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Ética no ambiente escolar: estudos, críticas
e propostas de conscientização moral

La ética en el entorno escolar: estudios, críticas y propuestas de concientización moral

 

*Especialista em Psicopedagogia pelo Centro Universitário Adventista São Paulo

** Professora Titular na Faculdade Adventista de Hortolândia

***Coordenadora do Curso de Especialização em Psicopedagogia do UNASP-SP

****Professora na Faculdade Adventista de Hortolândia e nas Faculdades Network

(Brasil)

Edina dos Santos Matos*

Helena Brandão Viana**

Evodite Gonçalves Amorim Carvalho***

Magda Jaciara Andrade de Barros***

hbviana2@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Este trabalho coloca-se diante da necessidade que temos de compreender o papel da instituição escolar no desenvolvimento da moralidade e de conceitos éticos, uma vez que na escola não se adquire somente conhecimentos, aprende-se ainda uma série de valores e normas comportamentais. Para tanto, faremos uso de referencial teórico pertinente ao tema abordado. Acreditamos que, cabe à escola como agente de transformação social, chamar atenção de seus alunos para este assunto, desde a mais tenra idade, a fim de promover a conscientização sobre a importância do respeito e valorização das diferenças, sejam quais forem, bem como a formação de cidadãos politizados. Valores adquiridos pelo indivíduo são determinantes no comportamento do mesmo, ou seja, ajudam a orientar a ação individual no meio cultural, influenciando a forma de perceber e significar as experiências que se vive. E a escola enquanto moduladora de comportamento deve oportunizar aos alunos a apreensão das normas de conduta, o que tornaria mais fácil a apropriação por parte dos mesmos. Por fim, fundamentam-se algumas propostas psicopedagógicas com o intuito de favorecer a apreensão de regras de convivência em sala de aula e, que estas possam ser difundidas no âmbito social.

          Unitermos: Escola. Infância. Valores. Ética.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 186, Noviembre de 2013. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Educadores de todas as esferas da educação enfrentam o grande desafio para lidar com a indisciplina no contexto escolar, tanto em escolas públicas quanto nas particulares. A temática é ampla e requer o engajamento de todos para o desenvolvimento de ações que possibilitem minimizar ou sanar o problema.

    A vida em sociedade pressupõe a criação de regras e valores que norteie as relações sociais, bem como favoreça o diálogo, a cooperação e a multiplicação dos valores apreendidos, que serão compartilhados por um mesmo grupo social. A escola por sua vez, necessita de normas e regras como parâmetros que facilitem a convivência entre grupos heterogêneos. Sob essa ótica as regras deixam de ser vistas como prescrições aniquiladoras, mas sim como necessárias para o bom convívio social.

    Quando estabelecidas regras de convivências comuns para um mesmo grupo, seu descumprimento configura a indisciplina.

    Em virtude dos fatos acima mencionados, acreditamos que seja fundamental que a ética permeie as atitudes sociais, sejam elas onde estiverem inseridas: na escola, em casa, na igreja, no mercado ou em qualquer outro ambiente.

    Hoje, a falta de ética na sociedade é um dos grandes entraves para que as relações profissionais e pessoais fluam dentro de uma perspectiva “civilizada” e aceitável, por este motivo, sugerimos com este trabalho, a inclusão da ética no dia -a- dia da escola, a fim de conscientizar as crianças, desde tenra idade, que todo indivíduo tem plena liberdade de decisão e de ação, desde que estas não interfiram nos direitos de outras pessoas. Acreditamos que assim, a mentalidade social possa ser mudada de forma a garantir, em um futuro próximo, uma sociedade formada por cidadãos letrados e pautada por um verdadeiro código de ética.

A importância do estudo da ética no ambiente escolar

    Trabalhar a ética é adentrar na discussão e indagar: o que são, de onde vêm e o que valem os costumes?

