A importância dos jogos
cooperativos como La importancia de los juegos cooperativos como contenido de enseñanza en las clases de Educación Física Infantil |
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Mestra em Educação pelo Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora – MG (CES – MG) Especialista em Natação – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC – MG) Especialista em Psicopedagogia – Fundação Dom André Arcoverde de Valença – RJ (FAA) Especialista em Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) Faculdades Integradas de Jacarepaguá – Rio de Janeiro – RJ Graduada em Educação Física – Universidade Federal de Juiz de Fora – MG (UFJF). Graduada em Pedagogia – Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora – MG (CES - JF) Professora do Curso de Educação Física Faculdades Presidente Antônio Carlos (FAPAC) – Campus V – Leopoldina – MG Professora do Curso de Educação Física – Faculdades Sudamérica – Cataguases – MG Professora do Curso de Pedagogia da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG) – Unidade Leopoldina – MG |
Martha Bezerra Vieira (Brasil) |
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Resumo Os Jogos Cooperativos têm sido uma importante proposta para a Educação Física Escolar. Vivemos em uma sociedade competitiva, em que valores de solidariedade, cooperação e união precisam ser cada vez mais transmitidos e compartilhados entre as pessoas. Vimos nos jogos cooperativos à possibilidade de levar para escola, para as aulas de Educação Física, atividades que proporcionam aos alunos o prazer de jogar juntos, de cooperar uns com os outros, de participar, criar sem a pressão de competir e de ter que vencer sempre. O jogo cooperativo nas aulas de Educação Física busca a participação de todos sem exclusão, independente de sua raça, classe social, religião, etc.; sempre dentro de um ambiente prazeroso, onde as metas do professor e dos alunos estão centradas na união das somas de suas competências individuais na busca de resultados que tragam benefícios para todos. Os jogos cooperativos visam à participação de todos para alcançar um objetivo comum, onde a motivação não é ganhar ou perder, motivação está centrada na participação. O objetivo principal desse trabalho é verificar as possibilidades de desenvolver atividades cooperativas em que os alunos terão a oportunidades de experimentar e vivenciar novas maneiras de jogar, sem a preocupação de ganhar ou perder, mas sim de cooperar, ajudar e também expor a importância dos jogos cooperativos para a criança, não apenas em seu âmbito escolar, mas em sua vida. Unitermos: Cooperação. Jogos Cooperativos. Educação Física Escolar.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 176, Enero de 2013. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
Ao longo dos tempos, o jogo sempre foi utilizado de maneira conveniente pelos diferentes povos, preservando os seus rituais e crenças, através das culturas e o meio social. Os jogos Cooperativos sempre estiveram inseridos na sociedade, porém começaram a ser mais valorizados na década de 1950 nos Estados Unidos através do trabalho de Ted Lentz. Já no Brasil, um dos primeiros a produzir textos sobre Jogos Cooperativos foi o professor Fábio Otuzi Brotto.
A essência dos jogos cooperativos “começou a milhares de anos, quando membros das comunidades tribais se uniam para celebrar a vida” (ORLICK apud BROTTO, 2002, p. 47). Eles surgiram da preocupação com a excessiva valorização dada ao individualismo e à competição exacerbada, na sociedade moderna, mais especialmente, na cultura ocidental. Os jogos cooperativos são jogos de compartilhar, unir pessoas, despertar a coragem para assumir riscos, tendo pouca preocupação como fracasso e o sucesso em si mesmo. Eles reforçam a confiança pessoal e interpessoal, uma vez que, ganhar e perder são apenas referencias para o continuo aperfeiçoamento total, em sentimentos de aceitação e vontade de continuar jogando. Considerada como um valor natural e normal da sociedade humana, a competição tem sido adotada como uma regra em praticamente todos os setores da vida social. Temos competido em lugares, com pessoas e em momentos que não precisaríamos, e muito menos deveríamos. Agimos assim como se essa fosse a única opção.
Qual será o motivo que nos tem levado a competir em momentos que não precisamos? Hoje, já sabemos que tanto cooperação quanto competição são comportamento humano. O que falta é uma nova postura do educador, treinador, ou seja, das pessoas significativas na vida das crianças, pois sabemos que só haverá uma mudança se as pessoas que são significativas na vida das crianças mudarem a forma de como oferecem os jogos. Pois parece que, se falo de jogo, tenho que falar de competição, criando erroneamente uma relação de sinonímia entre as palavras. Se mostrarmos que as pessoas são mais importantes que o jogo estaremos fazendo a nossa parte, num movimento de transformação real, tentando tornar o mundo num lugar melhor.
