efdeportes.com

Associação dos Especializados em Educação e Desportos do Rio Grande do Sul – AEEFD/RS: percorrendo os caminhos de sua criação

 

*Graduado em Licenciatura Plena em Educação Física/Unilasalle

Membro do Núcleo de Estudos em História e Memória do

Esporte e da Educação Física-NEHME do

Centro de Estudos Olímpicos-CEO da ESEF/ UFRGS

**Doutoranda em Ciências do Movimento Humano-ESEF/UFRGS

Pesquisadora do Núcleo de Estudos em História e

Memória do Esporte e da Educação Física-NEHME do

Centro de Estudos Olímpicos-CEO da ESEF/UFRGS

***Professora Adjunta da ESEF/UFRGS

Coordenadora do Núcleo de Estudos em História e Memória do

Esporte e da Educação Física-NEHME do

Centro de Estudos Olímpicos-CEO da ESEF/UFRGS

Sergio Roberto de Brito Martini*

martini.beto@gmail.com

Vanessa Bellani Lyra Onzi**

va_lyra@yahoo.com.br

Janice Zarpellon Mazo***

janmazo@terra.com.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          O presente estudo tem como objetivo principal identificar como ocorreu o processo de criação da Associação dos Especializados em Educação Física e Desportos do Rio Grande do Sul – AEEDF/RS, fundada no ano de 1945, bem como descrever as iniciativas desenvolvidas no primeiro ano de funcionamento da referida entidade. Para tanto, o procedimento metodológico adotado é o estudo de caso histórico-organizacional (TRIVIÑOS, 1987), tangenciando as dimensões do campo da História Cultural. Importa destacar que a AEEFD/RS ainda não havia sido privilegiada como objeto de análise em pesquisas acadêmicas, sendo apenas encontradas referências sobre sua história no Atlas do Esporte no Brasil (2005). Nesse sentido para alcançarmos o objetivo desse estudo, foram garimpadas fontes impressas em acervos particulares e na sede da APEF/RS - Associação dos Profissionais de Educação Física do Rio Grande do Sul, atual denominação da AEEFD/RS. As fontes impressas primárias foram os Boletins Informativos editados pela AEEFD/RS no ano de 1946, além das Atas de diretoria dos anos de 1945 e 1946.

          Unitermos: História. Associações de profissionais. Educação Física

 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 15 - Nº 144 - Mayo de 2010

1 / 1

Considerações iniciais

    As associações desempenham um importante papel na história das mais diversas profissões, pois, através de suas reivindicações, ações importantes foram realizadas no sentido de atender às necessidades relacionadas a uma categoria particular de profissionais e, de um modo mais amplo, à sociedade. Segundo BOBBIO; MATTEUCI; PASQUINO (1994, p. 65) “a difusão do associacionismo voluntário constitui uma das manifestações de relevo da sociedade moderna, sempre mais complexa e sempre mais caracterizada pela multiplicação de relações de interdependência entre seus membros [...]”. De acordo com os referidos autores, as causas que determinaram o desenvolvimento do fenômeno associativo estão situadas no processo de industrialização e de urbanização e, na mesma medida, na instauração dos regimes democráticos.

    A partir da década de 1930, o movimento associativista também marcou a trajetória da profissão de Educação Física no Brasil contribuindo para a consolidação de grandes marcos desta profissão. Nesse caminho, registros apontam, como pioneira, a Associação de Profissionais de Educação Física de São Paulo - APEF/SP, fundada em 1935; seguida da Associação dos Especializados em Educação Física e Desportos do Rio Grande do Sul -AEEFD/RS (atual APEF/RS) , em 1945; e a APEF-Guanabara (atual APEF/RJ), em 1946 (PEREIRA;BERESFORD, 2007; Boletim informativo Antinoüs nº1, de junho de 1946).

    De acordo com SARTORI (2005), as associações de Profissionais de Educação Física são “entidades associativas de caráter estadual e municipal que visam organizar a categoria profissional de Educação Física, com o propósito de desenvolver ações de natureza política, técnica e social” (p.787). Estas associações adotaram nas décadas de 1940 e 1950 uma postura de aperfeiçoamento profissional para seus associados e, num mesmo movimento, para a própria classe que os representava como professores de Educação Física. Destacaram-se os cursos foram proporcionados para os associados com o apoio financeiro da Divisão de Educação Física – DEF do Ministério da Educação e Saúde, existente na época, onde as associações trouxeram prestigiados professores do exterior, entre eles, Auguste Listello (França), Gehrard Schimidt (Áustria), Ivan Vargas (Iugoslávia), Piero Manarino (Itália), Margareth Froelich (Suécia) e Ilona Peuker (Hungria), esta última na época residente no Brasil. Tais professores, além de contribuírem para o aperfeiçoamento dos associados ao ministrarem cursos de qualidade, colaboraram para a adoção de formas mais abertas de ensino e conteúdos mais voltados para o esporte, superando o previsto pelo então dominante Método Francês (SARTORI, 2005), o qual encontramos descrição na fala de GOELLNER (1992):

    [...] pude observar que o Método Francês esteve voltado para a formação do soldado combatente e do trabalhador produtivo, sendo orientado por uma matriz biológica e respaldado por uma abordagem positivista de ciência, onde o movimento humano foi entendido a partir de seu caráter anáto-mecânico e os homens e mulheres percebidos unicamente pela sua dimensão biológica (p.8).1

    A partir de fatos como os acima citados, observamos que as Associações de Profissionais de Educação Física apresentaram, ao longo da história, uma participação importante nos rumos desta profissão e contribuíram de forma relevante para o aprimoramento e divulgação da categoria. É importante destacarmos que desde a década de 1930, com a fundação da primeira entidade representativa, tais associações atuam de forma ininterrupta no sentido de organizar a categoria profissional a partir de ações políticas coletivas como a organização de cursos, palestras, fóruns, prestação de serviços aos associados e publicações de revistas e livros pertinentes aos temas da Educação Física.