    A ética é a parte da filosofia que discute os sistemas pessoais e culturais de valores. Ela se preocupa em encontrar um fim legítimo para as motivações e atitudes humanas, procurando discernir noções de certo e errado, bom e mau. Ela é a investigação geral sobre aquilo que é bom, e tem por objetivo facilitar a realização das pessoas. Que o ser humano chegue a realiza-se a si mesmo como tal, isto é, como pessoa.

    Chauí (2002), em seu livro “Convite à Filosofia” salienta que toda cultura e cada sociedade institui uma moral, isto é, valores concernentes ao bem e ao mal, ao permitido e ao proibido.

    Ainda segundo Chauí (2002), a ética nasce da compreensão do caráter de cada pessoa, ou seja, do senso da consciência moral próprio de cada indivíduo. Porém, faz coro com Sócrates ao defender que nosso sentimento, nossa conduta, nossas ações e nossos comportamentos são modulados pelas condições que vivemos (família, classe e grupo social, escola etc.), ou seja, afirma que somos formados pelos costumes de nossa sociedade, que nos educa para respeitarmos e reproduzirmos valores propostos por ela como bons, logo, como obrigações e deveres.

    Para os PCNs a ética permeia as relações humanas, orientando como devemos agir para com os outros, favorecendo os valores de igualdade. E, sobretudo que está presente em todas as relações estabelecidas no âmbito escolar.

    Ainda segundo os PCNs, a ética nos propicia reflexões sobre a conduta humana, ao nos questionarmos como devemos nos portar ou agir perante o outro, a amplitude da pergunta, resulta em uma resposta complexa, porém com tomada de decisão valorativa.

    La Taille (2006), salienta que princípios éticas não estão inseridos no DNA dos indivíduos, todavia, as relações sociais são determinantes para a formação ética e moral destes.

    Davis (1994) chama atenção para o papel da escola enquanto moduladora de comportamento e destaca a importância de se oportunizar aos alunos a apreensão de normas de condutas. Defende que ao criá-las em parceria coma instituição, o aluno apropria-se do ocorrido e internaliza com maior eficácia a necessidade de regras de conduta.

    Segundo os PCNs, a escola deve favorecer o desenvolvimento de trabalhos voltados para a formação do cidadão, com o intuito de que seja desenvolvida a autonomia pautada em valores morais, e estes por sua vez levem à reflexão ética.

    Davis (1994) diz também que valores adquiridos pelo indivíduo, são determinantes no comportamento do mesmo, ou seja, ajudam a orientar a ação individual no meio cultural, influenciando a forma de perceber e significar as experiências que vive.

    Busquetes et al. (1999) em “Base para uma formação integral”, alerta a escola quanto a utopia em que esta se insere quando alega estar protegida contra toda espécie de discriminação alardeando que não discrimina nem tampouco abarca discriminação. Ele chama atenção para o fato de a escola sentir-se protegida por uma espécie de muro de arrimo, cujo objetivo é não deixar penetrar as dificuldades que reinam no exterior. A verdade, segundo ela, é que a escola está recheada de situações constrangedoras que cabe a ela solucionar.

    Para Chauí (2002), o campo de valores e obrigações morais parte da consciência do agente moral, ou seja, é sujeito ético ou moral somente aquele que sabe o que faz, conhece as causas e os fins de sua ação, o significado de suas intenções e de suas atitudes e a essência dos valores morais; daí o importante papel da escola em instigar o aluno a pensar e repensar suas ações sociais cotidianas.

    Davis (1994) ressalta que o professor deve reconhecer que, desde muito pequenos, os alunos, seguem algumas regras, explorando algumas e inventando e reinventando outras, construindo com isso noções de certo e errado. O importante é que o professor perceba que, nem sempre o sistema que rege a conduta infantil coincide com o desejável, por este motivo, deve o educador ajudar o aluno a elaborar seus sistemas de valores, combiná-los com outros, refletirem sobre sua própria conduta e, a partir dessa reflexão, criar novos parâmetros para suas novas regras de convivência. Agindo dessa forma, o professor trabalha mecanismos de autocontrole e comportamento, além de estimular a cognição e a afetividade.