Os jogos cooperativos são jogos com uma estrutura alternativa, onde o esforço cooperativo é necessário para se atingir um objetivo comum e não para fins mutuamente exclusivos. Tendo os jogos como um processo, aprende-se a reconhecer a própria autenticidade e a expressá-la espontaneamente e criativamente. Jogando cooperativamente temos a chance de considerar o outro como um parceiro, um solidário, em vez de tê-lo como adversário, operando para interesses mútuos e priorizando a integridade de todos. O jogo cooperativo pretende indicar que nos jogos e esportes, bem como na vida, existem alternativas para jogar além de formas de competição, usualmente sugeridas como única ou a melhor maneira de jogar e viver.
Este trabalho tem como finalidade verificar as possibilidades de desenvolver atividades cooperativas em que os alunos terão a oportunidade de experimentar e vivenciar novas maneiras de jogar, sem a preocupação de ganhar ou perder, mas sim de cooperar e ajudar também expor a importância dos Jogos Cooperativos para a criança, não apenas em seu âmbito escolar, mas em sua vida. Tendo em vista que a aula de Educação Física é o espaço ideal para trabalharem os jogos, cremos que o papel do professor é o de promover valores como auto-estima, solidariedade, respeito ao próximo, cooperação, fazendo com que eles sejam transformados em uma ética cooperativa, utilizando a pedagogia da cooperação.
Os jogos cooperativos são novas formas de jogar em que todos possam “venSer” (o neologismo “venSer” significa vir a ser consigo mesmo e com os outros). A ideia é a partir do jogo para chegar à vida, pois eu jogo do jeito que vivo e vivo do jeito que jogo. (NETO E LIMA, 2002).
Desenvolvimento
O jogo é feito mais antigo que a cultura, pois esta, mesmo em suas definições rigorosas, pressupõe sempre a sociedade humana; mas, os animais não esperaram que os homens o iniciassem na atividade lúdica. É nos possível afirmar com segurança que a civilização humana não acrescentou característica essencial alguma à ideia geral do jogo. Os animais brincam tal como os homens. Bastará que observemos os cachorrinhos para constatar que, em suas alegres evoluções, encontram-se presentes todos os elementos essenciais do jogo humano. Convidam-se uns aos outros para brincar mediante certo ritual de atitudes e gestos. Respeitam a regra que os proíbe morderem, ou pelo menos com violência a orelha do próximo. Desde já encontramos aqui um aspecto muito importante: mesmo em suas formas mais simples, ao nível animal, o jogo é mais do que um fenômeno fisiológico ou um reflexo psicológico. Ultrapassa os limites da atividade puramente física ou biológica. É uma função significante, isto é, encerra um determinado sentido. No jogo existe alguma coisa “em jogo” que transcende as necessidades imediatas da vida e confere um sentido à ação. Todo jogo significa alguma coisa. Não se explica nada chamado “espirito” ou “vontade” seria dizer demasiado. Seja qual for a maneira como o considerem, o simples fato de o jogo encerrar um sentido implica a presença de um elemento não material em sua própria essência (HUIZINGA, 2001).
Os jogos são importantes instrumentos de desenvolvimento de crianças e jovens. Longe de servirem apenas como fonte de diversão, o que já seria importante, eles propiciam situações que podem ser exploradas de diversas maneiras educativas. “A criança deve jogar, mas todas as vezes que você lhe dá uma ocupação que tem a aparência de um jogo, você satisfaz a necessidade e, ao mesmo tempo, cumpre seu papel educativo (BROUGÉRE apud DOHME, 2003)”.
