Lecturas: Educación Física y Deportes
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O HISTÓRICO DA CAPOEIRA: UM CURTO PASSEIO DA ORIGEM AOS TEMPOS MODERNOS — 2 / 2
Leonardo José Mataruna dos Santos e Luciana de Oliveira Barros

A Capoeira e o Treinamento Desportivo
O treinamento desportivo tem seus alicerces fundamentados na cultura grega. "Na Grécia o corpo de treinadores compunha-se de pedotribo (condutor de exercícios e jogos), do xistarca (treinador de corridas) e do agonistarca (preparador de lutas)..."(Caldas, 1978, p.10). O treinamento acontecia numa rotina cíclica de quatro dias por semana, e era repetido por toda vida do atleta. Ainda nas palavras de Caldas (1978):
A planificação desportiva helênica estava consubstanciada numa preparação geral, compreendendo um misto de corrida, marchas, jogos, lutas, danças; e uma preparação específica, onde os atletas trabalhavam com resistências adicionais (sobrecargas), utilizando sacos de areia, pesos, fardos e pedras em forma de halteres, (p.10).
A Índia foi o berço das artes marciais, pois os monges de seus mosteiros desenvolviam conhecimentos sobre as lutas com a finalidade de melhorar o condicionamento físico para seus serviços religiosos além de prepará-los para a auto defesa, visto que os mosteiros eram constantes vítimas de saqueamentos e roubos de seus tesouros.

Há de se destacar um monge, Bodhidharma, que difundia a filosofia do Budismo. Era seguidor do princípio mente sã em corpo são. Ensinou a seus discípulos métodos de treinamentos físicos (movimentos rápidos, conduzidos e precisos, combinados com cânticos) objetivando obter resistência e força física localizada. Valorizava também a segurança própria, de seus semelhantes e dos acervos culturais e religiosos. (Silvares, 1992, p.9-10).
Entre os períodos históricos de 776 a.C. até 394 d.C , a arte do treinamento foi ofuscada como conseqüência do domínio romano sobre a Grécia, onde foram implantadas os ideais do cristianismo que pregavam a renúncia da posse material e relegava a segundo plano a preparação corporal. "Desapareceu o ideal grego mens sana in corpore sano" (Caldas, 1978, p.10).

Treinamento é um conjunto de atividades sistemáticas e controladas visando o aperfeiçoamento de um organismo, com o enriquecimento de um repertório de habilidades e o aumento da capacidade de trabalho. Segundo Fox (1991,p.504), "treinamento é um programa de exercícios destinado a desenvolver um atleta para determinado evento. O aumento na perícia do desempenho e nas capacidades energéticas é igualmente importante". O treinamento consiste em atividades que busquem desenvolver o atleta tanto fisicamente como psicologicamente visando uma melhor eficiência e economia energética durante a prática.

Um treinamento desportivo é planejado de acordo com as necessidades e objetivos buscados pelo atleta. De acordo com a modalidade esportiva e com os objetivos do atleta, o treinador estrutura um conjunto de atividades que devem ser executadas. A capoeira treinadas nas academias tem como objetivo o treinamento físico para uma melhoria na performance durante o jogo.

Segundo Dantas (1995), o treinamento desportivo deve ser dividido em cinco períodos. O primeiro é o de pré-preparação, cujo objetivo é fazer a avaliação da forma física do atleta. Em seguida vem o período de preparação, onde de acordo com os dados obtidos começa o desenvolvimento das qualidades físicas aplicadas ao desporto. A terceira etapa é o período específico, que caracteriza-se pelo aperfeiçoamento da condição física, onde serão aplicadas formas de trabalho peculiares a prática desportiva.. O quarto período é de pré-competição, quando são programadas competições de pouca importância. Este período fica caracterizado também pelo ápice da forma física, técnica, tática e psicológica do atleta. A quinta e última fase é o período de transição destinado a recuperação física e mental do atleta.. Os dois últimos períodos do treinamento de Dantas são pouco utilizados dentro de um treinamento de capoeira, visto que esta não objetiva a competição em forma de combate.

Um programa de treinamento é dividido em sessões de treinamento, que podem ser diárias ou podem ocorrer em alguns dias da semana.

Durante uma sessão de treinamento qualquer atividade deve ser iniciada com um aquecimento corporal, responsável pela preparação do atleta para um esforço mais intenso durante a parte principal do treinamento. Weineck (1991), define aquecimento como "...todas as medidas, que antes de uma carga esportiva - seja para treinamento ou competição, servem para a preparação de um estado psicofísico e coordenativo - cinestésico ideal, assim como para a profilaxia de lesões" (p.434).

Fox (1991) & McArdle (1997) defendem que um bom aquecimento e alongamento são as melhores formas de prevenir lesões, sejam elas musculares ou articulares. É imprescindível um tempo de recuperação das estruturas do sistema motor, após um treinamento intensivo.

Gonçalves (1970) explana que "há grande quantidade de atletas que não sabem aquecer convenientemente...",ou seja, não conhecendo o momento exato de cessar o aquecimento, não reconhecendo assim quando estão aquecidos.

