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O profissional de Educação Física e a promoção 

da saúde: enfoque dos programas de saúde da família

El profesional de Educación Física en la promoción de la salud: una visión de los programas de salud de familia

 

*Especialista em Ciências do Exercício Físico, Resistido

e Aeróbico na Promoção da Saúde

Especializando em Informática em Saúde

**Professor do UNIPAM e doutorando pela UFMG

(Brasil)

Esp. Ana Flávia Andalécio Couto da Silva*

anaandalecio@yahoo.com.br

Doutorando Cristiano Lino Monteiro de Barros**

cristianolino@unipam.edu.br

 

 

 

 

Resumo

          A promoção da saúde tem sido a maior preocupação da saúde pública e individual da população. Várias formas de atingi-la estão sendo estudadas e colocadas em prática, entre elas pode-se destacar a inserção do profissional de Educação Física junto aos Programas de Saúde da Família (PSF). Os benefícios que a prática regular e orientada de atividades físicas proporciona às pessoas vão desde a melhora da auto-estima até o tratamento não farmacológico de doenças crônicas congênitas ou adquiridas. Verificou-se que estes profissionais estão gradualmente se inserindo na área de promoção da saúde pública, por causa de seus benefícios para a população e para a administração pública. Com vistas ao apresentado, o objetivo do presente estudo foi verificar a inserção do profissional de Educação Física junto aos PSF. Foram utilizados referenciais teóricos e observações da vivência prática da autora. Porém deve-se haver programas bem estruturados e com periódicas avaliações para se demonstrar a efetividade dos seus objetivos.

          Unitermos: Atividade física. Promoção da saúde. Profissional de Educação Física.

 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 15 - Nº 145 - Junio de 2010

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1.     Introdução

    A Educação Física é uma ciência em fase de consolidação, sendo uma importante área de estudos e pesquisas. Uma das subáreas são a atividade física (AF) e a promoção da saúde (COQUEIRO, NERY e CRUZ, 2006). Evidências comprovam que a prática regular de atividades físicas orientadas tem uma grande importância na melhora da qualidade de vida da população, podendo verificar essas relações com o sedentarismo, que é um fator de risco para doenças metabólicas e coronarianas, e o estilo de vida ativo como prevenção, sendo estes uma grande preocupação mundial para a saúde pública (ACMS, 2003).

    A área de pesquisas das práticas corporais com vistas à promoção da saúde pública é recente e está tendo aplicação prática com o programa Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF) com o objetivo de ampliar as ações da atenção básica, apoiando a estratégia de Saúde da Família na rede de serviços, este projeto visa a inserção de profissionais de diferentes áreas para promover a saúde da população apoiando os Programas de Saúde da Família (PSF).

    Esta nova visão do profissional de Educação Física é necessária, pois a grande população atendida pelos PSF são pessoas que não possuem conhecimento ou recursos para ter uma prática de atividades físicas direcionadas aos seus objetivos, que são saúde e qualidade de vida. A grande maioria da população atendida pelos PSF não realiza AF, e aqueles que a fazem, muitas das vezes sem orientação ou de forma inadequada para seu perfil, podem não obter os benefícios da prática, bem como podem adquirir lesões.

    Com base nessas colocações verifica-se a necessidade de discutir a necessidade da execução orientada da atividade física nos PSF por profissionais qualificados. O presente estudo justifica-se pelo novo modelo de atenção à saúde estabelecida com foco na promoção da saúde e por isso a necessidade de inserção de atividades físicas junto aos PSF para propor estratégias de prevenção de doenças e na promoção da saúde da população, promovendo assim uma qualidade de vida satisfatória aos usuários deste programa.

    Este estudo objetiva averiguar a inserção do profissional de Educação Física junto aos PSF. Para realizar este estudo, foram utilizadas bases científicas bibliográficas, que procuram explicar um problema a partir de referencias teóricas publicadas. Este estudo foi composto de um acervo de informações obtidas em livros, artigos científicos e sites.