As regras de um jogo definem seu caráter, da mesma forma que as regras que se usa para viver definem nosso traço distintivo. Se elegermos o egoísmo como forma de concepção do eu e optamos pela competição predatória na qual sempre se busca a vantagem nas relações interpessoais, traçamos uma linha existencial marcada por caráter que privilegia a ambição à solidariedade, à competição, à cooperação. O mesmo pode ser dito em relação ao jogo. Não é sua natureza, mas em regras que mais claramente definem se é mesmo competitivo ou cooperativo. Até em um jogo de futebol onde impera a competição, esta não evolui sem a intensa cooperação entre os jogadores de uma mesma equipe. Observando-se uma partida e, caminhando mais além, ao se observar suas “torcidas” nas arquibancadas, percebe-se que a cooperação é estimulada para que o time se torne mais forte diante da competição. Um técnico procura extrair de sua equipe uma intensa solidariedade, formar uma “poderosa família”, a união de todos como instrumento de combate ao outro, como ferramenta desejável à competição.
E é nesse contexto que se torna imprescindível e imenso o papel do medidor, cabendo a ele imprimir caráter às regras, fará de um jogo terrível veiculo de ódio contra outros ou saudável ambiente de ternura e carinho entre as pessoas. Nesse sentido parece importante realçar o papel do educador e as reflexões que desenvolve sobre as regras do jogo que aplica. Importante não é apenas conhecer jogos e aplicá-los, mas essencialmente refletir sobre suas regras e, ao explicá-las, delas fazer ferramenta de afeto, instrumento de ternura, processo de realização do eu pela afetiva descoberta do outro. Com isso entende-se que o jogo é um excelente meio de desenvolver a criança e um excelente fim para ser desenvolvido. (ANTUNES, 2003).
De acordo com Brotto, jogar é uma oportunidade criativa para encontrar conosco, com os outros e com todos, e a partir daí, o jogo passa a ser uma consequência das visões, ações e relações. (BROTTO apud MAIA, R.; MAIA, J.; MARQUES, 1995).
Pela sua função educativa, o professor de Educação Física, tem o compromisso de difundir valores positivos para que seus alunos entendam que a verdadeira vitória, não depende da derrota dos outros, e o importante é que se desenvolva por meio da compreensão das habilidades e potenciais de cada um, para que todos tenham importantes papeis na realização das tarefas conjuntas (FILHO e SCHWARTZ apud MAIA.; R.; MARQUES, 2006).
A Educação Física escolar é historicamente influenciada pelo esporte de rendimento, além de facilmente incorporar a competição como elemento fundamental de sua existência. Lovisolo confirma isso, da seguinte forma: “considero que a competição que se expressa em ganhar e perder é a alma do esporte” e “creio, portanto, que se há atividade esportiva na escola, algum grau de competição estará presente”. Essa visão (compartilhada por muitos professores) demonstra o quanto ainda encontra-se polêmico o ideal de uma competitivista e esportivista. Sob essa perspectiva, as aulas são orientadas pela adaptação do esporte de rendimento às condições estruturais da escola, criando o processo de esportivização das atividades e reforçando o “mito da competição”. Mito que acaba perpetuando uma concepção equivocada de que o aluno precisa aprender a competir para sobreviver às adversidades sociais, politicas e econômicas da vida lutando contra seus pares. (CORREIA, 2007).
Num sistema de cooperação, para além da satisfação e alegria vivenciadas, cada uma das partes e o todo ganham, em consequência da ajuda. Em diversas atividades o resultado alcançado pelo grupo é melhor do que a soma dos resultados pessoais obtidos numa situação de competição. (ALMEIDA, 2003).
Quando se fala sobre os Jogos Cooperativos, Terry Orlick torna-se a principal referencia em estudos e trabalhos sobre esse tema. Para esse importante pesquisador, os Jogos Cooperativos não são manifestações culturais recentes nem tampouco uma invenção moderna. A essência dos jogos cooperativos começou quando membros das comunidades tribais se uniam para celebrar a vida. A celebração era extremamente valorizada, e os índios buscavam a alegria e o amor pela vida e pela natureza. Eram jogos baseados em atividades com mais oportunidades de diversão e que procuravam evitar as violações físicas e psicológicas. Desde cedo, as crianças aprendiam com os adultos esses princípios e buscavam praticar os diferentes jogos com alegria e companheirismo. A maneira como a criança joga, irá refletir na maneira de encarar a vida, portanto, um jogo cooperativo pode proporcionar muito mais do que imaginamos na vida de alguém. (MAIA, R. MAIA, J.; MARQUES, 2007).
Os jogos cooperativos são novas formas de jogar em que todos possam “venser”. A ideia é partir do jogo para chegar a vida, pois eu jogo do jeito que vivo e vivo do jeito que jogo. (NETO e LIMA, 2002).
