A experiência pode ser um fator de alteração da percepção de estresse entre árbitros de futebol La experiencia como factor de variación de la percepción de estrés en árbitros de fútbol |
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*Laboratório de Avaliação da Carga. Universidade Federal de Minas Gerais **Departamento de Educação Física. Universidade Federal de Viçosa ***Laboratório de Psicologia do Esporte. Universidade Federal de Minas Gerais ****Árbitro de Futebol. Confederação Brasileira de Futebol *****Departamento de Educação Física. Universidade Federal de Lavras (Brasil) |
João Gustavo de Oliveira Claudino* Israel Teoldo Costa** Mário Antônio de Moura Simim*** Flávio Henrique Coutinho Teixeira**** Sandro Fernandes da Silva***** Guilherme Azambuja Pussieldi** |
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Resumo O tempo de experiência do árbitro de futebol pode influenciar a sua percepção de estresse. O objetivo do estudo foi verificar se existe diferença na percepção dos fatores causadores de estresse entre os árbitros de futebol com mais e com menos tempo de experiência na função. Compuseram a amostra trinta árbitros de futebol, do sexo masculino, divididos em dois grupos, o Mais Experiente (n=11) e o Menos Experiente (n=19). Utilizou-se o Teste de Estresse para Árbitros (TEPA). Foi realizada uma estatística descritiva e inferencial (Teste de Wilcoxon). Os árbitros apresentaram diferença significativa na percepção de estresse entre os Mais Experientes e os Menos Experientes. “16–Não saber com quem vai apitar” e “41–Atraso das equipes para iniciar a partida” foram fatores mais estressantes para os Mais Experientes. Sendo que para os Menos Experientes foi “45–não ter reconhecimento e/ou valorização” (p<0.05). Concluiu-se que somente os fatores ligados a questão Social apresentaram diferença significativa entre os grupos. Unitermos: Estresse. Futebol. Árbitro.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 164, Enero de 2012. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
A influência dos fatores psicológicos sobre o desempenho esportivo vem chamando a atenção de pesquisadores desde 1895, porém somente a partir da década de 60 é que as pesquisas passaram a ser sistematizadas (SOUZA FILHO, 2000; CASAL, 2000). Nos últimos anos, parâmetros interferentes no rendimento dos participantes diretos em jogos de futebol, vêm-se mostrando presentes nas pesquisas das Ciências do Esporte, principalmente na Psicologia do Esporte, como em atletas (SIMIM et al., 2010; CLAUDINO et al., 2008), treinadores (COSTA et al., 2010; COSTA et al., 2009) e árbitros (ASCI et al., 2007; ERDEMIR; TEKIM, 2007; SILVA, 2004; BARA FILHO; GUILLÉN, 2004; SAMULSKI et al., 1999)
A pressão das torcidas e da mídia, a cobrança dos jogadores e de treinadores, e a diferença da avaliação subjetiva de uma situação são fatores que contribuem para a difícil função dos árbitros. Essa função é de grande importância nas competições e da mesma forma que atletas e técnicos, ele sofre pressões e pode ter seu rendimento prejudicado pelas situações de estresse que vivencia antes, durante e após do jogo (ERDEMIR; TEKIM, 2007; SILVA, 2004; SILVA et al., 2004b).
Estas cobranças de resultados advindas dos torcedores, da imprensa e dos dirigentes fazem com que este profissional procure cada vez mais desenvolver diferentes habilidades para potencializar o seu trabalho. Diante de tamanha exigência e constante cobrança, os árbitros têm procurado além do conhecimento técnico e disciplinar (BART et al., 2007; DOWNWARD; JONES, 2007), elevado desempenho em outros aspectos do contexto esportivo, tais como o condicionamento físico (STAIGER; TERBIZAN, 2007; SILVA; RODRIGUEZ-AÑES, 2003; BANGSBO; KRUSTRUP, 2001), e os fatores psicológicos, que são objeto deste estudo.
Quando um estímulo é percebido como ameaçador, uma reação emocional gera estado de estresse (SILVA et al., 2004a). O processo de estresse pode provocar mudanças fisiológicas (ex. aumento da freqüência cardíaca, dilatação das pupilas, sudorese dentre outros), pensamentos desagradáveis, sentimentos de tensão, apreensão e nervosismo, essas alterações podem prejudicar, segundo Silva (2004), as tomadas de decisões dos árbitros.