    Embora sejam estas associações ainda atuantes em pleno século XXI, neste estudo nos propusemos a investigar o cenário histórico da década de 1940, mais pontualmente os anos de 1945 e 1946, período de fundação da Associação dos Especializados em Educação Física e Desportos do Rio Grande do Sul – AEEFD/RS e o primeiro ano de atividade desta entidade, respectivamente.

    Diante do exposto, este estudo situa-se nas dimensões teóricas da História Cultural (BURKE, 2005; PESAVENTO, 2004), que na análise de DUTRA2 (2003, p.1) “[...] tem mostrado novas possibilidades de construção de conhecimento histórico através dos objetos da cultura, através de suas dimensões materiais e simbólicas“, e no pensamento de LEMOS3 (2007, p.62) “[...] renovada pelas contribuições das ciências sociais pretende colocar em causa seus objetos e dar primazia ao modo como os construímos ao estabelecer relações entre os acontecimentos”. Com estas perspectivas, o estudo tem como objetivo identificar como ocorreu o processo de criação da Associação dos Especializados em Educação Física e Desportos do Rio Grande do Sul – AEEDF/RS, bem como descrever as iniciativas desenvolvidas no primeiro ano de funcionamento da referida entidade. Para tanto, o procedimento metodológico adotado é o estudo de caso histórico-organizacional (TRIVIÑOS, 1987), este autor classifica o estudo de caso como: “uma categoria de pesquisa cujo objeto é uma unidade que se analisa profundamente.” (p.133). Quando se trata de estudos de casos histórico-organizacionais, “o interesse do pesquisador recai sobre a vida de uma instituição. A unidade pode ser uma escola, uma universidade, um clube, etc.” (TRIVIÑOS, 1987, p.134). Nesses casos, segundo o autor:

    O pesquisador deve partir do conhecimento que existe sobre a organização que deseja examinar. Que material pode ser manejado, que está disponível, ainda que represente dificuldades para seu estudo. Isto significa que existem arquivos que registraram documentos referentes à vida da instituição, publicações, estudos pessoais com os quais é possível realizar entrevistas etc. Esta informação prévia necessária é básica para delinear preliminarmente a coleta de dados. (p. 134-135).

    Apresentadas ao leitor segundo o formato como a organizamos, a história de determinada organização passa ser significada sob a forma de narrativa, imersa em interpretações e releituras que se constroem na dimensão da representação (CHARTIER, 1994), ou seja, de uma versão da história institucional.

    Importa destacar que a AEEFD/RS ainda não havia sido privilegiada como objeto de análise em pesquisas acadêmicas, sendo apenas encontradas referências sobre sua história no Atlas do Esporte no Brasil (2005). Nesse sentido para alcançarmos o objetivo desse estudo, foram garimpadas fontes impressas em acervos particulares e na sede da APEF/RS - Associação dos Profissionais de Educação Física do Rio Grande do Sul, atual denominação da AEEFD/RS. As fontes impressas primárias foram os Boletins Informativos editados pela AEEFD/RS no ano de 1946, além das Atas de diretoria dos anos de 1945 e 1946.

Um por todos e todos por um? Considerações sobre o associativismo

    O homem, desde os primórdios, tem a necessidade de viver em grupos. Diante disso a origem da convivência social pode ser simplesmente natural, ou seja, mesmo sendo provido de questões materiais, o homem associa-se a outros porque necessita de convivência social. Em contraponto a essa idéia esses grupos poderiam ser formados na realidade, por um acordo de vontades (GARRET, 2005)4. Entretanto, seja por uma idéia ou outra, é possível observarmos que, no decorrer da história, uma das formas encontradas pelo homem para viver em grupo e assim melhorar suas condições sociais, profissionais, políticas e materiais foi o associativismo

    O associativismo possivelmente surgiu da necessidade do homem viver em grupos para poder caçar, pescar e se defender em melhores condições e, posteriormente, na era industrial, firmou-se pela procura de melhores condições de trabalho.

    A definição para a palavra associativismo ainda não pode ser encontrada em dicionários de língua portuguesa no Brasil, porém segundo definição do Dicionário Priberam on-line,5 de Portugal, o associativismo é definido como “um movimento organizado ou prática de associação de grupos sociais, nomeadamente de grupos laborais ou sectoriais”.

    Dentre os diversos tipos de associativismo, vamos nos deter sobre aquele que agrega pessoas e interesses comuns no universo do trabalho: a associação de profissionais, entidade de classe que caracteriza o objeto de nosso estudo.

    Segundo definição do site jusbrasil.com6 entidade de classe é uma sociedade de empresas ou pessoas com forma e natureza jurídica próprias, de natureza civil, sem fins lucrativos e não sujeita à falência, constituída para prestar serviços aos seus associados. Toda a entidade de classe tem em comum a gratuidade do exercício de cargos eletivos. São alguns exemplos de tais entidades: as confederações, as federações, as associações, os sindicatos, as cooperativas, as entidades profissionais entre outros.

    Nesse sentido, RASCHE7 (2008), em artigo sobre o papel das associações profissionais, afirma que as mesmas são entidades representativas dos membros de uma dada profissão que promovem uma maior interlocução entre seus membros e, destes, com a sociedade. GANANÇA8 (2008), em sua dissertação sobre o associativismo no Brasil, descreve:

    Nas associações, os indivíduos de uma mesma classe ou segmento social, aprenderiam a expressar suas opiniões, ouvir o outro, construir sínteses e posições coletivas, planejar e realizar ações comuns. Não haveria grandes conflitos de interesse no interior de cada associação, tendo em vista que sua base associativa seria mais ou menos homogênea quanto à origem social, étnica e religiosa de seus membros. Há certa tendência de associação entre iguais. Mais do que um instrumento que poderia ser utilizado para o compartilhamento do poder político, as associações seriam espaços de socialização e agregação de interesses no interior de diversas classes e grupos sociais (p.18).