Em nossos dias crianças são ensinadas pela mídia a festejar a vitória e chorar na derrota, a pensar na alegria e triunfo de poucos é possível com o fracasso de muitos e que nessa sociedade, o importante para sobreviver é procurar seus interesses, vivendo cada dia mais no individualismo. E um dos locais em que tem sido presenciada essa maneira de viver é a escola, na qual sem perceber tem reforçado valores como: ser o melhor, colocar o foco no resultado (ganhar ou perder) e não no processo e na qualidade. Com isso, reforça atitudes e posturas competitivas.
Segundo Cortez, para transformar essa realidade e tornar a escola um ambiente alegre, agradável de estar e aprender, é necessário mudar a prática pedagógica, utilizando atividades que valorizam as experiências e desejos dos alunos e jogos que criam oportunidades para seu desenvolvimento físico, moral e intelectual garantindo, dessa forma, a formação de um indivíduo com consciência social, critica, solidaria e democrática (CORTEZ apud MAIA, R. MAIA, J.; MARQUES, 2007).
Nas aulas de Educação Física há uma predominância muito forte do espirito competitivo através dos jogos que sempre visam um vencedor. Nesse sentido, a introdução dos Jogos Cooperativos como conteúdo da Educação Física seria suma importância para o rompimento da tradição unívoca do esporte competitivo (PEDROSO e SILVA apud CORREIA, 2008).
O jogo cooperativo é um conjunto de experiências lúdicas que possibilitam todos os envolvidos de avaliar, compartilhar, refletir sobre nossa relação com nós mesmos e com os outros. A ideia básica da proposta pelo jogo cooperativo é de permitir uma mudança de sentimentos e de entrarmos em contato íntimo com as nossas emoções para potencializar as Habilidades Humanas Básicas como: o amor, a alegria, a criatividade, a confiança, o respeito, a responsabilidade, a liberdade, a autonomia, a paciência, a humildade, etc. (ALMEIDA, 2003).
De acordo com Terry Orlick, nós não ensinamos nossas crianças a terem prazer em buscar o conhecimento, nós a ensinamos a se esforçarem para conseguir notas altas. Da mesma forma, não as ensinamos a gostar dos esportes, nós as ensinamos a vencer os jogos. (BROTTO, 1997).
Devemos compartilhar com os nossos alunos jogos de caráter cooperativo e mostrar para eles que participar do jogo é muito mais importante do que seu resultado final, os jogos cooperativos são ferramentas que os professores de Educação Física tem em suas mãos para ajudar no desenvolvimento dos seus alunos e na construção de um mundo melhor.
Com os jogos cooperativos nas aulas de Educação Física: a) o aluno jogará pelo prazer de jogar, não para conseguir necessariamente um prêmio, uma vitória, se estimularmos atividades não competitivas, reforçaremos nos alunos à participação e não o fato de conseguir um premio: b) o aluno se divertirá sem o temor de não alcançar os objetivos desejados, onde em sua grande maioria só são conseguidos por uns pouco: c) a participação de todos os alunos será favorecida os mais capazes e os menos capazes, aqueles que sempre ganham e aqueles que sempre perdem. Esses jogos servirão para estimular o aumento da auto-estima fazendo desaparecer o medo do fracasso: d) os participantes se verão como companheiros de jogo, com relações de igualdades, não como inimigos os quais devem superar e não existirá a necessidade “de passar por cima dos demais” para poder jogar ou vencer: e) o aluno tentará superar a si mesmo e não superar os demais, desta maneira ele conhecerá suas próprias aptidões pelo próprio esforço e não por comparações com os demais: f) se vivenciará uma atividade coletiva e conjunta, e não individualizada, sem centrar em nenhum aluno ou grupo, mas sim jogando todos juntos estimulando um valor básico humano a solidariedade: g) todos os alunos terão um papel importante para desenvolver, todos serão protagonistas do jogo. A rotulação de bons e maus será mínima até deixar existir no grupo.
