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Educação Física além da escola. Perfil do 

estilo de vida e o índice de massa corporal

La Educación Física más allá de la escuela. Perfil del estilo de vida e índice de grasa corporal

 

*Licenciado em Educação Física na

Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul

**Professor Mestre da Faculdade de Educação Física e Ciências do Desporto da

Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PUCRS

Professor da Faculdade da Serra Gaúcha - FSG

Rodrigo Rodrigues Schnadelbach

rodrigo.schnadelbach@gmail.com

Rodrigo Flores Sartori

rodrigo.sartori@pucrs.br

(Brasil)

 

 

 

Resumo

          O crescente aumento do sedentarismo vem tornando-se um dos principais problemas de saúde pública entre crianças e adolescentes. Crianças com sobrepeso e obesas se incluem nos grupos de risco com maiores chances de virem a apresentar enfermidades na idade adulta. Objetivos relacionar o estilo de vida com o índice de massa corporal (IMC), para identificar o perfil dos alunos a fim de traçar estratégias para combater o sedentarismo e obesidade dentro da escola. O estudo caracterizado como uma pesquisa direta, de campo, que utilizou o método descritivo e ex-post-facto. E a coleta de dados da amostra de 97 escolares, contou com dois instrumentos: questionário de Hábitos de Vida (GAYA & GUEDES, 2003) e a avaliação antropométrica do Índice de Massa Corporal (IMC) conforme (ACMS, 2000; NORTON & OLDS, 2005; & PITANGA, 2005). A obesidade foi mais acentuada entre os meninos (12,8%) do que entre as meninas (7,2%). Mesmo os meninos sendo fisicamente mais ativos para atividades desportivas que as meninas. Existindo uma necessidade de estimular e incentivar mais a prática de atividades físicas e desportivas orientadas dentro e fora da escola, especialmente entre as meninas.

          Unitermos: Atividade física na infância. Estilo de vida. Sedentarismo

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 15 - Nº 143 - Abril de 2010

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Introdução

    Nas últimas décadas, as grandes mudanças na rotina de trabalho e lazer são caracterizadas pela hipocinesia ou sedentarismo, isto é, a ausência de (ou pouca) movimentação. Tais mudanças estão presentes tanto em países desenvolvidos quanto em países em desenvolvimento, e têm se tornado um dos principais problemas de saúde pública, principalmente entre crianças e adolescentes (FARIAS JÚNIOR & LOPES, 2003; HAUSER, 2004; BARRETO, BRASIL & MARANHÃO, 2007). Isso por que as atividades ocupacionais que demandam gastos energéticos têm sido substituídas por facilidades automatizadas, o que vem se agravando com a evolução da tecnologia (OLIVEIRA & FISBERG, 2003).

    O estilo de vida está intimamente associado à saúde e qualidade de vida das pessoas em todas as idades. Os hábitos e as opções que definem o estilo de vida de um indivíduo são estabelecidos, em grande parte, antes da vida adulta e, os fatores que colaboram para a aquisição de determinadas condutas são decorrentes do ambiente social e físico em que se vive (NAHAS, 2003). Durante o crescimento e desenvolvimento a criança e o adolescente, estão expostos a infinitos fatores influenciadores que podem ou não afetar seu processo evolutivo. Família, escola, e os meios de comunicação são os elementos de maior influência no estilo de vida do jovem (Gaya e Guedes, 2003).


    Diversas pesquisas confirmam que o sedentarismo vem começando cada vez mais cedo, o que dificulta tentativas posteriores de mudanças de hábitos (OLIVEIRA & FISBERG, 2003; SANTOS, CARVALHO & GARCIA JÚNIOR, 2007; LEMOS et al., 2007). Sabe-se, também, que a obtenção de conhecimentos e atitudes positivas tais como prática de atividade física, alimentação adequada e comportamentos preventivos são consolidados durante a infância e a juventude (HAUSER, 2004). A exposição a fatores de risco associados à saúde, como baixo nível de atividades físicas, pode acarretar desfechos negativos de saúde na vida adulta (LOPES, 1999; ALVES, 2003).

