A flexibilidade e o idoso La flexibilidad en la persona mayor |
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*Acadêmica/o do curso de Licenciatura em Educação Física da UnC, Concórdia **Professor dos cursos de graduação em Educação Física da UnC, Concórdia e da Faculdade IDEAU de Getúlio Vargas, RS (Brasil) |
Madrison Nunes Sartori* Marcos Rodrigo Sartori* Prof. Ms. Ivan Carlos Bagnara** |
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Resumo A flexibilidade é a capacidade física responsável pela execução do movimento voluntário de uma articulação em amplitude angular máxima. A mesma pode ser classificada em estática, dinâmica, balística e controlada. É um componente da aptidão física fundamental para desempenhar as atividades cotidianas do ser humano, pois está diretamente relacionada com a motricidade do corpo. Pessoas com idade avançada tendem a diminuir os níveis de flexibilidade aumentando a dificuldade para a realização de atividades básicas do dia-a-dia e conseqüentemente tornando-se mais dependentes de outras pessoas. Fatores exógenos e endógenos são responsáveis pela perda da flexibilidade, a qual pode ser mantida ou melhorada através de exercícios específicos para esta faixa etária e com acompanhamento especializado. Idosos com boa flexibilidade são mais ativos, independentes e geralmente, tem a autoestima aumentada, melhorando com isso sua saúde e qualidade de vida. Unitermos: Flexibilidade. Atividade física. Idosos.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 17 - Nº 169 - Junio de 2012. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
O envelhecimento é um fenômeno fisiológico e faz parte de um processo progressivo e está presente na vida das pessoas (FERREIRA, 2007). O mesmo faz parte de nossas vidas desde o nascimento, e é influenciável por fatores como a genética e estilo de vida. É o resultado da soma, ao longo dos anos, de vários fenômenos biológicos, psicológicos e sociais. A maioria dos sinais ou efeitos do envelhecimento é decorrente da inatividade física, ou seja, do não uso das funções fisiológicas. Dantas (1999), afirma que o sedentarismo é um fator que pode influenciar negativamente na saúde das pessoas.
As capacidades físicas das pessoas diminuem naturalmente com o aumento da idade cronológica. Fatores como atividades físicas diminuídas, alterações psicológicas como o sentimento de velhice, estresse e depressão, facilitam o aparecimento de doenças crônicas, além de contribuírem para agravar o processo de envelhecimento (MATSUDO, 2000).
Algumas pessoas conseguem envelhecer com mais qualidade de vida, ou seja, com a vida mais saudável. Isso ocorre devido a alguns aspectos como alimentação adequada, lazer, trabalho, relacionamentos sociais e a prática de exercícios físicos. Para envelhecer com mais qualidade e várias capacidades físicas são fundamentais. O objeto deste estudo trata da flexibilidade, sua conceituação, influência, formas de avaliação e aplicabilidade para o público idoso, a fim de compreender sua influência sobre os fatores de saúde e qualidade de vida para os mesmos.
A flexibilidade é a capacidade física responsável pela execução voluntária de um movimento de amplitude angular máxima, por uma articulação ou conjunto de articulações, dentro dos limites morfológicos, sem o risco de provocar lesões.
Contursi; Carvalho; Lacerda (1990, pg.65) definem flexibilidade como uma "[...] qualidade física expressa pela amplitude do movimento voluntário de uma articulação ou combinação de articulações".
A flexibilidade também é um importante componente da aptidão física, e desperta interesse das áreas da saúde e esportiva. Pessoas com boa flexibilidade realizam atividades esportivas com maior eficiência, bem como executam as atividades do cotidiano com maior facilidade.
Condições mínimas de amplitude nos movimentos são necessárias para boa qualidade de vida e, geralmente, a flexibilidade mantém correlação direta com a idade fisiológica das pessoas. Com o envelhecimento a flexibilidade tende a diminuir significativamente em virtude de vários fatores biológicos e sua diminuição poderia ser acentuada também pela inatividade do indivíduo.