Políticas públicas de saúde

    O tema promoção da saúde entrou em ascensão em 1978, quando a Organização Mundial de Saúde (OMS) apresentou uma estratégia global de promoção de saúde e prevenção de doenças, conhecida como “Saúde para todos no ano 2000”, que tinha como preocupação a saúde pública. Em 1986, ocorreu a Primeira Conferência Mundial sobre Promoção da Saúde, em Ottawa, no Canadá, originando um documento intitulado “A Carta de Ottawa” o qual descreve a promoção da saúde como um processo que visa capacitar as pessoas para aumentar o controle sobre a qualidade de vida e saúde, apoiando-se no desenvolvimento pessoal e social por meio da divulgação de informação, educação para a saúde e intensificação das habilidades vitais (BRASIL, 2002).

    Diante da complexidade do tema saúde, a pretensão de constituir uma política pública de caráter permanente de atividade física, com o intuito da promoção da saúde, deve antes, atender às condições mínimas em um ambiente favorável para a educação a saúde (GOMES, 2007).

    Segundo Alcântara (2004) a saúde não é considerada como ausência de doença, é entendida como completo bem estar físico, mental e social, por isso a prevenção passa a ser prioridade na promoção da saúde e isso estabelece espaço para categorias de profissionais que não prestam assistência ao doente, e sim previnem e tratam de forma saudável o ser humano.

    O Ministério da Saúde compôs o Pacto em Defesa da Vida, um documento que estabelece ênfase no fortalecimento e na qualificação es­tratégica da Saúde da Família a qual deve visar a promoção, informação e educação em saúde com destaque na promoção de atividade física, na promoção de hábi­tos saudáveis de alimentação e vida, controle do tabagismo, controle do uso abusivo de bebida alcoólica e cuidados especiais voltados ao processo de envelhecimento (BRASIL, 2006).

    Para atender a esta nova forma de visão o Sistema Único de Saúde (SUS) organizou um conjunto de ações de saúde denominado Política Nacional de Atenção Básica que abrange a promoção e a proteção da saúde, a prevenção de agravos, o diagnóstico, o tratamento, a reabilitação e a manutenção da saúde. É desenvolvida por trabalhos em equipe, e uma de suas áreas estratégicas de atuação é a promoção da saúde (BRASIL, 2007).

    As Unidades Básicas de Saúde (UBS) contam com o PSF, que é integrado pelas Equipes Saúde da Família (ESF) e os NASF que tem por prioridade a prevenção e não o tratamento de enfermidades (GOMES, 2007).

    Este formato de reorganizar a atenção básica elimina o modelo assistencialista e atende a nova demanda na área de promoção e prevenção da saúde, visando a origem do problema, evitando que ele evolua, fazendo com que os gastos com a saúde sejam menores e a qualidade de vida para a população melhore. Desta forma, o atendimento no nível de atenção primária fica mais perto da família e isso aumenta a qualidade de vida dos brasileiros (BRASIL, 2009 e CORTEZ e TOCANTINS, 2006).

    As equipes do ESF atuam nas UBS, nas residências e na mobilização da comunidade e são compostas, no mínimo, por um médico de família, um enfermeiro, um auxiliar de enfermagem e seis agentes comunitários de saúde, sendo que cada equipe se responsabiliza pelo acompanhamento de cerca de 3 a 4,5 mil pessoas ou de 1000 famílias de uma determinada área (BRASIL, 2009 e Schimith e LIMA, 2004). O Ministério da Saúde também relata que além desses profissionais outros podem ser incorporados às equipes de acordo com as necessidades e possibilidades da região (BRASIL, 2009). Entre as necessidades mais presentes destaca-se a prevenção das doenças que é uma abrangência que inclui também o profissional de Educação Física.

    O NASF é constituído por equipes de profissionais de diferentes áreas de conhecimento que buscam a integralidade do cuidado físico e mental aos usuários do SUS por meio da complementação do trabalho das ESF apoiando com profissionais qualificados. É formado no mínimo, por três (ou cinco) profissionais de nível superior de ocupações não-coincidentes: médico acupunturista, assistente social, profissional da Educação Física, farmacêutico, fisioterapeuta, fonoaudiólogo, médico ginecologista, médico homeopata, nutricionista, médico pediatra, psicólogo, médico psiquiatra e o terapeuta ocupacional (BRASIL, 2009).

