Educação Física escolar: a necessidade de uma práxis educativa mais coerente com a realidade Educación Física escolar: la necesidad de una praxis educativa más coherente con la realidad |
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*Pós-Graduada em Educação Física Escolar pela Faculdade de Macapá, FAMA, AP **Mestrando em Educação Física pela Universidade Federal de Pelotas, RS Mestrando em Ciência do Movimento Humano, Universidade UAA, Assunção, PY ***Graduada em Educação Física pela Faculdade de Macapá, FAMA, AP ****Graduando em Educação Física pela Universidade Vale do Acaraú, UVA, AP (Brasil) |
Marceli Pureza de Melo* Francisco Marlon da Silva Gomes** Wirliane da Silva de Melo*** Marco Aurélio da Silva Gomes**** |
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Resumo O presente estudo tem como objetivo provocar uma reflexão a respeito da temática: Educação Física Escolar: a necessidade de uma práxis educativa mais coerente com a realidade. Afinal por que ensinar? (justificativa); o que ensinar? (seleção de conteúdos); quando ensinar? (etapas ensino-aprendizagem); como ensinar? (metodologia); o que, para quê, como e quando avaliar? (processo de avaliação). Para compreender e conhecer a Educação Física será percorrido historicamente os caminhos que nos trouxeram até o momento atual, descrevendo sobre os fatores que influenciaram e influenciam no ensino da Educação Física: sua trajetória histórica, as principais abordagens de ensino da Educação Física, o profissional de Educação Física, o currículo restrito ao “ensino” do esporte e as possibilidades no ensino-aprendizado. Esta pesquisa foi realizada através de revisão bibliográfica de vários autores visando incentivar os profissionais de Educação Física a investir em uma práxis que atenda as necessidades atuais dos educando. Não há pretensão de uma abordagem totalizante e, muito menos, de indicar um caminho único para a Educação Física Escolar, mas de trazer para a discussão elementos que possam ser incorporados na práxis dos profissionais de Educação Física. Portanto, contribuir para a construção de uma Educação que não se preocupe apenas com o “ensino” do esporte, mas que tenha compromisso com a educação integral dos discentes é papel do docente, provocar o conhecimento tendo como objetivo construir pessoas críticas, autônomas e conscientes de seus atos. Unitermos: Educação Física Escolar. Metodologia de ensino. Currículo.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 160, Septiembre de 2011. http://www.efdeportes.com/ |
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O número elevado de estudos realizados desde o início da década de 1980 na área da Educação Física Escolar tais como Libâneo (1985), Tani (1988) e Betti (1991), foi sinalizado por Freire (2003) como um indicador de que a Educação Física precisava de mudanças e que, mesmo com os avanços teóricos alcançados pelas reflexões levantadas por esses estudos, a práxis da disciplina ainda não era correspondente às propostas apresentadas. As publicações mais recentes, como o Coletivo de Autores (1992), os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1997) e Darido & Rangel (2005), mostram preocupação com a necessidade de uma práxis educativa mais coerente com a realidade e as peculiaridades humanas.
Em meio a esse cenário de transição, diversas abordagens pedagógicas foram apresentadas nas pesquisas em Educação Física, todas baseadas nas diversas áreas de conhecimento humano, como a psicologia, sociologia e filosofia. Mesmo que essas propostas tenham fatores em comum e, ao mesmo tempo, pontos divergentes, todas se relacionam ao pretender uma Educação Física que contemple o Ser Humano em todas as suas dimensões, proporcionando uma educação dita integral (DARIDO, 2003).
Darido & Rangel (2005) considerou que os conteúdos da Educação Física Escolar incluem somente algumas modalidades esportivas, tais como o futebol, basquetebol e voleibol. Alguns professores de Educação Física na escola ainda têm como um dos seus principais objetivos desenvolverem habilidades esportivas seguindo modelos de preparação física dos esportes de alto rendimento, assemelhando-se à realidade da Educação Física na década de 1970.
A maior parte dos autores durante esse trabalho converge na idéia de que muitos professores assumem o esporte como único conteúdo nas aulas de Educação Física, tanto no Ensino Fundamental como no Ensino Médio, e que isso desmotiva os alunos. Em contrapartida, Betti & Liz (2003) desenvolveu uma pesquisa com alunas do Ensino Fundamental e concluiu que o esporte é o conteúdo preferido das estudantes e que a maioria continua sentindo prazer pelas aulas, porém não consideram a Educação Física uma disciplina muito importante.
