Análise dos efeitos dos
exercícios físicos nos Análisis de los efectos de los ejercicios físicos en los niveles de cortisol y en el control del estrés |
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Universidade Federal do Paraná (Brasil) |
Caroline Buhrer Maria Gisele dos Santos |
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Resumo Ao longo da história, a atividade física sempre esteve presente na rotina da humanidade associada a um estilo de época. A prática dos exercícios físicos vem da Pré-história, afirma-se na Antiguidade, estaciona na Idade Média, fundamenta-se na Idade Moderna e se sistematiza nos primórdios da Idade Contemporânea. Universaliza seus conceitos na atualidade, dirigindo-se para o futuro, fundamentando-se nas novas condições de vida e ambiente. Unitermos: Exercícios físicos. Cortisol. Estresse.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 176, Enero de 2013. http://www.efdeportes.com/ |
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1. Introdução
É consenso o efeito nocivo do estresse sobre o organismo e os benefícios da atividade física no combate ao estresse. Diversos pesquisadores deste século contribuíram para alguns conceitos diferentes de estresse. Três desses conceitos incluem o estresse como resposta biológica, como um evento ambiental e como uma transação entre indivíduo e ambiente (Townsend, 2002).
O estresse crônico pode levar a constantes níveis altos de cortisol no sangue, o que causa um aumento do apetite e consequente aumento de peso. O estresse crônico pode deprimir o sistema imune, tornando-o mais suscetível a gripes e outras infecções. Normalmente, o sistema imune responde à infecção liberando várias substâncias que causam inflamação. Em resposta, as glândulas adrenais produzem cortisol que inibe as respostas imunes e inflamatórias quando ocorre a resolução da infecção. Estresse prolongado sustenta um nível de cortisol continuamente elevado, fazendo com que o sistema de defesa mantenha-se suprimido. Se a resposta ao estresse é sempre ativada, hormônios do estresse produzem sensações persistentes de ansiedade, impotência e fracasso iminente. Uma sensibilidade maior ao estresse tem sido associada à depressão severa, possivelmente porque pessoas em depressão têm maior dificuldade para se adaptar aos efeitos negativos do cortisol. Os derivados do cortisol agem como sedativo o que contribui para a sensação constante de depressão. Quantidades excessivas de cortisol podem causar distúrbios de sono, perda da libido e do apetite. Altos níveis de cortisol podem ainda elevar frequência cardíaca, pressão arterial e níveis de gordura no sangue (Almeida, 2007).
É inquestionável que a tecnologia e o progresso trouxeram facilidades, mas junto incrementaram as doenças silenciosas formando uma epidemia que se estabelece sem maiores sintomas em suas primeiras fases e vão gradativamente se desenvolvendo ao longo dos anos, identificadas como doenças crônico-degenerativas, que tem sua origem em uma série de fatores como a predisposição genética, influência do meio externo e hábitos de vida. A atividade física regular é o melhor suporte para prevenção de doenças e promoção da saúde. Em relação aos efeitos e respostas imediatas no organismo, vale ressaltar a relação direta entre atividade física e relaxamento. Os indivíduos vivenciam o relaxamento de maneira diferente. Alguns relaxam ocupando-se de grandes atividades motoras como esportes, corridas ou exercícios físicos. Outros ainda usam técnicas tais como exercícios respiratórios e relaxamento progressivo para aliviar o estresse (Porto, 2007).
No entanto, vale destacar a importância do discernimento entre o conceito de atividade física que é uma expressão genérica que pode ser definida como qualquer movimento corporal, produzido pelos músculos esqueléticos, que resulta em gasto energético maior do que os níveis de repouso, e do exercício físico (um dos seus principais componentes), que é uma atividade física planejada, estruturada e repetitiva que tem como objetivo final ou intermediário aumentar ou manter a saúde/aptidão física (Caspersen, 1985).