    De acordo com o Ministério da Saúde, todos os profissionais que compõem os NASF devem desenvolver estratégias juntamente com os PSF que visem à prevenção e promoção da saúde da família. Dentre elas “desenvolver coletivamente, com vistas à intersetorialidade, ações que se integrem a outras políticas sociais como: educação, esporte, cultura, trabalho, lazer, entre outras” (BRASIL, 2008).

    Com a política de saúde publica assistencialista reduziram-se as doenças infecto-contagiosas, pois aumentaram as formas de tratamento, e as doenças crônico-degenerativas aumentaram devido ao crescimento da longevidade, sendo que estas últimas geralmente levam à incapacidade precoce (BENEDETTI, GONÇALVES E MOTA, 2007).

    Esse aumento do envelhecimento populacional criou problemas populacionais a resolver como a saúde e o uso do tempo livre, dentre outras. E uma das soluções que se pode adotar é a prática de atividades físicas para melhorar a saúde e diminuir a ociosidade.

    Segundo o Brasil (1993) citado em Barbosa (2003) “o conceito de promoção da saúde teve sua ideologia formalizada através da Carta de Otawa [...] a promoção da saúde foi caracterizada como processo para atuar na melhoria da qualidade de vida e saúde [...]. Acrescenta ainda que para se atingir um estado completo de bem estar físico, mental, psicológico e social devemos satisfazer necessidades atuando também no meio ambiente.

    O novo paradigma de saúde, marcado por sua promoção, abre um campo para atuação do Profissional de Educação Física nos serviços de saúde pública. Porque este se preocupa com o controle da saúde e condições de vida da população e uma das principais intervenções que ele pratica são ações educativas e preventivas (Cabral, Sousa e Raydan, 2007).

    O profissional de Educação Física segundo a Lei nº 9696/98 de 1 de setembro de 1998 é um especialista em atividades físicas nas suas mais diversas manifestações (BRASIL, 1998), com o propósito de prestar serviços que oportunizem o desenvolvimento da educação e da saúde visando bem-estar, qualidade de vida, prevenção e compensação de distúrbios funcionais, contribuir para capacitação e/ou restabelecimento fisio-corporal dos indivíduos, visar bem estar e a qualidade de vida tanto em nível individual quanto coletivo. Tais atribuições, o fez ser reconhecido pelo Conselho Nacional de Saúde a partir da resolução n° 218, de 6 de Março de 1997, como profissional da saúde (CONFEF, 2002).

    O PSF é uma estratégia que prioriza ações de proteção, promoção e recuperação dos indivíduos e da família, integral e continuamente. Sabe-se que a prática de atividade física regular contribui para um estilo de vida saudável, a qual minimiza os fatores de riscos que acometem a população, tornando-se uma medida preventiva. Assim, o Profissional de Educação Física assume um papel fundamental para a aquisição de um estilo de vida ativo (MIRANDA, MELO e RAYDAN, 2007).

Atividades físicas e o profissional de Educação Física

    Segundo McArdle, Katch e Katch (2003) a atividade física pode ser considerada qualquer movimento corporal produzido pela contração muscular que faz aumentar o dispêndio de energia e acarrete em diversas adaptações orgânicas que melhoram a saúde do indivíduo e conseqüentemente sua qualidade de vida.

    A atividade física é uma forma de tratamento para os problemas de saúde da população, promovendo uma recuperação mais acelerada ou o controle da enfermidade de forma segura, eficaz e com menos despesas (DIAS, 2007).

    O sedentarismo é um problema de saúde pública, de maior prevalência na população mundial (INFORMES, 2002), que foi gerado a partir das enormes mudanças que ocorreram no modo de vida das pessoas, sendo um fator agregador de doenças. Os problemas cardiovasculares, obesidade, hipertensão, diabetes e as doenças crônicas degenerativas apresentam um alto índice entre as mortalidades e as incapacidades mundiais (DOENÇAS, 2003). Sabe-se que uma das formas mais eficazes e que prediz menos custos de tratar e prevenir essas doenças é a prática de atividade física orientada, que possibilita ao profissional de Educação Física atuar nos PSF. A contribuição da atividade física é de extrema importância, pois é capaz de promover coletivamente ações de promoção da saúde.