Betti & Zuliani (2002 apud Martinelli et al, 2006) argumentam que, ao chegarem aos anos finais do Ensino Fundamental, os alunos começam a desenvolver uma visão mais crítica do mundo e da sociedade, passando a desconsiderar a importância dessa disciplina e a ter outros interesses.
Segundo Martinelli (et al, 2006), o profissional de Educação Física muitas vezes contribui para o desinteresse dos alunos, pois os métodos utilizados para desenvolvimento das aulas, os conteúdos pouco relevantes, o relacionamento com os alunos, entre outros fatores, determinam o participar ou não das aulas.
Com a limitação dos conteúdos da Educação Física somente ao “ensino” do Esporte, os alunos não vêm a Educação Física como uma disciplina escolar, a vem somente como um momento de lazer, o que ocorre por conta da metodologia aplicada pelo profissional de Educação Física influenciada por diversos aspectos. Visto que o educador é um provocador do conhecimento ele deverá proporcionar informações que levem o aluno a conhecer e saber utilizar esse recurso em sua vida.
Conhecer a Educação Física não se restringe a executar alguns movimentos, mas sim conhecer o histórico, suas bases teóricas, sua função e principalmente entender, compreender, transformar e aplicar este conhecimento para a qualidade de vida, pois o valorizar ocorre após o conhecer. Portanto levantasse a questão se os discentes conhecem a Educação Física Escolar?
Breve histórico da Educação Física
No século XX, a Educação Física Escolar no Brasil sofreu influências de correntes filosóficas, tendências políticas, cientificas e pedagógicas. As transformações econômicas e institucionais impuseram no século XVIII a idéia de contrato social como dominante. É neste momento que as bases de desenvolvimento da pedagogia e da escola vão ganhando força, na medida em que as relações dos indivíduos passam por configurações contrastantes, saindo de um ambiente de comunidade para um modelo de sociedade.
O relacionamento do Homem com seu corpo também são alterados com este novo processo de ensino-aprendizagem, resultado das transformações ocorridas no par educação-sociedade. A educação do corpo, assim como toda a educação, antes vivenciada pelo processo de endoculturação, definido por BRANDÀO (1985) como:
Processo de aprendizagem e educação de uma cultura, desde a infância até a idade adulta. Através do qual um grupo social aos poucos socializa, em sua cultura, os seus membros, como tipos de sujeitos sociais, passou por uma sistematização, essa chamada de ginástica, que no século XVIII, devida às necessidades de treinamento dos exércitos dos países envolvidos na guerra contra a França de Napoleão Bonaparte, passa a ser conhecida como Métodos de Ginástica, tendo como principais os modelos instituídos na Alemanha, Suécia e França.
Este momento pode ser considerar como nascimento da Educação Física, o maior instrumento de institucionalização da educação do corpo, através de seus ideais eugênicos, higiênicos e de saúde, características marcantes dos métodos de ginástica, como apresenta DARIDO (2003):
Os métodos de ginástica procuravam capacitar os indivíduos no sentido de contribuir com a indústria nascente. No modelo militarista, os objetivos da Educação Física na escola eram vinculados à formação de uma geração capaz de suportar o combate, a luta, para atuar na guerra...
No Brasil a Educação Física chega às escolas em 1851 com a reforma Couto Ferraz (DARIDO, 2003), tendo como conteúdo específico o Método de Ginástica Alemão. Porém a consolidação da Educação Física, através dos métodos de ginástica, na escola se dá a partir de Rui Barbosa, com a reforma de 1882, instituindo o método de ginástica sueco, fazendo com que o mesmo fosse obrigatório para ambos os sexos e que fosse oferecido às escolas normais (DARIDO, 2003). Em 1920 passa a ganhar espaço na escola o método francês de ginástica, que a partir de 1930 passa a ser usado como meio para a política Getulista, onde se pretendia um homem forte para a produção da indústria brasileira. Em 1950 a Educação Física esta embasada no modelo desportiva e generalizada, método esportivista, tecnicista, um modelo piramidal.
No início de 1970 está clara a especificidade da Educação Física, onde a mesma se apresenta com um caráter esportivista, é a idéia do saber fazer. É em meados dessa década que aparece o termo "Psicomotricidade" influenciando todas as disciplinas escolares, onde era apresentada uma nova proposta de trabalho, inclusive para a Educação Física, que passa a ser mais valorizado no ambiente escolar com o seu envolvimento com as tarefas da instituição, desenvolvimento da criança, com o ato de aprender, como afirma SOARES (1996).