    Busquetes et al. (1999), vai além e diz que a escola precisa capacitar os alunos para interpretar adequadamente as mudanças de modelos culturais, como hábitos e pautas de condutas, em seu ambiente. Deve, a escola, promover uma educação de igualdade em que toda representação social integre a pluralidade de saberes sem que se estabeleçam hierarquias.

    Pereira (2006) afirma que a criança desenvolve sua autonomia moral gradativamente e é necessário um ambiente democrático que favoreça as trocas sociais, com liberdade de expressão, de pensamentos e desejos, assim como para as tomadas de decisões e aquisição de pequenas responsabilidades.

    Segundo La Taille (2006), a criança segue o modelo ético das pessoas com as quais convive, percebendo contradições de fala e atitudes. Mas é por volta dos 9 anos de idade que ela terá autonomia, e passará a usar critérios racionais, preferindo fontes prestigiosas como pais e irmãos para decidir o que é certo e errado.

    Os PCNs ressaltam que a principal questão do campo da ética, é promover a justiça, fundamentada em valores de igualdade e equidade. E que na escola o tema ética é essencial, pois permeia todos os tipos de relações existentes dentro da instituição escolar.

    La Taille (2004) salienta que crianças necessitam seguir regras e estas por sua vez, incutem valores e formas de conduta, e que apenas pais e professores podem transmiti-las.

    Pereira diz que a autonomia moral se dá por meio do desenvolvimento de relações cooperativas, fundamentadas pelo respeito mútuo.

    DeVries e Zan (2007) afirmam que no âmbito escolar as regras são criadas por educadores e perpassadas às crianças, mas, que alguns professores já optam por permitir que as crianças participem ativamente do desenvolvimento das regras que serão adotadas, pois trás benefícios para elas.

    Para que a apreensão de regras de valores ocorram de forma significativa é essencial que as crianças acreditem nas mesmas e não apenas as sigam por meio de imposições dos adultos, pois somente assim elas irão se apropriar destas, que passarão a nortear as relações em todos os âmbitos.

    Segundo os PCNs, a escola é responsável pela formação de cidadãos politizados, conhecedores de seus direitos e deveres, seja no âmbito social, político ou civil, pois apenas assim teremos relações permeadas pelo pensamento coletivo, com o desenvolvimento de atitudes de solidariedade e contrárias às injustiças.

    Ao trabalharmos nossa temática em sala de aula estamos ampliando esse conhecimento para além dos muros da escola.

    Teberosky e Gallart (2004), em “Contexto de alfabetização”, afirmam que a criança interage nas aulas e fora dela e efetiva a aprendizagem indiferente do contexto cultural em que ela está inserida, de forma que a apropriação dos conteúdos ministrados em sala se estenderá para o seio familiar, grupos de amigos e tantos ambientes que frequente a criança.

    Para Devries e Zan (2007), ressaltam que o ambiente sócio – moral da sala de aula é fundamentado implicitamente pelo currículo, ainda que os professores não se atentem a tal situação. Ao orientar as crianças a respeito do que devem ou não fazer, estas por sua vez, apenas se baseiam sobre o que é bom e mau, certo e errado.

    Ao longo do processo de aquisição da conduta social, a criança interage com o meio externo e gera normas de ação que marcarão o início da conscientização e do comportamento moral maduro.

    Para os PCNs, ao adquirir valores éticos o indivíduo torna-se responsável, e em distintas situações fará uso do diálogo para a solução de conflitos, e as tomadas de decisões serão pautadas pelo coletivo.