A inclusão do jogo cooperativo nas aulas de Educação Física deve buscar a participação de todos sem excluir ninguém, independente de sua raça, classe social, religião, competências motrizes, habilidades pessoais etc., sempre dentro de um ambiente prazeroso, cordial, amigo e feliz onde as metas do professor e dos alunos estarão centradas na união da soma das suas competências individuais, na busca de resultados que tragam benefícios para todos. Nesta proposta visamos à participação de todos para alcançar um objetivo comum, onde a motivação não é perder, a motivação está centrada na participação. Nesse sentido, a proposta educativa tem como interesse principal o processo e não o resultado. (ALMEIDA, 2003).
Os jogos cooperativos têm várias características libertadoras, coerentes com o trabalho em grupo: libertam da competição (participação de todos para o alcance de uma meta comum); libertam da eliminação (buscam a integração de todos); libertam para criar (as regras são flexíveis e, todos podem contribuir para mudar o jogo); libertam da agressão física (todos trabalham juntos, então não podem brigar) e também podemos desenvolver algumas atitudes nos jogos cooperativos: a empatia (pôr-se no lugar do outro); a cooperação (trabalhar em prol de uma meta comum); a estima (reconhecer e expressar a importância do outro); a comunicação (diálogo, intercâmbio de sentimentos, conhecimentos, problemas e perspectivas).
Segundo Barreto, os jogos se baseiam em cinco princípios fundamentais: inclusão (trabalhar com as pessoas no sentido de ampliar a participação e a integração delas no processo em curso); coletividade (conquistas e ganhos que somente conseguem coletivamente); igualdade de direitos e deveres (responsabilidade de todos pela decisão e gestão, como a repartição dos benefícios promovidos pela atividade cooperativa); desenvolvimento humano (o aprimoramento do ser humano enquanto sujeito social); processualidade (a cooperação privilegia os meios, cada passo é dado levando-se em conta os anteriores). (BARRETO apud NETO e LIMA, 2003).
Mas como ensinar a jogar de forma cooperativa? A pedagogia dos jogos cooperativos é apoiada nessas três dimensões de ensino-aprendizagem: Vivencia (incentivando inclusão de todos); reflexão (incentivar as pessoas a refletir sobre as possibilidades de modificar o jogo, para melhorar a aprendizagem de todos); transformação (ajuda a sustentar a disposição para dialogar, decidir em consenso). Podemos dizer que o processo do jogo cooperativo é dividido em: ação – reflexão – ação melhorada. Assim, teremos que viver o jogo, depois fazer reflexão do que jogamos, para recomeçar sempre de forma melhorada, pois a principal característica do jogo cooperativo é não ter fim, fazer com que as pessoas jogam sintam prazer em sempre continuar jogando. (NETO e LIMA, 2002).
Salvador e Trotte elegeram os jogos cooperativos como atividades para proporcionar aos alunos a oportunidade de vivenciarem e experimentarem a possibilidade de algumas mudanças comportamentais em relação ao contexto e a realidade em que viviam. Encontraram nos jogos cooperativos uma forma de discutir, nas aulas de Educação Física as formas de relações de poder reproduzidas nas regras, na convivência e no jogar. (CORREIA, 2007).
Carlson vê nos jogos cooperativos um caminho para melhorar a saúde, ao participar dos jogos, as crianças se beneficiam física e psicologicamente das atividades, contribuindo para preservar a saúde. Nesse sentido, os jogos cooperativos são introduzidos como uma forma de intervenção, sob uma abordagem multifatorial e holística, que envolvem diversos aspectos relacionados com a saúde individual, tais como: as emoções, a aprendizagem, o relacionamento pessoal, a auto-estima, a necessidade de conhecimento e as condutas comportamentais. Essa nova abordagem, relacionando jogos cooperativos e saúde vai ao encontro da perspectiva multifatorial da promoção da saúde defendida por Farinatti e Ferreira para a Educação Física Escolar. (CORREIA, 2007).
Procurando fazer uma interface dos jogos cooperativos com a Pedagogia do Esporte, Brotto propõe uma mudança para tornar o esporte menos competitivo e excludente, ou seja, caracterizando-os como um exercício de convivência fundamental para o desenvolvimento pessoal e para a transformação. Descreve também as características de uma “Ética Cooperativa: con-tato, respeito mútuo, confiança, liberdade, re-creação, diálogo, paciência, entusiasmo e continuidade”. A proposição do autor é fazer dos jogos cooperativos uma pedagogia para o esporte e para a vida. Com essa forma de abordar o esporte, encontra-se a possibilidade de trabalhar um conteúdo de forte apelo de alunos e professores, porém diminuindo a exacerbação do mito da competição. Em nosso entendimento essa concepção essa concepção estimula uma boa polêmica e um grande desafio para os novos estudos: como desenvolver a cooperação entre duas equipes ou dois adversários, se somos obrigados a admitir, como Lovisolo que a competição é inseparável do esporte? (CORREIA, 2007).