A Educação Física, naquele momento, estava na escola para algo maior, para a formação integral da criança. A Educação Física era apenas um meio.
Esse "meio" significa que a Educação Física passou a ser instrumento para o ensino de outras disciplinas, é esse o momento em que a Educação Física perde a sua especificidade, não tem mais um conteúdo que é seu, passa a ser um conjunto de meios para algo.
É a partir de 1980 que as discussões sobre a Educação Física ganham uma característica mais critica e política, onde a negação dos conteúdos esportivistas e dos métodos de ginástica serão negados fervorosamente, bem como o fim da especificidade, proveniente da psicomotricidade, será debatido em busca de uma identidade da Educação Física Escolar.
A história da Educação Física na sua ligação com a escola foi montada a partir de uma inserção periférica ao seu núcleo central e foi subordinada a códigos e exigências das instituições militar e esportiva.
A busca por uma identidade da Educação Física é o que escreve sobre a necessidade desta entrar em crise para que fosse possível superar o quadro de indefinições presente em sua pratica social. É então que, como afirma KOKUBUN (1995) a busca da identidade da Educação Física tem suas raízes no seu baixo prestígio social perante a sociedade.
A tentativa de limitar um corpo de conhecimentos, um objeto de estudo, marca as discussões do começo de 1980. É nesse momento que a Educação Física passa por um período de valorização de seus conhecimentos (DARIDO, 2003).
No entanto, principalmente os avanços obtidos no campo das metodologias da Educação Física não foram suficientes para resolver os problemas centrais; ainda temos lacunas consideráveis que marcam a sua forma de inserção na escola. (MARTINS, 2002)
Sendo assim, esse quadro de "crise" intelectual, explicito na época, muito contribuiu para aumentar as confusões, presentes nos professores responsáveis pela intervenção social através da Educação Física.
Esses debates de caráter crítico, com base na ideologia marxista, em relação a sua função social, fazem com que o papel da Educação Física Escolar seja vista de maneiras diferentes, na tentativa de definir um objeto de estudo bem como uma especificidade para a área a fim de identificar o papel social que a Educação Física deva cumprir na sociedade e no âmbito escolar. Surgem então, segundo DARIDO (2003), novos movimentos na Educação Física Escolar, novas abordagens, novas tendências pedagógicas para a Educação Física na escola.
Abordagens da Educação Física
A especificidade pedagógica da Educação Física gera enormes discussões, de maneira intensiva, há pelo menos duas décadas. Diferentes respostas têm sido formuladas para tentar encontrar o "caminho" que deve seguir uma prática pedagógica que atenda todas as necessidades da Educação Física em sua intervenção na sociedade, bem como dê, à mesma, as margens de seu conteúdo. Esses "caminhos" têm sido chamados de abordagens, e se apresentam de maneiras distintas quando se refere ao conteúdo e à identidade da Educação Física, principalmente a aplicada no ambiente escolar.
Tais abordagens pedagógicas têm gerado um substancial número de publicações na Educação Física, e estão à disposição dos professores envolvidos com este segmento de atuação profissional. Antes deste momento, meados de 1980, as discussões giravam em torno de textos estrangeiros.
As abordagens pedagógicas da Educação Física podem ser definidas como movimentos engajados na renovação teórico - prático com o objetivo de estruturação do campo de seus conhecimentos que são específicos da Educação Física.
Para apresentação das principais abordagens presentes na Educação Física, desenvolvimentista, construtivista, critico - superadora, será utilizado o quadro apresentado por DARIDO (2003).
Abordagem desenvolvimentista
Tem como seu conteúdo habilidades básicas, habilidades específicas, jogo, esporte e dança. Sua finalidade é a adaptação aos valores presentes na sociedade, para isso fazem uso da equifinalidade, variabilidade, solução de problemas. A temática principal fica por conta das habilidades, aprendizagem e desenvolvimento motor.
Abordagem construtivista
Tem como seu conteúdo brincadeiras populares, jogo simbólico e jogo de regras. Sua finalidade é a construção do conhecimento através do resgate de conhecimento do aluno para a solução de problemas. A temática principal fica por conta da cultura popular, do jogo e do que é lúdico.
Abordagem crítico - superadora
Tem como seu conteúdo os conhecimentos sobre o jogo, esporte, dança e ginástica. Sua finalidade é a transformação social, para isso usam uma tematização da aula. A temática principal é a cultura corporal em uma visão holística.