    DeVries e Zan (2007) apud Piaget (1965), afirmam que a moral advém de um sistema de regras e do respeito que o indivíduo tem pelas mesmas. Salienta ainda, que o jogo de regras, regulam as normas, pois estas podem ser modificadas a partir de um consenso pré-estabelecidos entre os jogadores, porém o respeito as mesmas, tem um caráter moral, uma vez que favorece a existência de valores como justiça e honestidade, entre outros.

    Ainda segundo DeVries e Zan (2007) apud Piaget (1965), nas pesquisas e na teoria de Piaget, encontramos a orientação mais útil para pensar sobre relacionamento adulto- criança. Piaget descreveu duas espécies de moralidade correspondendo a dois tipos de relacionamentos adultos- crianças: um que promove o desenvolvimento infantil e outro que o retarda.

    DeVries e Zan (2007) apud Piaget (1965), dizem também que o primeiro tipo de moralidade é uma moralidade de obediência. Piaget chamou-a de moralidade “heterônoma”. A palavra heterônoma vem de raízes que significam “seguir regras feitas por outros”. Portanto, o indivíduo heteronimicamente moral segue regras morais feitas por outros para a obediência a uma autoridade com poder coercivo. A moralidade heterônoma é a conformidade a regras externas que são simplesmente aceitas e seguidas sem questionamento.

    DeVries e Zan (2007) apud Piaget (1965), continuam, dizendo que o segundo tipo de moralidade é a autônoma. A palavra autônoma vem de raízes significando “auto- regulação”. Por autonomia, Piaget não pretendia dizer a simples “independência” para fazer coisas para si mesmo sem auxílio. Ao contrário disso, o indivíduo automaticamente moral segue regras morais próprias. Essas regras são princípios construídos pela própria pessoa e auto- reguladores. Elas têm um caráter de necessidade interna para o indivíduo.

    Provavelmente, nenhum educador apoiaria a moralidade heterônoma das crianças como um objetivo. Porém, todos concordamos em querer que as crianças acreditem com convicção pessoal em valores morais básicos, tais como o respeito ao outro. Sem uma crença que surge da convicção pessoal, as crianças tendem a não seguir regras morais. Contudo, os educadores geralmente lidam com as crianças de forma que promovam a moralidade heterônoma, ao invés da autônoma.

    DeVries e Zan (2007) apud Piaget (1965), afirma que é por meio dos deveres estabelecidos pelos adultos que a criança ingressa no universo moral.

    Freire (1996) salienta a importância do ser humano ter ética em suas ações cotidianas. Por isso, dá extrema importância ao ato de educar eticamente, ou seja, educar respeitando a natureza do ser humano, a natureza do educando. Respeitar o conteúdo que traz o discente ao iniciar o ano letivo, respeitar a diversidade cultural presente em sala de aula, e só assim a escola será capaz de educar cidadãos éticos em suas atitudes.

    La Taille (2006), defende que a escola em seu papel de formadora de cidadãos, deve oportunizar que os conflitos existentes no âmbito escolar sejam discutidos coletivamente, considerando-se princípios comuns a um mesmo grupo social.

    DeVries e Zan (2007) ressaltam que quando as crianças se preocupam com algum problema existente em sala de aula e participam da discussão para tomadas de decisões para sua solução, elas tendem a considerar justas as regras resultantes.

    Promover o letramento nas salas de aulas é possibilitar ao aluno, mais do que se alfabetizar, é possibilitar que este se insira no contexto das práticas sociais de leitura e da escrita, ou seja, responda adequadamente às demandas sociais da cultura letrada.

    Segundo os PCNs, viver em sociedade demanda a existência de respeito ao pluralismo cultural existente no meio social, e que cabe à escola promover a superação de toda e qualquer forma de preconceito e discriminação existente.

    O letramento focaliza aspectos sócio-históricos da aquisição de um sistema escrito por uma sociedade, há um caráter social na escrita e na leitura, há contextualização e ética na utilização dos signos para o aprendizado.