    Politicamente, esta organização do homem em grupos, na busca de suprir suas carências e obter necessários benefícios pessoais pode ser denominada de associativismo, ou seja, “a forma de organização da sociedade cível, de caráter público não-estatal, e sem fins lucrativos” (RIBEIRO; SANTOS JÚNIOR, 1996 apud PEREIRA; BERESFORD,9 2007, p.2).

    Assim, sendo as associações, em nosso entendimento, grupos de pessoas dispostas a colocar em prática suas idéias e ideais, concordamos que: “[...] a partir do momento em que o um grupo de pessoas que realizam um mesmo tipo de trabalho passa a formar um grupo, este se incorpora num empreendimento organizado e com isso, é imerso num contexto social, político e econômico” (FREIDSON, 1998 apud RASCHE, 2008, p.3). E nas palavras de HOVEKAMP (1997): “Além disso, as associações buscam promover uma interação entre seus membros estabelecendo uma unidade cultural da profissão, institucionalizando códigos de contatos, padrões educacionais e de desempenho, a defesa de mudanças e inovações” (apud RASCHE, 2008, p.3).

    Então, não só descrevendo o contexto social e político, devemos citar, mesmo que sem o aprofundamento necessário neste momento, as questões econômicas envolvidas em torno do referido assunto.

    OLSON (1999) em sua obra A Lógica da Ação Coletiva, ressalta que:

    Freqüentemente é dado como certo, ao menos quando há objetivos econômicos envolvidos, que grupos de indivíduos com interesses comuns usualmente tentam promover esses interesses comuns. Espera-se que os grupos de indivíduos com interesses comuns ajam por esses interesses tanto quanto se espera que os indivíduos isoladamente ajam por seus interesses pessoais (p. 13).

    Outros dois autores citados na obra anteriormente referida dão sua contribuição para um maior entendimento sobre o pertencer a um grupo, como veremos a seguir. O professor Leon Fastinger, psicólogo social, assinalou que “a atração exercida a afiliação a um grupo não é tanto pela sensação de pertencer, mas mais pela possibilidade de conseguir algo através desse pertencer “(apud OLSON, 1999, p.18). Harold Laski, cientista político, considerava ponto pacífico que as “associações existem para realizar propósitos que um grupo de pessoas tem em comum” (apud OLSON, 1999, p.18).

    OLSON (1999 apud PEREIRA; BERESFORD, 2007) complementa:

    [...] é possível identificar uma combinação, tanto de interesses individuais, como de interesses comuns, em uma sociedade. Entretanto, o direcionamento desses interesses para o mercado competitivo esclarece a carência existente, expressa pelo Homem, de se inter-relacionar em grupos. Entretanto, mesmo considerando tal carência, não se descarta a possibilidade lógica de que grupos possam ser compostos por indivíduos altruístas, ou até mesmo irracionais, e que estes, por sua vez tenham condutas e comportamentos em prol de interesses comuns ou grupais (p.5).

A fundação da AEEFD/RS: os sujeitos e o começo desta história

    Registros (LICHT, 2005) apontam que durante os meses de agosto e setembro de 1945 teve início, em Porto Alegre, um movimento liderado pelos Professores da Escola Superior de Educação Física do Rio Grande do Sul (ESEF), Frederico Guilherme Gaelzer e Jacintho Francisco Targa. Tais professores foram apoiados por Maurício Akcelrud, Inspetor Federal de Educação Física na época, para fundar uma entidade de classe que reunisse professores, técnicos e médicos especializados em Educação Física e Desportos do estado do Rio Grande do Sul.

    No dia 20 de dezembro de 1945, nas dependências da ESEF, foi realizada uma reunião de professores de Educação Física, presidida pelo então Diretor da referida Escola, onde foi deliberada a fundação da Associação dos Especializados em Educação Física e Desportos do Rio Grande do Sul (AEEFD/RS), que seria então encarregada, entre outros atributos, de assegurar os direitos contidos em lei; promover o intercâmbio entre médicos, professores de educação física, técnicos e massagistas esportivos; trabalhar para firmar o conceito dos especializados em educação física no meio educacional; além de colaborar com todas as instituições legalmente constituídas no sentido da maior divulgação da educação física. (Boletim Informativo Antinoüs nº 1, de junho de 1946).

    Foi eleita, nesta data, uma diretoria provisória, conforme veremos no quadro abaixo:

Cargo

Nome

PRESIDENTE HONORÁRIO

JACINTHO FRANCISCO TARGA

PRESIDENTE

MAURÍCIO AKCELRUD

VICE-PRESIDENTE

DERIK OSCAR ELY

1º SECRETÁRIO

CRIOLANDO RUSCIGNO

2º SECRETÁRIO

ODAIR PERUGGINI DE CASTRO

SECRETÁRIO DE DIVULGAÇÃO

LUIZ H. MALUF

TESOUREIRO

THOMAZ VASCONCELOS

Quadro 1. Diretoria provisória da AEEFD/RS, eleita em 20 de dezembro de 1945.

Fonte: Boletim Informativo Antinoüs nº 1, de junho de 1946

Quadro elaborado pelo pesquisador Sergio Martini.

    Durante os três primeiros meses do ano de 1946, a diretoria provisória reuniu-se várias vezes para a discussão e organização dos estatutos e, até que no dia 20 de março deste mesmo ano, ocorreu a primeira assembléia geral, na sala de reuniões do Conselho Regional de Desportos (CRD), em Porto Alegre. Nessa mesma reunião, a diretoria provisória apresentou um anteprojeto dos estatutos para os presentes e, como consta no boletim informativo Antinoüs nº 1, de junho de 1946:

    Foi acentuado o interesse dos presentes na discussão de todos os artigos do anteprojeto dos Estatutos, apresentado pela diretoria provisória, tendo sido modificados e acrescidos de vários itens diversos dos artigos submetidos à discussão. Devido ao adiantado da hora não foi possível ultimar os trabalhos previstos na ordem do dia estabelecida para essa primeira reunião, sendo resolvido, continuá-los no dia 1º de abril. Continuaram os debates, nessa segunda reunião, para a aprovação dos últimos artigos dos Estatutos, sendo os mesmos aprovados, após ligeiras modificações (p.2).