Fatores influenciadores da flexibilidade
Para Dantas (1999, p.58), o grau de flexibilidade de uma articulação tem influência direta com diversos fatores, como:
Mobilidade: no tocante ao grau de liberdade de movimento da articulação. Elasticidade: com referencia ao estiramento elástico dos componentes musculares. Plasticidade: grau de deformação temporária que estruturas musculares e articulações devem sofrer, para possibilitar o movimento. Maleabilidade: modificações das tensões parciais da pele, fruto das acomodações necessárias no segmento considerado.
Dentre os fatores endógenos apresentados acima, a flexibilidade relaciona-se, principalmente, à maleabilidade da pele e à elasticidade muscular que são poderosamente influenciadas por alguns fatores, tais como idade e sexo. Quanto mais velha é a pessoa, menor será sua flexibilidade e geralmente as mulheres são mais flexíveis que os homens.
Pesquisam apontam que a flexibilidade é semelhante entre meninos e meninas quando crianças, desta fase em diante as mulheres tornam-se mais flexíveis que os homens. A flexibilidade tende a reduzir lentamente dos 16 aos 40 anos de idade para ambos os sexos, a partir desta idade, em virtude da diminuição das atividades físicas, a redução da flexibilidade é acelerada e o treinamento desta, melhora seus índices, melhorando assim a mobilidade para ambos os sexos e idades (BARROS; GHORAYEB,1999).
A flexibilidade é também influenciada por agentes ou fatores exógenos, porém estes podem ser manipulados pelo homem, como a hora do dia, temperatura ambiente e a prática regular de exercícios físicos.
A flexibilidade é menor pela manhã e aumenta gradativamente, sendo maior por volta das 13 horas e tornando a diminuir ao seguir do dia. O calor favorece a flexibilidade, ao contrário do frio que prejudica os níveis desta. Exercícios leves visando o aquecimento provocam o aumento da flexibilidade, e exercícios de alta intensidade que causam a fadiga, ocasionam a diminuição da flexibilidade. Isso pode ser explicado pois músculos fadigados apresentam menor quantidade de ATP (adenosina trifosfato) em seu interior, dificultando o rompimento da ligação da actina com a miosina responsáveis pela contração muscular (DANTAS, 1999).
Quanto à classificação, a flexibilidade pode ser classificada como sendo de quatro tipos: flexibilidade estática ou também conhecida por passiva, que é a realização do movimento até o limite máximo da articulação, sem velocidade. Flexibilidade dinâmica, que ocorre quando é realizado um movimento até a máxima amplitude da articulação, com velocidade. Flexibilidade balística, que ocorre quando a articulação é movimentada até seu limite máximo, com velocidade, a musculatura estando relaxada e com auxílio de força externa. Ainda, a flexibilidade controlada, que ocorre quando a articulação é levada ao máximo de sua amplitude através de uma contração isométrica.
A classificação referente à flexibilidade exposta no parágrafo anterior é corroborada por vários autores, dentre eles destacamos Barros e Ghorayeb (1999, p.86), que ampliam a abrangência do conceito. Isso pode ser observado na citação abaixo, sobre a classificação da flexibilidade.
Estática: é a capacidade de movimentar um segmento corporal sem ênfase na velocidade, levando uma articulação ou combinação funcional de articulações à máxima amplitude de movimentação. Seria a amplitude de movimento possível de uma determinada articulação, sem a realização de movimentos balísticos ou com velocidade. Dinâmica: capacidade de usarmos essa amplitude em potencial para a movimentação voluntária veloz, podendo envolver várias repetições de um movimento. Seria o alongamento da musculatura antagonista a um determinado movimento ou exercício, através da concentração voluntária dos músculos agonistas ao mesmo. Balística: Este tipo só podemos observar a teoria pois, não tem prática no dia-a-dia.Toda musculatura circundante à articulação que é empregada no movimento, fica em relaxamento total, e o segmento corporal seria mobilizado por um agente externo de força rápida. Controlada: Movimento sob ação do músculo agonista de forma lenta até chegar à maior amplitude onde é possível realizar uma contração isométrica. Depende não somente da elasticidade dos antagonistas e da mobilidade da articulação envolvida, como também da força isométrica do agonista.
