascer em uma coorte de 118 gestantes no município de Campina Grande, Nordeste do Brasil.

Tavares JS et al.

Rev. Assoc. Med. Bras.

2009

Estudo de coorte abrangendo 118 gestantes.

Observou-se uma redução importante do nível de atividade física com a evolução da gestação, com 98,3% das gestantes sendo consideradas sedentárias na 24ª semana e 100% na 32ª semana. No segundo e no terceiro trimestres, aproximadamente 45% das gestantes ganharam peso excessivo. A distribuição do peso ao nascer mostrou um predomínio do peso adequado e uma alta prevalência de macrossomia.

Atividade física durante a gestação e associação com indicadores de saúde materno-infantil.

Dumith SC et al.

Rev. Saúde Pública

2012

Estudo transversal realizado com 2.557 nascimentos.

Relataram ter praticado atividade física durante a gestação 32,8% das mães. Os fatores associados à prática de atividade física na gestação foram: idade materna (associação inversa), escolaridade (associação direta), ser primigesta, ter feito pré-natal, e ter recebido orientação para a prática de exercícios durante o pré-natal. Mulheres que praticaram atividade física durante a gestação mostraram menor probabilidade de realização de cesariana e de terem filho natimorto. Não houve associação entre atividade física e parto prematuro, hospitalização e baixo peso ao nascer.

 

Exercício físico durante a gestação e sua influência no tipo de parto.

Silveira LC, Segre CAM.

Einstein (São Paulo)

2012

Estudo prospectivo envolvendo 66 gestantes.

O grupo que praticou exercício regular teve maior número de partos vaginais, com diferença estatística significativa avaliada pelo teste do χ2. As gestantes com melhor nível de escolaridade apresentaram maior adesão ao programa de exercícios, com diferença estatisticamente significante.

 

Fatores associados ao histórico de prática de atividade física em gestantes.

Sampaio FP et al.

Rev. Ci. med. biol.

2008

Estudo exploratório do tipo corte transversal, composto por 164 grávidas.

 

Os resultados demonstraram uma precariedade no acesso aos serviços básicos de saúde, renda e escolaridade baixas, e a falta de prática de atividade física regular antes e durante a gestação.

La condición materna y el ejercicio en la gestación favorecen el bienestar del hijo y el parto.

 

Leal DPS, Rodríguez LM.

Avances en Enfermería

2008

 

Pesquisa qualitativa, de tipo etnográfico com 8 informantes.

O estudo revelou que o exercício físico é uma forma de se preparar para o parto; as mulheres gestantes têm diversas práticas e crenças sobre o exercício físico pré-natal, influenciadas pelo contexto cultural, além de atribuírem significado próprio ao exercício.

 

Leisure-time physical activity during pregnancy in the 2004 Pelotas Birth Cohort Study.

Domingues MR, Barros AJD.

Rev. Saúde Pública

2007

Estudo de base populacional, com 4.471 mães.

 

 

Antes da gravidez, 14,8% das mulheres relataram algum tipo de atividade física de lazer e durante, 12,9%. No primeiro trimestre, 10,4% de todas as mães fizeram alguma atividade física de lazer; no segundo, 8,5% e no terceiro, 6,5%. Apenas 194 mães (4,3%) foram ativas durante toda a gestação. Na análise ajustada, atividade física de lazer esteve positivamente associada com escolaridade, aconselhamento para atividade física durante o pré-natal e renda familiar, com estar empregada durante a gestação e o número de gestações. A caminhada foi a atividade mais freqüente.

 

 

Padrão de atividade física entre gestantes atendidas pela estratégia saúde da família de Campina Grande-PB.

Tavares JS et al.

Rev. bras. epidemiol.

2009

Foi acompanhada uma coorte observacional de gestantes (n=118).

As características socioeconômicas indicaram majoritariamente gestantes de baixo poder aquisitivo, baixa escolaridade e baixo percentual de mulheres economicamente ativas. O padrão de atividade física observado foi baixo desde o 1º trimestre gestacional, oscilando entre o leve e o sedentário, e foi diminuindo com o evoluir da gravidez, com 100% das gestantes alcançando o padrão sedentário na 32ª semana. Em relação aos grupos de atividades, observou-se um predomínio de atividades domésticas, seguidas pelas atividades de lazer.

 

Physical activity during pregnancy and fetal outcomes: a case-control study.

Takito MY, Benicio MHA.

Rev. Saúde Pública

2010

Estudo de caso-controle realizado com 273 recém-nascidos de baixo peso e 546 controles.

Foi identificado como fator de proteção para baixo peso ao nascer a realização de atividades leves por mais de sete horas diárias. A realização de atividades domésticas associou-se como fator protetor tanto contra o baixo peso ao nascer quanto à prematuridade. Foi detectado efeito de proteção contra prematuridade para a caminhada no lazer.