    Após tais tratativas foi realizada a eleição da primeira diretoria da AEEFD/RS, que ficou representada como demonstram os dados do quadro a seguir:

Cargo

Nome

PRESIDENTE

MAURÍCIO AKCELRUD

VICE-PRESIDENTE

LUIZ HENRIQUE MALUF

1º SECRETÁRIO

ELISA CIBELLI

2º SECRETÁRIO

ARY STEIMER

SECRETÁRIO CUTURAL

FREDERICO GUILHERME GAELZER

SECRETÁRIO DE DIVULGAÇÃO E INFORMAÇÕES

CÉLIA SALOMÃO

1º TESOUREIRO

MÁRIO FABRETTI

2º TESOUREIRO

NEY SERRES RODRIGUES

BIBLIOTECÁRIO

FREDOLINO TAUBE

CONSELHO FISCAL

TELÊMACO FRAZÃO DE LIMA

SUPLENTES

HÉLIO BARCELOS FERREIRA

JOÃO OLVAVO KRAY

DIRCEU GAY CUNHA

AMADEU FAVIERO

WALDUR ECHART

SÓCIOS HONORÁRIOS

JOÃO BARBOSA LEITE

INEZIL PENNA MARINHO

Quadro 2. Diretoria da AEEFD/RS, eleita em 20 de março de 1947.

Fonte: Boletim informativo Antinoüs nº 1, de junho de 1946.

Quadro elaborado pelo pesquisador Sergio Martini.

    No final da referida reunião foram aclamados, por unanimidades de votos, os sócios honorários da AEEFD/RS: o Major João Barbosa Leite e Inezil Penna Marinho, ambos da Divisão de Educação Física do Ministério da Educação e Saúde.

    Posteriormente, no dia cinco de julho de 1946, foi requerido o registro de pessoa jurídica para a AEEFD/RS, onde foram apresentados os estatutos e a relação dos sócios fundadores. Destacaremos, a seguir, o capítulo II do estatuto que descreve as finalidades da Associação:

Art.2º - São finalidades principais da A.E.E.F.D.:

a) congregar todos os elementos especializados em educação física e desportos do Estado do Rio Grande do Sul, para colaborar com os poderes públicos e com todas as instituições interessadas, no sentido de incrementar e difundir a prática e os conhecimentos sobre o assunto, em todas as organizações existentes no estado;

b) zelar pela fiel execução da legislação oficial sobre a educação física e desportos;

c) trabalhar pela divulgação da educação física bem como de sua ampliação no sentido do amparo profissional dos especializados;

d) elevar o nível cultural geral, técnico-profissional, moral e social de seus associados;

e) pugnar pela unidade de doutrina da educação física e dos desportos em colaboração com as demais entidades nacionais;

f) promover congressos, conferências, palestras e demonstrações científicas ou técnicas e outros meios de difusão da educação física e dos desportos;

g) organizar uma biblioteca de obras escolhidas sobre assuntos atinentes às finalidades da Associação, bem como um departamento de informações capaz de esclarecer todos os assuntos que lhe forem consultados com referência à educação física e aos desportos.

    No registro de pessoa jurídica, requerido em cinco de julho de 1946, no Serviço de Registro Civil das Pessoas Jurídicas, em Porto Alegre, 49 sócios fundadores foram relacionados, conforme apresentaremos a seguir:

Nome

Profissão

HERALDO A. FARIA CIDADE

MILITAR

SUZANA CONY F. CIDADE

PROFESSORA

QUINTINA CROCCO

PROFESSORA

SETEMBRINA P. BARTH

PROFESSORA

CÉLIA SALOMÃO

PROFESSORA

OLGA VALÉRIA KROEFF

PROFESSORA

ADELAIDE MACHADO VIEIRA

FUNCIONÁRIA PÚBLICA

PAULO ALFREDO CARVALHO

PROFESSOR

WALDIR ECHART

PROFESSOR

EVA MARIA VARES

PROFESSORA

WILSON DE O. LEITE

MILITAR

LYGIA BRENNER

PROFESSORA

HELOAH LOYRE FRITSCH

ESTUDANTE

ODAIR PERUGINI CASTRO

PROFESSORA

LISARB C. DE VASCONCELOS

PROFESSORA

ADIL MULLER QUITES

MILITAR

HELDAH RAMOS

MILITAR

HUGO MUXFELDT

PROFESSOR

HÉLIO B. FERREIRA

MÉDICO

WALTER SALAZAR

PROFESSOR

MILITÃO DA SILVA NETTO

MILITAR

CRIOLANDO RUSCIGNO

PROFESSOR

DINAH TARGA

PROFESSORA

DINAH HENKIN

PROFESSORA

JOSÉ CORREA DE BARROS

MÉDICO MILITAR

RUBEM MYLIUS

PROFESSOR

ANA AMÁLIA DE QUADROS

PROFESSORA

ELISA FERREIRA

PROFESSORA

DERIK OSCAR ELY

PROFESSOR

MAURÍCIO AKCELRUD

FUNCIONÁRIO PÚBLICO FEDERAL

ELISA CIBELLLI

FUNCINÁRIA PÚBLICA

SONIA PASTRO DIHL

PROFESSORA

THOMAZ P. VASCONCELLOS

MILITAR

AYDI MARIA BUSS

PROFESSORA

SELVIRO R. DA SILVA

PROFESSOR

ANTÔNIA S. PETZHOLD

PROFESSORA

LYA BASTIAN MEYER

PROFESSORA

ZADIR MARTINS

BANCÁRIO

JOÃO OLAVO KRAY

PROFESSOR

DIRCEU GAY CUNHA

PROFESSOR

MARIA DE CESARO

PROFESSORA

ARY STEIMER

PROFESSOR

ARY COSTA MARIANTE

MÉDICO-MILITAR

AMADEU FAVIERO

MÉDICO

SARAH NIELSEN

PROFESSORA

TELÊMACO FRAZÃO LIMA

TÉCNICO-DESPORTIVO

MARIA GUEDES DA CUNHA

PROFESSORA

SALVADOR R. DA SILVA

FUNCIONÁRIO PÚBLICO MUNICIPAL

MARIA BRUNET S. RODRIGUES

PROFESSORA

Quadro 3. Sócios fundadores da AEEFD/RS

Fonte: Estatutos da AEEFD/RS – 05 de julho de 1946

Quadro elaborado pelo pesquisador Sergio Martini

As primeiras iniciativas: a criação da biblioteca e do boletim informativo da AEEFD/RS

