Homofobia no futebol: questões e reflexões Homofobia en el fútbol: preguntas y reflexiones |
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*Discente da graduação em Educação Física da Universidade Castelo Branco (UCB/RJ) **Co-orientador. Pós graduado em Elaboração e Gestão de Projetos Sócio-Esportivos pela UCB/RJ Licenciado em Educação Física pela UCB/RJ Diretor técnico do Instituto Muda Mundo Pesquisador do LAPEM, da UCB/RJ; e do CUCA da UCB /RJ ***Co-orientador. Mestrando em Educação pelo programa de pós-graduação em Educação (Proped) da Universidade de Estado do Rio de Janeiro (UERJ) Licenciado em Educação Física pela UCB/ RJ. Monitor da UCB/RJ Agência de Fomento: FAPERJ ****Orientador. Mestre em Ciência da Motricidade Humana pela UCB/RJ Licenciado em Educação Física pela UCB/RJ. Docente da UCB/RJ |
Wallison Maia* | Thais Nascimento* Bruno Minto* | Flavia de Deus* Daiane André* | Michel Bonfim* Jaqueline Hauch* | Mauricio Fidelis Rafael Valladão*** Sergio Tavares**** |
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Resumo O artigo se constitui em uma revisão de literatura, realizada pelos alunos do curso de Educação Física da Universidade Castelo Branco, que aborda a questão da homofobia no futebol, promovendo algumas questões e reflexões sobre o assunto. O Brasil é o campeão mundial de assassinatos de lésbicas, gays, bisessuais e travestis (LGBT), seguido dos Estados Unidos e México. O pensamento homofóbico vem de encontro com o conceito de cobrança extra para inclusão ou exclusão de homosexuais nas equipes de futebol. Sendo assim chegamos à conclusão que não podemos ignorar esta temática, pois estamos, enquanto professores de Educação Física em formação, buscando a inclusão social na sociedade carioca. Unitermos: Homofobia. Futebol. Inclusão e exclusão social.
Abstract The article is a review of literature, made by students of Physical Education, Universidade Castelo Branco that addresses the issue of homophobia in football, promoting some questions and thoughts on the subject. Brazil is the world champion murders of lesbian, gay, bisexuals and transvestites (LGBT), followed by the United States and Mexico. The thought comes to homophobic encounter with the concept of charging extra for inclusion or exclusion of gay men in football teams. Thus we conclude that we can not ignore this issue because we are as physical education teachers in training, seeking social inclusion in Rio society. Keywords: Homophobia. Soccer. Inclusion and exclusion social.
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 15 - Nº 146 - Julio de 2010 |
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Introdução
A homofobia existe também no Brasil e no estado de Pernambuco aparece como mais violento, com 27 homicídios (14%), seguido da Bahia com 23 (12%) e São Paulo com 17 (9%). O Brasil é o campeão mundial de assassinatos de lésbicas, gays, bisessuais e travestis (LGBT), seguido dos Estados Unidos e México. Nem 10% dos assassinos são presos e muitos alegam “legitima defesa da honra” para matar o homossexual. Já no futebol muitos casos de homofobia repercutiram polêmica com o preconceito propriamente dito. Existem exclusões de homossexuais nas equipes por acharem que eles não tem capacidade de encarar uma partida de futebol, jogadores afirmam que gays são frágeis e não agüentariam o esporte que exige de muitas valências física que por eles só o “homem” tem.
O artigo se constitui em uma revisão de literatura que aborda a questão da homofobia no futebol, promovendo algumas questões e reflexões sobre o assunto, com referência à inclusão e exclusão social dos cidadãos homossexuais, tendo foco no preconceito que os mesmos sofrem na modalidade.
Crime homofóbico
Derivada dos termos gregos homos, que quer dizer “o mesmo”, e probidos que significa “ter medo de e/ou aversão a”, a palavra “homofobia”, na perspectiva dos Direitos Humanos, representam não apenas o medo, mas a opressão baseada na orientação ou na identidade sexual do indivíduo. Tal expressão inclui preconceito, discriminação, abuso verbal e atos de violência originados por esse medo e ódio.