    Devries e Zan (2007) salientam que o ambiente sócio- moral é estabelecido pelo professor, quando organiza a sala de aula de maneira que favoreça a aprendizagem de cada aluno considerando sua subjetividade, assim como a interação entre o grupo.

    Teberosky e Gallart (2004), afirmam que o processo de alfabetização depende, cada vez mais, da coordenação das aprendizagens que as crianças desenvolvam em suas relações sociais, isso porque, a alfabetização e a apropriação da leitura e da escrita se dão, também, fora da sala de aula. Por este motivo, deve a escola, estabelecer entre si, relações humanas orientadas pedagogicamente pelo respeito ao outro, o pluralismo de falar e escutar ideias diferentes e a valorização da presença do outro no ambiente comum, a fim de promover o letramento sem, no entanto, esquecer-se da educação moral.

    Para que a criança de fato apreenda conceitos e valores, e ainda aproprie-se do conteúdo linguístico de um texto, é necessário que este tenha sentido para ela, ou seja, é preciso que ela tenha ciência da finalidade da atividade proposta.

    Solé (1998, p.42) reforça essa ideia ao dizer que “para poder atribuir sentido na realização de uma tarefa, é preciso que a criança saiba o que se deve fazer e o que se pretende com ela”. Continua o pensamento alertando que, ao propor uma atividade de leitura, indiferente de sua temática, o professor deve selecionar a linguagem utilizada no mesmo, pois a criança deve sentir-se capaz de ler o texto.

    Teberosky e Gallart (2004) fortalecem essa ideia quando dizem que o cuidado na elaboração de uma atividade, por parte do educador, é fundamental para o sucesso desta, ou seja, afirmam que o professor deve levar em conta, durante o preparo de suas atividades, os diferentes contextos culturais em que estão inseridos os alunos, afinal, isso é ética, é respeitar as individualidades dos mesmos.

    Solé (1998) acredita que leituras em grupo, onde um a um os alunos leem o texto em voz alta enquanto os demais acompanham no livro ou na projeção, é um método muito rico e que deve ser trabalhado com as crianças, isso porque, além de possibilitar a prática da leitura, essa atividade oportuniza que aprendam a ouvir o próximo, a respeitá-lo em seu momento e até mesmo ajudá-lo quando este engasga em alguma palavra.

    Segundo Curto et al. (2000), a educação escolar é grupal, e isso por si só, requer ética para que essa educação aconteça. Trabalhar o letramento é trabalhar com ética, pois ao mesmo tempo em que as crianças ouvem o professor são ouvidas por ele, ao trabalhar com colegas, discutindo pontos de vista, ditando, escrevendo, relendo, corrigindo, ensinando e aprendendo, há a aprendizagem de uma construção social, há uma aprendizagem ética.

    Ainda segundo Curto (2000), é preciso que a escola trabalhe a diversidade de forma a garantir que todos produzam e aprendam a partir de suas próprias possibilidades. .

    Freire (1996) salienta a necessidade de o educador ter ética em todas suas ações cotidianas, tratar com respeito o fazer docente, que é o meio pelo qual podemos mudar pessoas, que por vez, podem mudar o mundo, e ir além, refazer o mundo, Defende a prática educativa que, com muita ética, propõe mudança de pensamentos e comportamentos nos discentes, e mais do que alfabetizar, efetiva o letramento.

    DeVries e Zan (2007) destacam que muito embora adultos e crianças sejam muito diferentes, quando o adulto respeita a criança dando lhe o direito de exercer sua vontade, estabelece-se entre ambos uma igualdade psicológica que favorece a autonomia.

    Pereira (2006) diz que o universo moral da criança é rudimentar, destacando que apenas com o tempo a moral infantil se desenvolverá e sofisticará. Pois a criança entra em contato com as regras por meio do estabelecimento das regras sociais, repassadas com a rotina estabelecida com os cuidados com a higiene desde a mais tenra idade.

