Introdução
No decorrer dos anos, o futebol atingiu uma grande evolução, com isso, a
necessidade de estudos a respeito desta modalidade se tornou crescente e
natural, principalmente devido ao alto nível de performance exigido pelas
equipes. Desta maneira, os fundamentos científicos pouco a pouco vêm
substituindo o mito e a subjetividade de muitas pessoas que consideram a sorte e
o azar como os únicos determinantes para os resultados finais dos jogos (CUNHA;
BINOTTO; BARROS, 2001).
Através da evolução do futebol como esporte de rendimento, a busca de
resultados positivos se tornou uma obrigação e uma forma de negócio altamente
rentáveis das equipes e empresas patrocinadoras. Para se alcançar estes
resultados a preparação tática ganhou novos desdobramentos, numa área de
crescente interesse para os treinadores e jogadores, pois o futebol hoje jogado
exige dos atletas uma enorme variedade de funções dentro de uma partida, daí
a razão da diversidade de sistemas táticos existentes atualmente. Entretanto
é preciso investigar quando, como e o porquê da efetividade destes sistemas.
Manno (1991) afirma que a capacidade tática é o poder que o atleta tem de
utilizar suas habilidades físicas e mentais, motoras e táticas em condições
de competição para resolver os papeis individuais e coletivos da equipe. A
função do treinador é preparar os seus atletas tanto fisicamente quanto
taticamente, pois a união do raciocínio tático com o físico será
determinante para o cumprimento das ações durante o jogo, como posicionamentos
e deslocamentos.
Para a escolha de um sistema tático a ser implantando deve-se levar em
consideração variáveis como condicionamento físico dos atletas, qualidade
técnica e caráter psicológico dos atletas.
Para Costa et al. (2005), os sistemas táticos atuais possuem características
mais equilibradas na formação e distribuição dos jogadores em campo,
passando a se preocuparem mais com o setor defensivo, contrariando assim o
antigo objetivo de somente atacar, vindo a coletivizar o jogo de forma flexível
de acordo com as necessidades que a partida exige.
Nos dias de hoje, os sistemas mais utilizados no mundo são: 1-4-4-2, 1-4-3-3 e
1-3-5-2. Deve-se levar em consideração que estes sistemas modernos são
escolhidos devido à necessidade de cada treinador em relação ao seu elenco e
seu adversário, pois o encaixe dos sistemas táticos deve ser feito sempre com
o pensamento estratégico no seu material humano e nas falhas e virtudes do
concorrente (DRUBSCKY, 2003).
Levando em consideração alguns estudos relacionados com a importância e a
eficiência dos sistemas táticos utilizados em jogos de futebol e o resultado
final dessas partidas, Costa et al. (2005) afirmam que os sistemas táticos
correspondem um importante fator para se conquistar uma vitória. Outros autores
como Viana e Rigueira (1981 apud COSTA et al., 2005) corroboram com tal
afirmativa e acrescentam, ainda, que a tática no futebol é considerado um dos
fatores mais amplos e ricos para se alcançar índices positivos de forma
objetiva.
Contudo, o presente estudo possui grande relevância na área do futebol, pois o
assunto possui escassez no universo científico e através desta pesquisa será
possível compreender os elementos chave dentro de uma disputa. Os esportes
coletivos estão envolvidos em uma enorme complexidade de inúmeras variáveis,
mas que são passíveis de serem simplificadas no sentido de melhor
compreendê-las. Desta forma, pretende-se buscar informações a respeito da
efetividade dos jogos de equipes profissionais, relacionando-as com a melhor
escolha de um sistema tático na busca de um resultado positivo (vitória).
Portanto, o objetivo deste trabalho é verificar a relação entre os sistemas
táticos utilizados em partidas de futebol e o resultado final de equipes
profissionais.
Materiais
e métodos
A presente pesquisa caracteriza-se como um estudo descritivo, transversal,
baseado na observação direta, com abordagem quantitativa (THOMAS; NELSON,
2002).
A pesquisa foi realizada em ambiente domiciliar do próprio autor no qual foram
observadas equipes de futebol profissional que disputavam o campeonato
brasileiro da série A e B. Os jogos foram selecionados de forma aleatória,
totalizando 15 partidas, sendo 10 jogos da série A e 5 partidas da série B. As
equipes analisadas foram constituídas por 8 equipes visitantes e 7 equipes
mandantes.
