Manejo da cadeira de rodas, uma
investigação El manejo de la silla de ruedas, una investigación metodológica sobre la danza en silla de ruedas Wheelchair handling, a methodology research for wheelchair dance |
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*Licenciado em Educação Física pela UNIVERSO **Professora mestre em educação pela UERJ (Brasil) |
José Guilherme de Andrade Almeida* Ms. Soyane de Azevedo Vargas do Bomfim** |
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Resumo A dança em cadeira de rodas é uma atividade física emergente na área da Educação Física Adaptada. Sua prática exige do bailarino usuário de cadeira de rodas, dentre vários atributos, o manejo da cadeira de rodas. No entanto, a bibliografia tanto sobre o manejo da cadeira de rodas, quanto da dança em cadeira de rodas é escassa, especialmente a correlação de ambas. Diante disso, nosso estudo buscou fornecer fundamentação teórica e identificar o ‘estado da arte’ da pesquisa sobre o manejo da cadeira de rodas para a dança, o método utilizado foi a pesquisa bibliográfica, abordando a propulsão desse tipo de cadeira e os fatores intervenientes, bem como, a aprendizagem significativa para técnica da dança em cadeira de rodas. Foi possível inferir que o manejo da cadeira de rodas é um tema complexo e extenso, assim como identificar pontos importantes como: a técnica apurada do manejo da cadeira de rodas pode favorecer a prática da dança, além de minimizar possíveis lesões seu usuário; o padrão ideal de tração é semicircular; o desenvolvimento de mais pesquisas sobre esse tema pode contribuir para a qualidade técnica da dança em cadeira de rodas, favorecendo-a como inclusiva e acessível a todas as pessoas. Unitermos: Dança. Pessoa com deficiência física. Cadeira de rodas.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 176, Enero de 2013. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
O movimento da Educação Física Adaptada tem crescido constantemente e diversas modalidades têm-se apresentado emergentes no campo das atividades físicas para pessoas com deficiência. Dentre elas encontramos a dança em cadeira de rodas, que faz uso da cadeira de rodas, assim como diversas outras atividades adaptadas, para permitir maiores possibilidades de movimentação a pessoas com deficiência física, cuja lesão afete a funcionalidade dos membros inferiores.
A dança em cadeira de rodas “é definida como uma dança que utiliza cadeira de rodas, podendo ser de caráter recreativo ou competitivo” (KROMBHOLZ, 2001 apud FERREIRA, 2003, p. 26). A modalidade é reconhecida para pessoas com deficiência física desde junho de 1989 (ISOD, 1992 apud FERREIRA, 1998), sendo atualmente responsabilidade do IPC Wheelchair Dance Sport, um subcomitê do Comitê Paralímpico Internacional.
Cia Holos - Fórum Paralímpico, IBMR (Soyane Vargas, Natália Caetano -cadeira- e José Guilherme Almeida
A dança em si traz diversos benefícios ao indivíduo, podendo ampliar seu repertório de movimentos; aprimorar a consciência corporal, a coordenação motora e o equilíbrio; fortalecer sua identidade; facilitar a percepção dos limites do outro; e estabelecer a integração entre o indivíduo e a sociedade (NEVES, 2006).
A dança em cadeira de rodas partilha desses e de muitos outros benefícios descritos na literatura, contudo ainda precisa estabelecer sua técnica de dança, segundo sua especificidade que é a cadeira de rodas, permitindo estabelecer os seus próprios movimentos, respeitando assim suas diferenças corporais. Dessa forma, a dança em cadeira de rodas precisa construir suas bases teóricas, estabelecer uma técnica de trabalho e identificar métodos a serem desenvolvidos conforme as características dos indivíduos do grupo em questão (FERREIRA, 2003).
O treinamento das técnicas de manejo da cadeira de rodas facilita a inclusão social, melhora a qualidade de vida dos cadeirantes e permite a prática esportiva e de lazer, podendo influenciar a superação emocional e a autovalorização. Além disso, é um recurso de fundamental importância para a beleza, precisão e diversidade na dança em cadeira de rodas (SOBRINHO, 2011).
Infelizmente as bibliografias específicas, tanto sobre o manejo da cadeira de rodas quanto sobre a dança em cadeira de rodas, são escassas, especialmente sobre o manejo aplicado à dança em cadeira de rodas.
