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O equilíbrio dos indivíduos portadores de deficiência auditiva

El equilibrio de las personas con discapacidad auditiva

 

*Fisioterapeuta, Mestre em Neurociências, Docente do curso

de Fisioterapia da Universidade de Passo Fundo

**Fisioterapeuta, Mestre em Medicina e Ciências da Saúde. Docente

do curso de Fisioterapia da Universidade de Passo Fundo

***Fisioterapeuta graduada pela Universidade de Passo Fundo

(Brasil)

Renata Busin do Amaral*

Carla Wouters Franco Rockenbach**

Mariana Zancan***

Vanessa da Silva Pedroso***

marianzancan@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O presente estudo tem como objetivo verificar se há alteração de equilíbrio estático e/ou dinâmico em indivíduos portadores de deficiência auditiva. Sendo assim a pesquisa foi realizada com 40 indivíduos de ambos os sexos com idade entre 7 e 17 anos, sendo que 20 indivíduos são deficientes auditivos e os outros 20 indivíduos que serão o grupo controle não são deficientes auditivos, todos provenientes da Escola Estadual de 1º e 2º Graus Joaquim Fagundes dos Reis na cidade de Passo Fundo, RS. Para tal será aplicado o teste de equilíbrio proposto por O'Sullivan e Schmitz (1993) e para análise estatística será utilizado a estatística descritiva não paramétrica mais precisamente a prova de Wilcoxon a um nível de significância de 0,05, onde serão comparados os resultados da avaliação dos pacientes com deficiência auditiva com os resultados da avaliação do grupo controle (sem deficiência auditiva).

          Unitermos: Deficiência auditiva. Equilíbrio. Avaliação.

 

Abstract

          The present study aims to determine if there is a change of static and / or dynamic individuals with hearing impairment. Thus the research will be conducted with 94 patients of both sexes aged between 7 and 17 years, with 47 individuals are hearing impaired and the other 47 individuals who will be the control group are not hearing impaired, all from the State School of 1 and 2nd Degree Joaquim Fagundes dos Reis in the city of Passo Fundo - RS. For this test will be applied Equilibrium proposed by O'Sullivan and Schmitz (1993) and statistical analysis will be used for descriptive statistics more precisely nonparametric Wilcoxon test at a significance level of 0.05, where the results are compared the evaluation of patients with hearing loss and the evaluation results of the control group (without hearing).

          Keywords: Hearing. Balance. Assessment.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 177, Febrero de 2013. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Segundo Frieman et al (1999) nestes últimos anos tem havido uma explosão de novas ideias e progresso no campo da surdez. Os conceitos sobre a educação e os serviços de saúde para surdos estão mudando. Tais mudanças vêm sendo tão rápidas, que poucos pais ou profissionais estão cientes disto.

    Sabe-se que a audição, dentre os cinco sentidos do homem, é o principal sentido que fornece informações sobre acontecimentos no meio ambiente. É uma forma de vínculo sócio-emocional e fornece sinais de alerta importantes para nossa segurança física. Além disso, o ouvido não é apenas o órgão da audição, mas também da postura, da orientação, do equilíbrio e da percepção do movimento (cinestesia), sendo assim chamado de órgão vestíbulo-coclear ou estato-acústico (LIPPI; CRUZ, 1987; GIUSEPPE, 2003).

    Para Cohen (1999), devido à íntima relação anatômica entre o sistema auditivo e o sistema vestibular, os distúrbios que causam comprometimento auditivo podem ocasionar perda da função vestibular.

    Conforme Carnaval (1998), equilíbrio é a habilidade permite ao indivíduo manter o sistema músculo- esquelético em uma posição eficaz e controlar uma postura eficiente, quando em movimento.

    De acordo com Guyton e Hall (1997), o equilíbrio seja ele estático ou dinâmico é mantido por uma série de fatores, como visão e vestíbulo (labirinto), centros formados pelo cerebelo e córtex cerebral e aparelho vestibular que coordena a motricidade. Se alguns desses fatores citados sofrer alguma alteração, isso resultará em perda ou alteração no equilíbrio corporal estático e dinâmico, sendo notado por: perda do tônus; impotência muscular funcional e problemas nas atitudes estáticas ou dinâmicas.