    Atividade física é definida como sendo todo e qualquer movimento do corpo que produza um aumento do gasto energético de reserva (MCARDLE, 2005), ou seja, são consideradas atividades físicas as atividades esportivas, de lazer, exercícios, e até mesmo atividades de trabalho e as tarefas domésticas que envolvam gasto energético. A contribuição das atividades físicas para a redução do risco de todas as causas de mortalidade foi evidenciada em diversos estudos (LOPES, 1999; NAHAS, 2003; PITANGA, 2005), podendo melhorar a aptidão física, assim como prevenir e auxiliar no tratamento de diversas enfermidades (NAHAS, 2003), trazendo diversos benefícios a curto e longo prazo.

    Embora as atividades físicas tenham fundamental importância na vida das crianças, tem-se verificado uma tendência cada vez maior à adoção de padrões comportamentais hipocinéticos, caracterizados por um predomínio de atividades de lazer passivo (assistir televisão, jogos eletrônicos) em detrimento das atividades fisicamente mais vigorosas (LOPES, 1999).

    De acordo com Farinatti (1995) a criança apresenta uma necessidade fisiológica de se movimentar. A motivação, fator estimulante a esta atitude, é dependente dos valores construídos e sistematizados pela criança durante o seu desenvolvimento. Partindo deste princípio, deve-se iniciar ainda na infância a prática de atividades físicas, de acordo com o estágio de desenvolvimento da criança (GALLAHUE & OZMUN, 2005).

    As conseqüências geradas por um baixo nível de atividade física na infância são as mais diversas possíveis, interferindo diretamente no estado de saúde da criança e no seu desenvolvimento. Crianças que têm um estilo de vida excessivamente sedentário têm maior probabilidade de desenvolver diversas doenças ligadas ao sedentarismo (PEZZETTA, et al 2003; PIRES, et al 2004), entre as quais a obesidade. A obesidade definida pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como a “doença na qual a gordura se acumulou no organismo a tal ponto que a saúde pode ser afetada” (LEÃO et al., 2003). Bar-or (1998) aponta que, embora sob controvérsias, a hipocinesia pode ser o principal fator para ganho de peso excessivo.

    O sobrepeso, considerado como o peso corporal que excede do peso normal ou padrão dos indivíduos da mesma raça e sexo baseado na altura, idade e constituição física (POLLOCK & WILMORE, 1993), e a obesidade são distúrbios crônicos complexos, relacionados a vários fatores que desequilibram o balanço energético na direção do ganho de peso (SANTOS, CARVALHO & GARCIA JÚNIOR, 2007).

    O Índice de Massa Corporal (IMC) é usado como um instrumento para identificar possíveis problemas de peso (NORTON & OLDS, 2005; PITANGA, 2005). O Centro de Prevenção e Controle de Doenças (CDC) em Atlanta, EUA e Prevention e American Academy of Pediatrics (AAP) recomendam o uso do IMC para avaliação do sobrepeso em crianças começando aos dois anos de idade. Para crianças e adolescentes o IMC deve ser plotado no diagrama de IMC para idade de meninos ou meninas para se obter uma classificação percentil, a qual é usada para averiguar o sobrepeso, risco de sobrepeso ou peso abaixo do saudável (CDC, 2009).

    Este estudo tem como objetivos relacionar aspectos que compõem o estilo de vida com as medidas antropométricas de índice de massa corporal (IMC), para identificar o perfil dos alunos do ensino fundamental de uma escola pública de Porto Alegre – RS quanto ao nível de atividade física. A identificação deste perfil será utilizada para escolha de novos estímulos mais adequados ao estilo dos alunos do ensino fundamental da escola em questão, para prática de hábitos saudáveis, e alertar sobre a necessidade manter estes hábitos para prevenir futuros problemas de saúde. Podendo ser estendido a toda a rede de ensino público e até mesmo privado de Porto Alegre.

    O estudo em questão caracterizou-se como uma pesquisa direta, de campo, que utilizou o método descritivo (THOMAS & NELSON, 2002; MATTOS, ROSSETO & BLECHER, 2004), com um caráter ex-post-facto, já que a amostra foi manipulada em seu meio natural, sem interferência do pesquisador (KERLINGER, 1979).