    Na primeira reunião da Diretoria, foi decidido que a Biblioteca, a ser fundada na AEEFD/RS, receberia o nome de Biblioteca Dr. Edgar Sílvio Silva Sperb. Tal decisão encerrava o objetivo de prestar homenagem póstuma ao referido médico que concluiu o curso de especialização em Medicina da Educação Física e dos Desportos e fundou o Centro Acadêmico da ESEF, além de ser conhecido pelos artigos esportivos que escrevia nos jornais da cidade.

    Nos relatos contidos no Boletim Informativo (Antinoüs nº 5, de outubro de 1946), na data de 28 de outubro de 1946, às 16 horas, na Rua Duque de Caxias nº 1195, sede do Conselho Regional de Educação, foi inaugurada a biblioteca. Inicialmente a proposta era para que esta funcionasse três dias por semana, sendo que um deles seria a sexta-feira à noite, momento em que também ocorriam as reuniões de diretoria. Assim, almejava-se que os sócios pudessem aproveitar e participar ativamente da associação. Importa destacarmos que o primeiro responsável pela biblioteca foi o Professor Fredolino Taube, formado pela ESEF, em 1943. Este, por sua vez, era professor da referida Escola e técnico de atletismo.

    O boletim informativo foi criado para ser o órgão de divulgação da AEEFD/RS e um canal de comunicação com os associados, no qual os mesmos poderiam fazer uso das colunas, enviarem avisos, sugestões, curiosidades e textos pertinentes aos temas da Educação Física. O editor do boletim e, também presidente da associação, Maurício Akcelrud, ressalta, na primeira edição, que a entidade se dará ao direito de solicitar a todos os sócios o máximo de interesse ao que for publicado, da mesma maneira que aceitará críticas e sugestões, para que o “Antinoüs” possa cumprir suas finalidades e a AEEFD/RS seja “[...] um organismo vivo e pulsante e não uma estéril fundação”. (Boletim informativo Antinoüs nº 1, de junho de 1946, p.1).

    No boletim informativo Antinoüs n° 3, de Agosto de 1946, encontramos a descrição das razões que levaram à escolha do nome Antinoüs:

    Antinoüs era um dos mais belos mancebos da antiga Grécia, o que podemos constatar pela sua estátua, tão conhecida no mundo inteiro, o que tomamos para distintivo da AEEFD. Como a concepção de educação na Grécia era baseada na equivalência do espírito e do corpo, temos, não Hércules – a força bruta – mas antinoüs, como padrão da educação integral: física, moral e intelectual (p.3).

    Foram editados seis boletins no ano de 1946. A organização de cada edição obedecia à seguinte estrutura: continha um editorial de apresentação; um artigo explicativo; um relato das atividades da associação, passadas e futuras; curiosidades sobre a educação física e os esportes; breve resumo das correspondências emitidas e recebidas; noticiário; além da parte social, onde eram registrados os aniversários, casamentos, nascimentos e, também, os óbitos.

Para além do palpável: outras ações

    O primeiro semestre de 1946 foi pontuado pela tentativa de dar divulgação a associação, a partir de algumas ações particulares, com o intuito de tornar a entidade um órgão representativo: o envio de correspondências a diversos órgãos do Estado e do País; a elaboração de projetos pertinentes ao tema da Educação Física, entre outras.

    Em telegrama enviado aos Presidentes da Assembléia Nacional Constituinte, líderes de bancada de todos os partidos e líderes de bancadas do estado do Rio Grande do Sul constava um pedido de estímulo no sentido de que se fossem mantidas ou ampliadas, na futura carta magna, as conquistas até então obtidas pela educação física. Com o fim do Estado Novo (1937-1945), ocorreu a pré-elaboração de uma carta magna que gerou um debate por parte de diversos educadores sobre os rumos da educação, mas na prática o que aconteceu foi uma regulamentação do funcionamento e controle do que já estava estabelecido (CASTELLANI FILHO, 1994).

    Reuniões com os professores de educação física dos grupos escolares foram promovidas, com o propósito de estudar a possibilidade da criação, nos estabelecimentos de ensino primário, da chamada “Ordem da Palmeira”, que teria a finalidade de desenvolver nas crianças a correção de atitude moral e física. Resultou destas reuniões um projeto preliminar que foi encaminhado à Secretaria de Educação e Cultura, com vistas a oficializar tal iniciativa. O objetivo dos idealizadores da referida Ordem era também que houvesse um intercâmbio entre os professores de educação física e os demais professores das unidades escolares, para que todos trabalhassem com o mesmo fim. Nessa mesma época, em consonância com esta iniciativa, o Dr. Ruy Gaspar Martins, sócio da AEEFD/RS, proferiu uma palestra intitulada “Boa atitude e sua importância na vida da criança”.

    Em correspondência enviada ao General Antônio Gomes Velasco, Diretor do Departamento de Educação do México, consta a solicitação da inclusão de um delegado da AEEFD/RS entre os convidados oficiais ao II Congresso Panamericano de Educação Física que seria realizado entre os dias 1 a 15 de Outubro de 1946. A escolha deste representante seria através de um concurso sobre trabalhos de educação física, onde o vencedor foi o Dr. Ruy Gaspar Martins. Porém em vista do regimento do congresso permitir apenas o comparecimento de um representante oficial de associações de cada país, em sessão de Diretoria, ficou deliberado que Inezil Penna Marinho, sócio honorário da AEEFD/RS seria credenciado como candidato a representação. Dr. Ruy Gaspar Martins viajou com a delegação, porém, não discursou como representante oficial. O Estado do Rio Grande do Sul foi o único estado do Brasil com representação própria junto à delegação oficial.