A ética na prática dentro do contexto da sala de aula

    Para o desenvolvimento de um trabalho que promova a apreensão de regras de valores, ou ainda mudanças comportamentais que possam garantir o estabelecimento de relações permeadas pela fundamentação ética, é importante que o educador desenvolva um projeto com metas e prazos pré-estabelecidos, porém com flexibilidade para rever ou reajustar de acordo com as necessidades que forem surgindo.

    A intenção é a de que o professor possa por meio de distintos portadores, abordar a temática em questão, a fim de promover discussões que levem o aluno a repensar suas atitudes cotidianas e assim reverter sua postura diante do outro ou de uma determinada situação.

    Todavia, isso não significa que o educador tenha que se desdobrar e criar uma nova proposta a cada hora para a obtenção de seus objetivos.

    Algumas atitudes são imprescindíveis:

    Trabalhar ética em sala de aula pressupõe, que por meio do letramento, de forma interdisciplinar o tema seja abordado, visando garantir o respeito às diferenças e o combate ao preconceito e a discriminação seja racial, social, religiosa, moral, intelectual, entre outras.

    A criança deve ser orientada quanto à necessidade de respeitar o próximo e as diferenças. Oportunizando que estas percebam a necessidade da ética para uma vida satisfatória em sociedade.

    Levar a criança a avaliar e repensar suas ações cotidianas, propor mudanças de atitudes preconcebidas, além de estimular o letramento.

    No contexto escolar o educador poderá fazer uso de situações cotidianas para discutir o tema “Ética” com os alunos.

    Os relatos que seguem na sequência, são sugestões de algumas experiências vivenciadas por mim no âmbito escolar. A bibliografia sugerida pode ser modificada de acordo com as necessidades ou possibilidades daqueles que intencionam trabalhar a ética com seus alunos.

    Com as crianças sentadas em circunferência, a professora iniciará a aula conversando sobre o valor do respeito ao próximo e às diferenças existentes no âmbito social. Destacará a “regra de ouro”, salientando que devemos tratar o outro da mesma forma como gostaríamos de ser tratados por ele. Ou ainda reforçar que não devemos fazer para o próximo aquilo que não gostaríamos que ele fizesse conosco. Na sequência, algumas das muitas culturas existentes no Brasil (como a africana, a indígena e a europeia) serão enfocadas, resultando na miscigenação cultural e racial existente no Brasil. Ao final da conversa, a professora pedirá para que os alunos recortem de revistas, figuras de pessoas para a montagem de um painel, para que se possa observar a miscigenação do povo brasileiro.

    Com o intuito de anular a existência de preconceito quanto ao tamanho, cor de pele, costumes e tradições, além de explicar que boas ações, como o amor, generosidade e tolerância, aliados à inteligência são capazes de nos fazer superar as dificuldades e diferenças. Ou seja, fazer com que a criança aprenda a pensar e reproduzir suas ideias.

    As crianças assistirão ao filme Kiriku e a Feiticeira juntamente com a professora. Após o término deste, uma conversa sobre o filme será iniciada para que as crianças contem o que entenderam sobre ele. Durante essa conversa questões como tamanho, cor de pele e costumes étnicos, serão abordados. Ao final da discussão, as crianças juntamente com a professora farão um cartaz com as regras e combinados e de como devemos nos portar em relação ao outro.

    Visando a conscientização quanto à importância do respeito em sala de aula, no âmbito escolar e social. O aluno será levado a tomada de consciência quanto a possíveis más condutas, e ainda fazê-lo perceber que zombaria é desrespeitosa e agressiva.

    A professora relembrará as conversas tidas anteriormente a fim de recapitular o conceito ética com as crianças. Em seguida irá ler o texto “Elê... o quê?” e juntamente com as crianças, conversará sobre este. Depois, todas as crianças terão a oportunidade de responder a perguntas referentes ao tema e a professora atuará como escriba registrando as respostas na lousa, para posteriormente ler para os alunos, levando-os a refletir sobre o que responderam.

