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Avaliação da potência de membros inferiores 

em meninas praticantes de voleibol

Evaluación de la potencia de miembros inferiores en niñas jugadoras de voleibol

 

*Núcleo de Estudos em Movimento Humano. Departamento de Educação Física

Universidade Federal de Lavras (UFLA), Lavras, MG, Brasil

**Grupo de Estudos em Voleibol. Departamento de Educação Física

Universidade Federal de Lavras (UFLA), Lavras, MG, Brasil

***PPGCMH, UPV, Chillán, Chile

Gustavo Vilela** ***

Gabriel Araujo Sulzbacher** ***

Pedro Lucas Leite Parolini* **

Renan Monticeli**

Marcelo de Castro Teixeira* ** ***

Sandro Fernandes da Silva* ***

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          O objetivo do presente estudo foi avaliar a potência em meninas praticantes de voleibol como forma de auxiliar os treinadores na analise de índices de força explosiva atuantes nesta idade. As variáveis estudadas foram o salto sem contramovimento Squat Jump (SJ), Salto com contramovimento (CMJ), salto Abalakov, salto em profundidade Drop Jump (DJ) com altura de 20 cm, impulsão de ataque e impulsão de bloqueio. A amostra foi composta de 62 sujeitos do sexo feminino praticantes de voleibol com idade 12,35 ± 1,15 anos, estatura 1,56 ± 0,07 metros, peso 48,06 ± 11 kg, percentual de gordura 23,94 ± 6,75 %, em estágio de maturação biológica púberes, pertencentes a três escolas de voleibol da cidade de Lavras, Brasil. Encontramos que o peso e percentual de gordura afetaram negativamente na potencia de salto, o índice de elasticidade (IE) foi de 3,68 %,ou seja, o CMJ foi 0,79 cm, maior que o SJ. Os testes de campo apresentaram médias maiores que os Testes de laboratório. O teste de impulsão de ataque apresentou uma de diferença de 4,66 cm, maior que o Abalakov, o teste impulsão de bloqueio foi 3,51 cm, maior que o CMJ. A realização de testes de campo e de laboratório juntos se mostraram bons parâmetros para avaliação e controle do treinamento.

          Unitermos: Voleibol. Salto vertical. Potência.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 177, Febrero de 2013. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O voleibol necessita de velocidade nas contrações musculares para executar os gestos técnicos com eficiência, sendo um desporto que alterna atividades aeróbias e anaeróbias (1). Alem da força o atleta deve possuir flexibilidade, potencia e agilidade. Os membros inferiores são bastante requisitados para saltos de cortadas e bloqueios. A força de membros superiores é utilizada para saques, cortadas e levantamentos com contrações rápidas. A força dos músculos do tronco tem um papel fundamental na estabilização e suporte da tensão dos ombros nos ataques e nos movimentos de defesa para flexão da coluna, portanto o fortalecimento dos atletas de voleibol deve ser global em todas as idades. (2, 3).

    No voleibol e também em outras modalidades esportivas a aplicação do treinamento de força, torna-se imprescindível, muitos pesquisadores se empenharam em descobrir e detalhar tais processos e seus resultados são inquestionáveis. (4, 5). Portanto devemos considerar as derivações da força que pode ser dividida em força máxima, resistência de força e força explosiva/potência. A força máxima é capacidade máxima de contração do músculo para vencer uma resistência contrária, em apenas uma repetição. A resistência de força define-se pela quantidade de contrações que o músculo suporta até chegar ao seu desgaste total ou fadiga. A força explosiva refere-se à velocidade desta contração muscular, a capacidade do músculo em contrair e estender rapidamente, gerando movimento. (6, 7).

    A potência é uma das qualidades essenciais para o jogador de voleibol, ao falarmos de potência devemos considerar a força e a velocidade, qualidades indispensáveis ao bom desempenho do atleta na maioria dos desportos. (8). A potência é uma qualidade física que combina o resultado do aumento da velocidade e força máximas, estes ganhos de força só podem ser transformados em potência através de métodos específicos de treinamento de força explosiva, ou seja, quando se deseja melhorar a potência sugere-se o aumento da força máxima e da velocidade máxima. (9).