1.1. Justificativa
A necessidade da revisão de literatura em questão surgiu a partir do momento em que foram verificadas várias situações em que os níveis de cortisol variavam dependendo dos exercícios físicos e de alguns esportes praticados; como também, as suas intensidades, bem como a ligação do estresse com a produção de cortisol, fazendo com que estes níveis se alterassem para mais ou para menos. Desta forma, este estudo deverá relatar os benefícios dessas atividades físicas, para um equilíbrio nos níveis de cortisol e do estresse desses praticantes.
1.2. Objetivo geral
Analisar, na literatura existente, os efeitos dos exercícios físicos nos níveis de cortisol e no controle do estresse.
1.3. Objetivo específico
1.3.1. Estudar os efeitos dos exercícios físicos, mostrando a ligação entre: o controle do estresse e os níveis de cortisol em seus praticantes.
1.3.2. Estudar os efeitos dos exercícios físicos, mostrando a ligação entre o estresse positivo e o negativo, assim como os níveis de cortisol em seus praticantes.
1.3.3. Estudar os benefícios dos exercícios físicos para o controle dos níveis de cortisol em seus praticantes.
1.4. Problema
Por que os exercícios físicos influenciam nas taxas de cortisol e no estresse?
2. Revisão de literatura
2.1. A fisiologia do cortisol
Todas as funções do corpo humano e dos vertebrados de uma maneira geral são permanentemente controladas - em estado fisiológico por dois grandes sistemas que atuam de forma integrada: o sistema nervoso e o sistema hormonal (Guyton & Hall, 1997). O sistema nervoso é responsável basicamente pela obtenção de informações a partir do meio externo e pelo controle das atividades corporais, além de realizar a integração entre essas funções e o armazenamento de informações (memória). ”...Os hormônios funcionam como intermediários entre a elaboração da resposta pelo sistema nervoso e a efetuação desta resposta pelo órgão-alvo. Por isso, considera-se o sistema hormonal o outro controlador das funções corporais” (Guyton & Hall, 1997; Wilson & Foster, 1988). “...Os hormônios são reguladores fisiológicos - eles aceleram ou diminuem a velocidade de reações e funções biológicas que acontecem mesmo na sua ausência, mas em ritmos diferentes, e essas mudanças de velocidades são fundamentais no funcionamento do corpo humano” (Schottelius & Schottelius, 1978). ”O exercício serve de estímulo para a secreção de determinados hormônios e de fator inibitório para outros. Não se sabe o motivo das alterações nos ritmos de secreção hormonal em todas as glândulas nem nos seus níveis plasmáticos. No entanto, é muito mais sensato acreditar que de fato existam motivos para essas alterações -embora ainda desconhecidos pela ciência- do que considerar que elas simplesmente acontecem a esmo” (Gould, 1989).
A adrenocorticotropina, o ACTH (“adrenocorticotrophic hormone”) tem a função de regular o crescimento e a secreção do córtex adrenal, do qual a principal secreção é o cortisol, do qual falaremos mais tarde. O exercício estimula a liberação de ACTH de acordo com Wilmore e Costill (1994). Entretanto, outros autores (Fox & Matthews, 1983; McArdle, Katch & Katch, 1988) dizem que não ocorre mudança ou que não há evidências científicas que comprovem uma coisa ou outra. O que é de fato aceito é que a regulação da liberação deste hormônio se dá com o ritmo circadiano: um dos maiores estímulos é a transição entre os estados sono-vigília. A sua liberação é determinada pelo CRH, também conhecido como hormônio de liberação do ACTH ou fator hipotalâmico de liberação da corticotropina. Os maiores picos de secreção de todo o dia acontecem cerca de seis horas depois de a pessoa adormecer. Além disso, vários outros fatores estimulam sua produção, como aumentos cíclicos naturais, diminuição do cortisol (o “feedback” negativo deste hormônio), estresse físico, ansiedade, depressão e altos níveis de acetilcolina. Por outro lado, existem vários fatores inibitórios, como as encefalinas, os opióides e a somatostatina, por exemplo. Por todas essas razões não é totalmente seguro afirmar que o exercício estimula a produção de ACTH, mesmo que existam alguns estudos que mostrem isso (Guyton & Hall, 1997; Wilmore & Costill, 1994).