    Em viagem ao Uruguai, o vice-presidente da AEEFD/RS, Dr. Luiz Henrique Maluf foi recebido pela Associação de Professores de Educação Física de Montevidéu que lhe proporcionou visitar várias intuições escolares e Esportivas. Foi também portador da notícia do oferecimento do Conselho Nacional de Educação Física do Uruguai ao Governo do Estado do Rio Grande do Sul, da doação de toda a aparelhagem necessária a uma praça de desportos na capital de Porto Alegre. O local, naquela data, não havia sido escolhido, mas, em agradecimento, cogitou-se chamá-la de “Praça de Educação Física Uruguai”.

    O segundo semestre foi pautado pela continuidade das ações anteriormente propostas e no dia 27 de junho, o capitão Jacintho Francisco Targa, então diretor da Escola Superior de Educação Física, proferiu uma palestra sobre o “Método Eclético”, nome então dado ao método que a Escola Nacional de Educação Física e Desportos (ENEFD) estava procurando difundir em todo o país. Umas das atribuições da referida escola é destacada a seguir:

    [...] pelo decreto 1212, de 17-4-39, cabe a ela realizar pesquisas sobre a educação física e desportos, indicando os métodos mais adequados à sua prática no país. Como todos os métodos modernos do mundo tendem ao ecletismo, o nosso não poderia deixar de ser eclético. Como não há nenhum outro método com este nome e o mesmo se constituí de elementos tirados de outros métodos, A Escola Nacional de Educação Física e Desportos resolveu dar-lhe o nome de Método Eclético “(Boletim informativo Antinoüs nº 3 de agosto de 1946, p.8).

    O diretor da Escola Nacional de Educação Física e Desportos (ENEFD) na época, o Major Antonio Pereira Lira, justificou o nome do referido método da seguinte maneira:

    Não poderemos cognominar o nosso trabalho de Método Brasileiro ou Nacional de Educação Física, porque nada estamos criando, nem temos a falas pretensão de criar; procuramos apenas adaptar ao povo brasileiro, de acordo com o temperando “sui-generis” da nossa mocidade, os modernos processos de trabalho físico utilizados no mundo inteiro, mas até então, infelizmente, desconhecidos ou relegados entre nós pelos técnicos e responsáveis pelos destinos da Educação Física no Brasil” (Boletim informativo Antinoüs nº 3 de agosto de 1946, p.8).

    Na visão da AEEFD/RS uma das grandes vantagens da apresentação do Método Eclético seria a de ter oficialmente rompido com o dogmatismo com que era empregado o Método Francês no Brasil.

    Ações culturais também eram desenvolvidas pela associação, tais como: reunião no salão de chá Renner, em Porto Alegre, no dia 14 de abril de 1946, com o objetivo de congregar os associados e comemorar o dia Pan Americano. Para compor a reunião “[...] foram convidados especialmente o Exmo. Sr. Secretário de Educação e Cultura, os srs.cônsules das Nações Americanas bem como as sociedades radiofônicas e a imprensa” (Boletim Informativo Antinoüs nº 1, de julho de 1946); sessões de cinema realizadas no dia 25 de julho de 1946, no Instituto de Educação, em Porto Alegre com temática desportivo-cultural com a apresentação dos seguintes filmes: “Espírito de luta”, “Escola de Rosemary”, “Campeões de Baseball”, “Casas de Recreação Infantil”, “Estudantes de uniforme” e “Soldados do ar”. Debates foram realizados após as sessões. A associação também prestigiava eventos que aconteciam na cidade de Porto Alegre, assim como o ocorrido no dia três de julho de 1946, quando o Presidente da AEEFD/RS, Professor Maurício Akcelrud, participou das demonstrações de educação física e equitação, no Estádio da Brigada Militar, no papel de convidado. Na ocasião “[...] foram realizadas demonstrações de ginástica acrobática, de dúzia americana e ginástica do cavaleiro e do cavalo” (Boletim informativo Antinoüs nº 3, de agosto de 1946).

    O Presidente da AEEFD/RS, Maurício Akcelrud, em editorial (Boletim Informativo Antinoüs n° 3, de Agosto de 1946), chama a atenção para o papel do especializado em educação física na associação. Defende a idéia de que nada adianta o conhecimento e o “tirocínio” profissional se as pessoas pensarem que são capazes de resolver sozinhas todos os problemas, mesmo que cada pessoa tenha o direito de pensamento que cabe a cada um, situar o problema educacional no ponto de vista pessoal, e completa:

    Infelizmente, no Brasil, ainda não passamos da era do pioneirismo, no campo da educação física, para atingirmos o período de franca e pura evolução doutrinária. Há quem queira subestimar o papel importante da educação física nos destinos do Brasil. Isso constitui um motivo fortíssimo para que nos congreguemos com maior decisão e entusiasmo em tôrno de nossa Associação, pois só dentro dela sentiremos a pulsação de nossa fôrça e orientaremos positivamente o nosso trabalho (p.1).

    No intuito de conseguir fundos para a viagem uma comissão de sócios, no dia 21 de agosto de 1946, reuniu-se com o interventor federal, na época Pompílio Cylon Fernandes Rosa. Além dessa iniciativa, a comissão percorreu com êxito diversas entidades e firmas comerciais10 em Porto Alegre, estas inscritas no livro de honra da AEEFD/RS.