Independente de classificações, a flexibilidade comprovadamente é um componente da aptidão física determinante para a obtenção e melhora nos níveis de saúde, bem estar e qualidade de vida. Afinal, uma boa flexibilidade contribui de forma considerável com a autonomia dos idosos auxiliando-os principalmente no desenvolvimento das atividades da vida diária.
Flexibilidade na terceira idade
A flexibilidade é um componente da aptidão física que, em decorrência da inatividade física, é perdida rapidamente. E como grande parte dos idosos, são fisicamente inativos, essa perda torna-se mais evidente ainda.
Idosos, geralmente, são menos flexíveis, e consequentemente possuem menor mobilidade articular e elasticidade muscular. A flexibilidade está presente em muitas atividades do ser humano, e para retardar os efeitos do envelhecimento sobre a mesma, exercícios específicos para melhora e manutenção, devem ser praticados. A qualidade de vida e o bem estar das pessoas estão diretamente ligados à flexibilidade, em virtude da correlação desta com a motricidade humana (NAHAS, 2003).
Os alongamentos, que são práticas regulares e orientadas, além de combater o estresse, e reduzir as tensões musculares, ajuda na coordenação motora global, melhorando assim as capacidades para outras atividades do cotidiano (OTTO, 1987).
Essas afirmações evidenciam que idosos que apresentam boa flexibilidade conseguem desempenhar sua atividades diárias com maior facilidade, tornando-os mais independentes com relação a estas atividades e consequentemente aumentando sua autoestima, motivação e algo muito importante para o indivíduos desta idade: a autonomia funcional.
De modo geral, com relação ao treinamento da flexibilidade, durante a realização dos exercícios, deve-se evitar o prolongamento das atividades, a fim de evitar o aumento da espessura da cartilagem articular. Esse fator pode se tornar com o passar do tempo mais um componente limitante da flexibilidade. O emprego demasiado de contrações musculares possuem a tendência de diminuir o comprimento do músculo e consequentemente a amplitude do movimento da articulação (CONTURSI; CARVALHO; LACERDA, 1990).
Os músculos, tendões, ligamentos e tecidos conectivos tendem a melhorar suas propriedades elásticas mediante programas regulares de exercícios que englobem amplitudes de movimento acima das habituais, com repercussões benéficas em diversas dimensões.
O trabalho de flexibilidade se difere em duas modalidades: o flexionamento ativo que atua sobre a elasticidade muscular, no componente elástico e miofilamentos, onde ficam os maiores causadores da redução da flexibilidade dos idosos. E o alongamento, que propicia a manutenção da flexibilidade por trabalhar em níveis submáximos ao limite articular (NAHAS, 1999).
Portanto devemos diferenciar e ter bem claro em mente que o alongamento somente mantém os níveis flexibilidade, enquanto o flexionamento melhora os níveis deste componente.
Para a manutenção e a melhora nos índices de flexibilidade, são conhecidos alguns métodos de treinamento. A seguir destacamos os principais:
Método ativo ou de flexionamento dinâmico: o trabalho é realizado contraindo os músculos agonistas, até a máxima extensão dos músculos antagonistas. O movimento deverá ser conduzido lentamente indo até o máximo de elasticidade muscular que uma determinada área permite e depois voltando na posição inicial.
Método passivo ou estático: os movimentos são realizados com o auxilio de outra pessoa, devendo a musculatura permanecer relaxada. Esta posição deverá ser adotada por um determinado período.
Método misto: contraindo os músculos agonistas contra uma força externa, oferecendo maior relaxamento dos músculos antagonistas.