Supra-renais ou glândulas adrenais, internamente:medula adrenal e externamente: córtex adrenal, Por terem funções bem diferenciadas, merecem um estudo em separado (Berne & Levy, 1996; Guyton & Hall, 1997). A medula adrenal produz dois hormônios, a epinefrina e a norepinefrina (também conhecidos como adrenalina e noradrenalina), que são chamados, em conjunto, de catecolaminas. Já o córtex adrenal secreta mais de 30 hormônios esteróides diferentes, chamados de corticosteróides e essa secreção é estimulada pelo ACTH, abordado anteriormente. Esses hormônios são separados em três grandes grupos: os glicocorticóides, os mineralocorticóides e os androgênios (Berne & Levy, 1996; Guyton & Hall, 1997; McArdle, Katch & Katch, 1988; Wilson & Foster, 1988).
Dentre os glicocorticóides o cortisol é o mais importante desses hormônios, tem sua liberação influenciada pelo ACTH. Suas ações compreendem: a) a adaptação ao estresse; b) a manutenção de níveis de glicose adequados mesmo em períodos de jejum; c) o estímulo à gliconeogênese (especialmente a partir de aminoácidos desaminados que vão, através da circulação, para o fígado); d) mobilização de ácidos graxos livres, fazendo deles uma fonte de energia mais disponível; e) diminuição da captação e oxidação de glicose pelos músculos para a obtenção de energia, reservando-a para o cérebro, num efeito antagônico ao da insulina; f) estímulo ao catabolismo protéico para a obtenção de energia, reservando-a para o cérebro, num efeito antagônico ao da insulina g) atua como agente antiinflamatório; h) diminui as reações imunológicas, por provocar diminuição no número de leucócitos; i) aumenta a vasoconstrição causada pela epinefrina; j) facilita a ação de outros hormônios, especialmente o glucagon e a GH, no processo da gliconeogênese (Berne & Levy, 1996; Guyton & Hall, 1997). A resposta do cortisol ao exercício é um pouco complicada de ser diagnosticada. Existe muita variabilidade em relação ao tipo e intensidade do exercício, nível de treinamento, estado nutricional e ritmo circadiano. Pode-se dizer, com mais certeza hoje em dia, que os níveis de cortisol aumentam durante o exercício físico intenso. Em exercícios moderados, no entanto, há ainda muita controvérsia (Brenner et alii, 1998; McArdle, Katch & Katch, 1988; Wilmore & Costill, 1994)
2.2. O estresse
O fenômeno do estresse é definido por McGrath (apud Weinberg e Gould, 2002) como “um desequilíbrio substancial entre a demanda (física e/ou psíquica) e a capacidade de resposta, sob condições nas quais o fracasso para suprir a demanda tem importantes conseqüências”. Qualquer tipo de estímulo estressor (físico e/ou psicológico) pode desencadear reações psicofisiológicas que acabam resultando em hiperfunção do sistema nervoso simpático e do sistema endócrino, mais particularmente, da glândula supra-renal. Perante tal desequilíbrio, torna-se função do hipotálamo e do sistema nervoso parassimpático auxiliar na adaptação ou recuperação do organismo e na manutenção de condições homeostáticas. Assim, aumento nos níveis de estresse ativa o sistema endócrino, resultando na maior liberação de hormônios glicocorticóides, tal como o cortisol, pela glândula supra-renal. Maior liberação de cortisol sugere refletir situações de perda de controle, depressão e, principalmente, distresse (estresse negativo). Ao contrário, níveis mais baixos, porém normais de cortisol, indicam maior autocontrole, previsibilidade de ação e envolvimento prazeroso e motivante na tarefa.
De acordo com SPIELBERGER apud FRANKS (1994) o estresse é uma parte essencial e natural da vida, sendo que viver diariamente com estresse é inerente para o crescimento e desenvolvimento humano. Uma ótima opção para minimizar os efeitos deste e de outros estresses é o exercício físico, que tem a função de movimentar um ser humano cada vez mais letárgico e rígido.
O estresse "é a resposta fisiológica, psicológica e comportamental de um indivíduo que procura adaptar-se e ajustar-se às pressões internas e externas" (MICHAL, 1998).