Os jogos competitivos são jogos que possuem regras rígidas, que sempre eliminam um grupo e que o objetivo principal é vencer. Mas ao analisarmos bem, nesse tipo de jogo também há cooperação entre a equipe, também há união entre os jogadores e também podem ser muito divertidos. E nosso objetivo como trabalho não é criticar esse tipo de jogo, mas analisar possibilidades de trabalho não é criticar esse tipo de jogo, mas analisar possibilidades de diversificar formas de se jogar, alternativas que permitam a participação de todos, a criatividade, a adaptação de regras e não somente a reprodução do que já está pronto.
Da mesma maneira que há cooperação nos Jogos Competitivos, também há competição nos Jogos Cooperativos, como é o caso dos jogos de inversão que é um jogo baseado no esporte de rendimento, como por exemplo, o Voleibol, em que a diferença está na adaptação das regras que permite a participação de todos os jogadores nos dois times, dessa maneira, há competição e não rivalidade entre as equipes. (PEDROSO e SILVA, 2008).
Orlick apresenta os jogos cooperativos como atividade física essencialmente baseada na cooperação, na aceitação, no envolvimento e na diversão, tendo como proposito mudar as características de exclusão, seletividade, agressividade e exacerbação da competividade dos jogos ocidentais. “O objetivo primordial dos jogos cooperativos é criar oportunidades para o aprendizado cooperativo e a interação cooperativa prazerosa” (ORLICK apud CORREIA, 1989, p. 123).
Para esse autor não conseguiremos manter um ambiente humanitário em nossa sociedade reproduzindo um sistema social baseado em recompensas e punições. Ele apresenta estratégias para iniciar um processo de reestruturação a partir dos esportes e jogos tradicionais, introduzindo os valores e princípios dos jogos cooperativos. Propõe começar essas mudanças modificando a estrutura vitória-derrota dos jogos tradicionais pela vitória-vitória.
Correia relata uma experiência com alunos do ensino fundamental, em uma escola pública de rede estadual do Rio de Janeiro, onde foi pesquisador e docente. Mostra que nem sempre as atividades com jogos cooperativos são prontamente aceitas, mas não admitem que despertam questões sociais quando “confrontados” com a realidade da cultura competitiva trazida pelos alunos. Esses conflitos são vistos como oportunidades para questionar com os alunos o paradigma da competição e pensar com eles a perspectiva da cooperação em suas relações cotidianas. Encontra-se nos jogos cooperativos uma proposta coerente com as perspectivas de mudança ou de superação do “mito da competição” que a Educação Física Escolar vem buscando. (CORREIA, 2007).
Com os jogos cooperativos sendo um conteúdo nas aulas de educação física os alunos terão a possibilidade de uma consciência grupal onde visa uma cooperação para o sucesso de todos. Apresentaremos abaixo os princípios norteadores dos jogos cooperativos que podem orientar a nossa prática nas aulas de educação física.
Do Regionalismo: os jogos cooperativos resgatam o conhecimento e as experiências do grupo de participantes, propondo a recreação das diferentes atividades. Também associa e re-integra que é regional ao UNI-VERSAL, manifestando a consciência de que há muitas partes, mas um só TODO.
Da Co-educação: nos jogos cooperativos os professores de educação física, os recreadores, os pais tem o papel de facilitador incentivando a construção conjunta das regras e estruturas dos jogos, brincadeiras e brinquedos cooperativos. Além disso, crianças, adolescentes, adultos e terceira idade trocam informações que auxiliam no processo de autoconhecimento, transformação e integração social.
Da Emancipação: cada ser humano envolvido com o jogo cooperativo é motivado a expressar com liberdade e responsabilidade. O exercício da autonomia é promovido pela tomada de consciência e ação criativa que, transformam o jogo, a brincadeira e os brinquedos e as atitudes neles representados.
