Jogo na Educação Físíca: discussões e reflexões El juego en la Educación Física: discusiones y reflexiones |
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Licenciatura em Educação Física pela Universidade Federal de Santa Maria Acadêmica do curso de Educação Física – Bacharelado da UFSM (Brasil) |
Camila Valduga |
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Resumo Este artigo discute a importância do jogo, revisando algumas de suas principais discussões e analisando sua influência no desenvolvimento global das crianças. O objetivo deste trabalho foi averiguar as implicações entre jogo cooperativo e jogo competitivo nas aulas de educação física. Ao longo do seu desenvolvimento, ele passa por tópicos diversos e debate várias questões. Discute os conceitos do jogo e como esse, influência nas aulas. Procura, ainda, discutir o papel da escola e do professor, principalmente na área de educação física, quanto à formação integral do aluno. Unitermos: Jogo. Competição. Cooperação. Escola.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 159, Agosto de 2011. http://www.efdeportes.com |
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Introdução
Tendo em vista as vivências e observações realizadas durante o curso de Educação Física, buscou-se, na literatura, subsídios para a reflexão e compreensão da real contribuição do jogo e de sua influência nas atividades escolares, já que durante as aulas ministradas e observadas era nítido o gosto dos alunos pela prática esportiva.
No ambiente escolar, o jogo sempre usufruiu um lugar de destaque, sendo o conteúdo mais trabalhado pelos professores de Educação Física. No entanto, a sua contribuição real para o desenvolvimento integral do aluno é motivo de questionamento, para a escola, os pais e alguns professores.
Esse artigo tem como objetivo discutir e comparar as diferentes formas e oportunidades de interação entre os alunos nos jogos cooperativos e competitivos. Ressaltando a importância para ambos no que diz respeito à Educação Física Escolar. A discussão será pautada na comparação, em âmbito escolar, da função e o papel da competição e cooperação no desenvolvimento do aluno como um todo.
Acredita-se que, pela escola ser uma instituição social, o ambiente escolar é um meio que influência, produz ou reproduz, os processos de construção do sujeito. E assim o jogo é um importante caminho no processo educativo do indivíduo, com potencial para aproximar atividades e o comportamento das pessoas, no que diz respeito a condições básicas à liberdade, a separação nos limites de tempo e espaço estabelecidos e a regulamentação.
No jogo pode-se notar duas perspectivas, pode-se jogar competitivamente e jogar cooperativamente. O jogo independente de ser competitivo ou cooperativo abrange conhecimentos diferenciados quanto à importância da prática de atividades físicas.
A maneira como o jogo é aplicado aos alunos, é o que define a contribuição que ele pode oferecer. Se trabalhado de uma maneira correta, ressaltando os valores pedagógicos proporcionando divertimento e experiências formativas para a cidadania ou de uma forma obscura levando ao desentendimento dos alunos e a valorização do “melhor”.
Apresentando conceitos...
Jogo
O Jogo é uma atividade física ou mental organizada por um sistema de regras que definem perda ou ganho. A palavra “jogo” se origina do vocábulo latino iocus que significa diversão, brincadeira.
Em alguns dicionários jogo aparece como sendo “atividade lúdica que comporta um fim em si mesmo, com independência de que em certas ocasiões se realize por um motivo extrínseco”.
Seybold (1983) coloca o jogo numa posição de não aniquilamento do adversário e, sim, unicamente, de comparação de certas aptidões e habilidades. Sugere que na Educação Física seja estimulado o principio de coletividade, criando uma atmosfera de jogo, onde não se atribua um “valor sério”, para desarmar a ambição egoísta e buscar a realização conjunta do grupo. No jogo existe competência social, alegre e vital. A comunidade de jogo é uma comunidade “natural”, onde ele, o jogo, é o motivo e a meta do agrupamento.
Jogo envolve conjunto dos participantes, assim como regras que determinam o que vai ser e o que não vai ser permitido. O jogo quando trabalhado em escolas deve ser apresentado de uma forma lúdica, que garanta a diversão e satisfação de todos os alunos, sem motivo para qualquer exclusão.
Na atmosfera do jogo e na escola, utilizando princípios pedagógicos de competência, onde tanto alunos bem capacitados como os poucos capacitados contribuam para um resultado comum, o jogo pode aguçar a compreensão para com o próximo, para com suas dificuldades especiais, assim como pode desenvolver a tolerância, ajuda e consideração para com os demais. O jogo ensina a técnica da convivência, pois tem por base a ordem e a liberdade.
Com uma abordagem sociocultural, o jogo apresenta condições básicas a liberdade, a separação nos limites de tempo e espaço e a utilização de regras.
Jogo é um meio para a socialização, onde o “bom” ou “mal” jogador, esta inserido em um grupo, e cada pessoa pode mostrar diferentes habilidades e capacidades.