    Foram analisados os hábitos do estilo de vida e as medidas antropométricas do IMC dos escolares da rede pública de ensino de Porto Alegre. A população alvo abrangeu escolares com idade entre 10 a 17 anos de idade, de ambos os gêneros, matriculados e freqüentando regularmente o ensino fundamental do segundo semestre 2008 em uma escola pública da cidade de Porto Alegre-RS.

    A amostragem foi determinada pelo número de alunos presentes nas aulas de educação física durante os dias de coleta, totalizando 97 escolares, que participaram voluntariamente. Sendo que 55 estudantes do gênero masculino e 42 do gênero feminino. E para um melhor delineamento da amostra, a idade cronológica dos escolares foi considerada a idade decimal (ROSS & MARFELL-JONES, 1982) determinada entre 11 e 15 anos de idade, o que resultou em uma amostra de 97 indivíduos.

    A coleta de dados foi realizada nos dias 28 e 30 de outubro e 4 e 6 de novembro de 2008, e contou com dois instrumentos: um questionário fechado, adaptado de Gaya e Guedes (2003) e a avaliação antropométrica do Índice de Massa Corporal (IMC) conforme ACMS (2000), Norton & Olds (2005) e Pitanga (2005). O questionário fechado é a forma mais utilizada para coletar dados com exatidão (CERVO & BERVIAN APUD MATTOS, ROSSETO & BLECHER 2004).

    O questionário de Hábitos de Vida (GAYA & GUEDES, 2003) utilizado é composto de quatro categorias: organização do cotidiano, participação sócio-cultural, participação em práticas esportivas e indicadores relativos de nível socioeconômico, categoria a qual não consideramos significativa para o estudo em questão.

    A coleta de informações por meio do questionário foi realizada em uma sala de aula cedida pela escola. Os alunos foram separados por gênero dentro de cada turma, e enquanto os meninos estavam participando da aula de educação física as meninas estavam respondendo ao questionário, e vice-versa. Foi explicado, passo a passo, como o questionário deveria ser respondido a todos os alunos.

    A verificação da massa e estatura corporal ocorreu na mesma sala de aula. O avaliador utilizou uma balança eletrônica "Digital Sport MEA-07400 e um estadiômetro tipo trena de 200 cm, com precisão de 01 mm, para a obtenção dos dados antropométricos do IMC. O IMC foi obtido através da razão entre o peso (P) em quilos (Kg) e altura (A) em metros (m) elevada ao quadrado, conforme fórmula abaixo:

    O IMC, em percentil, foi calculado pelo software Nutsat, que utiliza os padrões de referência do CDC/Atlanta 2000. Os dados foram tabulados utilizando-se o programa Excell versão 2003, e as variáveis quantitativas foram analisadas pela estatística descritiva, considerando distribuição de freqüência e a porcentagem das respostas obtidas para caracterizar a amostra em estudo.

    O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido foi assinado pelos pais ou responsáveis dos alunos que participaram deste estudo, de acordo com a Lei no 196/96 do Comitê de Ética em Pesquisa do Ministério da Saúde para a realização de pesquisas com seres humanos (ROCHA, 1999), sendo também um dos quesitos determinantes da seleção da amostragem.

Resultados e discussão

    Os resultados obtidos nos questionários foram tabulados e estão sumarizados nas tabelas a seguir, juntamente com os dados da mensuração do IMC. Segunda à recomendação da Organização Mundial de Saúde (OMS), considera-se que crianças e adolescentes estão com sobrepeso quando o IMC em Percentil for > 85 e < 95, e com obesidade quando o IMC em Percentil for > 95, devendo sempre ser levado em consideração o sexo e a idade. Sendo considerada saudável a criança que apresenta um IMC em Percentil > 5 e < 85. Lembrando que um IMC em Percentil for < 5 é sinal de desnutrição (CDC, 2009).