Os agentes estressores (JOHNSON, 1988) podem ser tanto físicos (temperaturas extremas, lesões, infecções, cirurgias, etc.), emocionais (medo, ansiedade, raiva, frustração, etc.) ou físicos e emocionais combinados (dor, exercício físico, etc.).
O estresse pode ser favorável ou desfavorável. O eustress é um desgaste físico e mental que nos dá prazer e nos traz benefícios e distress, um "desgaste capaz de gerar desorganização (física e emocional), mal-estar e ofuscamento, um desgaste negativo" (DATTI, 1997).
O estresse funciona bioquimicamente da seguinte maneira: "o stress físico e emocional ativa a amígdala, estrutura que faz parte do sistema límbico, área cerebral relacionada com o componente emocional. A resposta emocional resultante é modulada por estímulos provenientes dos centros superiores do cérebro anterior. A resposta neuronal da amígdala é retransmitida e estimula uma resposta hormonal do hipotálamo. Isto faz liberar o hormônio CRF (fator liberador da corticotrofina), que estimula a hipófise a liberar outro hormônio, o ACTH (hormônio adrenocorticotrópico) na corrente sangüínea. Por sua vez, o hormônio ACTH estimula as glândulas supra-renais, um grupo de pequenas glândulas situadas sobre os rins. As glândulas supra-renais compreendem duas regiões distintas, uma parte interna, ou medula, que secreta adrenalina (epinefrina) e noradrenalina (norepinefrina) e uma camada externa ou córtex, que secreta mineralo-corticóides (aldosterona) e glicocorticóides (cortisol). Simultaneamente, o hipotálamo atua diretamente sobre o sistema autônomo para que ele desencadeie, imediatamente, a reação ao stress. O corpo é então preparado para a reação de luta ou fuga através de uma via dupla: uma resposta nervosa de curta duração e uma resposta hormonal, de maior duração" (MICHAL,1998, pg. 18). Já a disponibilidade aumentada de aminoácidos, gorduras e glicose no sangue após a liberação do cortisol auxilia no ressarcimento da lesão, "(...) o que atenua o estímulo inicial que desencadeou a seqüência de eventos até a secreção do cortisol. Além disso, o cortisol impede a ruptura dos lisossomos, o que evita a destruição adicional dos tecidos" (GUYTON, 1985).
2.3. O exercício físico
O exercício físico, segundo CASPERSEN et al. (1985), é uma das maneiras pela qual a atividade física pode se manifestar, desde que seja planejada, estruturada e repetitiva e objetive a melhoria da aptidão física ou a reabilitação orgânico funcional. De acordo com WILLIAMS (1998), a prática regular de exercícios aeróbicos pode ocasionar a redução dos níveis de hormônios estressantes no sangue, sendo que a maioria dos experts recomenda exercitar-se diariamente por, no mínimo, 30 minutos. Todavia, exercitar-se três vezes por semana também gera efeitos benéficos no organismo.
O exercício serve de estímulo para a secreção de determinados hormônios e de fator inibitório para outros. Não se sabe o motivo das alterações nos ritmos de secreção hormonal em todas as glândulas nem nos seus níveis plasmáticos. No entanto, é muito mais sensato acreditar que de fato existam motivos para essas alterações - embora ainda desconhecidos pela ciência - do que considerar que elas simplesmente acontecem a esmo (Gould, 1989).
Os ritmos diários que controlam muitas das nossas funções fisiológicas, assim como o desempenho, são conhecidos como ritmos circadianos, ciclando em cerca de um dia ou de 24 horas.
Várias funções orgânicas exibem ritmicidade circadiana, com valores máximos e mínimos ocorrendo em horários diferentes ao longo do dia. Esses ritmos diários são altamente influenciados pelo exercício físico, como, por exemplo, as alterações hormonais e o ciclo sono-vigília. (Atkinson, 1996).