[...] a oportunidade de jogar repercute na ativação de todos os níveis do desenvolvimento humano: físico, emocional, mental e espiritual. Temos no jogo, uma oportunidade concreta de nos expressarmos como um todo harmonioso, um todo que integra virtudes e defeitos, habilidades e dificuldades, bem como, as possibilidades de aprender a Ser... inteiro, e não pela metade ( BROTTO, 1999)
Desta forma, a importância de se jogar esta no desenvolvimento humano do aluno e na valorização dele como individuo único, com suas deficiências e suas virtudes.
Jogo Competitivo
A competição permeia os mais variados aspectos da vida cotidiana do ser humano. Cada aspecto seja social, psicológico, econômico ou pedagógico, dentre outros, focaliza a competição por visões especificas, próprias de seus objetos de investigação. Freire fala que “fazer esporte pressupõe uma prática (eminentemente competitiva) da qual emerge uma visão radical do homem, donde se descortina os seus anseios mais profundos”.
O jogo, representando um meio de relacionamento entre um indivíduo com os outros, com o meio ambiente e consigo mesmo, tem na competição um de seus elementos intrínsecos, traz consigo, portanto, essas diversas visões: sociológicas, psicológicas, econômicas e pedagógicas. Dependendo da situação, umas visões se sobrepõem as outras.
Dependendo da forma como é trabalhada a competição pode levar a diferentes intenções de sentido que se pretende dar ao jogo.
No entanto, como um todo “competição” se relaciona à cooperação entre companheiros, conflito com o adversário, interação e rivalidade (jogo em si). O que pressupõe a orientação da competição par a meta ou para a recompensa e não para os demais competidores, tornando-a impessoal.
A competição geralmente oposta a cooperação, designa uma forma de interação entre indivíduos ou grupos, pela qual cada um procura maximizar seus próprios ganhos, ocorre em presença de outros ou de um obstáculo. (Doron & Parot, 1998, p. 155).
No jogo, a competição implica em disputa por um objetivo comum no qual somente um será o vencedor. A utilização de regras convencionais adotadas exige um comportamento ético regulado, que une os excessos de força e violência, entre os participantes com advertências, suspensão ou exclusão.
Da organização do professor em criar as regras e definir objetivos, é que o jogo competitivo pode ou não ser atrativo aos alunos.
A lógica da competição esportiva, o “podium” que pertence ao melhor, minimiza o sentido cooperativo com o adversário aumentando o de dentro da equipe. Portanto, mesmo em jogos competitivos o professor pode ressaltar a importância do outro e a valorização do ser humano.
A competição deve se concentrar em atingir determinada meta e não em prejudicar os competidores.
Sendo o jogo uma atividade social, através da competição, dos reflexos positivos e negativos nela encontrados e por ela gerados, inclusive a cooperação, os competidores vivenciam diversas experiências no contexto esportivo, que servirão de experiência em suas relações sociais.
No âmbito escolar, a competição tem sido reprodução e não reflexão. Os valores formativos da competição no jogo ficaram encobertos por essa mistificação da busca da vitória a qualquer preço.
Segundo Freire (1994), ao buscar uma melhor compreensão do esporte, podemos concluir que não se trata de algo, por si, moral: não é bom, nem mal. O arranjo de seus ingredientes tais como a competição, desafio, solidariedade, bem como do contexto que é praticado, é que determina seus efeitos.
Assim, a competição é importante para o contexto do jogo. Seja qual for o apelo mais forte que caracterize o jogo como uma manifestação ou outra, a competição será sempre um elemento intrínseco a ele, um elemento que não deve ser exagerado, nem renegado.
Jogo Cooperativo
Entende-se cooperação como algo coletivo, onde a presença do outro se faz necessária; uma presença participativa onde cada um dá a sua parcela de contribuição, para se atingir um objetivo comum, integrando-se para beneficio ou melhoria de todos.
Segundo Brotto (1996) a cooperação favorece a integração dos “diferentes” e potencializa os “semelhantes”. É, portanto, uma prática de inclusão, onde as diferenças podem ser amenizadas com o auxilio do grupo, a ao mesmo tempo, valorizar o que cada um tem de melhor.
Aprendendo o verdadeiro significado da
consciência de grupo, paramos de olhar para
nós mesmos como um ser separado de todos
os outros e começamos a ver nosso elo com
toda a humanidade, a natureza e o cosmo.
Nessa realização aprendemos a ciência e a
arte da cooperação. Saraydarian Apud Otuzzi.(1993)
Os jogos cooperativos foram criados com o objetivo de promover a auto-estima e a convivência.
Conceitualmente, os jogos cooperativos são jogos onde os participantes jogam uns com os outros, ao invés de uns contra os outros, onde o esforço cooperativo é necessário para atingir um objetivo comum e não para fins mutuamente exclusivos.
Jogando, os praticantes consideram o outro como um parceiro em vez de tê-lo como adversário, e desenvolvem consciência e seus próprio sentimentos e colocam-se uns no lugar dos outros, operando para interesses mútuos e priorizando a integridade de todos.
Os jogos cooperativos são jogos de unir as pessoas e compartilhar. Ganhar ou perder são apenas referências para o continuo aperfeiçoamento pessoal e coletivo.