Com o objetivo de fornecer fundamentação teórica e identificar o ‘estado da arte’ do manejo da cadeira de rodas para a dança em cadeira de rodas no Brasil, propomos uma abordagem dos conhecimentos existentes sobre essa temática e as necessidades específicas da prática da dança em cadeira de rodas, correlacionando os achados e subsidiando reflexões para criação de um método de trabalho.
Metodologia
Nosso estudo tem caráter investigativo, utilizando como método a pesquisa bibliográfica segundo Antônio C. Gil (2010), a qual é caracterizada pela elaboração com base em material já publicado sob o propósito de identificar o estágio atual do conhecimento referente a um tema. Usamos como critério de inclusão a abordagem direta sobre manejo da cadeira de rodas e/ou dança em cadeira de rodas.
Selecionamos quatro artigos científicos (BARRETO; PAULA; FERREIRA, 2010; BOMFIM; ALMEIDA; SANTOS, 2012; FERREIRA, 2001; SAGAWA Jr et al, 2012), dois capítulos em livros de referência (FERREIRA, 2011; SOBRINHO, 2011) e uma tese (FERREIRA, 2003).
Cia Holos - Reacess 2012 - coreog. Híbridos (José Guilherme Almeida, Alessandra Gomes, Raphael Victor e Dayana Fersa)
Discussão
Propulsão da cadeira de rodas
Márcia G. Gorgatti e Luzimar Teixeira (2008) identificam as propulsões variadas (deslocamentos para frente, para trás, ziguezague, com obstáculos, realizando curvas) como habilidades básicas para todas as modalidades com cadeira de rodas. Outras habilidades a serem desenvolvidas são as técnicas de frenagem com uma ou duas mãos, os giros e as técnicas de equilíbrio (empinar para trás, para frente e lateralmente).
A propulsão (ou toque) da cadeira de rodas é o princípio fundamental para a locomoção independente do usuário de cadeira de rodas, sendo também uma das bases para o desenvolvimento da dança em cadeira de rodas. A técnica apurada, aliada a uma cadeira de rodas de qualidade, adequada ao usuário e ao seu biótipo, tende a facilitar a prática da dança em cadeira de rodas (SOBRINHO, 2011).
Outro ponto importante sobre o domínio das técnicas de manejo da cadeira de rodas é a segurança, pois um bom domínio da cadeira minimiza o risco de quedas (FERREIRA, 2011).
De maneira geral podemos classificar a propulsão da cadeira de rodas de duas formas: manual ou motorizada. A motorizada é geralmente utilizada pelas pessoas cuja deficiência limita de forma considerável a funcionalidade dos membros superiores a ponto de impedir a propulsão a partir da força desses membros.
A propulsão da cadeira de rodas motorizada é feita por meio de um motor e um controle do tipo joystick ou similar, o qual permite que pessoas com poucos movimentos possam controlar o deslocamento da cadeira de rodas motorizada.
Todas as pessoas cuja deficiência não limite a geração e o controle da força dos membros superiores podem utilizar a cadeira de rodas manual. Sua propulsão é mais complexa e dispendiosa do ponto de vista motor e consequentemente, bioenergético.
A literatura específica sobre a cadeira de rodas motorizada é ainda mais escassa do que da versão manual, portanto vamos especificar as discussões a seguir sobre a cadeira de rodas manual.
Cia Holos - Embratel (José Guilherme Almeida e Natália Caetano)
Fatores intervenientes à propulsão da cadeira de rodas
O primeiro fator a influenciar o manejo da cadeira de rodas é o tipo de deficiência. A relação entre quais movimentos o indivíduo pode ou não realizar com os membros superiores e a funcionalidade dos mesmos é determinante na qualidade de seu manejo da cadeira de rodas. Da mesma forma, o equilíbrio de tronco reduzido dificulta o manejo, pois o controle da pelve a partir dos movimentos do tronco auxilia no direcionamento da cadeira e a ação da musculatura abdominal e paravertebral na estabilidade do tronco.
Este fator relacionado á individualidade biológica do usuário de cadeira de rodas influencia tanto suas atividades da vida diária quando a dança em cadeira de rodas. Segundo Eliana L. Ferreira (2011, p. 81), “a qualidade de execução dos gestos corporais tem uma incidência direta sobre a performance motora de cada dançarino.”