    O baixo nível de atividade física representa importante fator de risco no desenvolvimento das doenças crônico-degenerativas não transmissíveis, como diabetes mellitus não insulino-dependente, hipertensão arterial, doenças cardiovasculares, osteoporose e alguns tipos de câncer, como o de cólon e o de mama. Tal relação se torna evidente pela diminuição do aparecimento de seqüelas, redução da necessidade de internação, menor quantidade de medicamentos necessários ao controle desses agravos, que incidem na redução de custos com serviços médico e hospitalares. Estudos recentes têm comprovado que empresas que desenvolveram programas de promoção de atividades físicas obtiveram benefícios econômicos adicionais em virtude da redução do absenteísmo e do aumento da produtividade dos trabalhadores (INFORMES, 2002).

    Segundo recomendações da Organização Pan-Americana de Saúde toda pessoa deve acumular no mínimo 30 minutos de atividades físicas moderadas por dia. Aumentar o nível de atividade física é um problema social, não apenas individual, e exige enfoques baseados em população, multisetoriais, multidisciplinares e culturalmente relevantes (OPAS, 2009 e DOENÇAS, 2003).

    Nas ações do NASF constam diversas modalidades, dentre elas as ações de atividade física, ou práticas corporais como descreve o documento:

    Ações de Atividade Física/Práticas Corporais que são ações que propiciem a melhoria da qualidade de vida da população, a redução dos agravos e dos danos decorrentes das doenças não-transmissíveis, que favoreçam a redução do consumo de medicamentos, que favoreçam a formação de redes de suporte social e que possibilitem a participação ativa dos usuários na elaboração de diferentes projetos terapêuticos. A Política Nacional de Promoção da Saúde compreende que as Práticas Corporais são expressões individuais e coletivas do movimento corporal advindo do conhecimento e da experiência em torno do jogo, da dança, do esporte, da luta, da ginástica. São possibilidades de organização, escolhas nos modos de relacionar-se com o corpo e de movimentar-se, que sejam compreendidas como benéficas à saúde de sujeitos e coletividades, incluindo as práticas de caminhadas e orientação para a realização de exercícios, e as práticas lúdicas, esportivas e terapêuticas, como: a capoeira, as danças, o Tai Chi Chuan, o Lien Chi, o Lian Gong, o Tui-ná, a Shantala, o Do-in, o Shiatsu, a Yoga, entre outras. Em face do caráter estratégico relacionado à qualidade de vida e à prevenção do adoecimento, as ações de Atividade Física/ Práticas Corporais devem buscar a inclusão de toda a comunidade adstrita, não devendo restringir seu acesso apenas às populações já adoecidas ou mais vulneráveis (BRASIL, 2008).

    De acordo com esta citação verifica-se o interesse da administração pública em promover a saúde da população através de práticas que estimulem um estilo de vida ativo e consequentemente proporcione uma melhor qualidade de vida das pessoas, pois a mesma gera melhoras nos hábitos alimentares, diminui o tabagismo e o consumo de álcool, reduz a violência, aprimora a capacidade funcional e promove a integração social (DOENÇAS, 2003) diminuindo com isso o tratamento das doenças, dando enfoque a prevenção.

    O interesse pela atividade física, que não contem um fim em si mesmo e sim nos benefícios que ela provoca (BARBOSA, 2003), tem gerado inúmeros estudos que tem apontado evidências científicas que sustentam benefícios correlacionados a esta, como prevenção e reabilitação de doenças cardiovasculares, câncer, síndrome metabólica, osteoporose entre outras. Estes benefícios trazem consigo a melhoria das capacidades funcionais, a complementação de tratamentos médicos e fisioterápicos e o desenvolvimento de capacidades cognitivas, sociais e psíquicas (ACMS, 1998; 2000; 2004).