A experiência de jogar é sempre uma oportunidade aberta, não determinada, para um aprender relativo. Dependendo dos princípios e de como é aplicado, o jogo cooperativo pode ensinar tanto aos alunos serem solidários e cuidar da integridade uns dos outros, como, ao contrário, estimular o aluno a querer ser mais importante que o outro e não se preocupar com o bem-estar dos colegas.
Ele deve ser trabalhado de uma maneira divertida, onde todos possam usufruir do sentimento de vitória, participando em grupos, criando senso de aceitação mútua, de união e partilha de sucesso, onde ninguém é rejeitado ou excluído.
Nos jogos cooperativos, os jogadores são heterogêneos quanto as características pessoais e habilidades e cada componente do grupo se preocupam não só com o próprio rendimento, mas também com o rendimento de todos os outros.
No jogo cooperativo, o mais importante é ajudar os alunos a verem a si mesmos e os outros como seres humanos igualmente valiosos, tanto na vitória quanto na derrota.
Portanto, os jogos de cooperação resultam no envolvimento total do grupo, potencializando sentimentos de aceitação e vontade de continuar jogando. A cooperação deve ser trabalhada como instrumento de educação e transformação social.
Conclusão
Sabendo que os alunos estão fugindo cada vez mais das aulas de Educação Física, o que pode ser observado claramente na questão dos atestados para serem liberados da prática esportiva, o professor deve buscar alternativas para incentivar e motivar os alunos a freqüentarem suas aulas. E acredita-se que o jogo, tanto competitivo, quanto cooperativo, pode ser um fator decisivo para tornar as aulas de Educação Física mais atrativas.
Os jogos cooperativos são divertidos para todos; Todos os jogadores têm um sentimento de vitória; Todos se envolvem independente da sua habilidade; Aprende-se a compartilhar e a confiar; Aprende-se a solidarizar com os sentimentos dos outros; Os jogadores aprendem a ter um senso de unidade; A habilidade de perseverança é fortalecida; É agradável a todos os participantes, sem exclusão.
Já os jogos competitivos trazem benefícios para auto-superação; Desenvolvem aprendizagem de bens úteis a formação total; Aprimora habilidades de identificar erros com objetivo de reflexão e fornecendo incentivos; Ser orientado pela meta e não para os demais competidores; Ter o reconhecimento da conquista; Ser um espaço de criações esportivas; Incentivar a inclusão e a democratização (quando bem trabalhado); Associar a competência esportiva ao prazer e ao divertimento.
A visão que cada um tem de jogo é que influenciará o modo com que essa pessoa vai jogar, e dependendo dessa percepção, poderá escolher jogar competitivamente ou cooperativamente.
No que diz respeito às aulas de Educação Física o mais importante, independente do estilo adotado, é que o professor ajude a introduzir valores adequados ao jogo e assim contribuir para o desenvolvimento do aluno como um todo.
O jogo é o local ideal para discutir o verdadeiro significado dos valores importantes para o ser humano, tais como ganhar, perder, sucesso, fracasso, ansiedade, rejeição, aceitação, amizade, cooperação e competição sadia.
Cabe pensar no jogo com o seu potencial de aprendizagem e com as suas possibilidades para o desenvolvimento de outros conceitos (sociedade, cultura, esporte, etc.). O jogo é um elemento muito importante na escola, principalmente nas aulas de educação física.
Ele serve como base para o entendimento de outros conceitos esportivos, como por exemplo: técnica, tática, ataque e defesa. É através do jogo esportivo que flui o entendimento de diferentes papéis (jogos de poder, de força, de comando, etc.).
O principal papel do jogo no ambiente escolar é o de dar outras possibilidades de compreensão para o esporte e proporcionar aos alunos o desenvolvimento integral. No que tange à educação física em específico, em síntese, propiciar o desenvolvimento global da criança é permitir que a própria corporeidade manifeste uma intencionalidade operante na respectiva motricidade, sem distinção alguma, porque vida é constituída de movimento que tem um alcance pessoal, social, cultural e político.
Referências bibliográficas
BROTTO, F. O. Jogos Cooperativos: Se o importante é competir o fundamental é cooperar; Santos; Projeto Cooperação, 1997.
BROTTO, F. O. Jogos Cooperativos: O jogo e o esporte como exercício de convivência. Tese (mestrado) – Faculdade de Educação Física. Universidade Estadual de Campinas, Campinas 1999.
FREIRE, João B. Educação de Corpo Inteiro; São Paulo; Scipione
LOURO, G. L. O currículo e as diferenças sexuais e de gênero. In: Marisa Costa (Org.). O currículo nos limiares do contemporâneo. Rio de Janeiro. 1998.
Saraydarian A. Otuzzi. A psicologia da cooperação e a consciência grupal; São Paulo; Aquarian, 1990.
SEYBOLD, A. Educação Física: Princípios Pedagógicos. Rio de Janeiro; Ao Livro Técnico, 1983.
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