Abordagem dos Parâmetros Curriculares Nacionais - PCNs
Os parâmetros curriculares nacionais têm suas origens na Europa, mais especificamente na Espanha. Tem como objetivo principal a busca por uma sistematização da Educação através de temas transversais para a promoção de uma interdisciplinaridade. No Brasil, como afirma DARIDO (2003).
Os PCNs acreditam que eleger a cidadania como eixo norteador significa entender que a Educação Física na escola é responsável pela formação de alunos que sejam capazes de participar de atividades corporais, adotando atitudes de respeito mutuo, dignidade e solidariedade.
Além das abordagens apresentadas no texto, ainda existem outros movimentos que podem ou não serem sugeridos como abordagens pedagógicas para a Educação Física, como apresenta DARIDO (2003). São elas as abordagens, sistêmica, crítico emancipatória, jogos cooperativos, saúde renovada.
Ao se pensar em todas as abordagens que tentam explicar e dar conteúdo a Educação Física, dentro de suas características, parecem não haver a devida importância à cultura corporal que está presente tanto no professor, que intervém na escola, quando no aluno. Parece difícil desagregar as vivências passadas pelos professores de Educação Física durante os anos que também foram aluno, seja na escola ou na universidade. Como também seria errôneo desprezar as praticas corporais vivenciadas pelos alunos fora do ambiente escolar, cada um dentro de sua realidade social, dentro de suas limitações culturais.
O profissional de Educação Física, currículo e a esportivização na escola
De acordo com Soares (1996), a Educação Física surge no século XVIII, em obras de filósofos preocupados com a educação. A formação da criança e do jovem passa a ser concebida como uma educação integral – corpo, mente e espírito –, como desenvolvimento pleno da personalidade.
O que observasse nos dias atuais é que ela não está se desenvolvendo de forma a explorar a diversidade de conhecimentos, sobre as quais o homem se desenvolveu. Ao contrário, a práxis da Educação Física nas escolas vem se desenvolvendo de forma a incentivar a prática desportiva. Dessa forma, outros objetivos dessa disciplina não estão sendo explorados, como o educar.
Esta tendência de desenvolvimento de modalidades desportivas coletivas na escola, como única forma de entendimento da Educação Física, pode gerar uma caracterização das aulas de Educação Física como treinamento desportivo (Guedes e Guedes, 1997). Isso pode causar uma identificação dos alunos de escolas, tanto públicas como particulares, com a prática de esportes.
A Educação Física como disciplina escolar trata pedagogicamente os temas da cultura corporal, quais sejam, jogos, ginástica, dança, lutas, capoeira, esportes. Ela nasce como matéria de ensino, na Europa em fins do século XVIII e início do XIX. Primeiramente assume o nome de “Ginástica” e tinha um caráter bastante abrangente, foi quando passou a ser conteúdo obrigatório escolar (SOARES, 1996).
O que é curioso é que, mesmo que a prática da Educação Física tenha sido diferente em outros momentos históricos, o esporte volte a ser a principal atividade nas escolas. Tendo em vista que os currículos dos profissionais de Educação Física incluem disciplinas como: dança, capoeira, judô, atividades expressivas, ginástica, folclore e outras, de acordo com as opções de cada instituição, como explicar a pouca utilização destes conteúdos?
O que é questionado nesse estudo é o que falta ao professor para aplicar os outros conteúdos que aprendeu? Falta de espaço, de motivação, de material? Comodismo? Falta de aceitação destes conteúdos pela sociedade? Ou será que os professores desenvolvem somente os conteúdos com os quais têm maior afinidade?
De acordo com Gueriero e Araújo (2004), a Educação Física escolar tende a apresentar uma esportivização refletida durante toda a vida acadêmica dos alunos. Este caráter esportivizado, onde modalidades esportivas coletivas tradicionais são usadas sem uma fundamentação teórica que garanta os seus aproveitamentos como conteúdo acadêmico, prejudica que a Educação Física como disciplina consiga crescer e alcançar seus objetivos mais amplos que é de educar o aluno para as necessidades da vida. Isto não quer dizer que o esporte não deva ser desenvolvido na escola, pelo contrário, é um conteúdo do currículo da Educação Física assim como os demais que deve ser ofertado nas escolas através de uma metodologia que tenha como foco educar através da Educação Física para a realidade e as peculiaridades humanas, desenvolvendo o conteúdo esporte em todas as vertentes, e não apenas a reprodução dos movimentos, o aprender fazer.