    A Tabela 1 apresenta os resultados referentes à classificação dos IMCs dos escolares do ensino fundamental com idade entre 11 e 15 anos de idade de acordo com a clasiificação do Centro de Prevenção e Controle de Doenças em Atlanta - EUA, e da Prevention e American Academy of Pediatrics (AAP).

Tabela 1. Classificação dos percentis do IMC de acordo com o gênero e idade

    Identificou-se um número bastante elevado de sobrepeso (20%) e de obesidade (10,5%) dentro da amostra dos escolares. Terres (2006) aponta a prevalência de obesidade em 5,0% da população, enquanto que 20,9% da amostra apresentaram sobrepeso. Resultados semelhantes foram obtidos em estudos em outras grandes cidades brasileiras. Em Recife 35% dos escolares apresentam sobrepeso ou obesidade (Balaban & Silva, 2001); em Santos cerca de 33,7% das crianças de 7 a 10 apresentaram sobrepeso ou obesidade (Oliveira & Fishberg, 2003). Estes dados indicam que a obesidade infantil constitui um grave problema de saúde pública no Brasil. O contingente de indivíduos com sobrepeso na faixa etária dos 11 aos 15 anos foi de 19,6%, superior ao encontrado em estudantes de Florianópolis (FARIAS JÚNIOR & LOPES, 2003).

    A maioria dos meninos (69%) e das meninas (71,4%) apresentou índices saudáveis de massa corporal, segundo a classificação do CDC e da OMS. De acordo com esta classificação 18,2% dos meninos e 14,3% das meninas de 11 a 13 anos de idade apresentam sobrepeso. A obesidade foi detectada em 12,8% dos meninos e 7,2% das meninas. No contexto geral, as meninas se apresentam IMCs mais saudáveis que os meninos, assim como no estudo realizado por Farias Júnior & Lopes (2003) em Florianópolis.

    Outro aspecto relevante é a presença significativa de casos de sobrepeso entre as meninas como idade entre 11 e 15 anos. Terres (2006) aponta índices mais elevados de sobrepeso e obesidade entre as meninas com menor a idade devidos à maturação hormonal. Observa-se também que entre as meninas, a prevalência de sobrepeso não apresentou diferenças significativas entre as diferentes idades. Farias Júnior & Lopes (2003) não observaram evidências de diferenças na prevalência de sobrepeso entre as idades estudadas nos jovens de ambos os sexos. Mas entre os meninos ocorre o contrario, entre 11 e 12 anos de idade seda a prevalência de sobrepeso. Da mesma forma que ocorre com obesidade também predominante entre os meninos como idade entre 11 e 13anos.

    Os achados do presente estudo evidenciam que os níveis de prevalência de sobrepeso e obesidade nos adolescentes são preocupantes, já comprovados em outros estudos (BAR-OR, 1998; FARIAS JÚNIOR & LOPES, 2003; TERRES, 2006; BARRETO, BRASIL & MARANHÃO, 2007).

    Considerando que normalmente o sobrepeso e a obesidade estão estreitamente associados a hábitos alimentares inadequados e a níveis insuficientes de atividade física, os quais possivelmente serão transferidos para a fase adulta da vida (BAR-OR, 1998), existe uma necessidade de implantação de políticas públicas de saúde e programas de prevenção e combate à obesidade em crianças, já a partir da educação infantil (BARRETO, BRASIL & MARANHÃO, 2007).

    Nas Tabelas 2 estão apresentados os hábitos e atividades mais frequentes no cotidiano dos escolares, conforme o gênero enquanto no interior de suas residências.

Tabela 2. Atividades e hábitos praticados no interior da residência

    Dentro de casa, as atividades com predominância maior tanto por meninos mais de (80%) quanto por meninas (92,9%) é ouvir música e assistir televisão (Tabela 2). Os meninos (83,7%) e as meninas (52,4%) se dedicam mais ao videogame ou computador, enquanto as meninas participam mais das tarefas domésticas (76,2%), lêem (57,2%) e cuidam de crianças (42,8%) mais que os meninos. Também se observa que o tempo de estudo de meninos e meninas é proporcionalmente igual (Tabela 2).