    A diretoria da AEEFD/RS instituiu, em 11 de outubro de 1946, um concurso sobre trabalhos sobre a História da Educação Física e os Desportos no Rio Grande do Sul, específico para associados. Com edital publicado em Boletim informativo (Antinoüs nº 5, de setembro de 1946), argumentam que a pretensão seria a de tornar a dimensão histórica mais conhecida dos especializados, e de quantos se interessassem pelo desenvolvimento cultural do Estado, a situação real da Educação Física no Rio Grande do Sul.

    Em reunião de diretoria, foi aprovada uma proposta do Presidente para que a AEEFD/RS, em trabalho conjunto com a Diretoria de Praças e Jardins da Prefeitura Municipal, realizasse um curso popular de cooperadores das Praças e Jardins. Visava este curso, que constaria em uma série de palestras e demonstrações práticas, dar os conhecimentos elementares necessários às pessoas que desejassem cooperar com o professor de educação física do Parque ou Praça do bairro onde residissem, “[...] colaborando assim de maneira direta na causa da educação física” (Boletim informativo Antinoüs nº5, de outubro de 1946, p. 2).

    A AEEFD/RS, que recebeu registro jurídico com quarenta e nove sócios fundadores, no mês de novembro de 1946 já possuía cento e quarenta e dois sócios (Boletim informativo Antinoüs nº 6, de novembro de 1946).

    Em virtude da criação Conselho Estadual de Educação sem que do mesmo fizesse parte um membro nato especializado em Educação Física, foi enviado um memorial da AEEFD/RS com data de 26 de agosto de 1946, ao Secretário de Educação e Cultura, Francisco Brochado da Rocha, onde é ressaltado o entusiasmo pela criação do conselho, porém que não é sem surpresa que viu não constar em os membros um especializado em educação física. Argumentam que a educação física se fundamenta em princípios biológicos, sociológicos, fisiológicos, psicológicos e filosóficos, sendo assim uma seria de problemas de ordem técnica poderiam acontecer, o que seria necessário então a presença de técnicos especializados. Finalizam o memorial com o seguinte texto:

    Nossa sugestão é nossa espontânea contribuição. Temos a certeza de que no Departamento e na Escola de Educação Física, V. Exª encontrará competentes, idealistas e dignos colegas nossos que estarão à altura do deles exigir a necessidade do Estado. (Boletim informativo Antinoüs nº 6, de novembro de 1946, p.6).

    Em decorrência do assunto acima referido, no dia quatro de novembro de 1946 deu entrada no protocolo da Secretaria de Educação e Cultura, o ofício e memorial da AEEFD/RS ao Secretário de Educação e Cultura enfatizando o entusiasmo pela nomeação do Dr. Luiz H. Maluf, vice-presidente da AEEFD/RS para fazer parte do conselho, porém manifestando o desejo da realização de uma reunião, onde poderiam manifestar os pontos de vista da associação.

    Fechando o semestre e o ano o editorial do boletim informativo do mês de novembro chama a atenção para a comemoração dos aniversários de Ruy Barbosa e Tiradentes:

    [...] Tiradentes, o mais legítimo e popular herói nacional, consagrou-se à veneração de seus patrícios pelo estoicismo e abnegação com que lutou e soube morrer pela nobre causa. Ruy Barbosa foi o cérebro que dignificou a cultura brasileira, dando-lhe projeção universal. È mister unir esta veneração a algo que represente atividade, que estabeleça o elo, a continuidade do progresso desta terra. Assim, procurando ação pensamos estar fazendo algo de duradouro e útil. (Boletim informativo Antinoüs nº 6, de novembro de 1946, p.1)

    O ano termina com a conclusão por parte da AEEFD/RS que foi dada a associação [...] “o máximo de projeção compatível com a fôrça que realmente possue” (Boletim informativo Antinoüs nº 6, de novembro de 1946). Reforçam essa idéia com as seguintes informações:

    [...] já era conhecida em todo o Estado, nos meios administrativos, culturais e populares; em todo o país através da divulgação do Boletim Informativo, em todas as nações sulamericanas através dos representantes no II Congresso Panamericano de Educação Física e em vários países da Europa por meio de correspondência e intercâmbio (p.1).

    Diante do exposto ressaltam de que nada adiantaria essa projeção, sem que se fortificasse internamente a associação, sendo através das leituras coletivas dos boletins, prestigiando a biblioteca, tomando parte nos concursos, pagando espontaneamente as contribuições, comparecendo às atividades e emprestando crítica franca e justa, crítica construtiva. Aquela que aponta os erros e apresenta soluções.

Considerações finais

    Ao longo de toda a pesquisa fomos aos poucos, nos aproximando de nosso objeto, a AEEFD/RS, buscando identificar como ocorreu o processo de criação da referida entidade e descrevendo suas ações durante o primeiro ano de sua fundação. Pudemos identificar diferentes ações no sentido de dar visibilidade à associação, e também, firmá-la como entidade representativa dos especializados em educação física na época.

    No que tange ao papel a ser exercido pela AEEFD/RS havia duas opções: ser apenas um aglomerado de profissionais ou, de outro modo, ser um grupo que trabalharia em prol da educação física. Até onde conseguimos avançar para o momento, o que nos mostram as fontes consultadas, a segunda assertiva se sobrepõe à primeira.

    Algumas ações puderam ser elencadas no período que compreendeu o primeiro ano de funcionamento da AEEFD/RS: conseguiu dar um maior destaque ao especializado em educação física; atuou junto aos órgãos públicos e a sociedade, posicionando-se de forma crítica; indagou os órgãos públicos quando os assuntos pertinentes à educação física deixavam a desejar. Teve força política para intervir nas ações do governo do Estado, especificamente no Conselho Regional de Educação, fazendo que o mesmo convidasse um especializado em educação física para fazer parte do mesmo. Vale destacar ainda que a AEEFD/RS ficou conhecida, em nível internacional, através dos seus representantes no II Congresso Panamericano de Educação Física, em 1946, na cidade do México.