Outro fator essencial é a adequação da cadeira de rodas às necessidades e possibilidades desse indivíduo. Bomfim, Almeida e Santos (2012), ao identificar desafios para a dança inclusiva, expõem uma categoria sobre a cadeira de rodas onde as principais colocações dos bailarinos em cadeira de rodas referem-se à inadequação da cadeira e a consequente dificuldade de manejá-la.
Quando o indivíduo tem sua funcionalidade de membros superiores e tronco mantida, com possibilidade de tocar a cadeira de rodas de forma autônoma, além de sua cadeira ser adaptada ao seu biótipo, emerge um terceiro fator de suma importância: a técnica de manejo da cadeira de rodas.
Segundo Sagawa Jr et al (2012), a cadeira de rodas manual é um meio de locomoção de baixa eficiência mecânica.
Durante a propulsão em cadeira de rodas, os membros superiores dos cadeirantes são constantemente exigidos e, para aqueles que não são treinados (indivíduos em fase inicial de utilização), essa exigência é ainda maior. Para os cadeirantes, os problemas de sobrecarga dos membros superiores são tão importantes quanto os riscos cardiovasculares oriundos de um estilo de vida sedentário (VAN DRONGELEN et al, 2005 apud SAGAWA Jr et al, 2012, p. 186).
A essa exigência se soma o fato das estruturas anatômicas dos membros superiores não serem naturalmente preparadas para esse tipo de movimentação cíclica e repetitiva, exigindo força e endurance muscular de forma diferenciada.
Sagawa Jr et al (2012) apresentam dois estudos (BONINGER et al, 2003; MERCER et al, 2006) que avaliaram a propulsão de usuários de cadeira de rodas com maiores comprometimentos em ombros, observados por meio de testes de imagem (ressonância magnética e ultrassonografia) e exames físicos, comparados com usuários de cadeira de rodas que não apresentaram comprometimentos. Os com maiores comprometimentos realizam a propulsão aplicando a força em direção ao eixo da roda (força radial), sendo esta mais evidente no ponto alto do aro de tração. Esse padrão aumenta a compressão na parte superior do ombro (espaço subacromial).
Os autores encontraram ainda indícios de que a propulsão com alta cadência e bruscas aplicações de força, relaciona-se a maiores anormalidades nos ombros.
Mediante esses dados, sugere-se que a técnica correta para a execução da propulsão seria um dos fatores importantes na prevenção de lesões musculoesqueléticas nos membros superiores de usuários de cadeira de rodas.
Sabe-se que, para a propulsão de uma cadeira de rodas manual, é necessária a execução de repetidas aplicações de forças bimanuais, fora do campo de visão, em um fino aro de tração (15-19 mm de diâmetro) e durante um curto período de tempo (20% a 40% de todo o ciclo de movimento) pelos sujeitos. (SAGAWA Jr et al, 2012, p. 188).
Pedro Américo de S. Sobrinho (2011) traz uma descrição interessante de técnicas básicas de propulsão, deslocamento, frenagem e equilíbrio em uma cadeira de rodas. Todas estas consistem em empurrar, puxar e frear o aro ou a roda conforme o deslocamento desejado sobre a cadeira de rodas. A aplicação de força nos aros de tração de forma simultânea bilateralmente gera um deslocamento ântero-posterior. A unilateral, gera um deslocamento em curva (SOBRINHO, 2011).
Por meio de análises cinemáticas, Shimada et al. (1998 apud SAGAWA Jr et al, 2012) descobriram que o padrão semicircular parece ser o mais indicado para o toque da cadeira de rodas.
A utilização do dedo indicador estendido sobre o aro de tração tende a facilitar a propulsão contínua e a manutenção do contato com este. Essa técnica é sugerida por alguns profissionais da dança em cadeira de rodas e por nós reafirmada, pois facilita a localização do aro, permitindo assim rápidas investidas para aceleração, frenagem e/ou mudança de direção conforme as necessidades do deslocamento ou da dança.
Cia Holos - Reacess 2012 - coreog. Dínamo (Raphael Victor, Alessandra Gomes, João Pedro Fraga, Natália Caetano, Dayana Fersa e José Guilherme Almeida)
Aprendizagem do manejo da cadeira de rodas
O aprendizado das habilidades motoras tem forte relação com fatores do indivíduo (maturação) e do meio ambiente (experiência) (OLIVEIRA; ALVES; NASCIMENTO, 2011). Sobre isso, David L. Gallahue (2005) afirma que:
As condições do ambiente – a saber, oportunidades para a prática, encorajamento, instrução e a ecologia (cenário) do ambiente em si – desempenham papel importante no grau máximo de desenvolvimento que os padrões de movimento fundamentais atingem (GALLAHUE, 2005, p. 60).