O efeito do exercício realizado em diferentes horas do dia pode influenciar no aumento da temperatura corporal. No estudo realizado com ciclistas, observou-se que a temperatura corporal e a freqüência cardíaca continuam apresentando significativa variação circadiana, mesmo durante a execução do exercício contínuo, com uma amplitude mais elevada (Callard et al, 2001).
Assim, o exercício pode acelerar o deslocamento de fase de alguns marcadores biológicos, como a liberação do hormônio melatonina, demonstrando assim uma relação direta com marcadores relacionados ao ciclo sono-vigília (Miyazaki et al. 2001).
Já o exercício físico noturno pode atrasar a curva circadiana TSH e melatonina em humanos, sendo que o deslocamento de fase pode ser determinado pela duração e pela intensidade do exercício físico de forma compatível com a variação individual, levando-se em consideração se a pessoa é ativa ou sedentária (Buxton et al. 1997).
Apesar das controvérsias, estudos epidemiológicos confirmam que pessoas moderadamente ativas têm menos risco de serem acometidas por disfunções mentais do que pessoas sedentárias, demonstrando que a participação em programas de exercícios físicos exerce benefícios, também, para funções cognitivas (Molloy et al. 1988).
Paradoxalmente deve-se reconhecer a existência de alguns indivíduos que se envolvem na prática de exercícios físicos com tal intensidade e/ou freqüência que podem trazer prejuízos à saúde, como, por exemplo, os dependentes do exercício físico (Davis, 1997).
Estudos realizados nos EUA afirmam que a prática sistemática do exercício físico para a população em geral está associada à ausência ou a poucos sintomas depressivos ou de ansiedade. Mesmo em indivíduos diagnosticados clinicamente como depressivos, o exercício físico tem se mostrado eficaz na redução dos sintomas associados à depressão (Grosz, 1972).
Na prática ou prescrição de treinamento físico com o objetivo de obter algum efeito fisiológico de treinamento, seja ele a melhora do condicionamento físico ou a prevenção e tratamento de doenças, deve se levar em consideração quatro princípios básicos. O primeiro é o princípio da sobrecarga, que preconiza que, para haver uma resposta fisiológica ao treinamento físico, é necessário que esse seja realizado numa sobrecarga maior do que a que se está habituado, a qual pode ser controlada pela intensidade, duração e freqüência do exercício. O segundo é o princípio da especificidade, que se caracteriza pelo fato de que modalidades específicas de exercício desencadeiam adaptações específicas que promovem respostas fisiológicas específicas. O terceiro é o princípio da individualidade, pelo qual deve-se respeitar a individualidade biológica de cada indivíduo na prescrição de um determinado programa de exercícios, pois a mesma sobrecarga e modalidade de exercício irá provocar respostas de diferentes magnitudes em diferentes indivíduos. O quarto e último é o princípio da reversibilidade, que se caracteriza pelo fato de que as adaptações fisiológicas promovidas pela realização de exercício físico retornam ao estado original de pré-treinamento quando o indivíduo retorna ao estilo de vida sedentário (McArdle, 1998).
No entanto, para que os benefícios e segurança à saúde da prática regular de atividade sejam maximizados, é necessário que haja uma prescrição de exercícios que considere as necessidades, metas, capacidades iniciais e história do praticante (Pollock, 1993).