    Algumas equações que explicam o cálculo da força explosiva são:

    De acordo com a 2ª Lei de Newton, a da inércia, a força (F) é igual à massa (m) vezes a aceleração (a), sendo apresentado a seguir:

    Os métodos e formas de se avaliar a força explosiva sempre foram assunto polêmico quando relacionados à precisão e confiabilidade destes testes. Vários artigos e livros abordam a questão. Alguns métodos mais comuns avaliam a força explosiva através dos saltos na plataforma de força e na parede marcando a maior altura alcançada, outros métodos recentes como SYS avaliam a força através de foto células. (10)

    O objetivo da pesquisa foi avaliar a força explosiva em meninas praticantes de voleibol no estágio de maturação biológica púbere.

Metodologia

Descrição e caracterização da amostra

    A amostra foi composta por 63 crianças voluntárias do sexo feminino, saudáveis com idade entre 10 e 14 anos, média de 12,2 anos, sendo elas participantes de três Escolas de Esportes da cidade de Lavras - MG – Brasil. Os critérios de inclusão foram praticar voleibol pelo menos três meses, duas ou três vezes por semana. Os pais ou responsáveis pelas crianças foram informados através de um termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE), contendo informações detalhadas sobre os testes. Assinaram tal termo, autorizando a participação de seu filho, conhecendo todos os detalhes sobre os testes, avaliações e procedimentos realizados, conforme resolução CNS nº 196/96. O projeto foi enviado e aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Federal de Lavras – MG – Brasil, sob nº CAAE 03214312.5.0000.5148.

Métodos e instrumentos de avaliação

    Os métodos e procedimentos de avaliações utilizados para avaliação da potência dos membros inferiores foram divididos em Testes de Laboratório (A, B, C e D) e Testes de Campo (E, F).

Testes de laboratório

  1. Squat - Jump (SJ) consiste em um salto vertical sem contra movimento prévio, realizado a partir de uma flexão de joelhos a 90°, sobre a plataforma. (7).

  2. Counter Movement Jump (CMJ) é caracterizado por um movimento de flexão-extensão rápida de pernas com paradas mínimas entre as fases. Este se diferencia do SJ pelo fato de o CMJ aproveitar melhor a energia elástica. (7).

  3. Drop Jump (DJ), que é o salto profundo após queda. A altura utilizada foi de 20 cm. Para realizá-lo é necessário que se adiante uma perna e depois a outra. O resultado esperado após esta queda é que o indivíduo realize o impulso para que possa obter maior elevação possível logo após tocar a plataforma. (7).

  4. Abalakov: desde a posição ereta, realiza-se uma semiflexão do joelho e salta com a ajuda do movimento dos braços (11).

Testes de campo

  1. Alcance de ataque: após três passadas o salto é realizado com duas pernas juntas e movimento de pendulo dos braços, o objetivo é tocar o ponto mais alto possível com os dedos da mão de ataque, realizando uma marca (giz), seleciona-se a melhor marca, em metros de duas tentativas. (12, 13).

  2. Alcance de bloqueio: na posição ereta, de frente para uma parede, realiza-se uma semiflexão do joelho, idem o movimento de bloqueio e com a ponta dos dedos das duas mãos, toca-se o ponto mais alto na parede, seleciona-se a melhor marca em metros, de duas tentativas. (12, 13).

    As quatro primeiras variações de saltos: SJ, CMJ, DJ e Abalakov foram realizados em uma plataforma para a mensuração do tempo de vôo e altura do salto. O aparelho usado foi a Plataforma Jumptest® (100 x 66 cm) da Hidrofit, conectado ao software Jump Test. 2.0; Os dois últimos são testes de campo, específicos do voleibol foram realizados em frente a uma parede, sem uso da plataforma, usando giz e tendo sua mensuração em metros. (11)

Avaliação da maturação sexual

    Todas as crianças foram avaliadas e classificadas de acordo com a fase de maturação sexual, seguindo o método prospectivo e os critérios para autoavaliação de Tanner (1962) e Van Wieringen et al (1971). Por meio destes critérios, são descritos cinco estágios de maturação, através de autoinspeção visual e comparações com a referência normativa fotográfica, é possível classificar a maturação sexual do avaliado ou avaliada em escala ordinária e contínua de 1 a 5. Sendo estágio (1) Pré-púbere, estágios (2, 3 e 4) Púbere e estágio (5) Pós-púbere. O procedimento de autoavaliação através das características sexuais consiste em apresentar a referência normativa (fotografias ou ilustrações) ao avaliado individualmente, enfatizando a confidencialidade das informações. Na sequência, depois de explicar eventuais dúvidas, o avaliado é encaminhado individualmente a um local reservado com espelho e com privacidade, em posse das referências normativas, para que possa completar a autoavaliação (14).