    Conforme Carnaval (1998), os principais fatores que influenciam no equilíbrio são: tônus muscular; funcionamento das estruturas do ouvido interno (canais semicirculares); percepção visual; sistema nervoso central.

    O sistema vestibular na verdade é o sistema proprioceptivo especial cuja função é manter o equilíbrio, dirigir o olhar e conservar um plano constante de visão (posição da cabeça), principalmente por modificação do tônus muscular (NOBACK; STROMINGER; DEMAREST, 1999).

    Diante do exposto, o objetivo deste estudo foi verificar o equilíbrio estático e dinâmico em portadores de deficiência auditiva quando comparados com o dos indivíduos não portadores de deficiência auditiva.

Metodologia

    O estudo foi composto por 40 indivíduos de ambos os sexos, com idades entre 7 e 15 anos, sendo que 20 indivíduos são portadores de deficiência auditiva e 20 indivíduos não portadores de deficiência auditiva, todos provenientes da Escola Estadual da cidade de Passo Fundo, RS.

    Para a viabilização do estudo aplicou-se somente os testes para o equilíbrio estático e para o equilíbrio dinâmico constantes no Exame Neurológico Evolutivo (ENE), recurso semiológico usado para maturidade e desempenho do Sistema Nervoso, o qual é composto por testes para fala, coordenação apendicular, sensibilidade e gnosias, coordenação tronco-membros, persistência motora, reflexos cutâneos e miotáticos, tono muscular e sincinesias.

    Como instrumento para coleta dos dados, realizou-se testes de equilíbrio estático e dinâmico constantes no Exame Neurológico Evolutivo (ENE), corda, carrinho de brinquedo, régua, venda para os olhos, cronômetro, tinta, obstáculos e fita métrica.

    Após a apresentação do projeto para a direção da Escola Estadual de 1o e 2o graus Joaquim Fagundes dos Reis, e verificada a possibilidade de realização do estudo, foi assinado o termo de autorização. Posterior à aprovação do projeto pelo Comitê de Ética da Universidade de Passo Fundo, foi realizada uma reunião com os responsáveis pelos indivíduos, na própria escola, com o intuito de expor os objetivos do estudo e a forma de avaliação do equilíbrio estático e dinâmico que seria realizada nos indivíduos, esclarecendo a não obrigatoriedade da participação destes. Posteriormente, foi fornecido, aos responsáveis, o termo para consentimento.

    Passado o período de adaptação de cinco dias com os portadores de deficiência auditiva, foi iniciada a avaliação individual destes e dos indivíduos não portadores de deficiência auditiva, de acordo com os testes de equilíbrio do ENE. E para a análise estatística foi utilizado a estatística descritiva e o teste de associação qui quadrado a um nível de significância de p£ 0,05, onde foram comparados os resultados da avaliação dos indivíduos portadores de deficiência auditiva com os resultados da avaliação dos indivíduos não portadores de deficiência auditiva. A avaliação foi realizada em uma sala cedida pela escola e teve duração de trinta minutos para cada indivíduo..

    Critérios de inclusão para indivíduos portadores de deficiência auditiva: deficiência auditiva parcial ou total; faixa etária entre 7 e 15 anos de idade; estudante da Escola Estadual de 1º e 2º Graus Joaquim Fagundes dos Reis na cidade de Passo Fundo – RS; autorização da Escola; consentimento dos responsáveis.

    Critérios de exclusão para indivíduos portadores de deficiência auditiva: não autorização da escola; não consentimento dos responsáveis; doenças ou seqüelas neurológicas que traduzam deficiência física e/ou mental; lesões musculoesqueléticas e deformidades ortopédicas; deficiência visual.

    Critérios de inclusão para indivíduos não portadores de deficiência auditiva: faixa etária entre 7 e 15 anos de idade; estudante da Escola Estadual de 1º e 2º Graus Joaquim Fagundes dos Reis na cidade de Passo Fundo – RS; autorização da Escola; consentimento dos responsáveis.

    Critérios de exclusão para indivíduos não portadores de deficiência auditiva: não autorização da escola; não consentimento dos responsáveis; doenças ou seqüelas neurológicas que traduzam deficiência física e/ou mental; lesões musculoesqueléticas e deformidades ortopédicas; deficiência visual.