    Alcântara (2004) diz que a atuação do Profissional de Educação Física no PSF consiste em promover um estilo de vida saudável através da atividade física, sendo um meio efetivo para a construção coletiva da qualidade de vida. Além disso, apresenta como finalidade deste profissional programar e realizar atividades físicas dos grupos inseridos nas unidades de saúde, visando o exercício como terapia e como estímulo à adesão ao tratamento pelo meio da auto-estima, consciência corporal, autonomia na vida e em seu processo terapêutico.

    O Educador Físico deve articular as redes sociais, a fim de elaborar e programar atividades para a promoção de estilo de vida saudável, inclusive a partir de projetos. Dias (2007) relata a atividade física orientada para diabéticos utilizada como um método de prevenção e tratamento da Diabetes Mellitus (DM) e que auxilia na prevenção e controle de outras doenças como hipertensão e obesidade, e isto gera uma melhor qualidade de vida para a população e diminui os gastos da Saúde Pública.

    Segundo Miranda, Melo e Raydan (2007) a atividade física regular pode contribuir muito para evitar as incapacidades associadas ao envelhecimento. Seu enfoque principal deve ser na promoção da saúde, porém, para indivíduos patológicos, a prática dos exercícios orientados pode ser bem relevante para controlar a doença, evitar sua progressão e/ou reabilitar o doente.

    Foi realizado um estudo entre os Secretários de Saúde da 5ª Regional de Saúde do Paraná sobre a necessidade da atividade física incorporada ao PSF, cuja conclusão postula que devam ser ampliadas as possibilidades da Educação Física ser incorporada de uma forma mais sistematizada e abrangente na Atenção à Saúde, valorizar o conhecimento da área da Educação Física na construção do SUS é uma estratégia na prevenção de doenças crônicas como obesidade, diabetes e hipertensão e também no desenvolvimento da autonomia para realização dos afazeres do dia-a-dia, melhoria do convívio social, interferência em situações de risco social, educação em saúde e como opção de lazer (COUTINHO, 2006).

    Conseguir inserir o educador físico nos PSF é muito importante, pois o grupo de pessoas da comunidade que ele pode atender geralmente é carente e não tem condições de frequentar locais que tem atividade física orientada e tampouco conhecimentos mínimos necessários para a sua prática ou quais exercícios são os mais indicados, e alguns vão realizá-los sem orientação, na certeza de que o mesmo irá lhe trazer benefícios quando na verdade estará lhe causando malefícios. Constata-se que o profissional referido tem conhecimento científico específico sobre a atuação na promoção e prevenção da saúde e a respectiva prescrição de atividades físicas específicas (CABRAL; SOUZA e RAYDAN, 2007).

    Assim, o profissional de Educação Física, inserido junto à equipe multiprofissional, deverá prescrever a atividade física, informar acerca da necessidade da mesma, o modo de realizá-la, a intensidade ou trabalhar com esses indivíduos em grupos com o objetivo de proporcionar a integração dos participantes, e isto faz com que a comunidade esteja mais unida para resolver ou atenuar o problema comum a todos (DIAS, 2007). Ele também deve contar com o aconselhamento à saúde para a prática por outros profissionais que atuam nos PSF e NASF, como forma de educação à saúde; não somente para os idosos e portadores de doenças crônicas, mas para toda população como forma preventiva e de um estilo de vida saudável, sendo que este ainda apresenta uma baixa frequência de indicação (SIQUEIRA, 2009).

    Santos, Orfei e Silva (2006) evidenciou que a atividade física oferecida nos PSF atendeu aos objetivos propostos, pois melhorou as condições de saúde dos participantes do projeto de atividades físicas, inclusive propôs uma maior abrangência do programa.

    Com o educador físico presente na atenção básica de saúde à população, o valor gasto com medicamentos e consultas médicas poderá ser reduzido, visto que a população estará mais ativa e informada (DIAS, 2007).

Benefícios da atividade física

    Com vistas que o estímulo à atividade física é prioritário no controle de doenças não transmissíveis e que a mudança de padrões comportamentais requer medidas abrangentes e intersetoriais, a Organização Mundial de Saúde (OMS) propôs a implementação da Estratégia Global para Dieta, Atividade Física e Saúde, que gera o desenvolvimento, de forma integrada, de ações de legislação, informação e capacitação de recursos humanos que visam a alimentação saudável e a atividade física, cujo propósito é prevenir doenças crônicas e promover a saúde da população (OPAS, 2009).