Educação Física voltada para a realidade dos educandos
Os professores de Educação Física, na maioria dos casos, têm restringido seu trabalho apenas ao ensino dos esportes tradicionais tais como, basquete, vôlei e futebol, influenciados pela concepção esportivista, que afetou a Educação Física desde o final da década de 60 (BETTI, 1991). Isso significa, em termos de trabalho pedagógico, que há uma falta de diversidade de conteúdos possíveis de serem pedagogizados na escola.
Com muita freqüência também, estes conteúdos são distribuídos sem nenhuma sistematização, ou seja, são apresentados de forma desordenada ou aleatória. Repetem-se os mesmos conteúdos na 5a, 6a, 7a e 8a série, sem nenhum aumento de complexidade (PAES, 2002). Os conteúdos não são organizados ou seqüenciados segundo uma lógica, ou baseados em princípios. Isso ocorre, não por desinteresse ou desconhecimento dos professores, mas sim porque este tipo de conhecimento ainda não foi construído no interior da área.
Não bastassem estes problemas, podemos afirmar baseados em estudos anteriores (DARIDO, 2003), que muitos conteúdos são transmitidos superficialmente, apenas na ótica do saber fazer. Outra tradição encravada no contexto escolar (DARIDO & RANGEL 2005).
Mesmo sabendo que o país é muito extenso e apresenta inúmeras diferenças culturais, é importante ressaltar que a apresentação de um currículo onde haja possibilidades de sistematização, uma ordem lógica dos conteúdos diversificados e aprofundados, traria diversos benefícios aos professores e alunos nas aulas de Educação Física (ROSARIO, 2003).
Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais, os PCNs, (BRASIL, 1998), os conteúdos podem ser apresentados segundo sua categoria, que são: conceitual ligado a fatos, conceitos e princípios, ou seja, o sentir e os conceitos sobre o corpo ligados à biomecânica, cinesiologia, anatomia, fisiologia e etc., é também ligado ao entendimento de regras esportivas, da história de jogos e esportes, das questões da mídia e etc.
A categoria procedimental é ligada ao fazer, ou seja, o aprendizado e execução de gestos esportivos, de movimentos rítmicos, de danças, de habilidades motoras, de movimentos das lutas, da capoeira e etc.
A categoria atitudinal é vinculada a normas, valores e atitudes, que é trabalhada através de discussões, debates, leituras, vivências em atividades que tragam como tema a violência, a cooperação, a competição, o coletivo, a justiça, a autoridade e etc. Os conteúdos conceituais e procedimentais estão próximos, na medida em que o objeto central da cultura corporal de movimento gira em torno do fazer, do compreender e do sentir com o corpo. Incluem-se nessas categorias os processos de aprendizagem e avaliação.
Os conteúdos atitudinais apresentam-se como objetos de ensino e aprendizagem, sendo indispensável à vivência do aluno de modo concreto no cotidiano escolar, buscando minimizar a construção de valores e atitudes por meio, apenas, do “currículo oculto”.
A Educação Física, ao contrário, ao longo de sua história sempre foi tida como uma disciplina com “pouco conteúdo”, pois sempre priorizou a dimensão procedimental, ligada ao fazer. Muito do preconceito que sofrem os professores e profissionais da Educação Física vem dessa equivocada interpretação (DARIDO, 2001).
Mesmo antes da inserção no contexto de trabalho, os profissionais de Educação Física sofrem com as angústias, expectativas e incertezas de conseguir justificar suas ações na escola. Ficam confusos devido à diversidade de temas historicamente produzidos e incorporados pela Educação Física: esportes, jogos, lutas, danças, atividades rítmicas e expressivas..., temas estes que deveriam/devem ser abordados em nas aulas. Porém, o que acontece, via de regra, é que são absorvidos pelo contexto escolar e começam a reproduzir o que denunciavam enquanto acadêmicos de Educação Física, reduzindo as aulas a um ativismo.
A correta aplicação dos conteúdos está justamente no equilíbrio e na importância que deve ser dada igualmente às três dimensões, mesmo que a disciplina aparentemente seja mais ligada a uma delas. Daí surge à preocupação em aprofundar-se os conteúdos. Essa seria a forma ideal dos objetivos gerais do ensino ser alcançado, já que este visa à formação integral do indivíduo.
Neste estudo não há pretensão de uma abordagem totalizante e, muito menos, de indicar um caminho único para a Educação Física Escolar, mas de trazer para a discussão elementos que podem ser incorporados na práxis pedagógica dos profissionais de Educação Física, focando na educação integral dos educando, motivo pelo qual a Educação Física esta na escola.
