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Níveis de falta de ar em mulheres com câncer da cidade de Belém, PA

Niveles de dificultad respiratoria de mujeres con cáncer de la ciudad de Belem, PA

 

Universidade Castelo Branco

Rio de Janeiro, RJ

(Brasil)

Mariela Ferreira de Santana

Jani Cleria Pereira Bezerra

Silvia Bacelar

Estélio Henrique Martin Dantas

marielasantana@gmail.com

 

 

 

Resumo

          A pesquisa teve por objetivo avaliar os níveis de falta de ar em mulheres com câncer da cidade de Belém-PA. Foi realizada na forma de entrevista. A amostra foi constituída por 30 pacientes, do sexo feminino, cadastradas e atendidas pela AVAO - Associação Voluntariado de Apoio à Oncologia, da cidade de Belém-PA, com média de idade de 52,43 (±5,80) anos, diagnosticadas com os seguintes tipos de câncer: colo do útero, 40% (12 pacientes); mama, 37% (11 pacientes); e outros tipos de câncer, 23% (07 pacientes). Para realizar a investigação, utilizou-se a questão de número 08 do Questionário de Qualidade de Vida da Organização Européia para Pesquisa e Tratamento do Câncer (EORTC-QLQ-C30), que consiste na seguinte pergunta: “Durante a última semana, você teve falta de ar?”. Esta questão possui quatro respostas possíveis, tipo Likert, de 4 pontos (ou seja: não - 1 ponto, pouco - 2 pontos, moderado - 3 pontos, muito - 4 pontos). Mais da metade das pacientes relataram ter tido falta de ar, totalizando 70%, sendo assim distribuídas: 20% marcaram a opção “muito – 4 pontos”; 20% marcaram a opção “moderado – 3 pontos”; e 30% afirmaram ter tido “um pouco – 2 pontos” de falta de ar durante a última semana. Apenas 30% marcaram a resposta “não – 1 ponto”, afirmando não terem tido falta de ar, durante a última semana, após o diagnóstico e início do tratamento da doença.

          Unitermos: Câncer. Falta de ar. AVAO

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 15 - Nº 143 - Abril de 2010

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Introdução

    O câncer tem suas maiores taxas de incidência nos países desenvolvidos, chegando a matar mais de seis milhões de pessoas por ano (GUERRA et al, 2005). Pode ser tratado de diversas formas, de acordo com a área do corpo afetada e o estágio da patologia. Dentre as formas de tratamento, estão a radioterapia, a quimioterapia e a cirurgia (AMERICAN CANCER SOCIETY, 2007).

    Tais tratamentos podem trazer conseqüências desagradáveis para o paciente, como sofrimento psicológico, anemias, dor, desordem do sono e falta de ar (WINDSOR et al, 2004). Essas conseqüências acabam por afetar diretamente as atividades da vida diária desses pacientes, trazendo limitações e interferindo no seu funcionamento cotidiano (BROWN et al, 2006)

    A Organização Mundial de Saúde definiu que a saúde estaria relacionada à qualidade de vida dos indivíduos (VELARDE-JURADO & AVILA-FIGUEROA, 2002). Os efeitos colaterais do câncer e de seu tratamento podem afetar essa qualidade de vida. Podem provocar, também, fraqueza generalizada, cansaço e fatiga (KATO et al, 2006).

    No Brasil, a incidência do câncer cresce ao passo que cresce nos demais países do mundo (BRASIL, 2006), devido à urbanização e mudanças nos hábitos de vida (MARINI & BARBOSA, 2008). Outro efeito colateral trazido ao paciente com câncer é a limitação na mobilidade (WARMS, 2006), como dificuldade para caminhar e necessidade de cuidados especiais (SCHNEIDER, 2007). Esta dificuldade pode ser co-responsável pela sensação desagradável de falta de ar sofrida por tais pacientes.

    Como a prática de exercícios físicos, para minimizar esses desconfortos, ainda é bastante discutida pelos pesquisadores (MCKENZIE, 1998), é necessário se fazer um levantamento mais aprofundado sobre o nível dos sintomas pós e durante o tratamento, bem como dos efeitos colaterais oriundos da doença e dos tratamentos por ela impostos.

Objetivo

    A pesquisa teve por objetivo avaliar os níveis de falta de ar em mulheres com câncer da cidade de Belém-PA.

Materiais e métodos

    A pesquisa do tipo descritiva survey correlacional foi realizada na forma de entrevista, para avaliar os níveis de falta de ar em mulheres com câncer, da cidade de Belém-PA, advinda com o tratamento e a condição física dessas pacientes.

    A amostra foi constituída por 30 pacientes, cadastradas e atendidas pela AVAO - Associação Voluntariado de Apoio à Oncologia, da cidade de Belém-PA, do sexo feminino, com média de idade de 52,43 (±5,80) anos, diagnosticadas com os seguintes tipos de câncer: colo do útero, 40% (12 pacientes); mama, 37% (11 pacientes); e outros tipos de câncer, 23% (07 pacientes).

    O estudo foi realizado obedecendo aos preceitos éticos previstos na resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (BRASIL, 1996) e da Convenção de Helsinki (WORLD MEDICAL ASSOCIATION, 2008), havendo todos os participantes assinado um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para Participação em Pesquisa, contendo as especificações da pesquisa, que também constavam no Termo de Informação à Instituição. O projeto foi, devidamente, aprovado nos Comitês de Ética em Pesquisa da Universidade Castelo Branco, sob o nº de protocolo 0063/2009.