    Sabe-se que o estilo de vida ativo em adultos está associado à redução da incidência de várias doenças crônico-degenerativas e da mortalidade cardiovascular, e que em crianças e adolescentes o maior nível de atividade física contribui para melhorar o perfil lipídico e metabólico, o que está relacionado à redução da obesidade (OPAS, 2009). Promover atividade física, do ponto de vista da saúde publica, na infância e a adolescência, significa estabelecer uma base sólida para reduzir a prevalência do sedentarismo na idade adulta, e isto proporciona uma melhor qualidade de vida.

    A atividade física proporciona diversos benefícios, sendo tanto de caráter fisiológico, psicológico quanto de caráter social.

    Dos benefícios fisiológicos, pode-se citar que em curto prazo a atividade física permite estabilizar a quantidade de glicose no sangue, que estimula ao mesmo tempo as quantidades de adrenalina e noradrenalina e também proporciona uma melhora no sono e, em longo prazo, uma melhora na função cardiovascular, no tônus muscular, na flexibilidade, e preserva e restabelece a mobilidade das articulações no equilíbrio, na coordenação motora e na velocidade do movimento. Dos benefícios psicológicos, pode-se destacar em curto prazo que proporciona ao indivíduo praticante um relaxamento e, conseqüentemente, uma diminuição do estresse e da ansiedade, auxilia na melhora do humor dos indivíduos praticantes, e em longo prazo verifica-se um bem estar geral, que gera melhora na saúde mental e auxilia inclusive no tratamento da depressão. Dos benefícios sociais, em curto prazo, pode-se mencionar a socialização e a integração desses indivíduos a grupos sociais, e em longo prazo, por essa socialização a formação de novas amizades e companheirismos, além da ampliação das relações sociais (MCARDLE, KATCH e KATCH, 2003).

    Santos, Orfei e Silva (2006) observou que a ação conjunta de uma equipe multidisciplinar, associada à prática da atividade física dirigida, tem um efeito significativo na redução da obesidade e no controle de peso corporal mantido por período prolongado, diferente da utilização de medicamentos ou dietas, onde há redução imediata de peso, porém não há uma manutenção. Ocorreu uma forte relação entre componentes da aptidão física relacionada à saúde e à variação ponderal ocorrida nos participantes do estudo.

    Os resultados benéficos da prática da atividade física por indivíduos diabéticos são evidenciados pela promoção da redução das taxas glicêmicas dos diabéticos. Esse efeito é tão importante que o exercício é colocado com lugar definido e proeminente no tratamento diário do diabetes (MCARDLE, KATCH e KATCH, 2003).

    Benedetti, Gonçalves e Mota (2007) afirma que o estilo de vida ativa pode contribuir para retardar o momento em que o corpo sucumbe à fragilidade física e à doença, e como conseqüência direta ocorrerá uma diminuição significativa dos custos com a saúde, ou seja, diminuirão os gastos com a aquisição de medicamentos a serem distribuídos para a população.

    Diante dessas constatações, a OMS em 2002 estabeleceu como tema prioritário a construção de políticas públicas que coloquem em relevância a importância da atividade física para uma vida mais saudável, e se orienta para que em todo o mundo sejam desenvolvidos eventos que estimulem a prática da atividade física regular, divulgando os efeitos benéficos para a saúde das populações, mesmo em condições especiais e diversas como em casos de doenças cardíacas, problemas mentais e dependência dos idosos (INFORMES, 2002).