Estatura

    A estatura: foi medida utilizando o Estadiômetro Compacto Tipo Trena da Sanny, com o avaliado na posição ortostática (em pé), pés unidos, procurando pôr em contato com o instrumento de medida as superfícies posteriores do calcanhar, cintura pélvica, cintura escapular e região occipital, com o indivíduo em apneia inspiratória, de modo a minimizar possíveis variações (15).

Percentual de gordura

    Para se traçar o percentual de gordura das atletas, usamos como base o protocolo de LOHMAN 1986 para crianças e adolescentes 6 a 16 anos de idade, onde foram coletadas duas dobras. As dobras cutâneas: foram medidas através do Adipômetro Científico Cercorf (precisão décimo de milímetros), esses valores de pregas cutâneas em combinação com equações matemáticas são destinadas a predizer a densidade corporal, ou seja, o percentual (%) de gordura. (15)

    Equação de Lohman (1986): G%= 1,35(Tr+Sb)-0,012(Tr+Sb)²- C, sendo calculada através da medida das dobras cutâneas:

  • TR = Triciptal: é medida na face posterior do braço, paralelamente ao eixo longitudinal, no ponto que compreende a metade da distância entre a borda súpero-lateral do acrômio e o olecrano(15).

  • SB = Subescapular: é obtida obliquamente ao eixo longitudinal seguindo a orientação dos arcos costais, estando localizada 2 cm abaixo do ângulo inferior da escapula.

  • C= constante de ajuste por idade e sexo, conforme tabela proposta por Pires Neto e Petroski (1996) (15).

Massa corporal

    A mensuração do peso foi feita através da Balança Eletrônica Britânia BE3 em kilogramas 0,01.

Estatística

    Foi utilizado o teste de Shapiro-Wilk para verificar a normalidade dos dados. Para a identificação de possíveis diferenças entre os as variáveis físicas para estimar a potência de membro inferior foi adotado o teste Anova de Medidas Repetidas, com o Post Hock de Tuckey. Na analise da correlação foi utilizado à correlação Bicaudal de Pearson. Para comprovação estatística foi adotado o nível de significância de p < 0,05.

Resultados

    A amostra iniciou com n = 63 sujeitos. Foi realizado o teste de maturação biológica de acordo com as características sexuais secundarias. Dos 63 avaliados validos, 62 foram classificados entre os estágios 2, 3 e 4 caracterizando a fase púbere, apenas 1 sujeito se enquadrou no estágio 5 em dois itens caracterizando a fase biológica pós púbere, o que fez que ela fosse excluída da amostra para que a mesma torna-se mais homogênea.

    Na tabela 1 estão descritos os valores de media e desvio padrão das características morfológicas da amostra.

Tabela 1. Descrição morfológica da amostra

    No gráfico 1 descrevemos os resultados obtidos na avaliação da potência de membros inferiores, em que identificamos que não há diferença significativa entre os testes.

Gráfico 1. Potencia de membros inferiores em jogadores de voleibol

    Na tabela 2 apresentamos a correlação dos dados entre o percentual de gordura e as variáveis físicas estudadas, e verificamos que existe uma correlação negativa, mostrando a interferência da gordura no desempenho.

Tabela 2. Correlação entre Percentual de Gordura e Variáveis Físicas

    Na tabela 3 está descrito a correlação entre as formas de se avaliar a potência de membro inferior onde verificamos que todos os testes se correlacionam de forma significativa.

Tabela 3. Correlação entre as diferentes formas de estimar Potencia

Discussão

    Mesmo havendo controvérsias quanto à contribuição de algumas das variáveis estudadas sobre a força, faz-se necessário determinar valores de referência que permitam, principalmente aos treinadores, conhecer a melhor forma de treinar o pré-púbere, atingindo a melhora na eficácia do salto. Assim, o objetivo do trabalho foi analisar o comportamento da força no desempenho do salto vertical das alunas iniciantes de voleibol.