    Isso caracteriza um estilo de vida pouco movimentado, por parte dos meninos, já que se observa um predomínio de atividades de baixo gasto energético (ouvir música, assistir televisão, jogar vídeogame e estudar). Buske, Santos & Burgos (2008) e Ilha (2004) alertam que as atividades realizadas em casa como assistir televisão e jogar videogame, estão relacionadas ao sedentarismo. Segundo Pires col. (2004) os adolescentes passam a maior parte do tempo, entre 7h e 24h, em atividades de nível de esforço leve, nas posições sentada ou deitada. Borges (2007) afirma que longos períodos em frente à TV podem conduzir ao sedentarismo, comportamento que contribui para a gênese da obesidade.

    Outro aspecto importante observado é que as meninas se mostraram mais ativas que os meninos no interior domicílio, participando do trabalho doméstico, cuidando de crianças e brincando e conversando com os amigos. No estudo de Buske, Santos & Burgos (2008) também foi detectado um número expressivo dos escolares que auxiliam nas tarefas domésticas.

    Na Tabela 3 a seguir estão apresentados os hábitos e atividades mais frequentes no cotidiano dos escolares, conforme o gênero quando no exterior de suas residências, sejam no quintal, ou em praças, parques, escolas, clubes...

    A atividade mais praticada fora de casa é conversar ou brincar com os amigos, independentemente do gênero. Além disso, as outras atividades mais praticadas pelas meninas são passeios a pé (64,3%), andar de bicicleta (59,5%), andar de carro (59,5%) e jogar bola (54,8%), em ordem decrescente. As outras atividades mais praticadas pelos meninos são jogar bola (72,7%), passear a pé (56,4%) e andar de bicicleta (56,4%). No geral, atividades como andar de patins, roller e skate são pouco exercidas, pois menos de 20% da amostra desenvolve estas atividades.

Tabela 3. Atividades e hábitos praticados no exterior da residência

    A frequentação de danceterias também se mostra baixa, mas temos que salientar a juventude da população amostrada, na faixa etária de 11 a 15 anos. Pires et al. (2004) salientam que com o avançar da idade, existe uma tendência a um declínio do gasto energético médio diário, conseqüência da diminuição de atividade física. Farias Júnior (2002) em seus estudos apontam que a proporção de jovens considerados moderadamente a suficientemente ativos foi baixa (rapazes 30,5% e moças 11,5%).

    A Tabela 4 apresenta a prática de atividades esportivas com orientação de professores, fora do horário de aula de educação física na escola.

Tabela 4. Prática de atividades esportivas orientadas fora da escola

    Mais de 60% dos escolares já tiveram uma vivência em alguma modalidade esportiva com orientação, além das aulas de educação física, onde na maioria das vezes só conteúdos esportivos são trabalhos pelo professor (GUEDES & GUEDES, 1997).

    Contudo, atualmente somente 33 alunos (31,2%) estão praticando algum desporto com supervisão de técnico ou professor. Outro dado importante é que 81% das meninas atualmente não está desenvolvendo nenhum tipo de modalidade esportiva, e destas 56% nunca praticaram nenhum esporte. Entre os meninos já se observa outro comportamento, 55% dos alunos não tem uma prática regular de determinada atividade esportiva, e apenas 28% dos meninos nunca praticaram nenhum esporte com frequência.

    Cerca 36,8% da amostra estudada, ou seja, 39 alunos, nunca praticaram atividades desportivas além das aulas de educação física na escola, as quais oferecem poucas oportunidades voltadas ao desenvolvimento e ao aprimoramento da aptidão física (GUEDES & GUEDES, 1997). Entre estes alunos, o maior percentual é de meninas. Além disso, observa-se que atualmente os meninos praticam mais atividades físicas orientadas que as meninas, em todas as séries. Outra tendência observada é que menos alunos das séries mais avançadas praticam atividades orientadas em relação aos alunos das séries mais iniciais (5ª série contra 8ª série).

