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O conhecimento da equipe de enfermagem sobre o 

processo de rastreabilidade dos instrumentais na cirurgia segura

El conocimiento del personal de enfermería sobre el proceso de trazabilidad de los instrumentales en cirugía segura

 

*Mestre em Ciências da Saúde pela Universidade Estadual de São Paulo, Unifesp. Professora-orientadora

do Departamento de enfermagem da Universidade Estadual de Montes Claros, Unimontes

**Enfermeira. Graduada pela Universidade Estadual de Montes Claros, Unimontes. Profissional da equipe

de enfermagem do Bloco Cirúrgico do Hospital Santa Casa de Montes Claros

***Enfermeiro. Graduado pela Universidade Estadual de Montes Claros, Unimontes

****Mestrando em Ciências da Saúde pela Universidade Estadual de Montes Claros, Unimontes

Professor designado do Departamento de enfermagem da Unimontes

Silvânia Paiva dos Santos*

Soraya Leomarx Cordeiro**

Luís Paulo Souza e Souza***

Henrique Andrade Barbosa****

henriqueabarbosa@ig.com.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          A rastreabilidade é a capacidade de traçar o histórico, a aplicação ou a localização de um item por meio de informações previamente registradas. É uma forma de gerenciamento no serviço de saúde que deve possuir protocolos e procedimentos padronizados, atualizados, registrados e acessíveis que permitem um monitoramento desde a aquisição até o uso e o descarte. O gerenciamento de riscos, administração ou gestão de riscos e um processo implantado nas organizações, no caso, na saúde; de forma sistêmica e sistemática com a finalidade de detectar precocemente situações que podem gerar conseqüências negativas a saúde das pessoas, à organização e ao meio ambiente. Este estudo objetivou identificar a percepção da equipe de enfermagem de uma instituição hospitalar quanto à importância da rastreabilidade dos instrumentais na cirurgia segura. É uma pesquisa quantitativa com abordagem descritiva, realizada no período de Setembro e Outubro de 2011. O instrumento de coleta de dados utilizado foi um questionário semi-estruturado elaborado pela própria pesquisadora, aplicados aos 40 sujeitos participantes. Os softwares Microsoft Excel e Microsoft Word, ambos na versão 2003, subsidiaram a análise dos dados coletados e a construção dos gráficos. Os resultados evidenciaram que a população estudada tem uma percepção satisfatória quanto à relevância do processo de se trabalhar com métodos seguros para o paciente e equipe envolvida na assistência a saúde, mas ainda há dúvidas e dificuldades no processo por parte dos profissionais que o executam; sendo necessário ações voltadas para a sensibilização da educação continuada no processo da rastreabilidade dos instrumentais.

          Unitermos: Rastreabilidade. Instrumental cirúrgico. Equipe de enfermagem. Cirurgia segura.

 

Abstract

          Traceability is the ability to trace the history, application or location of an item by means of previously recorded information. It is a form of management in the health service that should have protocols and standardized procedures, updated, recorded and accessible to allow monitoring from acquisition to use and disposal. Risk management, administration or risk management and a process implemented in organizations, in this case, in health, in a systemic and systematic in order to early detect situations that can have negative consequences to health, the organization and through environment. This study aimed to identify the perception of the nursing staff of a hospital on the importance of traceability of instruments on safe surgery. It is a descriptive quantitative research approach, conducted between September and October 2011. The data collection instrument used was a semi-structured questionnaire developed by the researcher, applied 40 participating subjects. The software Microsoft Excel and Microsoft Word, both the 2003 version, supported the analysis of data collected and the graphs. The results showed that the population has a satisfactory perception of the relevance of the process of working with safe methods for the patient and staff involved in health care, but there are still doubts and difficulties in the process by the professionals who perform, being necessary actions to raise awareness of continuing education in the process of traceability of instruments.

          Keywords: Traceability. Surgical instruments. Nursing team. Safe surgery.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 188, Enero de 2014. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    De acordo com a RDC/ANVISA n. 02/10, rastreabilidade é uma forma de gerenciamento no serviço de saúde que deve possuir protocolos e procedimentos padronizados, atualizados, registrados e acessíveis, permitindo um monitoramento dos instrumentos desde a aquisição até o uso e o descarte. Para o Ministério da Saúde (MS) a rastreabilidade é a capacidade de traçar o histórico, a aplicação ou a localização de um item por meio de informações previamente registradas, com o objetivo fazer levantamento de instrumentais utilizados no centro cirúrgico e construir banco de dados para embasar discussões e condutas futuras.