    Nosso estudo encontrou que massa corporal e o percentual de gordura afetam negativamente no desempenho da potência de membros inferiores, corroborando com nossos resultados Figueira e Matsudo em um estudo com 10 jogadoras de voleibol de alto nível (idade média 23,50) constataram que o peso pode afetar diretamente na capacidade de salto. (16). Assim podemos afirmar que para obter um melhor desempenho na avaliação e controle da potência de membros inferiores em jogadores jovens de voleibol a característica antropométrica apresenta um grande fator de interferência. (16, 17).

    Os estudos apontam que a diferença entre o CMJ e o SJ pode ser entre 2 – 4 cm (18, 19). Em nosso estudo encontramos a diferença entre as médias de 0,79 cm, o CMJ é em geral maior que SJ pelo fato de o CMJ aproveitar melhor a energia elástica gerada durante o Ciclo Alongamento Encurtamento, o que faz com que a altura alcançada no CMJ seja, normalmente, maior que no SJ (7). A diferença entre o SJ, ou seja, salto sem contra movimento e o CMJ, ou seja, salto com contra movimento daria como resultado o índice de elasticidade (IE), o que discrimina diretamente este fator. (20). O índice de elasticidade em nosso estudo foi de 3,68.

    Os resultados das médias encontrados em nosso estudo foram SJ= 20,44 cm e CMJ= 21,23 e podem ter como referência os encontrados por Gonzáles e Díaz que compararam através do CMJ e SJ, a capacidade de salto em 124 meninos e 110 meninas com idades de 6 a 12 anos. Os resultados do sexo feminino na idade de 13 anos foram SJ = 17,86 cm e CMJ = 20,72. (21). No SJ são avaliadas três qualidades físicas: Força explosiva, capacidade de recrutamento e expressão elevada de fibras(7, 11).

    A facilidade de execução dos testes e sua semelhança com os gestos geralmente utilizados na prática da modalidade permitem evitar problemas inerentes nos necessários processos de familiarização com a técnica do salto. (6). Assim podemos explicar os resultados obtidos em nosso estudo, onde os testes (SJ e DJ) demonstraram maior dificuldade para as alunas iniciantes, no momento da execução, já os testes de Campo (alcance de ataque e alcance de Bloqueio), que são mais utilizados por elas, demonstraram menor dificuldade.

    Os testes de campo segundo (22) tendem a superestimar a altura de salto, encontramos uma diferença de 4,66 cm entre os testes impulsão de ataque e o Abalakov e uma diferença de 3,51cm entre impulsão de bloqueio e o CMJ, na literatura considera-se que isto ocorre devido melhor utilização dos membros superiores e maior especificidade com o terreno e o salto utilizado no jogo de voleibol, Atentando que devido à faixa etária de 12, anos, geralmente fase inicial do treinamento, o aprendizado das passadas e movimento dos braços não estão totalmente concretizados, gerando déficits de coordenação motora o que acarreta menor capacidade de salto. (23) (17, 24)

    Embora a literatura considere que exista uma altura ideal para realizar o DJ e conseguir melhoras no treinamento. (25) Utilizamos nos testes uma altura de 20 cm por se tratar de crianças, o que, sugerido por outros autores é uma altura segura, apesar de necessitar mais estudos com idades menores, analisando os graus de angulação dos joelhos, coordenação motora e velocidade. (26-28).

    A utilização de testes de campo traz a especificidade do movimento do esporte, o que auxilia no aprendizado e na coordenação motora, assim correlacionar testes de campo e laboratório para estimar a potencia mostra-se um excelente meio de avaliação e controle do treinamento em jovens jogadoras de voleibol.

Conclusões

    O estudo demonstrou que a realização de testes é muito importante seja qual for o objetivo do treinamento, através dos testes é possível avaliar e controlar o treinamento. A realização de testes de campo e de laboratório juntos se mostraram bons parâmetros para controle do treinamento. Os testes de campo embora menos precisos devido ao deslocamento até a parede e posição dos braços, apresentaram uma correlação significativa com os testes de laboratório embora os testes de campo tenham apresentado melhores médias, em relação à altura do salto, mostrando que os testes de campo são uma ótima alternativa para avaliação e controle do treinamento da potência de membros inferiores. As características antropométricas, em especial o percentual de gordura, apresentou uma correlação negativa com as alturas alcançadas nos saltos principalmente no CMJ, ou seja, o percentual de gordura interfere negativamente no desempenho do salto, principalmente na população estudada de jovens jogadoras de voleibol.

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