Efeitos da prática regular de exercícios físicos sobre o sistema imune Efectos de la práctica regular de ejercicios físicos sobre el sistema inmune |
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*Mestre em Educação Física pela UNIMEP/SP **Graduada em Fisioterapia pela UNIVERSO/RJ (Brasil) |
Rubem Machado Filho* Teresa de Jesus Machado** |
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Resumo O estudo da relação entre o exercício e a resposta imune tem despertado grande interesse da comunidade científica, principalmente devido sua forte relação com a infecção de vias aéreas superiores em atletas submetidos a grandes esforços, o exercício como modelo de estresse e a resposta do treinamento como resposta adaptativa frente a situações de estresse. É bastante razoável a idéia de dividir a resposta ao exercício em resposta aguda, resposta transitória ao estresse e resposta de adaptação crônica, na qual o treinamento capacita o organismo a lidar com o estímulo estressante de maneira mais adequada. O objetivo do presente trabalho foi estudar os efeitos do exercício físico sobre o sistema imune. Unitermos: Exercício Físico. Sistema imune. Linfócitos.
Abstract
The study of the relationship between exercise and immune response
has been much interest in the scientific community, mainly due to its
strong relationship with upper respiratory infection in athletes
undergoing strenuous exertion and exercise as a model of stress and
response training as an adaptive response situations of stress. It is
quite reasonable the idea of dividing the response to exercise in acute
response, temporary response to stress and chronic adaptive response, in
which the training enables the body to cope with stress more adequately.
The objective of this work was to study the effects of exercise on the
immune system.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 16 - Nº 157 - Junio de 2011. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
Vários estudos relatam que o exercício físico afeta a competência do sistema imunológico, incluindo o tráfico de células induzido por hormônios e a influência direta dos hormônios do estresse, prostaglandinas, citocinas e outros fatores (CAVAGLIERI et al., 2006; SUZUKI et al., 2000). Porém, estes efeitos variam de acordo com o tempo e intensidade do exercício físico. Estudos epidemiológicos demonstram uma relação positiva entre estilo de vida ativo, prática de exercícios regulares e aumento da resistência às infecções do trato respiratório superior (IRTS) (CAVAGLIERI et al., 2006; MALM, 2006). Por outro lado, têm se relacionado treinamentos de alto volume e intensidade, com uma maior susceptibilidade à IRTS (NIEMAN, PEDERSEN, 1999; CAVAGLIERI et al., 2006). A intensidade, duração e a freqüência do exercício exercem papel chave na determinação das respostas imunes a um esforço, podendo aumentar ou reduzir tal função (FROLLINI, CAVAGLIERI, 2006).
O risco de se contrair IRTS pode se duplicar para pessoas sedentárias que se submetem a exercícios físicos extremos, em razão de alterações negativas no sistema imune provocadas tanto pela liberação dos hormônios do estresse, como pela linfocitopenia pós-exercício; pela supressão das células NK "Natural Killer" (MARS et al., 1998; CAVAGLIERI et al., 2006) e pela redução da IgA salivar (TOMASI, 1992; CAVAGLIERI et al., 2006). Assim, o exercício pode, paradoxalmente, tanto promover melhora das respostas imunes, como prejudicar estas respostas. Com isso, a ponte que relaciona exercício físico à qualidade de vida vem adquirindo um novo formato, considerando o exercício como um fator positivo ou negativo a saúde dependendo de como é aplicado.
Trabalhos citados por vários autores mostram que, sob estimulação máxima, os hormônios de estresse adrenalina e noradrenalina podem apresentar aumentos de até 10 vezes dos valores basais, por até uma hora depois da atividade; além disso, o cortisol e as catecolaminas não são somente metabólitos ativos, mas também levam a uma redistribuição dos leucócitos, apresentando, desse modo, um efeito imunossupressor (OLIVEIRA, ROGATTO, LUCIANO, 2002; WEINECK, 1999; NIEMAN, 1998).
Além dos hormônios do estresse, a glutamina (aminoácido mais abundante no organismo), cuja maior fonte é o músculo esquelético, é requerida para a proliferação e síntese de nucleotídeo nos linfócitos. A concentração plasmática de glutamina declina agudamente depois de quatro horas de exercício intenso e seu nível durante repouso pode estar baixo em atletas com overtraining, comprometendo a função imune do organismo (OLIVEIRA, ROGATTO, LUCIANO, 2002).
A atividade física pode alterar a função do sistema imune e este efeito varia de acordo com a idade do indivíduo, carga, duração e intensidade do exercício físico (SINGH, FAILLA, DEUSTER, 1994). O exercício físico agudo, de modo geral, provoca aumento da quantidade de neutrófilos e de células NK na circulação. O exercício moderado (até 70% do VO2 máx), influencia na função dos neutrófilos, modificando a quimiotaxia, a desgranulação e a atividade oxidativa dessas células (LAMBERTUCCI, PUGGINA, PITHON-CURI, 2006). Já o exercício intenso e de longa duração diminui a capacidade oxidativa dos neutrófilos (PYNE, SMITH, 2000).