Aprender é um ato de conhecimento da realidade concreta, isto é, da situação real vivida pelo educando, e só tem sentido se resulta de uma aproximação crítica dessa realidade. O que é aprendido não decorre de uma imposição ou memorização, mas do nível crítico de conhecimento, ao qual se chega pelo processo de compreensão, reflexão e crítica. O que o educando transfere, em termos de conhecimento, é o que foi incorporado como resposta às situações de opressão — ou seja, seu engajamento na militância política. Afinal, o que você lê você esquece, o que você ouve você lembra e o que você faz você sabe.
Acredita-se que a reflexão sobre o que ensinar e aprender nas aulas de Educação Física na escola é uma das questões norteadoras para (re) pensar este componente curricular que está inserido, juntamente com as demais disciplinas, no contexto escolar. Mais algumas questões que dão um indicativo de como abordar os diferentes temas historicamente produzidos e incorporados pela Educação Física na escola: por que ensinar? (justificativa); o que ensinar? (seleção de conteúdos); quando ensinar? (etapas ensino-aprendizagem); como ensinar? (metodologia); o que, para quê, como e quando avaliar? (construir um processo de avaliação).
É importante salientarmos que a apropriação dos elementos da cultura corporal de movimento necessita ir além do imediatismo do emprego de técnicas e fundamentos (dimensão procedimental), para que possa contemplar também as atitudes, valores que nossos alunos devem ter nas e para as práticas corporais (dimensão atitudinal) e, ainda, garantir a estes o direito de uma explicitação do por que e para quê fazer esse ou aquele movimento, conforme os conceitos ligados a essas práticas (dimensão conceitual) (Darido, 2001).
Atualmente, é unanimidade que a Educação Física escolar vai muito além da recreação e do esporte. Porém, as mudanças não ocorrem da noite para o dia e, na prática, esta área ainda encontra muitos entraves. Antes de qualquer coisa, todas as partes – profissionais de educação física, gestores, diretores, pais e alunos – devem ter consciência da função educacional desse componente curricular. A Educação Física ensina algo que nenhum outro componente curricular da escola em nenhum outro lugar ensina, que é o corpo humano em movimento.
A qualidade de vida é hoje um dos principais objetivos da Educação Física, pois, quanto mais cedo essa questão for tratada com a criança, maiores serão as chances de ela manter hábitos saudáveis durante toda a vida.
Professores e gestores devem ter em mente que este é um tema de todas as disciplinas em menor ou maior grau, e que não se resume a prática física. O papel da Educação Física é dar significado as praticas corporais, levando o aluno a pensar nelas como parte da vida, uma ferramenta para melhorar a qualidade de vida. Ao se voltar para a qualidade de vida como objetivo e conteúdo de ensino, a Educação Física se volta para a vida concreta dos alunos. A atividade física é apenas uma das dimensões da qualidade de vida, que também envolve questões culturais e sociais. A nutrição, por exemplo, é um tema que pode ser explorado conjuntamente com a área de ciências.
Entende-se que a Educação Física escolar deva preocupar-se com a formação integral dos alunos, atuando nos aspectos motor, cognitivo, afetivo e social. Deve ser um espaço para observação, manifestação e transformação de princípios e valores, permitindo aos alunos transferir tais reflexões para além do ambiente escolar. Para tal compreende-se como indispensável à estruturação de procedimentos pedagógicos que caminhem para tais propósitos; neste sentido, a metodologia ideal deverá pautar-se na valorização do processo de ensino-aprendizagem, nas relações pessoais sem cobrança inadequada, tendo como foco atender as necessidades do aluno no contexto social em que este se insere.
Portanto, o aspecto atitudinal do que é ensinado é muito importante, uma vez que gera mudanças de comportamentos, por isso a Educação Física deve capacitar os alunos para agir, interagir, adaptar-se, e transformar de acordo com suas necessidades no meio em que vive, favorecendo a descoberta de benefícios para a qualidade de vida. Na prática, isso significa desenvolver competências que estimulem um estilo de vida ativo e saudável – seja pela capacitação para a realização de atividades físicas, pela reflexão sobre hábitos corriqueiros, pelo conhecimento adquirido através do objeto de estudo o seu próprio corpo, sabendo empregar os conhecimentos da Educação Física de maneira consciente no decorrer de sua vida, e não apenas reproduzindo mecanicamente o que hoje lhe é “ensinado”.
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