Da Participação: no jogo cooperativo todos participam sendo respeitados em suas individualidades. As diferenças de habilidade, sexo, raça, cultura, religião, posição social etc., são considerados como pequenas pontes que servem para ligar e re-unir uns com os outros. Todos são estimulados a serem indivíduos criativos e transformadores.
Da Totalidade: o jogo cooperativo busca despertar e resgatar a cooperação em três níveis interdependentes: consigo mesmo, com os outros e com o ambiente. Nesse sentido, o jogo cooperativo é um processo dinâmico de percepção e vivencia da íntima relação entre parte – todo, micro – macro e individual – grupal.
A cooperação é uma arte que pode ser desenvolvida quando as forças, habilidades e atitudes de cada criança receberem atenção e forem praticadas. A capacidades das crianças cooperar melhoram rapidamente com a vivência frequente de atividades que estimulam desenvolvimento. Quando aprendemos o verdadeiro sentido e significado da COOPERAÇÃO formamos uma consciência grupal, começamos assim a perceber que NÓS fazemos parte de um mundo maior e que estamos interligados com toda a humanidade, com a natureza e o cosmos. As atividades cooperativas aumentam a segurança nas capacidades pessoais e contribuem para o desenvolvimento no sentido do pertencer a um grupo. Nessas atividades ninguém perde ninguém é isolado ou rejeitado porque falhou. (ALMEIDA, 2003).
Terry Orlick coloca: “Dar uma contribuição ou fazer alguma coisa bem, simplesmente não exige a derrota ou a depreciação de outra pessoa”. Pode-se ser extremamente competente, tanto física como psicologicamente, sem jamais se prejudicar ou conquistar o outro. (BARRETO, 2007).
Com os métodos de aprendizagens nos Jogos Cooperativos ninguém é excluído por causa de alguma deficiência de qualquer ordem ou porque cometeu um erro, dentro de uma aprendizagem cooperativa todos ganham e todos participam, onde o elemento fundamental é compartilhar mutuamente o sentimento de responsabilidade social, de respeito, de fraternidade e de solidariedade dentro de um contexto lúdico e prazeroso. Este tipo de sentimento leva as pessoas a perceber a interdependência existente entre o tudo e todos. De modo global, a aprendizagem cooperativa faz referência a um conjunto de métodos de organização de trabalho em que todos os alunos ou jogadores participam de forma independente ou coordenada, realizando atividades de caráter educativo, habitualmente planejadas e proposta pelo professor.
De acordo com Erich Fromm existem sociedades pacificas e cooperativas e também existem sociedades destrutivas e competitivas. Não podemos inferir que existe uma natureza humana possível, mas podemos tentar dizer que existem possibilidades humanas. Nós tanto podemos cooperar ou competir isso vai depender de nossa natureza de possibilidades. Acreditamos que estas duas naturezas coexistem dentro de casa um de nós e o prevalecimento de uma sobre a outra vai depender de nossa vontade, discernimento, atitude pessoal e coletiva e de assumirmos nossa escolha, mesmo que ela seja não escolher ou se deixar escolher pelos outros. (ALMEIDA, 2003).
Dessa forma, podemos dizer que os jogos cooperativos são importantes na escola de educação integral dos educandos, desenvolvimento da auto-estima, sentimento de aceitação e para proporcionar oportunidades das crianças confiarem em si mesmas. Assim, os jogos cooperativos na escola podem colaborar na formação de seres pensantes, criativos e críticos, não perdendo de vista a sua principal característica que consiste em eliminar qualquer forma de competição. Como diria Orlick, “os jogos verdadeiramente cooperativos eliminam a eliminação e rechaçam a ideia de dividir jogadores em ganhadores e perdedores”. E é essa característica que constitui o jogo cooperativo em uma alternativa pedagógica a mais para colaborar na mudança e transformação da prática cotidiana na escola. (CORTEZ, 1996).
Conclusão
É importante desenvolver uma Pedagogia da Cooperação. Aprendendo a jogar cooperativamente podemos descobrir inúmeras possibilidades, criar processos facilitadores da participação e inclusão. A partir do momento em que os Jogos Cooperativos estiverem presentes na vida das crianças, não haverá crianças feridas na sua auto-imagem, e nada mais haverá a temer. As crianças são as que mais se favorecerão com essa experiência, que lhes ajudará a serem crianças mais felizes, a compartilhar, a ter um bom relacionamento com os outros.