Levando em consideração a especificidade dos indivíduos trabalhados e as habilidades fundamentais descritas por Gallahue (2005), as habilidades locomotoras poderiam ser comparadas ao toque da cadeira de rodas; as estabilizadoras às habilidades de equilibrar o tronco sentado sobre a cadeira de rodas e de empiná-la em duas rodas; e as manipulativas, que além das já descritas para pessoas sem deficiência, se relacionam diretamente à locomoção pela manipulação dos aros de tração para controlar os deslocamentos da cadeira de rodas.
Quando tratamos do aprendizado do manejo da cadeira de rodas, oportunidade e instrução para a prática tornam-se fatores ambientais essenciais.
Graças à falta de subsídios teóricos para a análise e reabilitação em cadeira de rodas, os usuários desenvolvem espontaneamente sua técnica de propulsão, a qual geralmente não é a melhor. A propulsão na cadeira de rodas deve ser ensinada e treinada desde o instante em que o paciente inicia o tratamento, diferentemente do processo comum que é realizado, quando a propulsão é focada somente se o paciente não é capaz de caminhar novamente (SAGAWA Jr et al, 2012, p. 192).
Nesse caso, uma abordagem mais direcionada ao manejo da cadeira de rodas no processo de reabilitação funcional poderia gerar, ao futuro bailarino usuário de cadeira de rodas, melhores condições para dançar sobre a cadeira de rodas exatamente por aumentar as oportunidades para a prática e proporcionar encorajamento e instrução num ambiente adequado, além de prevenir lesões.
Kotajarvi et al (2006 apud SAGAWA Jr et al, 2012) sugerem trabalhos de controle e aprendizado das tarefas em cadeira de rodas manual para obter maior eficiência do movimento, ao contrário de treinamentos que visam aumentar a força efetiva.
Em estudo realizado por Groot et al (2002 apud SAGAWA Jr et al, 2012) verificou-se que um treinamento de 3 semanas foi capaz de melhorar a técnica de pegada e impulsão de usuários de cadeira de rodas. Esse achado indica uma influência da experiência sobre o manejo da cadeira de rodas e a possibilidade deste ser aprimorado a partir do treinamento.
Manejo aplicado à dança em cadeira de rodas
Há pessoas cuja deficiência não as impõe uma cadeira de rodas para o deslocamento diário (amputações de membros inferiores, hemiparesias, osteogênese imperfeita, entre outras). Sua deambulação é possível a partir de dispositivos auxiliares.
Para tais pessoas, enquanto a dança ficaria dificultada quando realizada com bengalas, andadores, muletas, pernas mecânicas (próteses), a cadeira de rodas se apresenta como um equipamento que facilita expressivamente a realização de coreografias, de danças. (SOBRINHO, 2011, p. 84).
A experiência com a atividade pode configurar-se como ponto facilitador na execução de determinada tarefa motora. Observamos em nossa prática que pessoas que utilizam a cadeira de rodas no dia a dia e/ou tenham praticado algum esporte em cadeira de rodas anteriormente à dança em cadeira de rodas, tendem a maior facilidade na realização das habilidades fundamentais, ou seja, as habilidades básicas de manejo da cadeira de rodas.
Em contrapartida, aqueles que não utilizam a cadeira de rodas no dia a dia ou não usufruem de autonomia no toque da cadeira de rodas, apresentam maiores dificuldades com tais habilidades. Da mesma forma, uma adaptação à cadeira de rodas mal orientada pode gerar técnicas de manejo inadequadas (vícios) que dificultam a prática posterior da dança em cadeira de rodas.
Ao propor uma metodologia para o desenvolvimento da dança em cadeira de rodas, Eliana L. Ferreira (2001) identificou seis fases. Na terceira fase, após o primeiro contato entre professor e aluno (Fase Comportamental) e conceituação da dança (Fase de Integração Artística), o domínio da cadeira de rodas toma lugar com a associação entre o corpo do aluno e sua cadeira de rodas (Fase de Associação). Segunda a autora, essa fase é essencial para que o aluno usuário de cadeira de rodas possa desenvolver seu deslocamento e o possibilite realizar movimentos mais ousados.