A segunda etapa de uma sessão de treinamento corresponde ao momento de treinamento físico, seja ele específico ou geral de acordo com as necessidades do atleta. Este momento da sessão é onde também são feitos os trabalhos de: aperfeiçoamento técnico, aumento do repertório de estratégias, melhoria do estado de saúde e prevenção de lesões.

No final de cada sessão, é recomendado um trabalho de esfriamento corporal, o "volta a calma". Durante este período da sessão a freqüência cardíaca do atleta começa a voltar a seus valores normais, e tem início a reposição energética perdida durante a atividade.

Durante um treinamento não se pode deixar de considerar um fator de vital importância, a individualidade de cada atleta. Cada indivíduo reage de forma diferente a um estímulo dado.

A individualidade do treinamento é determinada pela individualidade biológica que é o fenômeno da variabilidade entre elementos da mesma espécie determinando que não haja seres exatamente iguais entre si. A individualidade biológica tornou-se um princípio importante, pois, segundo a medicina desportiva, os grandes atletas surgem mais por acidente genético (dom) do que por eficiência exclusiva dos métodos de treinamento. (Caldas, 1978, p.78).
Hutchinso (1996), afirma que "um baixo nível de condicionamento está relacionado com o aumento da incidência de lesões" (p.5). Conclui o mesmo autor que "...quando um atleta não atinge um determinado nível de condicionamento, o risco de ocorrência de lesões aumenta proporcionalmente" (p.5).

As lesões relacionadas ao estresse têm sido associadas aos atletas mal condicionados. Segundo Thomas (1970, p.184), "o maior índice de lesionamentos ocorre quando o organismo entra em estado de fadiga.".


O Flexionamento no Treinamento da Capoeira
A capoeira é uma modalidade esportiva que promove uma melhoria na flexibilidade do seu praticante. Isso acontece devido a seus movimentos dependerem de uma amplitude articular considerável.

Para uma performance ainda melhor de seus atletas, muitos professores de capoeira incluem no seu programa de treinamento atividades de flexionamento.

Dantas (1989, p.67), descreve flexionamento como "... forma de trabalho que visa obter uma melhora da flexibilidade através da viabilização de amplitudes de arcos de movimento articular superior às originais".

Em uma concepção mais arcaica, Gonçalves (1970, p.211) define flexibilidade como "...qualidade física que possui o desportista para dobrar-se sobre as próprias articulações".

O trabalho de flexionamento promove algumas modificações nas estruturas dos músculos, dos ligamentos e das articulações. "...Por sua maior intensidade, promoverá adaptações duradouras nos componentes plásticos, elásticos e inextensíveis possibilitando o alcance de novos ângulos articulares superiores aos primitivos" Dantas (1989, p.66).

Existem três maneiras de se trabalhar o flexionamento: método ativo, método passivo e método de facilitação neuro muscular proprioceptiva.

  • Método ativo - realizado através da execução de exercícios dinâmicos, procurando aproveitar a inércia do segmento corporal em movimento e forçar amplitudes maiores que as normais. Esse tipo de flexionamento tem como função principal estressar os fusos musculares através de estiramentos repetitivos.

  • Método passivo - o flexionamento passivo utiliza posturas estáticas, sendo 20% mais eficaz que o método ativo. Foi inspirado na yoga e é mais adequado por três motivos: a possibilidade de dano tecidual é reduzida, apresenta um gasto energético menor e é capaz de reduzir e/ou prevenir a dor muscular residual. A prática consiste em assumir uma postura estática porém de forçamento de determinada articulação, e permanecer nesta posição até que ocorra um estiramento adaptativo do músculo e dos componentes elásticos das articulações.

  • Método de facilitação neuromuscular proprioceptiva (FNP) - este método utiliza-se da influência recíproca entre o fuso muscular e o órgão tendinoso de Golgi de um músculo entre si e com os do músculo antagonistas para obter maiores amplitudes de movimento. Constitui em seqüências de contrações e estiramentos musculares com auxílio.
Dentre esses métodos, os mais comuns nas aulas de capoeira são o método ativo e o passivo, com ou sem força externa.


Conclusão
Durante este estudo podemos ver como e quão complicado foi o processo de desenvolvimento da Capoeira. Na atualidade não podemos especificar se a Capoeira é uma luta ou uma dança, por exemplo, pois conforme o exposto, ela abraça diversas áreas de desenvolvimento sócio-cultural. Com esta conclusão resolvemos citar Gonçalves (1997) que em um trecho de sua dissertação fecha as recomendações deste estudo. "...Se historicamente começou como uma luta de defesa, hoje deve ser entendida como uma atividade esportiva e folclórica, em que o caráter educativo deve predominar..." . Sendo assim recomendamos investigações de carácter educativo sobre a Capoeira, pois ainda são lacunas na discussão sobre tal temática.


Referências bibliográficas


Bibliografia complementar

Imágenes: livro do Nestor Capoeira, Fundamentos da Malicia.

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· Año 4 · Nº 15 | Buenos Aires, 08/99