Resultados e discussões

    O presente estudo teve a participação de 40 indivíduos que foram divididos em dois grupos. O primeiro grupo constituiu-se de 20 indivíduos portadores de deficiência auditiva, sendo 8 do sexo feminino e 12 do sexo masculino com idades entre 7 e 15 anos e o segundo grupo de 20 indivíduos não portadores de deficiência auditiva, sendo 8 do sexo feminino e 12 do sexo masculino com idades entre 7 e 15 anos.

    Os resultados da avaliação do equilíbrio estático de indivíduos portadores de deficiência auditiva quando comparada à avaliação do equilíbrio estático de indivíduos não portadores de deficiência auditiva apresentou associação com um p = 0,0000699087 (p£0,01).

Gráfico 1. Equilíbrio estático dos indivíduos portadores de deficiência auditiva

    No gráfico 1, observa-se que 95% (correspondente a 19 sujeitos) dos indivíduos portadores de deficiência auditiva apresentaram falhas nos testes de equilíbrio estático – baseado no ENE – sendo que destes 35% (correspondente a 7 sujeitos) falharam em um teste; 10% (correspondente a 2 sujeitos) falharam em dois testes; 10%, em três testes; 15% (correspondente a 3 sujeitos), em quatro testes; 5% (correspondente à 1 sujeito), em cinco testes; e 20% (correspondente a 4 sujeitos), em seis testes. Somente 5% (correspondente a 1 sujeito) não obtiveram qualquer alteração nos testes de equilíbrio estático.

Gráfico 2. Equilíbrio estático dos indivíduos não portadores de deficiência auditiva

    No gráfico 2, observa-se que 35% (correspondente a 7 sujeitos) apresentaram falhas, estas vistas somente em um teste. Os demais 65% (correspondente a 13 sujeitos) não tiveram alterações.

    Guyton e Hall (1997), diz que na espécie humana, a extrema sensibilidade vestibular na posição vertical é de fundamental importância para a manutenção do equilíbrio vertical exato, que é a função mais essencial do aparelho vestibular. Para Cohen (1999), devido à íntima relação anatômica entre o sistema auditivo e o sistema vestibular, os distúrbios que causam comprometimento auditivo podem ocasionar perda da função vestibular.

    O presente estudo mostra que os indivíduos portadores de deficiência auditiva demonstraram déficit quanto ao equilíbrio estático, vindo ao encontro do que estabelece Cohen (1999), que pela estreita relação anatômica entre sistema auditivo e o sistema vestibular os distúrbios que causam comprometimento auditivo podem ocasionar perda da função vestibular ou perda da manutenção do equilíbrio vertical exato.

    Dentre os testes para avaliar o equilíbrio estático dos indivíduos portadores de deficiência auditiva realizados, o que ocorreu maior índice de falhas foi o teste ponta de um pé encostado no calcanhar do outro pé, estando com os olhos fechados, onde 75% (correspondente a 15 sujeitos) fracassaram no teste.

    Para Moore e Agur (1998) as regiões periféricas relacionadas ao sistema proprioceptivo, os receptores vestibulares situados no ouvido interno e o sistema visual completam a tríade do equilíbrio. Além disso, segundo Ekman (2000), a visão fornece informação sobre o movimento e indícios para o julgamento da verticalidade. A informação visual pode prever a desestabilização.

    Ainda, conforme Guyton e Hall (1997), após a destruição do aparelho vestibular e com a perda da maioria das informações proprioceptivas do corpo uma pessoa poderá usar o mecanismo visual de modo eficaz para manter o equilíbrio. Mas, quando fecham os olhos, o equilíbrio é imediatamente perdido.

    Portanto, sugere-se que as falhas que ocorreram no teste ponta de um pé encostado no calcanhar do outro pé, estando com os olhos fechados foram devido à falta de informações advindas de dois componentes da tríade do equilíbrio (visão e audição), pois o mesmo teste realizado sem oclusão da visão mostrou uma porcentagem menor de falhas, 40%.

    Os resultados da avaliação do equilíbrio dinâmico de indivíduos portadores de deficiência auditiva quando comparados aos do equilíbrio de indivíduos não portadores de deficiência auditiva apresentou associação com p = 0,02666641 (p£0,05).