Prevalência de lombalgias e inatividade física: o impacto dos fatores psicossociais em gestantes atendidas pela Estratégia de Saúde da Família.

 

Rodrigues WFG, Silva LR, Nascimento MAL, Pernambuco CS, Giani TS, Dantas EHM.

Einstein

2011

Estudo quantitativo descritivo com amostra composta por 66 gestantes.

 

A prevalência da dor lombar foi de 75%, observando-se que os fatores psicossociais estão relacionados com a presença da dor. Das mulheres com dor lombar, 42,8% referiram ansiedade e 38,7% apresentaram cansaço físico no final do dia. Observou-se ainda um percentual maior de dor (53%) nas mulheres que não praticavam atividades físicas antes da gravidez.

Physical activity, health-related quality of life and depression during pregnancy.

Tendais I et al.

Cad. Saúde Pública

2011

Estudo quantitativo longitudinal com 56 grávidas saudáveis.

A prevalência de atividade física recomendada foi de 39,3%, 12,5% e 14,3% antes, no primeiro e no segundo trimestres de gravidez, respectivamente. Independentemente do estatuto de atividade física, a maior parte dos escores nas dimensões físicas da QVRS diminui do primeiro para o segundo trimestre de gestação, e apenas o componente mental aumenta. Não se verificaram alterações nos escores médios de depressão.

    Como pode ser observado na tabela 1, o periódico com maior incidência de publicações foi a Revista de Saúde Pública, com três estudos (25%). Os demais periódicos publicaram apenas um estudo, o que corresponde a 8,3% cada. Com relação ao ano de publicação, cada um obteve dois artigos (16,7%), o que demonstra que esta temática está sempre em voga com o passar do tempo. Em termos de idioma, o Português obteve o quantitativo de oito artigos (66,7%), três estudos (25%) encontravam-se em Inglês e apenas um (8,3%) foi publicado em Espanhol.

    A partir das características dos artigos, foi possível agrupá-los nas seguintes categorias temáticas: I- A prática de atividades físicas durante o período gestacional; e II- Atividades físicas e sua influência no parto e na saúde fetal. Os artigos que foram incluídos em cada categoria podem ser visualizados na tabela 2 abaixo.

Tabela 2

    A gravidez constitui um período do ciclo de vida em que ocorrem grandes mudanças que ultrapassam largamente a componente física e abrangem a dimensão psicológica, social e cultural (TENDAIS et al., 2007). Apesar disso, a prática de atividades físicas não deve ser deixada de lado, uma vez que mantém a saúde física, mental e espiritual da mulher.

    Ao contrário de outros períodos, nem todos os tipos de atividades realizadas durante a gravidez estão associadas a benefícios na saúde. Embora não existam evidências de danos às mães e aos fetos, devem ser levadas em consideração a intensidade e a época da gravidez em que a atividade é feita, o histórico prévio de exercícios e a disponibilidade de oxigênio da mãe (TENDASIS et al., 2011), além de possíveis complicações obstétricas e doenças paralelas à gestação.

    Os benefícios adquiridos por meio da prática de atividade física, antes e durante a gestação são vários e atingem diferentes áreas do organismo materno. No aspecto psicológico, as grávidas ativas apresentam estados de humor mais positivos, menor sintomatologia depressiva e ansiosa, menor stress relacionado com a gestação, maior auto-estima e maior satisfação com a imagem corporal do que as inativas (TENDAIS et a., 2007; RODRIGUES et al., 2011).

    No aspecto biológico, dois estudos abordaram como os exercícios físicos podem ajudar na prevenção e/ou melhora de sintomas e doenças relacionadas à gravidez. O primeiro estudo (RODRIGUES et al., 2011), trouxe a atividade física com um aliado contra a lombalgia, um dos principais sintomas da gravidez. Em tal estudo, observou-se que as gestantes não praticantes de atividade física antes da gravidez tive­ram um percentual muito alto de dor lombar (53%), prejudicando a qualidade de vida dessas mulheres.

    DOMINGUES e BARROS (2007) observaram uma redução da atividade física ao longo do período gestacional. Em uma das pesquisas (TAVARES et al., 2009), quase 100% das gestantes foram consideradas sedentárias na 24ª semana de gestação, e na 32ª semana, todas as gestantes atingiram este patamar. Outro trabalho (DOMINGUES; BARROS, 2007) corroborou, afirmando que tal fenômeno se deve a questões biológicas, uma vez que as mães têm seus movimentos cada vez mais dificultados com o aumento do peso corporal.

    O papel do profissional de saúde também foi explorado nos estudos que compõem esta categoria. Estes trabalham na adoção de um estilo de vida mais saudável durante a gravidez ao encorajar gestantes e futuras mães a praticarem atividades físicas de forma planejada, acompanhada e sistematizada no sentido de promover uma gestação saudável e evitar complicações (TAVARES et al., 2009; TENDASIS et al., 2011), além de serem provedores de abordagens multidisciplinares educativas que facilitam a absorção e a aprendizagem do conhecimento em saúde (FEITOSA et al., 2010).