Através da modificação gradativa das regras e estruturas básicas do jogo, podemos criar um ambiente de aceitação mútua entre os jovens praticantes, incentivando-os a refletir sobre as possibilidades de transformação do jogo, na perspectiva de melhorar a participação, o prazer e a aprendizagem de todos. Além disso, uma Pedagogia da Cooperação pode ajudá-los a dialogar, a decidirem consenso e a praticar as mudanças desejadas.
Exercitando a reflexão criativa, a comunicação sincera e a tomada de decisão por consenso para aprimorar o jogo, as crianças e jovens e nós, educadores, também poderão descobrir que tem em plenas condições de intervir positivamente na construção, transformação e emancipação de si mesmos e da comunidade onde convivem. Todo tipo de jogo tem uma intenção que ultrapassa os limites do campo e da quadra. Assim, é importante perceber quais são os valores que estão por trás dos jogos e a que tipo de propósitos as atividades estão servindo. Além de conhecer o jogo é preciso re-conhecer ao que e a quem ele serve.
Um propósito essencial dos Jogos Cooperativos é colaborar para construção de um mundo melhor para todos, sem exceções. Jogando dentro desse Estilo Cooperativo podemos desfazer a ilusão de sermos separados e isolados uns dos outros e percebermos o quanto é bom e importante ser a gente mesmo e respeitar a singularidade.
Propõe-se que novas condutas sejam tomadas, para que os futuros professores de Educação Física possam transcender a mera função de transmitir conhecimento, mas ter nova visão da dimensão de ações pedagógicas e educativas, capazes de homologar seu compromisso e seu papel social. O professor tem o compromisso de difundir valores positivos para que seus alunos entendam que a verdadeira vitória não depende necessariamente da derrota dos outros.
Referências bibliográficas
ALMEIDA, Marcos. Jogos Cooperativos na Educação Física: uma proposta lúdica para a paz. III Congresso Estatal y I Iberoamericano de Actividades Físicas Cooperativas. Gijón (Astúrias). Ceará, 2003.
ANTUNES, Celso. O Jogo e a Educação Física Infantil: falar e dizer, olhar e ver, escutar e ouvir. Petrópolis (RJ): Editora Vozes, 2003. Fascículo 15.
BARRETO, Ricardo. Jogos Cooperativos: participação conjunta e inclusiva. II Congresso de Pesquisa e Inovação da Rede Norte Nordeste de Educação Tecnológica. João Pessoa (PB), 2007.
BROTTO, Fábio Otuzi. Jogos Cooperativos: o jogo e o esporte como um exercício de convivência. Santos: Projeto Cooperação, 2002.
BROTTO, Fábio Otuzi. Jogos Cooperativos: Para jogar uns com os outros e venSer... Juntos. Santos (SP): Projeto Cooperação, 1997.
CORREIA, Marcos Miranda. Jogos Cooperativos e Educação Física Escolar: possibilidades e desafios. In: EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, ano 12, n. 107, Abril de 2007.
CORTEZ, Renata. Sonhando com a magia dos jogos cooperativos. Dissertação de Mestrado. Instituto de Biociências, UNESP, Rio Claro, 1999.
DOHME, Vânia. Atividades lúdicas na Educação. Petrópolis: Editora Vozes, 2003.
HUIZINGA, Johan. Homo Ludens: O jogo como elemento da cultura [Tradução João Paulo Monteiro]. São Paulo: Perspectiva, 2005.
MAIA, Raquel; MAIA, Jusselma; MARQUES, Maria Tereza. Jogos Cooperativos x Jogos Competitivos: um desafio entre o ideal e o real. Revista Brasileira de Educação Física, Esporte, Lazer e Dança, v. 2, n. 4, p. 125-139. São Paulo, 2007.
BRANDL NETO, Inácio.; LIMA, Priscila. Jogos Cooperativos. Caderno de Educação Física: estudos e reflexões, Marechal Cândido Rondon, v. 4, n. 8, p. 107 – 118, 2002.
PEDROSO, Adriana; SILVA, Jaqueline. Jogos Cooperativos na escola: possibilidades de inclusão nos currículos da Educação Física. In: EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires. Ano 13, n. 127, Dezembro de 2008. http://www.efdeportes.com/efd127/jogos-cooperativos-na-escola-inclusao-nos-curriculos-da-educacao-fisica.htm
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