Os dados foram coletados nos meses de Outubro e Novembro de 2012, através de
jogos gravados por um programa de TV por assinatura, no qual foram realizadas as
devidas anotações e observações em um scouting avaliativo de acontecimentos
nas partidas, através da observação direta.
O scouting avaliativo é composto pelos elementos de identificação e
observação, sendo para o primeiro composto pelos seguintes quesitos: jogo,
equipe observada, local, horário, data, placar final, equipe visitante e equipe
mandante. Para os elementos de observação das partidas foram analisados o
sistema tático inicial, variação do sistema tático e causas da variação do
sistema (desvantagem numérica, desvantagem no placar, busca pelo placar
positivo, lesão de atleta, condições climáticas, características da equipe
adversária e características de um jogador adversário).
A verificação dos desenhos táticos observados no início das partidas foi
feita através da própria transmissão televisiva, pois tanto era mostrado o
esquema tático desenhado das distribuições dos jogadores em campo, como
também na maioria dos jogos os treinadores eram entrevistados e comentavam
sobre os sistemas táticos iniciais. Em relação às variações dos sistemas
durante as partidas, através da observação de substituições ou mudança de
posição de jogadores no campo, era possível perceber as mudanças de sistemas
táticos que os treinadores realizavam de acordo com o decorrer do jogo.
Para a análise de dados utilizou-se o pacote Office, através do Microsoft
Excel 2010, para a estatística descritiva (moda), freqüência absoluta e
relativa, no qual os dados foram registrados através de tabelas e figura.
Resultados
e discussão
Na Tabela 1, é possível observar a freqüência absoluta e relativa dos
sistemas táticos utilizados no inicio dos jogos analisados, no qual os sistemas
táticos mais prevalentes foram o sistema 4x4x2, com 46,67%, e o sistema 4x3x3
com 26,67%. A moda desta variável é o sistema 4x4x2, no qual sete equipes
utilizaram esta formação tática no início da partida. Fato este que condiz
com os resultados do estudo de Costa et al (2005), onde puderam concluir também
que o sistema tático mais utilizado no inicio das partidas em jogos de futebol
profissional é o 4x4x2.
Através destes dados notou-se que houve uma prevalência por sistemas táticos
ofensivos, pois os dois mais utilizados possuem esta característica, indo de
encontro com algumas respostas de outros estudos como o de Rocha (2010 apud
LEÃES et al 2011) e o de Leães, Xavier e Souza (2011), que também constataram
que a forma organizacional de sistemas táticos de maior preferencia dos
treinadores, são de cunho ofensivos como o 4x4x2 e 4x3x3.
O sistema tático 1-4-4-2 é o mais utilizado em todo o Brasil, ele possui uma
estrutura bastante defensiva, composta por quatro defensores, sendo dois
centrais e dois laterais. Esta forma de jogo possui historicamente resultados
bastante positivos para o Brasil, como na copa do mundo de 1994, nos Estados
Unidos, conquistada pelo treinador Carlos Alberto Parreira, um dos maiores
apreciadores deste sistema (GOMES, 2006).
Neste sistema são priorizadas as jogadas pelas extremas, construídas pelos
laterais, pois estes possuem a cobertura dos homens de meio campo. Na copa do
mundo de 2006 na Alemanha, o Brasil utilizou este esquema com quatro zagueiros,
quatro meias (dois volantes com preocupações defensivas e dois meias
ofensivos) e dois atacantes, mas infelizmente nesta copa o Brasil foi eliminado
pela forte seleção da França (GOMES, 2006).
No entanto, os treinadores das equipes de futebol profissional possuem sempre
uma preferência por determinado sistema tático, porém todos são conscientes
que precisam ser flexíveis em determinados momentos, variando sua forma tática
de se postar em campo, para poder alcançar objetivos dentro da partida. De
acordo com Drubscky (2003), toda equipe deve estar treinada para entrar em campo
com pelo menos dois ou três desenhos táticos diferentes, para atender todas as
exigências do jogo.