“Um movimento de dança resulta de outros movimentos corporais realizados anteriormente” (FERREIRA, 2011, p. 90). Partindo desse princípio, há tanto a necessidade de explorar aqueles movimentos corporais já presentes no cotidiano do indivíduo (como o toque simples de cadeira, comum aos usuários de cadeira de rodas), quanto de proporcionar-lhe experiências motoras diversas num aprendizado qualitativo para que novos movimentos essenciais para a dança em cadeira de rodas façam parte do seu repertório motor.
Para formar um bailarino que possua uma deficiência física, é fundamental ampliar as possibilidades de gestos corporais que garantam a versatilidade necessária a um bailarino contemporâneo, assim desenvolvendo uma técnica própria para o trabalho de dança em cadeira de rodas. (FERREIRA, 2011, p. 67)
Um dos caminhos para ampliar as possibilidades de movimentos dos bailarinos em cadeira de rodas é desenvolver o manejo da cadeira de rodas, o qual se configura como uma técnica específica da dança em cadeira de rodas.
Quando esse repertório motor é exigido com o manejo da cadeira de rodas, algumas necessidades emergem. Barreto, Paula e Ferreira (2010), ao investigar as qualidades físicas imprescindíveis à performance na dança esportiva em cadeira de rodas, elegeram a flexibilidade, a força, a velocidade, a agilidade e a coordenação motora.
Eliana L. Ferreira (2011) indica que as qualidades físicas desenvolvidas num trabalho de dança em cadeira de rodas devem ser selecionadas de acordo com as deficiências dos indivíduos do grupo e incluem resistência, força, flexibilidade e equilíbrio estático e dinâmico.
As qualidades físicas destacadas na prática da dança em cadeira de rodas favorecem o manejo da cadeira de rodas, pois preparam o sistema musculoesquelético para o aumento de dificuldade no controle corporal (FERREIRA, 2011).
Por exemplo, um bom nível de força da musculatura específica envolvida na propulsão, somada à habilidade de manejo da cadeira de rodas, permite a manutenção da graciosidade e a plasticidade dos movimentos (BARRETO; PAULA; FERREIRA, 2010).
Não podemos deixar de pontuar que a dança em cadeira de rodas é arte, por isso, a interação entre bailarino e espectador deve ser valorizada. Essa é mediada pelo ritmo, intensidade e variação da mobilidade corporal, as quais influenciam diretamente a qualidade dessa comunicação (FERREIRA, 2011).
Para que essas três características se apresentem durante a dança, o bailarino usuário de cadeira de rodas precisa dominar bem as técnicas de manejo da cadeira de rodas, de forma que o toque seja sincronizado com a música (ritmo), a aplicação de forças no aro seja controlada (intensidade) e todas as suas possibilidades sejam exploradas (mobilidade corporal).
Na dança em cadeira de rodas algumas habilidades específicas da cadeira de rodas são extremamente interessantes para a composição coreográfica, dentre as principais podemos citar os equilíbrios em duas rodas, as mudanças de direção em alta velocidade e a interação com outros bailarinos andantes e/ou cadeirantes.
Todas essas habilidades citadas acima são possíveis e esteticamente apreciáveis graças ao domínio do manejo da cadeira de rodas.
Na dança em cadeira de rodas, “a técnica é considerada como instrumento ampliador das possibilidades de movimento objetivo e subjetivo” (FERREIRA, 2011, p. 65), permitindo ainda a identificação da modalidade dançada pela realização de passos característicos (FERREIRA, 2011).
Esta técnica deve ser desenvolvida segundo as especificidades da dança em cadeira de rodas e as possibilidades de cada bailarino em cadeira de rodas, residindo aí a necessidade do manejo adequado da cadeira de rodas.
“O importante é que cada grupo de dança desenvolva uma técnica de movimento mais próxima das possibilidades corporais do indivíduo” (FERREIRA, 2011, p. 66). Entretanto, as técnicas de manejo da cadeira de rodas podem servir de base para orientar os diversos grupos no desenvolvimento individual e coletivo da dança em cadeira de rodas.
Considerações finais
A dança em cadeira de rodas e as técnicas de manejo que favorecem sua prática constituem um assunto complexo e extenso, principalmente pela diversidade de deficiências que os bailarinos usuários de cadeira de rodas apresentam, cada uma com características peculiares.