    Um artigo (SAMPAIO et al., 2008) menciona que há uma necessidade de informação quanto à importância da prática de atividade física durante a gestação e de meios (programas e políticas de saúde pública) que destaquem a relevância dessa prática orientada como forma de atenção à saúde. Outro trabalho (TAVARES et al., 2009), afirma que, apesar de existirem programas que estimulem a atividade física, estes são voltados à população exposta a fatores de risco para doenças crônicas, havendo assim uma carência de programas com ênfase nas gestantes.

    Uma pesquisa inicialmente diferencia atividade física de exercício físico, o qual se caracteriza como uma atividade física planejada, estruturada e realizada de forma sistemática, com o objetivo de manter a aptidão física (TAVARES et al. 2009). Neste estudo, estes autores mencionam que o efeito da atividade física sobre o crescimento fetal e o peso ao nascer tem gerado controvérsias. Não foi encontrada associação estatisticamente significante entre a atividade física e o peso ao nascer. Concluiu-se que a falta de associação entre a atividade física e o peso ao nascer pode ter se devido à elevada frequência de sedentarismo entre as gestantes.

    Um estudo identificou um efeito protetor da atividade física diária sobre o desfecho fetal. Caminhadas como lazer (passeios ou para exercitar-se) demonstraram um efeito protetor contra o nascimento pré-termo e peso baixo ao nascer com uma redução de 50% ou mais do risco para mulheres que caminharam menos de 20 minutos por dia e redução de dois terços para as que caminhavam 20 minutos ou mais (TAKITO, BENICIO, 2010). Esse possível efeito protetor deve-se principalmente ao fato de a mulher ativa apresentar menos probabilidade de ter ser acometida como hipertensão e diabetes gestacional, além de apresentar um ganho de peso mais apropriado ao longo dos nove meses de gestação (MATIJASEVICH, DOMINGUES, 2010).

    Com relação às implicações do exercício físico para o parto, três estudos trouxeram vantagens para a mãe e para o bebê. Em um deles, as prevalências de parto cesáreo e de natimorto foram menores para as mulheres que faziam exercício na gestação, achados que importam para a saúde pública, repercutindo nos indicadores sociais (DUMITH et al, 2012). Uma pesquisa (SILVEIRA; SEGRE, 2010) demonstrou que, na amostra estudada, ocorreu um maior número de partos vaginais nas primíparas que realizarão exercícios em relação as que permaneceram sedentárias.

    Alguns autores (LEAL, RODRÍGUEZ, 2010) referem que o exercício influi nas condições de nascimento do bebê, pois faz com que ele, por meio dos movimentos da mãe, aumente os próprios movimentos e modifique sua posição dentro do ventre. Além disso, as participantes do estudo consideraram que ao realizarem exercícios durante a gestação, estariam controlando sua capacidade respiratória, sendo, portanto, o nascimento mais rápido, sem produzir sofrimento à mulher e ao filho. Além disso, as atividades físicas promovem uma melhora da circulação sanguínea materna, favorecendo a entrada de oxigênio para o bebê, que também terá sua função respiratória melhorada.

Considerações finais

    Esta revisão integrativa da literatura buscou abordar a importância da atividade física na gestação, tanto para o feto quanto para a mãe. Os estudos analisados são ricos em evidências e podem ser considerados como fontes de conhecimentos para os profissionais que queiram se aprofundar na temática.

    Percebeu-se, no entanto, que a maioria das pesquisas carece de metodologias mais rígidas, desfechos mais confirmatórios e pesquisas complementares, que sejam desenvolvidas de forma a agregar evidências à prática.

    Espera-se que este trabalho estimule o interesse de mais pesquisadores na tentativa de ampliarmos o corpo de estudos sobre esta temática tão relevante para a saúde, e preencher as lacunas do conhecimento que ainda impossibilitam uma melhor prestação de cuidados às gestantes.

Referências

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  • DUMITH SC et al. Atividade física durante a gestação e associação com indicadores de saúde materno-infantil. Rev. Saúde Pública. 2012, 46(2), 2012.

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  • SAMPAIO FP et al. Fatores associados ao histórico de prática de atividade física em gestantes. Rev. Ciênc. méd. Biol. 7(1):23-31, 2008.

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  • TENDAIS, Iva; FIGUEIREDO, Bárbara; MOTA, Jorge. Actividade física e qualidade de vida na gravidez. Aná. Psicológica,  Lisboa,  v. 25,  n. 3,   2007.

  • TENDAIS I. et al. Physical activity, health-related quality of life and depression during pregnancy. Cad. Saúde Pública., 27(2), 2011.

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