    Fazer com que as crianças se atentem da importância de respeitar as individualidades de cada pessoa sob todos os aspectos, além de explicar os valores humanos de união, fraternidade, amizade, companheirismo, respeito e amor. Além de favorecer que as crianças desenvolvam a capacidade de se relacionar com as diversidades de forma respeitosa.

    A professora iniciará a aula conversando sobre o valor das várias etnias, inseridas em um país, para a história deste. Resgatará a história da infância africana e seus costumes que foram trazidos para o Brasil por seus pais, falará um pouco sobre a infância na cultura indígena e abordará a cultura europeia na vida infante. Uma discussão sobre essa mistura de culturas presentes no Brasil será levantada, e os resultados dessa miscigenação cultural, explicitado. Durante a conversa a professora falará sobre brincadeiras antigas, que são resultado da mistura cultural existentes no Brasil, e desafiará as crianças a brincarem juntamente com ela, das seguintes brincadeiras: pula-corda, amarelinha, corre cotia, vivo- morto e barra manteiga.

    O intuito é fazer com que as crianças apreendam as regras necessárias para participar das brincadeiras, aprendam a esperar a sua vez, respeitem a vez do colega e ainda desenvolvam o trabalho coletivo e cooperativo.

    A professora fará a leitura do livro “Um Porco Vem Morar Aqui”, na sequência abordará com os alunos como os personagens do livro se comportaram ao julgar o porco, e se foi correto a postura dos mesmos. Feito isso, será levantado como os alunos acreditam que o porco tenha se sentido ao perceber como os outros personagens do livro pensavam a seu respeito.

    A intenção é possibilitar que aos alunos perceberem que não devemos ter preconceitos em relação ao próximo, nem tão pouco julgá-lo fundamentados em conceitos equivocadamente difundidos no contexto social.

    Será feita, pela a professora a leitura do livro “Os três lobinhos e o porco mau”, depois, questionará quanto às atitudes do porco. Em seguida levantará questões relacionadas à postura dos lobinhos, dando ênfase ao fato de que os mesmos, em momento algum revidaram aos ataques sofridos e ainda assim resolveram o conflito existente.

    O objetivo é levar os alunos à reflexão de que há outras maneiras para resolver conflitos, que não seja a força física.

    Para finalizar a professora na companhia dos alunos, assistirá ao filme “O Pequeno Narigudo”, depois será levantada a opinião dos alunos em relação ao filme, e situações que chamaram a atenção.

    O intuito é favorecer com que os alunos percebam que devemos respeitar nossos semelhantes da mesma forma que gostaríamos de ser respeitados.

Texto sugerido

    ELÊ.. O QUÊ?

    Não! Hoje foi demais! É muita humilhação. Tudo por culpa do meu pai, ou do meu avô. Ou dos dois. ELEUTÉRIO. Olha se isso é nome: Eleutério. Quem será que teve e bendita ideia de colocar esse nome no meu avô? E meu pai, para homenagear o pai dele, me coloca este nome.

    Todo dia é a mesma coisa: na hora da chamada, quando a professora diz meu nome, sempre vem uma risadinha imbecil a seguir. Será que esses meninos não se acostumam nunca?...

    ...Nossa professora foi ganhar neném e mandou substituta. Ela chegou e foi logo dizendo: “Gostaria que vocês me dissessem o nome”. Rezei para que algo acontecesse antes de chegar a minha vez. Pensei num avião. Bem que podia cair no pátio. Ou então uma chuva forte. Ou mesmo um rato. Um ratinho me salvaria... Qual nada! Chegou a minha vez. Ela olhou para mim: “Seu nome...” Tentei fingir que não era comigo. Mas senti meu rosto afoguear. Devo ter ficado vermelho igual um pimentão.

    Respondi baixinho: “Eleutério”. “Não entendi. Fale mais alto”. “Eleutério” (saiu mais baixo ainda). Aí os meninos começaram a rir. Ela insistiu: Elê...o quê? “Eleutério, professora”, gritou um lá de trás.