    O sistema de rastreabilidade possibilita um controle de todas as etapas do processamento dos instrumentais cirúrgicos, fornecendo dados fundamentais para análise, controle de risco, segurança, confiabilidade ao consumidor e é considerada uma prática eficaz no controle dos instrumentais. (RDC ANVISA Nº 08/2009 Art. 10).

    De acordo com ANVISA (art.10), os centros cirúrgicos são considerados setores com intervenções de alta complexidade, onde os pacientes estão expostos a riscos, principalmente em cirurgias de cavidades abdominais e procedimentos de emergência, no qual os instrumentais cirúrgicos tornam-se um fator de risco ao paciente e equipe envolvida. Apesar de o procedimento cirúrgico ter o objetivo de salvar vidas,a falha neste processo pode causar danos consideráveis ao paciente, gerando impacto, significativamente, para a saúde publica (OMS, 2010).

    A retenção intra-abdominal de corpo estranho, tanto instrumental cirúrgico quanto compressa ou gazes após uma operação é uma situação que acarreta conseqüências danosas a recuperação do paciente e que pode evoluir para o êxito letal. Alguns procedimentos cirúrgicos aumentam significativamente o risco de retenção de corpo estranho, como as cirurgias de emergência, mudanças inesperadas e não planejadas da conduta cirúrgica e os pacientes obesos. Outras condições como: hemorragias intensas, aderências, lesões viscerais e/ou vasculares traumáticas e múltiplas; plano anestésico lábil (com a movimentação indesejável do paciente); e principalmente o controle deficiente dos materiais durante a cirurgia (OMS, 2010).

    Uma em cada 25 pessoas submetida a uma cirurgia por ano, num total de 240 milhões de intervenções cirúrgicas no mundo, cinco milhões evoluem ao óbito e sete milhões apresentam algum tipo de complicação relacionada ao ato cirúrgico (OMS, 2008). Cuidados simples como a checagem das informações clínicas da pessoa e do local da cirurgia, a qualificação e a experiência do cirurgião, bem como os equipamentos disponíveis podem fazer a diferença entre o sucesso de uma cirurgia e o início de uma série de complicações para o paciente (OMS, 2008). No Brasil, apesar de não existir dados estatísticos sobre eventos adversos causados aos pacientes, dados do SUS (Sistema Único de Saúde) em 2006 revelam que ocorreram três eventos por dia em cada hospital brasileiro, sendo que a cada seis pacientes submetidos a qualquer ato cirúrgico, um sofre algum tipo de complicação (BRASIL, 2008).

    A ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) trabalha em parceria com o Ministério da Saúde de Brasil e a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) para implantar rotinas que aumentam a segurança dos procedimentos. Em 2008, lançaram a campanha “Cirurgias Seguras Salvam Vidas”, prevendo a distribuição de protocolos de procedimentos corretos e boas práticas, antes, durante e depois da cirurgia. Os protocolos foram desenvolvidos pela OMS a partir de um estudo sobre as cirurgias, suas complicações e os custos da rede hospitalar (OMS, 2008).

    O programa é baseado num conjunto de orientações para a segurança em cirurgias e numa lista de verificação de segurança cirúrgica com normas aplicáveis para qualquer país ou realidade de saúde. Esta lista de controle (check list) lançada pela OMS permite reduzir em mais de um terço o risco de mortes e complicações cirúrgicas e é aplicada em três etapas críticas: antes da indução anestesia, antes da incisão cutânea e antes do doente deixar a sala de cirurgia. Estas etapas não envolvem apenas o cirurgião, mas a equipe de profissionais de saúde trabalhando em benefício do paciente (OMS, 2008).

    De acordo com Klück (2002), os profissionais de enfermagem desempenham um papel importante na fase pré, trans e pós-operatória, sendo fundamental na transmissão de confiança e segurança ao paciente. Nessa perspectiva, a prática de enfermagem exige que os profissionais estejam mais preparados, quanto ao conhecimento técnico-teórico, interação de todas as etapas do processo cirúrgico que impactam na segurança do paciente, bem como realizar um cuidado humanizado.