No entanto, o treinamento de flexibilidade para idosos deve ser diferenciado com relação a outras faixas etárias. O trabalho de flexionamento, devido ao aumento das tensões sobre os ossos, deverá ser realizado com cautela e adaptação prévia aos movimentos a serem trabalhados a fim de evitar lesões ou desconforto (NAHAS, 1999). Temos que ter em mente que o ser humano por natureza prefere a realização de atividades prazerosas, e, muitas vezes o treinamento de flexibilidade pode tornar-se desconfortável e monótono, afastando assim, principalmente os idosos de sua prática e prejudicando consideravelmente o processo de envelhecimento.
Considerações finais
A flexibilidade é uma qualidade física básica essencial para a vida das pessoas. Ela está presente, não somente nos esportes, mas também no trabalho, nas atividades de lazer, nas atividades de higiene, vestir, enfim, desde as atividades mais rudimentares do homem às mais complexas. Indivíduos com baixa flexibilidade possuem dificuldades para desempenhar essas atividades. No caso de pessoas idosas, o desenvolvimento de tais atividades torna-se ainda mais complicado, e, quanto menor for o nível de flexibilidade, maior a dificuldade e desconforto para realiza-las por mais básicas e simples que algumas destas atividades possam ser.
Dentre as várias formas possíveis para manutenção, desenvolvimento e treinamento da flexibilidade fazem-se necessários alguns cuidados especiais e o acompanhamento de profissionais de educação física para a prática destes treinamentos quando direcionados para idosos é de fundamental importância para a obtenção dos resultados desejados.
Dessa forma podemos concluir que o treinamento da flexibilidade pode ser, então, um forte aliado para o idoso no que diz respeito a sua mobilidade e melhora da sua capacidade funcional, autonomia, independência. Além de auxiliar para incrementar sua expectativa de vida, tem a capacidade de contribuir para adiar algumas debilidades que atingem os idosos, e como consequência disso, melhora consideravelmente a qualidade de vida e níveis de saúde em idosos inseridos em programas regulares de exercícios físicos que abordam em sua programação treinamentos específicos para a flexibilidade.
Referencias
BARROS, Turibio; GHORAYEB, Nabil. O exercício. São Paulo: Atheneu, 1999.
CONTURSI, T. L. B.; CARVALHO, A. C.; LACERDA, I. C. M. O. de. Flexibilidade e Relaxamento. Rio de Janeiro: Sprint, 1990.
DANTAS, Estélio H. M. Flexibilidade Alongamento e Flexionamento. 4.ed. Rio de Janeiro: Shape,1999.
FERREIRA, Vanja. Atividade Física na Terceira Idade: o segredo da longevidade. 2ed. Rio de Janeiro: Sprint, 2007.
Manual do ACSM para teste de esforço e prescrição de exercício. Rio de Janeiro: Revinter, 2000.
MARINS, J. B.; GIANNICHI, R. S. Avaliação & Prescrição de Atividade Física: guia prático. 2ed. Rio de Janeiro: Shape, 1998.
MATSUDO, S. e MATSUDO V. Prescrição e benefícios da atividade física na terceira idade. Revista Brasileira Ciência e Movimento, outubro de 2000. Brasília.
NAHAS, Markus V. Atividade física, saúde e Qualidade de vida: conceitos e sugestões para um estilo de vida ativo. 2. ed. Londrina: Midiograf, 2001.
OTTO, Iran. Exercícios Físicos para a Terceira Idade. São Paulo: Manole, 1987.
PAVEL R. C.; ARAUJO, C. G. S. Flexiteste - nova proposição para avaliação da flexibilidade. In: Anais do Congresso Regional Brasileiro de Ciências do Esporte. Volta Redonda, 1980.
SILVA, Osni Jacó da. Exercícios em Situações Especiais I. Florianópolis: UFSC, 1997.
WERLANG, C. Flexibilidade e sua Relação com o Exercício Físico IN: SILVA, O.J. Exercícios em Situações Especiais I. Florianópolis, Ed. UFSC, 1997.
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