2.4. O estresse e o exercício
2.4.1. Efeitos do exercício no eixo hipotálamo-hipófise e adrenal (HHA)
Qualquer estímulo externo percebido pelo organismo, como stress promove ativação do sistema autônomo, com elevação dos níveis plasmáticos de cortisol como resultado da ativação do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HHA). O hormônio hipotalâmico liberador de corticotrofina (CRF) e a argininavasopressina (AVP) são os principais reguladores da corticotrofina (ACTH) secretada no lobo anterior da hipófise. Por sua vez o ACTH estimula a produção e liberação de cortisol pela zona fasciculada do córtex adrenal na faixa de 12-15mg/m2/dia em adultos não estressados. O cortisol inibe o HHA a nível hipotalâmico e hipofisário. Atividade física intensa estimula o eixo HHA, através de um mecanismo não completamente esclarecido. O exercício físico induz um aumento da secreção de cortisol e ACTH superior ao atingido após estímulo com CRF. O exercício também aumenta a liberação de AVP na circulação sistêmica, proporcionalmente à intensidade do exercício. O aumento do lactato plasmático tem sido implicado como um dos mecanismos responsáveis pela ativação do eixo HHA durante o exercício. Outros mediadores humorais, por exemplo, a angiotensina II e as interleucinas, as quais aumentam no exercício, são capazes de ativar o eixo HHA. A diminuição dos níveis de glicose abaixo de 60mg/dL durante exercício prolongado pode desencadear a seqüência de eventos na ativação do eixo. O papel das catecolaminas na modulação da secreção de ACTH no exercício é controversa; bloqueio das sinapses ganglionares atenua a resposta do ACTH, mas adrenalectomia bilateral não reduz a resposta. Portanto a secreção de ACTH em humanos não depende da ativação simultânea simpática-adrenal. A observação de que o CRF também pode aumentar os níveis plasmáticos de epinefrina e norepinefrina independente de hipofisectomia ou adrenalectomia, mas é abolido com bloqueio ganglionar, sugere que o CRF atua no sistema nervoso central por via simpática. Assim, o aumento do CRF durante o exercício pode não só ativar o eixo HHA, mas também aumentar a resposta simpática-adrenal ao stress. A resposta do cortisol à atividade física pode ser influenciada por vários fatores, entre eles idade, intensidade, duração e tipo do exercício praticado. Quando associados ao stress da competição, os níveis de cortisol atingem valores superiores aos das atividades recreacionais. (Pardini, 2001)
2.5. Exercícios resistidos e cortisol
Segundo Oliveira et al. (2008), a resposta aguda do cortisol a uma sessão de exercícios resistidos tem sido foco de alguns estudos, entretanto, resultados conflitantes são observados. No presente estudo, nenhuma das intensidades de exercícios testadas induziu elevacões significativas desse hormônio no período pós-exercício. Adicionalmente, não foram observadas diferenças na concentração de cortisol entre GC (grupo controle), G50(50% de 1 RM) e G80 (80% de 1 RM), em nenhum dos momentos. Esses achados corroboram o estudo de Uchida et al., no qual mulheres jovens (idade media de 25,3 anos) não apresentaram alteração na concentração sanguínea de cortisol após uma sessão de exercícios resistidos. Similarmente, outros estudos apresentam resultados que são congruentes com o observado na presente investigação. Em contrapartida, Kraemer et al. relataram elevação significativa na concentração sérica do cortisol em mulheres jovens (idade média de 24,1 anos) submetidas a diferentes protocolos de exercícios resistidos. Dentre os mecanismos propostos, tem sido sugerido que a elevação da concentração sanguínea de lactato, da concentração de creatina quinase e redução da glicemia apresentam algum papel na elevação do cortisol em resposta ao exercício. É possível especular que a diferença na idade da amostra e conseqüente repercussão na carga absoluta de treinamento podem explicar, pelo menos em parte, a divergência de resultados com o presente estudo. Alem da não elevação, a presente investigação evidenciou que a concentração de cortisol apresentou-se significativamente reduzida três horas após (T2) – G50, G80 e GC – quando comparados com a situação pré-exercício (T0). Tem sido demonstrado que o ritmo circadiano do cortisol induz uma subestimativa desse hormônio ao se estudarem respostas agudas ao exercício. Portanto, cautela é necessária para afirmar que o cortisol sérico encontra-se reduzido apos uma sessão de exercícios resistidos em idosas. Por outro lado, os resultados do presente estudo sugerem que o cortisol de mulheres idosas não se eleva significativamente após uma sessão de exercícios resistidos. (OLIVEIRA et al. 2008)
2.6. Esporte coletivo e estresse