O psicólogo Jacques Jesus conceitua o crime homofóbico como:
Toda espécie de agressão, física, verbal ou psicológica, contra a pessoa natural em função da orientação sexual homoerótica da vítima ou do agressor, ou contra a pessoa jurídica em função de sua natureza ou funções de apoio à população homossexual, bissexual ou transgênero (JESUS, 2003, p. 231).
Com pertinência à identificação das vítimas do preconceito e violência homofóbicos, salienta o citado autor que o grupo constituído pelos homossexuais é considerado como aquele que tem a “diferença invisível”, isto é, homossexuais não podem ser tão objetivamente identificados como os membros de outros grupos historicamente excluídos, a exemplo dos índios, negros e as mulheres, “pois a diferença é psicossexual, não física”. No Brasil, “a orientação sexual homossexual ainda é um tabu, o que torna ainda mais difícil retratar essa população que, na maioria dos casos, nem se percebe como tal” (JESUS, 2003, p. 231).
Daniel Welzer-Lang (2001) propõe o conceito de homofobia como “discriminação contra as pessoas que mostram, ou a quem se atribui algumas qualidades (ou defeitos), atribuídos ao outro gênero”. Segundo o autor, a homofobia engessa as fronteiras do gênero:
O paradigma naturalista da dominação masculina divide homens e mulheres em grupos hierárquicos, dá privilégios aos homens à custa das mulheres. Em relação aos homens tentados, por diferentes razões, de não reproduzir esta divisão (ou, o que é pior, de recusá-la para si próprios), a dominação masculina produz homofobia para que, com ameaças, os homens se calquem sobre os esquemas ditos normais da virilidade (WELZER-LANG, 2001).
A homofobia seria caracterizada como intenso e irracional medo e o resultante desprezo pelos homossexuais, comumente manifesto como preconceito, ou mesmo, em situações extremas, como uma reação patológica desproporcional de violência. O termo seria utilizado para descrever uma repulsa face às relações afetivas e/ou sexuais entre indivíduos do mesmo sexo, um ódio generalizado aos homossexuais e todas as expressões do preconceito heterossexista e da discriminação anti-homossexual.
O “heterossexismo” constitui terminologia recentemente utilizada, juntamente com os termos “sexismo” e “racismo”, para nomear uma “opressão paralela”, que suprime os direitos dos homossexuais, e descreve uma atitude mental que primeiro categoriza para depois etiquetar como inferior todo um conjunto de cidadãos.
Causa mortis: homofobia no futebol
Quanto aos assassinatos de homossexuais no Brasil, tomando-se por base relatório anual divulgado pelo Grupo Gay da Bahia (GGB, 2002), dentre as causa e mortes predomina os latrocínios, apenas em 2002 correspondia a 42% dos casos de mortes contra homossexuais, número superior ao observado no ano anterior (32%). Seria possível, em alguns casos verificar que o criminoso premeditara matar o homossexual para em seguida roubar. Noutras vezes, permanece a dúvida quanto ao animus, se apenas após ter matado o homossexual o delinqüente aproveitou a ocasião para subtrair seus bens.
Mott advoga que o latrocínio perpetrado em face dos homossexuais, notadamente aqueles praticados dentro das residências das vítimas, via de regra devem ser considerados crimes homofóbicos, “pois a vulnerabilidade social e fragilidade andrógina de muitos gays, sobretudo quando mais velhos, faz destes indivíduos presas fáceis e tentadoras de rapazes de programa ou homens mal intencionados. (MOTT e CERQUEIRA, 2003, p. 64).
No final de 2006, o cozinheiro José Fernando Lopes foi encontrado morto num quarto de vila no bairro Japãozinho, zona norte da capital sergipana. O corpo da vítima foi encontrado em cima da cama, com as mãos e os pés amarrados, “trajando uma calcinha”, mediante suspeita de causa das mortes por enforcamento. Conforme informado por familiares, a vítima era “homossexual assumido, e vivia trocando de endereço, já que a família sempre dava conselhos em relação às pessoas que o rodeavam”.
Mott inclui no rol dos crimes homofóbicos aqueles perpetrados em face de travestis profissionais do sexo ou michês (garotos de programa), apesar de críticos entenderem que os motivos de tais violências não as caracterizem como crimes de ódio anti-homossexual. O autor argumenta apenas com um questionamento: porque são mortos tantos homossexuais profissionais do sexo enquanto raramente se noticia o assassínio de mulheres profissionais do sexo? (MOTT e CERQUEIRA, 2003, p. 38).