Aqui nos atemos a explorar os conhecimentos disponíveis na literatura sobre ambas as temáticas e correlacioná-los, o que nos permitiu delinear algumas indicações.
A técnica de manejo da cadeira de rodas é essencial para a boa prática da dança em cadeira de rodas por permitir autonomia, diversidade e fluidez ao dançarino usuário de cadeira de rodas (FERREIRA, 2011; SOBRINHO 2011), além de minimizar as lesões nos membros superiores tão comuns aos cadeirantes (SAGAWA Jr et al, 2012).
Essa técnica é mediada por qualidades físicas que devem ser selecionadas segundo as características de cada bailarino usuário de cadeira de rodas, levando em consideração seu tipo de deficiência e suas potencialidades (BARRETO; PAULA; FERREIRA, 2010; FERREIRA, 2011).
O padrão ideal de aplicação de forças no aro de tração para o deslocamento é semicircular, direcionado para o prolongamento do mesmo numa cadência controlada (SAGAWA Jr et al, 2012).
O trabalho pode iniciar pelas habilidades que o cadeirante já possui e progredir para movimentos mais complexos, explorando técnicas diferenciadas de deslocamento e frenagem, desenvolvendo força e endurance muscular, aprimorando o equilíbrio sentado e sobre duas rodas, buscando precisão nos movimentos e coordenando o manejo com o ritmo e o estilo da dança.
Para que os conhecimentos aqui apresentados possam ser aprofundados e atinjam maior especificidade, consideramos essencial que mais pesquisas sejam realizadas sobre o tema, identificando técnicas de manejo para os diferentes estilos de dança e nas características de grupos de bailarinos usuários de cadeira de rodas segundo suas deficiências e potencialidades.
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BOMFIM, Soyane de A.V. do; ALMEIDA, José G. de A; SANTOS, Dayana F. dos. Representações da dança inclusiva com cadeira de rodas para pessoas com deficiência. Lecturas: Educación Física y Deportes, Revista Digital. Buenos Aires, ano 17, nº 167, abril 2012. http://www.efdeportes.com/efd167/danca-inclusiva-com-cadeira-de-rodas.htm
FERREIRA, Eliana L. Dança em cadeira de rodas: os sentidos da dança como linguagem não-verbal. Dissertação (mestrado) – UNICAMP, Campinas, SP: [s.n], 1998. Disponível em: http://www.bibliotecadigital.unicamp.br/document/? code= vtls000132174. Acessado em: 09 out. 2012.
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______ . Dança Artística em Cadeira de Rodas. In: Atividades Físicas Inclusivas para Pessoas com Deficiência / Eliana Lucia Ferreira (Org.) – 2. ed. – Niterói : Intertexto, 2011. Vol. 5
GALLAHUE, David L. Compreendendo o desenvolvimento motor: bebês, crianças, adolescentes e adultos/David L. Gallahue, John C. Ozmun. – 3. ed. – São Paulo: Phorte, 2005.
GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. – 5. ed. – São Paulo : Atlas, 2010.
GORGATTI, Márcia G; TEIXIERA, Luzimar. Deficiência Motora. In: Atividade Física Adaptada e Saúde: da teoria à prática / Luzimar Teixeira (Org.) - São Paulo: Phorte. 2008.
NEVES, Renata M. S. Dança é para todos. In: Reflexões sobre Laban: o mestre do movimento / Ommensohn, M; Petrella, P. (Org.) – São Paulo: Summus, 2006.
OLIVEIRA, Jorge A; ALVES, Flavia R.F; NASCIMENTO, Roseane O. Desenvolvimento Humano Comparado: uma abordagem desenvolvimentista. In: Atividades Físicas Inclusivas para Pessoas com Deficiência / Eliana Lucia Ferreira (Org.) – 2. ed. – Niterói : Intertexto, 2011. Vol. 3
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SOBRINHO, Pedro A.S. Técnicas de Manejo na Dança em Cadeira de Rodas. In: Atividades Físicas Inclusivas para Pessoas com Deficiência / Eliana Lucia Ferreira (Org.) – 2. ed. – Niterói : Intertexto, 2011. Vol. 3.
Fotos: Cia Holos de dança inclusiva com cadeira de rodas - RJ, Brasil, coordenada por José Guilherme de Andrade Almeida e Soyane de Azevedo Vargas do Bomfim.
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