    O objetivo desse estudo foi de analisar o conhecimento da equipe de enfermagem quanto à importância da rastreabilidade dos instrumentais na cirurgia segura.

Metodologia

    Trata-se de uma pesquisa quantitativa de caráter descritivo que foi realizada no período de setembro a outubro de 2011, no setor Bloco Cirúrgico do Hospital Irmandade Nossa Senhora das Mercês - Santa Casa de Montes Claros, sendo um hospital classificado como alta complexidade na assistência cirúrgica, pois é referência em grandes cirurgias como: transplante hepático, cirurgia cardíaca, neurocirurgia e no grande trauma. O universo da pesquisa foi composto por toda a equipe de enfermagem do Bloco Cirúrgico: Enfermeiro, acadêmico de enfermagem, técnico em enfermagem e auxiliar de enfermagem, totalizando 40 participantes que atenderam aos seguintes critérios de inclusão: aceitar participar da pesquisa, não estar de licença ou férias e trabalhar no hospital no período do estudo. O percentual de profissionais na categoria da enfermagem por estratificação que participaram da pesquisa foi: 5% da população estudada eram enfermeiros, 12,5% acadêmicos de enfermagem, 60% auxiliares de enfermagem e 22,5% técnicos de enfermagem.

    A coleta de dados foi realizada por meio de um questionário estruturado que permitiu a obtenção de informações diretamente do entrevistado. Previamente a coleta de dados, aplicou-se o pré-teste com a finalidade de validar o questionário, verificando a clareza das perguntas. Participaram do pré-teste três profissionais do mesmo setor em que foi realizada a pesquisa de campo, sendo um auxiliar, um técnico e um enfermeiro. Os dados dos questionários do pré-teste foram contemplados no resultado da pesquisa.

    Após a coleta, os dados foram lançados no programa software Statistical Package for Social Sciences (SPSS 18.0), que viabiliza a construção de tabelas e gráficos.

    Para garantir os aspectos éticos, o projeto desse estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Unimontes com parecer n°. 2795/11. A coleta de dados foi realizada respeitando os preceitos da Resolução 196/1996 do Conselho Nacional de Saúde.

Resultados e discussão

    Os resultados deste estudo são acerca do conhecimento da equipe de enfermagem sobre a importância do processo de rastreabilidade dos instrumentais cirúrgicos na cirurgia segura.

Figura 1. Conhecimento dos profissionais de enfermagem sobre rastreabilidade no processo cirúrgico

    Os dados demonstram que 100% dos profissionais que participaram do estudo já tinham ouvido falar do processo de rastreabilidade, porém 12,5% relataram não ter o domínio de todas as etapas e 87,5% informaram que tinham o conhecimento na íntegra de todas as etapas do processo.

    A atuação do profissional de enfermagem na assistência perioperatória, até a década de 1960, era direcionada, predominantemente para a área instrumental, atendimento às solicitações da equipe médica e às ações básicas do ato anestésico-cirúrgico. Com o avanço da tecnologia e a implementação da Sistematização da Assistência de Enfermagem no perioperatório, o cuidado de enfermagem se tronou um processo individualizado, planejado, avaliado e contínuo abrangendo as etapas de pré, intra e pós-operatório do cliente (GALVÃO, 2002).

Figura 2. Conhecimento do processso versus categoria profissional

    Ao avaliar o conhecimento do processo em relação a categoria profissional, toda a população estudada tem conhecimento do processo, enquanto um acadêmico de enfermagem e quatro auxiliares de enfermagem admitem conhecer parcialmente o processo.

    Para Carvalho (2007), a assistência de enfermagem em Centro Cirúrgico tem passado por um impacto da tecnologia avançada que tem sido marcante em virtude da necessidade de maior especialização do conhecimento do grupo profissional, bem como de novas e maiores aptidões e experiências, formando equipes complexas de especialistas altamente qualificados. O acadêmico encontra-se em fase de formação e o auxiliar de Enfermagem necessita complementar a sua formação para atuar em unidades consideradas críticas, como Bloco Cirúrgico.

Figura 3. Visão dos profissionais de enfermagem quanto ao impacto da rastreabilidade na segurança do paciente

    Observa-se que 100% da população estudada têm censo comum do impacto da rastreabilidade na segurança ao paciente cirúrgico.