    A Política Nacional de Promoção da Saúde (BRASIL, 2006) prevê atividades físicas, ou como enumera o estudo, práticas corporais na rede de saúde. São diversas ações em variados setores com diretrizes para a prática do profissional de Educação Física, tais como; mapear e apoiar as ações de /atividade física existentes e inserir naqueles em que não há ações; ofertar atividades voltadas tanto para a comunidade como um todo quanto para grupos vulneráveis (incluindo as pessoas com deficiências); capacitar os trabalhadores de saúde em conteúdos de promoção à saúde e atividade física na lógica da educação permanente, incluindo a avaliação como parte do processo; pactuar com os gestores a importância de ações voltadas para melhorias ambien­tais com o objetivo de aumentar os níveis populacionais de ativi­dade física; constituir mecanismos de sustentabilidade e continuidade das ações: área física adequada e equipa­mentos, equipe capacitada, articulação com a rede de atenção entre outros; aconselhamento da população, sobre os benefícios de estilos de vida saudáveis; desenvolver campanhas de divulgação, estimulando modos de vi­ver saudáveis e objetivando reduzir fatores de risco para doenças não transmissíveis; estimular a troca de experiências entre municípios; estimular a inserção e o fortalecimento de ações já existentes no campo das práticas corporais em saúde na comunidade; resgatar as práticas corporais/atividades físicas de forma regular nas escolas, universidades e demais espaços públicos; articular parcerias estimulando práticas corporais/atividade física no ambiente de trabalho; desenvolver estudos e formular metodologias capazes de produ­zir evidências e comprovar a efetividade de estratégias de práticas corporais/atividades físicas no controle e na prevenção das doen­ças crônicas não transmissíveis; estimular a articulação com instituições de ensino e pesquisa para monitoramento e avaliação das ações no campo das práticas cor­porais/atividade física.

    As ações de atividades físicas que devem ser realizadas dentro do NASF são:

    “o desenvolvimento de atividades físicas e práticas corporais junto à comunidade; veiculação de informações que visam à prevenção, a minimização dos riscos e à proteção à vulnerabilidade, buscando a produção do autocuidado; incentivo a criação de espaços de inclusão social, com ações que ampliem o sentimento de pertinência social nas comunidades, por meio da atividade física regular, do esporte e lazer, das práticas corporais; proporcionar Educação Permanente em Atividade Física/ Práticas Corporais, nutrição e saúde juntamente com as ESF, sob a forma de co-participação, acompanhamento supervisionado, discussão de caso e demais metodologias da aprendizagem em serviço, dentro de um processo de Educação Permanente; articular ações, de forma integrada às ESF, sobre o conjunto de prioridades locais em saúde que incluam os diversos setores da administração pública; contribuir para a ampliação e a valorização da utilização dos espaços públicos de convivência como proposta de inclusão social e combate à violência; identificar profissionais e/ou membros da comunidade com potencial para o desenvolvimento do trabalho em práticas corporais, em conjunto com as ESF; capacitar os profissionais, inclusive os Agentes Comunitários de Saúde - ACS, para atuarem como facilitadores/monitores no desenvolvimento de Atividades Físicas/Práticas Corporais; supervisionar, de forma compartilhada e participativa, as atividades desenvolvidas pelas ESF na comunidade; promover ações ligadas à Atividade Física/Práticas Corporais junto aos demais equipamentos públicos presentes no território escolas, creches etc; articular parcerias com outros setores da área adstrita, junto com as ESF e a população, visando ao melhor uso dos espaços públicos existentes e a ampliação das áreas disponíveis para as práticas corporais; e promover eventos que estimulem ações que valorizem Atividade Física/Praticas Corporais e sua importância para a saúde da população” (Brasil, 2008).

    A prática de atividade física é essencial e indispensável para a aquisição de um estilo de vida ativo e o Profissional de Educação Física, juntamente com os órgãos públicos de saúde, poderiam atuar diretamente nas comunidades, vivenciando as necessidades e realidades das mesmas, trabalhando nos locais disponíveis para a prática de atividade física, em prol de uma melhor qualidade de vida da população (MIRANDA, MELO e RAYDAN, 2007)

    Pontes e Portela (2008) relata que a obesidade deve ser tratada por meio de ações preventivas com mudanças nos hábitos de vida da população estudada, inclusive o excesso de peso presente, que é observado principalmente entre os hipertensos, prediz a necessidade de programas de atividades físicas.

    Coqueiro (2007) relata a exposição à inatividade física e sua associação à hipertensão arterial e a idade. Esses dados demonstraram a importância da inserção do professor de Educação Física no PSF, para coordenar e implantar programas de incentivo à prática de atividades físicas e observando que existe o fator agravador sedentarismo. Ele recomenda aos gestores públicos a reestruturação da Estratégia de Saúde da Família (ESF), com a inserção de outros profissionais (como o profissional de Educação Física), visando ao desenvolvimento de ações de promoção, proteção e recuperação da saúde, que possibilite a toda a população assistida uma melhor qualidade de vida.