Portanto, o objetivo do presente trabalho foi estudar os efeitos do exercício físico sobre o sistema imune.
Ação do exercício físico sobre a produção sistêmica de citocinas
Citocinas são glicoproteínas, produzidas por diferentes tipos de células do sistema imunitário que têm como função principal mediar a comunicação entre as células do sistema imunitário e não imunitário (DONATTO, 2007).
O exercício físico afeta a produção sistêmica de citocinas, principalmente o fator de TNF-a (DONATTO, 2007), interleucina 1 beta (IL-1b) (MOLDOVEANU et al., 2000), IL-6 (OSTROWSKI et al., 2000; MOLDOVEANU et al., 2000), interferons e outras citocinas (RIVIER et al., 1994). Existem propostas de que existe uma associação entre exercícios de resistência e o aumento do risco de doenças, principalmente as infecções de vias aéreas superiores (IVAS) (NIEMAN, 1994; DONATTO, 2007). Vários mecanismos foram propostos na tentativa de explicar esta suscetibilidade de atletas às infecções expiratórias, porém, recentemente, foi observada uma relação direta entre o aumento da concentração plasmática de IL-6, exercícios extenuantes, aumento da sepsis e infecções respiratórias (DONATTO, 2007; OSTROWSKI et al., 2000).
A IL-6 é uma citocina pró-inflamatória chave na fase aguda da respostainflamatória. Foi observada uma relação direta entre sua concentração plasmática e intensidade da corrida (OSTROWSKI et al., 2000), hipoteticamente relacionado com aumento proporcional da lesão muscular.Entretanto, descobertas mais recentes relacionam o aumento das citocinas, IL-6 e TNF-a, durante exercícios físicos leves que não causaram lesão muscular. Esses novos achados indicam que a uma possível ligação entre citocinas esinalização das vias energéticas (PEDERSEN, et al., 2004; DONATTO et al., 2006; PRESTES et al, 2006).
A interleucina 10 (IL-10) é uma citocina chave nas respostas inflamatórias e na reação imunológica, diminuindo a ação das citocinas pro inflamatórias, através da redução sérica de TNF-a e IL-6 (JANKORD, JEMIOLO, 2004). A IL-10 é considerada a citocina com maior poder antiinflamatório e o exercício físico é tido com um estimulador das células que as secretam, obtendo um efeito benéfico para o praticante (STRLE, ZHOU, SHEN, 2001).
A IL-6 possui uma intima relação com a quantidade de glicogênio muscular e a regulação da homeostasia da glicose sanguínea durante os exercícios de longa duração (STEENBERG et al., 2001; KELLER et al., 2001), e possui a atividade sinalizadora (figura 1) para o aumento do oferecimento de substrato energético, principalmente do fígado e do tecido adiposo, quando as concentrações intramusculares de energia se encontram escassas (PEDERSEN, FEBBRAIO, 2005).
Figura 1. Esquema das ações sinalizadoras da IL-6 sobre o metabolismo e o fornecimento de energia aos músculos exercitados. Fonte: Donatto (2007)
Exercício físico e imunoglobulinas
Após exercício de alta e média intensidade, tem sido descrito aumento das imunoglobulinas séricas. Alguns autores explicam tal achado pela contração do volume plasmático que se segue ao exercício, porém trabalhos nos quais esse parâmetro era corrigido ainda apresentavam aumento (COSTA ROSA, VAISBERG, 2002). Outra explicação apresentada é a de que o aumento de imunoglobulinas seria decorrente do afluxo de proteínas do extra para o intravascular, representadas principalmente por linfa rica em imunoglobulinas (POORTMANS, 1970).
A produção in vitro de imunoglobulinas apresentava-se suprimida após exercício intenso em indivíduos não treinados, enquanto em atletas bem condicionados, o exercício, mesmo de alta intensidade, não provocava qualquer alteração (POORTMANS, 1970). O mesmo padrão de resposta ocorria no estudo da resposta à vacinação, em que sujeitos não condicionados vacinados e submetidos a exercício intenso não apresentavam produção de anticorpos, enquanto atletas imunizados com toxóide tetânico imediatamente após uma maratona apresentaram produção normal do anticorpo após 14 dias (BRUNSGAARD et al., 1997).