Gráfico 3. Equilíbrio dinâmico dos indivíduos portadores de deficiência auditiva

    No gráfico 3, observa-se que 70% (correspondente a 14 sujeitos), dos indivíduos apresentaram falhas nos testes para avaliar equilíbrio dinâmico- baseado do ENE- sendo que destes 35% (corresponde a 7 sujeitos), falharam em um teste; 10% (correspondente a 2 sujeitos), dois testes; 5% (correspondente a 1 sujeito) três testes; 5% quatro testes e 15% (correspondente à 3 sujeitos) seis testes, os demais 30% (correspondente à 6 sujeitos) não tiveram alterações.

    O equilíbrio dinâmico é uma habilidade importante dos indivíduos para ajustar-se aos deslocamentos de seu centro de gravidade mudando apropriadamente a base de suporte (UMPHRED, 1994).

    Segundo Gallahue e Ozmun (2001), o equilíbrio dinâmico é influenciado pelo aparelho vestibular, da mesma forma que o equilíbrio estático. O movimento do corpo (propriocepção) e a gravidade são sentidos por receptores e os ajustes para a manutenção ou adequação do corpo verticalizado são definidos pelos receptores vestibulares a fim de manter o indivíduo consciente das alterações posturais dinâmicas e das alterações na aceleração.

Gráfico 4. Equilíbrio dinâmico dos indivíduos não portadores de deficiência auditiva

    No gráfico 4, observa-se que 35% (correspondente a 7 sujeitos) dos indivíduos apresentaram falhas nos testes para avaliação do equilíbrio dinâmico, sendo que 30% (correspondente a 6 sujeitos) falharam em um teste; e 5% (correspondente a 1 sujeito), em dois testes. Os demais 65% (correspondente à 13 sujeitos) não apresentaram alterações.

    Dentre os testes para avaliação do equilíbrio dinâmico, realizados, o que ocorreu maior índice de insucesso foi saltar girando sobre si mesmo sem desviar do lugar, tanto no grupo dos portadores de deficiência auditiva quanto no grupo de indivíduos não portadores de deficiência auditiva, porém o número de sujeitos portadores de deficiência auditiva que falharam no teste corresponde a 11 sujeitos (55%) e o número de sujeitos não portadores de deficiência auditiva que falharam no teste corresponde a 7 sujeitos (35%).

    Para Gallahue e Ozmun (2001), as posturas de rotação corporal, embora verdadeiramente locomotoras por natureza, requerem quantidades excessivas de controle de equilíbrio. Determinada perturbação considerável do fluido dos canais semicirculares resulta de ações de rotação, portanto são considerados movimentos estabilizadores fundamentais. Durante os movimentos de rotação corporal, o indivíduo deve ser capaz de manter controle da posição a medida que realiza o movimento.

    Baseado nas afirmações de Gallahue e Ozmun (2001), de que o equilíbrio dinâmico é influenciado pelo aparelho vestibular e as posturas de rotação corporal requerem quantidades excessivas de controle de equilíbrio - as quais são detectadas através dos canais semicirculares – sugere-se que o fracasso do teste saltar girando sobre si mesmo sem desviar do lugar dos 11 indivíduos portadores de deficiência auditiva estão interligados à própria deficiência auditiva.

Conclusão

    Através das avaliações do equilíbrio estático e dinâmico, com posterior análise dos resultados obtidos, mostra que houve maior fracasso nos testes dos indivíduos portadores de deficiência auditiva quando comparados com os resultados obtidos das avaliações do equilíbrio estático e dinâmico dos indivíduos não portadores de deficiência auditiva.

    Os resultados obtidos mostram associações evidenciadas no equilíbrio estático e dinâmico entre os indivíduos portadores de deficiência auditiva e os indivíduos não portadores de deficiência auditiva analisados.

    Quando o sentido da audição é ausente ou deficiente, o curso do desenvolvimento global da criança será alterado (KUDO et al, 1994).

    Portanto, o fator determinante da alteração do equilíbrio nos indivíduos desse estudo foi a presença da deficiência auditiva.

    Este estudo sugere, ainda, outras investigações sobre o tema, havendo a possibilidade de obter maior conhecimento sobre o assunto para que se possa intervir nos efeitos da privação causada pelo comprometimento da audição.

Referências

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