    A rastreabilidade é de grande relevância na segurança do paciente e de grande interesse para a saúde pública, visto que toda e qualquer intervenção cirúrgica apresenta um risco inerente, sendo assim, é de suma importância o conhecimento técnico-científico para que se proporcione uma assistência adequada ao paciente cirúrgico; assistência esta que só poderá ser atingida com a participação efetiva de todos os profissionais envolvidos no processo do cuidar (GERARDINI, 2006). Lefevre (2005) corrobora afirmando que para prevenir as complicações cirúrgicas, o enfermeiro deve mediar ações a ser implementadas no processo do cuidado, definido uma forma sistemática e dinâmica de prestar a assistência, para direcionar a equipe técnica de enfermagem a desenvolver um cuidado seguro e humanizado.

Figura 4. Etapas do processo de rastreabilidade consideradas mais difíceis durante

o período de implantação pela equipe de enfermagem

    A etapa de maior dificuldade corresponde ao conhecimento sobre o método, totalizando 12,5% seguida pela etapa do conhecimento mais o chek list. A rotina pré e pós-cirúrgica apresentaram o mesmo percentual no índice de dificuldade e 70% da equipe não tiveram nenhuma dificuldade.

    Deve-se lembrar de que as ações de enfermagem são voltadas para o cuidado e, tem por objetivo contribuir para a recuperação e manutenção da saúde. Ferreira (2006), afirma que o Centro Cirúrgico é uma área física do hospital com equipamento e material de consumo adequado à execução do processo cirúrgico, sendo que a sua finalidade é fornecer subsídios que propiciem o desenrolar do processo do ato terapêutico da cirurgia, oferecendo condições para que a equipe médica e de enfermagem possam planejar as necessidades dos pacientes, antes, durante e após a cirurgia.

    A capacitação da equipe em todos os processos no Centro Cirúrgico é fundamental na qualidade da assistência, vale lembrar que a falha em qualquer etapa no processo de rastreabilidade pode colocar em risco a segurança do paciente e equipe envolvida.

Conclusão

    O presente estudo investigou o conhecimento dos profissionais de enfermagem quanto à importância da rastreabilidade dos instrumentais na cirurgia segura. Dentre os achados, observa-se que a equipe tem uma percepção satisfatória quanto à relevância do processo, bem como o de trabalhar com métodos seguros para o paciente e equipe envolvida na assistência a saúde. Vale ressaltar que os avanços tecnológicos e científicos na área da saúde têm propiciado aumento significativo no número de intervenções cirúrgicas, muitas vezes, realizadas em condições inseguras interferindo na promoção e na recuperação da saúde dos clientes. A qualidade, o cuidado e a segurança dos clientes assumem, portanto, papel de relevância, sendo reconhecido o Centro Cirúrgico como uma unidade de alta complexidade e faz-se necessário que a equipe atuante favoreça um atendimento tranquilo e com o máximo de segurança ao paciente.

    Nesse contexto, as discussões sobre a segurança dos clientes têm-se ampliado consideravelmente no meio científico e assistencial, visto que, a ocorrência de eventos adversos vem acentuando e se tornando um grave problema de saúde pública. Ao avaliar o conhecimento prévio das atividades voltadas para o processo de rastreabilidade, 100% dos profissionais entrevistados admitiram terem sido informados sobre as atividades do processo de rastreabilidade, porém 12,5% relataram não possuir o domínio na íntegra do processo de rastreabilidade.Para a efetivação da implantação de um novo processo em um serviço é de grande valia uma educação continuada e o acompanhamento da eficácia do treinamento, pois uma falha no processo coloca em risco a vida do paciente.

    As etapas de maiores dificuldades encontrados pela equipe de enfermagem foram: o conhecimento dos métodos da rastreabilidade e o preenchimento do formulário da cirurgia segura o (check list), apesar de ser uma rotina executada diariamente e em 100% das intervenções cirúrgicas, ainda há dúvidas na sua execução.

    Diante do contexto, verificou-se a necessidade de ações voltadas para a sensibilização da educação continuada na rotina da rastreabilidade dos instrumentais, visto que a instituição trabalha com o método de rastreabilidade cuja intenção é garantir um ambiente seguro e estimular ações que reduzam riscos para os pacientes e profissionais; mas ainda existe dúvida e dificuldade no processo por parte dos profissionais que o executam. Vale lembrar que a deficiência no conhecimento coloca em risco todo o processo de segurança.

Referências

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