Os estudos relacionando IgA secretória e exercício mostram comportamento diferente em relação às outras imunoglobulinas. É vista diminuição de até 50% dos valores basais em atletas de elite após esforço intenso (COSTA ROSA, VAISBERG, 2002). Esta queda está relacionada ao achado de maior incidência de infecções de vias aéreas superiores (IVAS) em atletas submetidos a grandes esforços (MACKINNON et al., 1987).
Influência do exercício físico sobre as subpopulações linfocitárias
O linfócito T supressor/citotóxico (CD8) apresenta aumento de 50 a 100% após o exercício agudo. Linfócito T auxiliador/indutor (CD4) e linfócito B mostram poucas alterações com o exercício (COSTA ROSA, VAISBERG, 2002). Com relação à capacidade funcional, é relatada diminuição da proliferação linfocitária após exercícios de alta intensidade, persistindo esta resposta por várias horas após uma maratona (NEHLSEN-CANNARELLA, NIEMAN, JESSEN, 1991).
A inibição da proliferação linfocitária é decorrente, principalmente, da ação da epinefrina e do cortisol. A administração de epinefrina in vivo está associada à redução de responsividade de linfócitos a mitógenos (COSTA ROSA, VAISBERG, 2002). In vitro, a estimulação de receptores β2-adrenérgicos por epinefrina pode inibir a proliferação linfocitária (COSTA ROSA, 1997), a secreção de IL-2 e a expressão de receptores para IL-2 (VAN TITS, MICHEL, GROSSE-WILDE, 1990). Cortisol também parece inibir a proliferação por ação direta na célula e por inibição da produção de IL-2 (NEWSHOLME, COSTA ROSA, CURI, 1996). Um mecanismo adicional de inibição do linfócito pode ser a ação sobre monócitos, diminuindo a expressão do MHC de classe II, portanto, a capacidade de atuação como célula acessória (AZEVEDO et al., 1997).
A resposta proliferativa da célula T a mitógeno é maior no idoso treinado quando comparada com indivíduos não treinados (PEDERSEN, NIEMAN, 1998). Modelos experimentais confirmam esse achado, demonstrando que ratos submetidos a treinamento em esteira a 75% do VO2 max cinco vezes por semana apresentaram resposta proliferativa similar à de ratos jovens (SHEPHARD, SHEK, 1994).
As células natural killer (NK), população de origem linfóide, são aquelas que demonstram maiores alterações frente ao exercício (COSTA ROSA, VAISBERG, 2002). No período imediato pós-esforço essas células apresentam aumento de 150 a 300% em número no sangue periférico, sendo provável que esta resposta se deva à maior densidade de receptores β-adrenérgicos em sua superfície celular (COSTA ROSA, VAISBERG, 2002). Esse aumento é transitório e após 30 minutos há retorno aos níveis pré-exercício, provavelmente por ação do cortisol (COSTA ROSA, VAISBERG, 2002). Atividade física de longa duração (acima de 90 minutos) associa-se a menor aumento do número de células NK, talvez por já ocorrer influência do cortisol (NIEMAN, NEHLSEN-CANNARELLA, 1994).
A alteração funcional da célula NK é bastante evidente, ocorrendo aumento da atividade citotóxica (NKCA), tanto em atletas idosos como em jovens (BERK, NIEMAN, YOUNGBERG, 1990; CRIST, MACKINNON, THOMPSON, 1989). Mulheres idosas treinadas têm aumento de 57% da NKCA em relação a mulheres sedentárias (CRIST, MACKINNON, THOMPSON, 1989). Tais achados foram relacionados à diminuição da taxa de gordura corporal e também a aumento da secreção de β-endorfinas. Esta relação com opiáceo foi confirmada por modelo experimental (JONSDOTTIR, HOFFMAN, THORÈN, 1997).
Conclusão
Os fatores benéficos da prática regular de esportes para a saúde do indivíduo é um conceito arraigado no imaginário popular. Mesmo não sendo aceita como verdade absoluta, esta idéia tem sua comprovação em dados epidemiológicos, evidenciando menor incidência de doenças bacterianas e virais, assim como menor incidência de neoplasias na população que pratica exercícios físicos. Dados obtidos em modelos experimentais demonstram que humanos e animais treinados têm menor proliferação ou mesmo bloqueio da progressão de células tumorais injetadas, assim como melhor evolução em alguns modelos de infecção sugerindo que o exercício, quando praticado dentro de limites fisiológicos, acarreta benefícios para todos os sistemas orgânicos, incluindo-se aqui o sistema imune.
A atividade física realizada acima da barreira do fisiológico, levando o indivíduo a um excesso de treinamento (overtraining), visto tanto em animais como em humanos, provocou distúrbios e infecções de vias aéreas superiores, principalmente em atletas de alta performance, tanto em períodos de treinamento intenso como de competição, podendo, no entanto, ocorrer em atletas recreacionais que se submetam a grandes esforços.
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