    Para explicitar as contribuições e relevância do professor de Educação Física no PSF, alguns dados do DATASUS (RIPSA, 2007): o índice de prevalência de diabetes é de 7,60% da população brasileira; sobrepeso são 25,4% da população; os indivíduos insuficientemente ativos vão de 31% a 44,6% variando entre as capitais brasileiras; e o nível de hipertensão foi de 21,6% a 31% variando também de acordo com as capitais brasileiras. Estes são apenas alguns números que indicam a necessidade de inserção da atividade física com vistas à promoção, prevenção e recuperação da saúde em locais de tratamento público.

    A diminuição do aparecimento de seqüelas, redução da necessidade de internação, menor quantidade de medicamentos necessários ao controle das doenças crônico-degenerativas, que incidem na redução de custos com serviços médicos e hospitalares. Fatores de risco como o sedentarismo, o tabagismo e a alimentação inadequada, diretamente relacionados ao estilo de vida, são responsáveis por mais de 50% do risco total de desenvolver algum tipo de doença crônica que deverá ser tratada pelos programas de saúde pública (INFORMES, 2002).

    O Programa Agita São Paulo e a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo realizaram um estudo sobre o impacto do programa na população do estado de São Paulo, verificou-se a mudança de comportamento da população do estado nos últimos seis anos e ocorreu uma diminuição de 72% de indivíduos classificados como sedentários entre os paulistas e como fisicamente ativos aumentou 124%. Isto gera um estilo de vida mais ativo, gerando diminuição nos custos da saúde pela diminuição da prevalência das doenças crônicas não transmissíveis (AGITA, 2009).

    Diante do quadro exposto e dos possíveis benefícios que a AF pode proporcionar a saúde individual ou coletiva, acreditamos que intervenções dos professores de Educação Física em conjunto com outros profissionais de saúde no PSF podem causar um grande impacto na Saúde Pública, uma vez que programas de orientação e prescrição de atividades físicas junto às famílias acompanhadas pela ESF poderiam interferir nos fatores de risco das doenças crônicas, prevenindo-as e diminuindo suas complicações, prolongando a vida com mais qualidade; contribuindo possivelmente com a redução da prevalência dessas doenças.

Conclusão

    Uma vez que o PSF tem, dentre suas diretrizes, a intersetorialidade e multidisciplinaridade visando à promoção, proteção e recuperação da saúde, constata-se que o professor de Educação Física atende ao perfil para composição desta equipe.

    Uma vez inserido na ESF, o educador físico será capaz de desenvolver ações que sejam compatíveis com os objetivos desta estratégia. Poderá avaliar o estado funcional e morfológico dos sujeitos acompanhados, estratificar e diagnosticar fatores de risco à saúde; intervir nos fatores de risco; prescrever, orientar e acompanhar atividades físicas, com objetivo a prevenção e a promoção da saúde, inclusive para grupos portadores de doenças e agravos, utilizando-a como tratamento não farmacológico e mostrar junto à comunidade a importância da atividade física com base em conhecimentos científicos e desmistificar as concepções equivocadas acerca de sua prática.

    Verifica-se com este estudo que a inserção do educador físico é de extrema importância visando a nova estratégia de saúde pública. No entanto, existem poucas práticas que atendem a este objetivo, e muitas das que existem necessitam de um olhar sistematizado e com seguidas avaliações com dados claros que demonstrem a população a importância e a necessidade de aderir a atividades físicas para obter a qualidade de vida esperada.

    Necessitam de mais estudos com base em práticas existentes para poderem aumentar o embasamento científico do tema.    

Referencias

  • AGITA News. Agita São Paulo Vencendo a Luta Contra o Sedentarismo. Informativo do programa Agita São Paulo. ano 2. 14 ed. jul 2009.

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revista digital · Año 15 · N° 145 | Buenos Aires, Junio de 2010  
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