    Mais risos. Aí começou a bagunça. A professora mandou fazer silêncio. E prosseguiu.

    O riso dos meninos está até agora nos meus ouvidos. Pestes! Me pagam. Vão se arrepender mil vezes...

    (Norma Sofia Coelho de Lima- Elê...o quê?- Editora Lê.)

Sugestões de livros e vídeo que podem ser utilizados

Figura 1. Capa do filme O pequeno narigudo

 

Quadro 1. Ficha técnica do filme O Pequeno Narigudo

Sinopse do filme

    Uma bruxa planeja conquistar o mundo, mas para tanto precisa da ajuda do garoto Jacob. Ele, filho de um humilde sapateiro, se recusa a ajudar a bruxa, que está disfarçada como uma bela senhora. Irritada, a bruxa lança uma maldição ao garoto, que o transforma em um anão feio e com um enorme nariz, além de deixá-lo preso no castelo por 7 anos. Quando finalmente consegue sair de sua prisão, Jacob retorna à sua casa, mas descobre que a vida que tinha mudou drasticamente. Seu pai morrera de tristeza e sua mãe não mais o reconhecia. Porém, quando Jacob salva um ganso, descobre que ele é na verdade uma princesa, que também foi enfeitiçada pela bruxa. Eles então se unem para desfazer os feitiços que os afligem.

Considerações finais

    Vivemos em uma sociedade dentro do modo capitalista, onde disputamos ou compartilhamos quase tudo e a formação de cidadãos pautados por valores éticos e morais é fundamental para o bom convívio social.

    Ao longo dos últimos anos mudanças ocorridas na sociedade e a inserção da mulher no mercado de trabalho, fizeram com que muitas atribuições que seriam de responsabilidade da família, se tornassem de responsabilidade da escola, pois muitos pais ainda que inconscientemente acabam delegando à escola a responsabilidade de educar seus filhos.

    Por outro lado, a escola tem como função não apenas transmitir os conteúdos disciplinares condizentes para cada faixa–etária, mas também conteúdos voltados para a formação ética e moral dos alunos.

    A transmissão desses valores é indiscutivelmente importante uma vez que a formação de cidadãos tolerantes à heterogeneidade cultural existente no meio social e, sobretudo livres de todo e qualquer tipo de preconceito e discriminação é fundamental.

    Na instituição escolar não se adquire somente conhecimentos, aprende-se ainda uma série de valores e normas comportamentais. E é essa instituição que deve se deslocar para formar cidadãos que saibam defender seus direitos e também cumprir seus deveres.

    Dessa forma, cabe á escola como agente de transformação social, chamar atenção de seus alunos para este assunto, precocemente, a fim de promover a conscientização sobre a importância do respeito e valorização das diferenças, sejam quais forem, bem como a formação de cidadãos politizados.

    Todavia é importante que a escola aborde, em sala de aula, o tema ética, com o intuito de que sejam desenvolvidas atividades que possibilitem a apreensão de valores éticos desde a mais tenra idade. Pois é responsabilidade da escola juntamente com a família, educar e contribuir para que jovens e crianças se tornem cidadãos de bem e possam construir um de paz, harmonia e esperança.

    É importante que se diga que muitos desses valores apreendidos, nortearão as relações de muitos indivíduos dando lhes limites sobre o que se pode ou não fazer, e regrando suas atitudes no âmbito social.

    A cada dia os pais enfrentam mais dificuldades para impor limites para seus filhos, e muitas vezes essa conduta permissiva torna-se um entrave no processo ensino aprendizagem, fazendo com que muitos indivíduos necessitem de acompanhamento psicopedagógico para tratar dificuldades de aprendizagens inexistentes, quando na verdade o que é necessário é que o indivíduo tenha parâmetros de conduta.

Referências bibliográficas

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