A base da percepção do estímulo está no conhecimento e na experiência em lidar com a tarefa, no ambiente numa dada situação (SILVA, 2004), sendo assim diferenças no tempo e tipo de experiência podem influenciar no desempenho. Somado a estes fatos, os achados de Dorsh e Paskevich (2007) e Kaissidis-Rodafinos e Anshel (1993) que árbitros mais experientes apresentam menor nível de estresse quando comparados com os árbitros menos experientes.
Segundo De Rose Junior, Pereira e Lemos (2002) é primordial que se conheça as causas do estresse, para que se possa diminuir o impacto das mesmas no desempenho. Portanto a adequação das respostas ao nível cognitivo do árbitro pode ser fator decisivo para melhorar sua atuação e o processo de formação de novos árbitros de futebol, onde propiciará reações mais rápidas e precisas, sem sofrer tantas pressões que envolvem seu trabalho (SAMULSKI, 2009). Pois de acordo com Weinberg e Gould (1995), o grande estresse que enfrentam os árbitros só é recompensado às vezes pela satisfação de um trabalho bem feito, o que geralmente não é suficiente e leva a uma alta taxa de rotatividade, escassez de árbitros, esgotamento e burnout dos mesmos.
Sendo assim, o objetivo do presente estudo foi verificar se existe diferença na percepção dos fatores causadores de estresse entre os árbitros de futebol com mais e com menos tempo de experiência na função.
Métodos
Amostra
Participaram desta pesquisa 30 árbitros de futebol do quadro amador da Federação Mineira de Futebol. Os critérios de inclusão destes árbitros neste quadro foram: ter mais de 1 ano de experiência e idade entre 18 e 45 anos.
Instrumento
Nesse estudo utilizou-se o “Teste de Estresse para Árbitros” (TEPA) dos esportes coletivos com contato, desenvolvido e validado por Silva (2004). O instrumento é composto por 69 itens agrupados em 3 dimensões que compreende o estresse biológico, social e psicológico (Tabela 1). Cada uma das questões é avaliada em uma escala do tipo Likert onde (0) Nada, (1) Pouquíssimo, (2) Pouco, (3) Muito e (4) Demais.
Procedimentos éticos
Este estudo foi realizado respeitando as normas estabelecidas pelo Conselho Nacional em Saúde (1996) e pelo Tratado Ético de Helsinque (1996) envolvendo pesquisas com seres humanos. O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade de Itaúna sob o parecer de número 016/08.
Procedimentos de coleta de dados
A instituição foi contatada pelo pesquisador responsável com o intuito de esclarecer os objetivos da pesquisa e fazer o convite aos árbitros. Todos os participantes assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, foram passadas todas as informações sobre o preenchimento do questionário, todas às dúvidas foram esclarecidas. Os árbitros dispunham de tempo suficiente para registrar as suas respostas com clareza e precisão.
Análise estatística dos dados
Os procedimentos de análise dos dados foram realizados pelo pacote estatístico SPSS® (Statistical Package for Social Science) for Windows ®, versão 17.0. Para a análise dos dados utilizou-se uma estatística descritiva composta por média, desvio padrão, coeficiente de variação e distribuição de freqüência. Para a comparação entre as dimensões foi utilizado o Teste Wilcoxon. O cálculo da mediana foi utilizado como critério para determinação dos grupos mais e menos experientes. Segundo Dancey, Reidy (2006) a mediana é a medida de tendência central que separa a metade inferior da amostra, população ou distribuição de probabilidade, da metade superior. Dessa maneira, os árbitros com mais de (06) anos de experiência foram agrupados como “Mais Experientes”; e os árbitros com até seis (06) anos de experiência foram agrupados como “Menos Experientes”.
Assim, para comparar as dimensões entre os grupos foi utilizado o Teste Mann-Whitney U. Em todas as comparações adotou-se o valor de p≤0,05 para identificar as diferenças estatísticas.
Resultados
Os resultados serão apresentados na seguinte ordem: primeiramente serão apresentados os resultados do questionário de caracterização da amostragem, depois, os critérios para divisão dos grupos, logo em seguida, os resultados do TEPA, o qual visa avaliar as situações estressantes para os árbitros Mais Experientes e Menos Experientes pelas dimensões do instrumento.