    Embora as Associações de Profissionais estejam atuando de diferentes formas no cenário da educação física brasileira, há aproximadamente 75 anos, são escassas as pesquisas sobre suas trajetórias. Acreditamos que este estudo histórico possa contribuir no sentido de recuperar e preservar as memórias dessas entidades associativas e, ao mesmo tempo, auxiliar a compreensão das transformações ocorridas no campo da educação física brasileira.

Notas

  1. http://hdl.handle.net/10183/1322

  2. http://www.ichs.ufop.br/perspectivas/anais/GT0602.htm

  3. http://www.uff.br/ichf/publicacoes/revista-psi-artigos/v19.1_cap_05_historia%20-%20cultura.pdf

  4. http://www.ambito-juridico.com.br/site/index. php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=319

  5. http://www.priberam.pt/DLPO/default.aspx?pal=associativismo

  6. http://www.jusbrasil.com.br/topicos/296162/entidade-de-classe

  7. http://doraexlibris.wordpress.com/2008/04/25/etica-e-deontologia-o-papel-das-associacoes-profissionais-por-francisca-rasche/

  8. http://bdtd.bce.unb.br/tedesimplificado/tde_busca/arquivo. php?codArquivo=536

  9. http://www.uel.br/grupoestudo/processoscivilizadores/portugues/sitesanais/anais10/Artigos_PDF/Ana_Paula_Cunha.pdf

  10. As entidades e firmas comercias que apoiaram a AEEFD/RS foram: Departamento de Educação Física; Prefeitura Municipal; Instituto de Carnes, Instituto do Arroz, Caixa Econômica Federal; Instituto de Previdência do Estado; A.J.Renner; Barcellos, Bertaso & Cia; Cia Phenix de Seguros; Livraria Universitária; Cia. União de Seguros Marítimos e Terrestres; Day & Flores; Instituto Riograndense do Vinho; Selbach & Cia e Cauduro & Irmão.

Fontes históricas e referências bibliográficas

  • Associação dos Especializados em Educação Física e Desportos do Rio Grande do Sul, Boletins Informativos Antinoüs nº 1, 2, 3, 4, 5, e 6 de 1946.

  • Associação dos Especializados em Educação Física e Desportos do Rio Grande do Sul, Atas de Diretoria dos anos de 1945 e 1946.

  • BOBBIO, N.; MATTEUCCI, N.; PASQUINO, G. Dicionário de política. 6ª Ed. Brasília, DF: Editora UNB, 1994.

  • BURKE, P. O que é história cultural? Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005.

  • CASTELLANI FILHO, L. Educação Física no Brasil: a história que não se conta. 4ª edição – Campinas, SP: Papirus, 1994.

  • CHARTIER, R. A História Hoje: dúvidas, desafios, propostas. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v. 7, n. 13, 1994, p.97-113.

  • DUTRA, S. F. 2003. Objetos da cultura material como mediadores no desenvolvimento do raciocínio histórico em crianças. Disponível em: http://www.ichs.ufop.br/perspectivas/anais/GT0602.htm

  • GANANÇA, A.C. 2006. Associativismo no Brasil: Características e limites para a construção de uma nova institucionalidade democrática participativa. Disponível em: http://bdtd.bce.unb.br/tedesimplificado/tde_busca/arquivo. php?codArquivo=536 . Acesso em: 07 de novembro de 2009.

  • GARRETT, M. B. Análise crítica e contextualizada acerca do exercício pleno do princípio democrático. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, 24, 31/12/2005 [Internet]. Disponível em: http://www.ambito-juridico.com.br/site/index. php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=319. Acesso em 07/05/2010.

  • GOELLNER, S.V. 1992. O método francês e a educação física no Brasil: da caserna a escola. Disponível em: http://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/1322. Acesso em 07 de novembro de 2009.

  • LEMOS, F.C.S. 2007. História, Cultura e Subjetividade: Problematizações. Disponível em: http://www.uff.br/ichf/publicacoes/revista-psi-artigos/v19.1_cap_05_historia%20-%20cultura.pdf. Acesso em 03 de março de 2010.

  • LICHT, H. 2005. Subsídios históricos. Acervo particular do pesquisador Sergio Martini.

  • OLSON, M. A Lógica da Ação Coletiva. Tradução Fabio Fernandez. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1999.

  • PEREIRA, A.P. C; BERESFORD, H. As associações de profissionais de educação física (APEF´S) sob o prisma de valor: uma contribuição na busca da co-participação. Disponível em: http://www.uel.br/grupo-HYPERLINK "http://www.uel.br/grupo-estudo/processoscivilizadores/portugues/sitesanais/anais10/Artigos_PDF/Ana_Paula_Cunha.pdf%20\%20_parent"estudo /processoscivilizadores/portugues/sitesanais/anais10/Artigos_PDF/Ana_Paula_Cunha.pdf Acesso em: 07 de novembro de 2009.

  • PESAVENTO, S. J. História & história cultural. Belo Horizonte: Autêntica, 2004.

  • RASCHE, F. 2008. Ética e Deontologia: o papel das Associações Profissionais. Disponível em: http://doraexlibris.wordpress.com/2008/04/25/etica-e-deontologia-o-papel-das-associacoes-profissionais-por-francisca-rasche/. Acesso em: 04 de novembro de 2009.

  • SARTORI, S. K. Associação de Profissionais de Educação Física – APEF. In DA COSTA, L. P. (org.). Atlas do Esporte no Brasil: atlas do esporte, educação física e atividades físicas de saúde e lazer no Brasil. Rio de Janeiro: Shape, 2005.

  • TRIVIÑOS, A. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 1987. http://www.priberam.pt/DLPO/default.aspx?pal=associativismo Acesso em 03 de outubro de 2009. HYPERLINK http://www.jusbrasil.com.br/topicos/296162/entidade-de-classe%20\%20_parent" http://www.jusbrasil.com.br/topicos/296162/entidade-de-classe. Acesso em 07 de novembro de 2009.

Outros artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/
Búsqueda personalizada

revista digital · Año 15 · N° 144 | Buenos Aires, Mayo de 2010  
© 1997-2010 Derechos reservados