Os aspectos fisiológicos do exercício físico se aliam em um consenso com o metabolismo energético, em razão de que a energia gerada para o esforço físico possui seu alicerce nas reservas nutricionais. Pesquisas em endocrinologia do esporte demonstraram o efeito crônico e agudo do exercício físico sobre o sistema endócrino e suas variáveis intervenientes como intensidade, duração e modalidade do esforço. No entanto, no âmbito do esporte coletivo, os atletas estão vulneráveis a variações ambientais; como enfrentar um adversário superior ou de nível técnico ainda desconhecido, o comportamento da torcida e a interação entre técnico e colegas de equipe.. É de senso comum que estas variáveis ambientais poderiam afetar as respostas endócrinas e metabólicas e interferir no comportamento fisiológico durante o esforço físico na competição, antecipando o cansaço e a fadiga. A partir disto, estudos realizados com modificações ambientais sobre respostas fisiológicas, caracterizadas em freqüência cardíaca, consumo de oxigênio e percepção de esforço demonstraram que a percepção de esforço se mostrou elevada, indicando cansaço, quando o ambiente era alterado e a intensidade do esforço, porém, continuava a mesma. Estes estudos, entretanto,não avaliaram respostas endócrinas. Em face disto, hipoteticamente, modificações endócrinas poderiam acarretar a sensação de cansaço mesmo com a intensidade do esforço constante. O cortisol e o lactato, em particular, podem estar envolvidos diretamente na interação entre o ambiente externo e comportamentos fisiológicos durante o exercício físico. O cortisol em particular, tem sido um importante indicativo de estresse psicológico na área esportiva. O aumento do estresse psicológico estimula a liberação de glicocorticóides, como o cortisol pela glândula suprarenal e sugere a perda do auto-controle, raiva e humor deprimido.
Quando a duração do exercício físico é prolongada, o aumento do cortisol é importante para o suprimento de energia; uma vez que o cortisol impede a reesterificação do ácido graxo liberado na lipólise pela indução das catecolaminas, e após o esforço físico, o cortisol pode auxiliar ainda na ressíntese de glicogênio muscular. No entanto, o cortisol só apresenta um aumento significativo na circulação sanguínea após 20 minutos de esforço acima de 60% da captação máxima de oxigênio. Da mesma forma, o lactato sanguíneo em atletas eleva-se quando a intensidade de esforço é alta e constante.
Estudos importantes sobre o comportamento dos atletas antes, durante e após a competição reforça que a estratégia de corrida depende de informações como a duração do esforço que prescrevem a antecipação do exercício partindo de experiências prévias. Fatores estressantes envolvem mudanças fisiológicas, como respostas hormonais, aumento da temperatura muscular e ventilação respiratória, que podem ser mensuráveis. No entanto, a possibilidade de medir a resposta fisiológica pode mascarar a real influência do ambiente percebido pelo atleta nas respostas endócrinas ao esforço físico. De fato, o condicionamento físico está associado a uma redução na ativação pituitária-adrenal em resposta ao volume de treinamento. Inclusive, as alterações do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal são coerentes com hipercortisolismo leve encontrados corredores altamente treinados. No entanto, a característica psicológica de atletas de esportes individuais é diferente dos atletas de modalidades competitivas uma vez que a variabilidade ambiental em um jogo é muito maior do que em uma corrida de atletismo. Se estas alterações representam uma mudança adaptativa ao estresse diário de exercício extenuante ou é característica de um determinado perfil de personalidade de atletas, ainda não há estudos conclusivos.
O tipo de modalidade esportiva parece influenciar a concentração de cortisol salivar, quando comparado a estudos realizados com atletas de esportes individuais como a natação, assim como o tipo de estresse envolvido, como estar frente a um adversário desconhecido ou de nível técnico superior, também parece ter um papel a desempenhar. Estudo feito com atletas de handebol demonstrou ainda que o nível de desempenho no jogo pode ter influenciado a secreção de cortisol na saliva, que se elevava à medida que o jogo se apresentava mais estressante.
De fato, assim como fatores característicos do esforço físico, fatores psicológicos como estresse mental relacionado ao esforço, podem alterar os níveis de cortisol. Ainda em relação ao nível de cortisol relacionado ao esforço físico, estudos afirmam que o aumento significativo dos níveis de cortisol requerem uma duração do exercício de mais de 20 minutos acima de 70% do consumo máximo de oxigênio. (Garcia Marques da Rocha et al, 2009).
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