Caracterização da amostra
A caracterização da amostra esta apresentada na Tabela 1.
Tabela 1. Caracterização da amostra
A Tabela 2 apresenta os critérios para distribuição da amostra em função do tempo de experiência.
Tabela 2. Critério para distribuição da amostra
O grupo Mais Experiente foi composto por 11 árbitros (8,82 ± 2,79 anos de experiência) e o grupo Menos Experiente foi composto por 19 árbitros (4,37 ± 1,61 anos de experiência)
Análise do estresse psíquico
Os fatores que apresentaram diferença significativa na percepção do estresse entre os Mais Experientes e os Menos Experientes foram (Tabela 3).
Tabela 3. Fatores de estresse psíquico
Discussão
Os árbitros apresentaram diferença significativa na percepção de estresse entre os Mais Experientes e os Menos Experientes. “16 – Não saber com quem vai apitar” e “41 – Atraso das equipes para iniciar a partida” foram fatores mais estressantes para os Mais Experientes. Sendo que para os Menos Experientes foi “45 – não ter reconhecimento e/ou valorização”. Os achados deste estudo demonstraram que somente os fatores ligados a questão Social (Fatores 16, 41 e 45) apresentaram diferença significativa entre os grupos.
Folkesson et al. (2002) verificaram ser mais estressante para os árbitros menos experientes comparados aos mais experientes fatores ligados a ameaça e agressão por parte dos torcedores, jogadores e treinadores. No presente estudo não foi verificada essa diferença na percepção de fatores ligados a segurança entre os grupos.
O fato dos árbitros Menos Experientes terem como principal fator estressor a falta de reconhecimento e/ou valorização corrobora com os achados de Pereira et al. (2006) que verificaram os motivos dos árbitros da formados na Escola Paranaense de Formação de Árbitros (EPAFAF), e inscritos no quadro de árbitros da Federação Paranaense de Futebol a desistirem da carreira profissional, como estar em desacordo com o nível dos jogos que estavam sendo escalados, não concordar com os critérios da comissão de arbitragem para escalar os árbitros, estar em desacordo com a política da associação dos árbitros e conseqüentemente não acreditar na associação dos árbitros.
Nenhum dos fatores citados no presente estudo como estressantes para os grupos Mais Experientes e Menos Experientes foram citados por outros autores que aplicaram o TEPA em árbitros de futebol e futsal. O TEPA foi aplicado em 109 árbitros do quadro profissional da Federação Mineira de Futebol e da Federação do Estado do Espírito Santo (SILVA, 2004) e verificou que as situações consideradas estressantes para esta amostra foram chegar atrasado para uma partida, falta de responsabilidade de colega de arbitragem e a desorganização de uma competição foram os fatores mais mencionados como causadores de estresse. Nascimento e Nunes (2005) aplicaram o TEPA em 20 árbitros de futebol do quadro amador da Liga Josefense de Futebol do estado de Santa Catarina e verificaram os seguintes fatores “estar com problemas de saúde”, “estar cansado fisicamente/psicologicamente”, “errar em jogadas decisivas”, “cometer erros consecutivos”, “chegar atrasado” e “atuar com a equipe de arbitragem incompleta”. O TEPA também foi aplicado em outra modalidade esportiva e verificou que os fatores estressantes para os árbitros de futsal foram “falta de responsabilidade do colega e outras pessoas”, “chegar tarde ou atrasado no local do jogo”, “ter consciência após o jogo do erro que cometeu”, “errar seguidamente”, “falta de segurança para chegar e principalmente voltar para casa” (FERREIRA et al, 2009).
No entanto, Samulski et al. (1999) encontraram como fonte de estresse situacional, “preparação física inadequada”, ao aplicar um teste de estresse psíquico da arbitragem, com 35 prováveis influências no rendimento.
Como Silva e Greco (2004) afirmam que identificar as situações que mais levam ao estresse é o primeiro passo para quebrar, romper e controlar as cargas emocionais avaliadas como negativas e que diminuem o rendimento, este já foi dado. Somando a este fato, a performance ser para Simões e De Rode Junior (1999) resultado de uma interação entre as necessidades, percepções, opiniões, sentimentos, reações e influências na pessoa.
Conclusão
A percepção de fatores de estresse foi diferente entre os árbitros Mais Experientes e os Menos Experientes.
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