    A grande maioria dos alunos, que pratica ou já praticou algum tipo de atividade física orientada, independentemente da idade e do gênero o fez por gostar da atividade escolhida. Alguns foram convidados por amigos ou por professores, outros foram movidos pela curiosidade ou pelo espírito competitivo, e ainda há aqueles que se preocupam com a manutenção da saúde e/ou receberam recomendação médica. Poucos tiveram a intenção de se preparar para uma carreira profissional no futsal ou no futebol. A partir da oitava série o emagrecimento também foi citado como estímulo (ou o principal motivo) para a prática de atividades físicas entre as meninas.

    A atividade física reduzida na adolescência é uma fonte potencial proeminente de desequilíbrio de energia, causando variações nas reservas de energia gerando o ganho de peso e conseqüentemente a obesidade. Quanto mais ativo o estilo de vida maior o gasto energético (ILHA, 2004; PIRES et al., 2004). O exercício físico possui influência positiva no controle da obesidade (HAUSER et al., 2004), desde que o nível de intensidade dos esforços físicos administrados não seja menor que o limite mínimo necessário para que possa ocorrer adaptações funcionais voltadas a um melhor funcionamento orgânico (GUEDES & GUEDES, 1997).

    Os rapazes geralmente apresentaram maior nível de atividades físicas de esforço intenso que as moças (PIRES et al., 2004). Farias Júnior (2002) identificou em seu estudo que a proporção de jovens considerados moderadamente a suficientemente ativos foi baixa (rapazes 30,5% e moças 11,5%), e que mais de 70% apresenta um nível insuficiente de atividade física, principalmente nas moças.

Considerações finais & recomendações

    Ao final desta jornada podemos relacionar alguns aspetos que compõem o estilo de vida com o índice de massa corporal, as quais evidenciaram uma elevada prevalência de sobrepeso de (18,2%) para o sexo masculino e de (21,4%) para o feminino, podendo concluir-se que a variabilidade dos valores medida foi semelhante nos dois sexos. A obesidade foi mais acentuada entre os meninos (12,8%) do que entre as meninas (7,2%). Mesmo os meninos tendo um estilo de vida mais vigoroso que as meninas nos exterior do domicilio.

    Este estudo sugere que o aumento de sobrepeso pode estar associado a um processo de hipocinesia ou sedentarismo, isto é, a ausência de (ou pouca) movimentação, o que poderia vir a propiciar uma série de complicações e enfermidades futuras para este publico.

    Os meninos são fisicamente mais ativos para atividades desportivas que as meninas. Há uma necessidade de estimular e incentivar mais a prática de atividades físicas e desportivas orientadas dentro e fora da escola, especialmente entre as meninas, já que a prática física orientada de maneira correta é a melhor forma de prevenir e combater as enfermidades ocasionadas pelo sedentarismo, como o sobrepeso e a obesidade.

    A implementação da atividade física na infância e na adolescência deve ser considerada como prioridade em nossa sociedade. Dessa forma, recomendamos que:

  1. Os profissionais da área de saúde devem combater o sedentarismo na infância e na adolescência, estimulando a prática regular do exercício físico no cotidiano e/ou de forma estruturada através de práticas corporais e esportivas mesmo na presença de doenças, visto que são raras as contra-indicações absolutas ao exercício físico;

  2. Os profissionais envolvidos com crianças e adolescentes que praticam atividade física devem priorizar seus aspectos lúdicos sobre os de competição e evitar a prática em temperaturas extremas;

  3. Estimular pais e professores a incentivar brincadeiras que envolvam atividades físicas nos momentos de lazer.

  4. Os pais devem estimular a redução do tempo gasto com televisão, computador e videogames nos horários de lazer. Não colocar televisão e computador no quarto das crianças.

  5. Estimular a prática de caminhadas e o uso de bicicletas como forma de transporte e lazer em locais adequados e com baixo risco de acidentes.

  6. Os governos, e os meios de comunicação devem considerar a atividade física na criança e no adolescente como uma questão de saúde pública, divulgando esse tipo de informação e implementando programas para a prática orientada de exercício físico.

  7. Os governos, as empresas e entidades profissionais devem incentivar a criação e utilização de locais adequados e de livre acesso para a prática da atividade física de lazer e transporte nas comunidades.

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revista digital · Año 15 · N° 143 | Buenos Aires, Abril de 2010  
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