Em meados de 2005, o professor da Escola Técnica Federal de Sergipe ACBM, 50 anos, faleceu com profundo corte na garganta, mediante golpe de estilete desferido pelo ex-aluno Aerton Silvio Rosendo dos Santos, 23 anos, o qual, preso em flagrante quando tentava se evadir das dependências da casa da vítima asseverou, em seu interrogatório, ter sido assediado e constrangido a manter relações sexuais pela vítima, o que fora evitado ao se “defender” utilizando-se do estilete. Em contrapartida, vizinhos asseveraram em seu depoimento:
Que a vítima trajava apenas um short e estava descalça, e o autor também estava apenas de calça, também descalço o que passou a impressão que ambos estavam bem à vontade e descontraídos instantes antes do crime perpetrado (Delegacia de Homicídios - Inquérito Policial nº. 127/2005, fl. 54).
E prossegue, o depoimento, em:
Que acredita que se a vítima e o autor tivessem discutido momentos antes do crime, com certeza seria possível ouvir a discussão da residência dos pais da depoente, até mesmo quando a vítima estava ao telefone era possível ouvir sua voz (Idem, fl. 68).
De acordo com os estudos anteriores o preconceito no futebol é vinculado sobre a forma de brincadeira, entendida em seus aspectos não intencionais, seria algo “não verdadeiro”, ou seja, quando se diz para alguém que essa pessoa é “bixa”, “viado”, “gay”, realmente não se estaria associando o sujeito a uma possível homossexualidade. Contudo este pensamento vem de encontro com o conceito de cobrança extra para inclusão ou exclusão nas equipes de futebol.
Souza (1996) atribui ao futebol, e ao esporte de modo geral, uma importante função para o equilíbrio social das sociedades modernas na medida que possibilita processos catárticos das pulsões humanas, que foram gradativamente reprimidas durante o decorrer do processo civilizatório. O futebol é, portanto, um espaço institucionalizado para que os indivíduos possam extravasar agressividade e violência latentes.
Conclusão
Ao fazermos a pesquisa verificamos que o futebol é um ambiente meramente homofóbico onde a exclusão social de homossexuais é vista pela sociedade como algo normal. Jogadores não querem conviver com homosexuais, pois não querem ser confundidos com estes, e julgam que estes não tem capacidade de encarar uma partida de futebol de igual para igual. Esta pesquisa concluiu que a discursão, e pesquisas posteriores podem sim reinterar um direito garantido em nossa constituição como descrito a seguir, segundo Dias (1988):
Art. 5° da constituição federal de 1988: vivemos numa sociedade regida por valores morais arcaicos, porém muito fortes e entranhados no nosso contexto, que se reflete de forma por vezes agressiva nos corpos que por não serem estimulados a ressignificarem este codigos cultrais acabam se tornando instrumento de exclusão de pessoas que só querem ser respeitada pelas suas escolhas.
A pesquisa ainda irá colaborar para que seja visto que homossexuais são realmente excluídos e assim poderá contribuir para discussões posteriores, a cerca de um assunto tão polêmico.
Referências
DIAS, Álvaro et al. Constituição federal, 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm. Acesso em: 01 maio 2010.
GGB, Grupo Gay da Bahia. Lei Nº 14170 de 15 de janeiro de 2002. Disponível em: http://www.ggb.org.br/lei_14170.html. Acesso em: 22 maio 2010.
JESUS, Jacques. Violência e assassinato de homossexuais e transgêneros no Distrito Federal. Salvador: Editora Grupo Gay da Bahia, 2003, p. 230-249.
MOTT, Luiz; CERQUEIRA, Marcelo. Matei porque odeio gay. Salvador: Grupo Gay da Bahia, 2003.
SOUZA, Marcos Alves de. A ‘Nação Em Chuteiras: Raça E Masculinidade No futebol brasileiro. 1996. 20 f. Dissertação (Um) - Universidade de Brasília, Brasília, 1996.
WELZER-LANG, Daniel. A construção do masculino: dominação das mulheres e homofobia. Estudos Feministas, vol. 09, nº, 02, 2001, Florianópolisl. http://www.periodicos.ufsc.br/index.php/ref/article/view/9620/8853. Acesso em: 07 maio 2010.
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