Conforme Costa et al (2005), em seu estudo pôde concluir que todos os
treinadores avaliados estão sujeitos à mudança de sistema tático no decorrer
do jogo, seja diante de uma vitória ou de uma derrota. Mostrando no mesmo
estudo a preocupação que os treinadores possuem em variar sua forma de jogo
dentro de uma mesma partida.
Levando em consideração esta preferência por forma de jogo ofensivo, Ferreira
Paoli e Costa (2008 apud LEÃES et al 2011) enfatizam que quando as equipes em
confronto possuem condições de equilíbrio em relação a parte técnica e o
físico, o elemento tático se torna o diferencial na decisão da disputa, a
partir daí quando se joga de maneira defensiva, atrai-se o adversário para o
seu campo aumentando a possiblilidade de sofrer a derrota.
No que diz respeito a variação dos sistema táticos durante a partida,
presentes na Tabela 2, 33,3% das equipes avaliadas utilizaram a formação
4x3x3, ou seja, boa parte das equipes analisadas iniciaram a partida com um
sistema tático específico e alteraram a disposição dos jogadores em campo.
Por este motivo, o sistema 4x3x3 é a moda desta variável. Para análise destes
dados, utilizou-se as equipes (n=12) na qual variaram o seu sistema tático
durante a partida, as outras três equipes permaneceram com o seu sitema tático
durante todo o jogo e não entraram nesta estatística.
O sistema 1-4-3-3 é constituído por quatro zagueiros, sendo dois centrais e
dois laterais, três meio campistas, sofrendo variações no número de volantes
e três atacantes, sendo considerado um dos sistemas mais ofensivo da atualidade
(DRUBSKY, 2003).
De acordo com o estudo de Brito (2009), o sistema tático mais seguro de se
jogar é o 4x4x2, sendo este o mais eficiente e que melhor atendeu as
exigências e necessidades do jogo. Tais resultados do estudo de Brito (2009)
corroboram com os achados desta pesquisa.
Na Figura 1, nota-se que dentre os 15 jogos analisados, 60% deles tiveram
efetividade na variação do sistema tático utilizado, resultando em respostas
satisfatórias nos resultados finais das partidas, e apenas 40% das variações
dos sistemas não surtiram efeitos positivos no resultado final dos jogos.
Levando em consideração alguns estudos relacionados com a importância e a
eficiência dos sistemas táticos utilizados em jogos de futebol e o resultado
final dessas partidas, Costa et al. (2005) afirmam que os sistemas táticos
correspondem um importante fator para se conquistar uma vitória. Outros autores
como Viana e Rigueira (1981 apud COSTA et al., 2005) corroboram com tal
afirmativa e acrescentam, ainda, que a tática no futebol é considerado um dos
fatores mais amplos e ricos para se alcançar índices positivos de forma
objetiva.
Na Tabela 3, verifica-se que dentre as várias causas que levaram as mudanças
dos sistemas táticos durante as partidas analisadas, a desvantagem no placar
com 28,57% e a busca pelo placar positivo com 23,81%, foram os motivos mais
pertinentes nos jogos analisados.
A partir desta análise, observou-se que a variação do sistema tático 4x3x3,
que foi o mais prevalente entre os sistemas, teve relação direta com a causa
mais prevalente das mudanças dos sistemas táticos, pois o 4x3x3 se caracteriza
por ser um sistema ofensivo, sendo justificado pela busca de um placar positivo
em virtude da desvantagem no placar.
De acordo com Gomes e Souza (2008), o modelo tático escolhido pelo treinador
sofre freqüentemente modificações devido à necessidade de improvisação,
pois analisando jogos dos últimos campeonatos nacionais e internacionais
revelou-se que as equipes variam seus sistemas táticos a cada jogo em função
das várias situações apresentadas na partida e do sistema tático utilizado
pelo adversário.
Conclusão
Podemos concluir que diante de vários fatores determinantes no futebol, a
tática é sem dúvida um dos mais importantes quando relacionamos ao resultado
final da partida, pois foi possível comprovar tanto neste estudo quanto em
outros que a sua variação dentro de um mesmo jogo tem poder de influenciar
positivamente em seu final.
Além de comprovar tal importância aos sistemas táticos, concluímos também
que os sistemas de cunho ofensivo são os mais utilizados no futebol brasileiro,
tanto para se iniciar uma partida, quanto para se modificar propostas durante os
jogos, buscando de forma positiva suas variações.
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