    Fizeram parte dos critérios de exclusão, pacientes do sexo masculino, pacientes do sexo feminino com idade inferior a 40 anos ou superior a 60 anos e pacientes não cadastradas na AVAO.

    A opção por esta investigação deve-se ao fato da possibilidade de se realizar um estudo aprofundado sobre a falta de ar dessas pacientes, devido ao tratamento imposto pela doença e por questões relacionadas à sua condição física e ao seu estado psicológico.

    Para realizar a investigação, utilizou-se a questão de número 08 do Questionário de Qualidade de Vida da Organização Européia para Pesquisa e Tratamento do Câncer (EORTC-QLQ-C30) (AARONSON et al, 1993), que consiste na seguinte pergunta: “Durante a última semana, você teve falta de ar?”. Esta questão possui quatro respostas possíveis, tipo Likert, de 4 pontos (ou seja: não - 1 ponto, pouco - 2 pontos, moderado - 3 pontos e muito - 4 pontos).

    Para a descrição dos dados coletados, foram utilizadas medidas de localização e de dispersão. Dentre as primeiras, foram calculadas média (x) e mediana (Md), que são medidas de tendência central, ou seja, que identificam a localização do centro do conjunto de dados. As medidas de dispersão estimam a variabilidade existente nos dados. Com este intuito, estimou-se o erro padrão (e) e o desvio-padrão (s). Para todos os procedimentos, adotou-se um intervalo de confiança de 5% (p<0,05).

Resultados e discussão

    As respostas referentes à questão 08 (“Durante a última semana, você teve falta de ar?”), do Questionário de Qualidade de Vida da Organização Européia para Pesquisa e Tratamento do Câncer (EORTC-QLQ-C30), foram assim distribuídas: muito, 20%; moderado, 20%, pouco, 30% e não, 30%; como mostra o gráfico 01 abaixo:

Gráfico 01. Distribuição por Resposta

    Os tipos de câncer foram assim distribuídos: mama, 37% (11 pacientes); colo do útero, 40% (12 pacientes); e outros tipos de câncer, 23% (07 pacientes), como mostra o gráfico 02 abaixo.

Gráfico 02. Distribuição por Tipo de Câncer

    A abordagem terapêutica foi distribuída em 20% para radioterapia; 3% para quimioterapia; 23% para quimioterapia+radioterapia; 10% para cirurgia; 10% para cirurgia+radioterapia; 7% para cirurgia+quimioterapia; 17% para cirurgia+radioterapia+quimioterapia; e 10% para pacientes que estão apenas fazendo o controle da doença, como mostra o gráfico 03 abaixo.

Gráfico 03. Distribuição por Tipo de Tratamento

    A média de idade dos participantes consistiu em 52,43 (±5,80) anos. Nas respostas referentes à questão 08 do Questionário de Qualidade de Vida da Organização Européia para Pesquisa e Tratamento do Câncer (EORTC-QLQ-C30), que descreve o nível da falta de ar, durante a última semana, após o diagnóstico da doença, a média consistiu em 2,3 ± 0,2 pontos; como mostra a tabela 01 abaixo.

Tabela 01. Resultados descritivos da idade e da falta de ar (FA).

 

Idade

FA

Média

52,43

2,3

Mediana

52

4

Erro Padrão

1,06

0,2

Desvio Padrão

5,80

1,1

Mínimo

40

1

Máximo

60

4

Amplitude

20

3

    O enfraquecimento da função física e da saúde global dos pacientes com câncer (JURDANA, 2008 e 2009) pode trazer sintomas como fadiga, insônia, dor, dificuldade para dormir, náuseas e falta de ar (CAMARGOS et al, 2005). Pacientes com câncer, do sexo feminino, em sua maioria, necessitam mais de cuidados que os pacientes do sexo masculino (MAINIO et al, 2006).

    Através de uma revisão qualitativa e quantitativa da literatura científica em língua inglesa, evidenciou-se que a interferência das atividades físicas pode alterar os níveis de condicionamento cardiorrespiratório, aspectos fisiológicos e sintomas durante o tratamento. No entanto, é necessário maiores estudos acerca dos benefícios das atividades físicas para pacientes oncológicos sobreviventes e em tratamento (SCHMITZ et al, 2005).

Conclusão

    O preenchimento do questionário (questão 08 do EORTC-QLQ-C30), sobre falta de ar (FA), mostra que 70% das pacientes entrevistadas sofreram com falta de ar, durante a última semana, após o diagnóstico e início do tratamento do câncer, 20% marcaram a opção “muito – 4 pontos”; 20% marcaram a opção “moderado – 3 pontos”; e 30% afirmaram ter tido “um pouco – 2 pontos” de falta de ar. Apenas 30% marcaram a resposta “não – 1 ponto”, afirmando não terem tido falta de ar, durante a última semana, anterior à entrevista.

Referências bibliográficas

  • AARONSON NK, Ahmedzai S, Bullinger M, Crabeels D, Estape J, Filiberti A, et al. The European Organization for Research and Treatment of Cancer QLQ-C30: a quality of life instrument for use in international clinical trials in oncology. J Natl Cancer Inst 1993; 85:365-75.

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