Educação Física escolar: a participação das alunas no ensino médio Educación Física escolar: la participación de las estudiantes de nivel medio |
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Universidade Estácio de Sá (Brasil) |
Prof. Danilo Müller Delgado Prof. Tiago Leite Paranhos Dr. José Antonio Vianna |
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Resumo O presente estudo teve como objetivo identificar os fatores que levam a não participação das alunas do ensino médio nas aulas de educação física escolar. Foram entrevistadas 24 alunas do ensino médio - 12 da rede pública e 12 do ensino privado, com media de idade 16 anos. O instrumento utilizado foi um questionário semi-estruturado contendo 11 perguntas que levantaram informações sobre relacionamento aluno/aluno e aluno/professor, a importância dada às aulas e o que poderia ser feito para melhorá-las. Obteve-se como resultado que ao contrário do que é encontrado na literatura, a participação das alunas é satisfatória. A não diversificação dos conteúdos abordados, além da discriminação por parte dos meninos colegas de turma, que excluem as mesmas das atividades de aula, são fatores que contribuem para a não participação de algumas jovens, porém ainda assim as alunas gostam das aulas. Unitermos: Educação Física Escolar. Ensino médio. Participação
Abstract This study aimed to identify the factors leading to non-participation of students in high school physical education classes in school. A total of 24 high school students, 12 of the 12 public and private education, with mean age 16 years. The instrument used was a semi-structured questionnaire containing 11 questions that raised about relationship pupil / student and student / teacher, the importance given to school and what could be done to improve them. Obtained as a result of fact that the participation of students is satisfactory and the diversification of content covered, in addition to discrimination by fellow class of boys, which exclude these activities are factors that cause the non-participation of some students. Keywords: Physical Education. High School. Participation
Artigo baseado no Trabalho de Conclusão de Curso apresentado na Universidade Estácio de Sá em jun / 2009 |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 140 - Enero de 2010 |
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Introdução
O interesse dos alunos nas aulas de educação física escolar (EFE) é imprescindível para o processo de ensino-aprendizagem. Alguns elementos giram em torno desse fator, como as relações aluno/professor e aluno/aluno, o conteúdo das aulas e as metodologias utilizadas.
De acordo com Darido e Rangel (2005) o movimento, sendo uma forma de interação humana, possui relação íntima das pessoas entre si e com o universo. Segundo a autora as atividades físicas propiciam símbolos de comunicação não-verbais que facilitam a integração aluno/professor e contribuem para o sucesso do processo de aprendizagem.
Observações do campo e alguns estudos empíricos oferecem indicativos que parte considerável dos alunos do ensino médio não gosta das aulas de educação física escolar (EFE) e que esse grupo é constituído em sua maioria por meninas. Ao que tudo indica, a desmotivação das alunas tem relação direta no relacionamento com os demais alunos e com as atividades empregadas durante as aulas, sendo este um fato que pode ser observado desde o ensino fundamental, aumentando progressivamente a partir do 6° ano.
Em estudo com alunas de 5º à 8º séries do ensino fundamental Betti e Liz (2003) tiveram como objetivo analisar o que as jovens esperavam da aula de EFE e qual a importância da disciplina para elas. Foi aplicado um questionário de 11 questões, com perguntas abertas e fechadas, em alunas de quatro escolas (duas privadas e duas públicas, respectivamente). A EFE aparece para as alunas como uma matéria, na qual, as mesmas mais apreciam, sendo o voleibol o conteúdo que mais gostam e o basquete o que menos gostam, além de acreditarem que a partir da EFE possam ter benefícios, como o de aprender esportes e melhorarem a sua condição física; também crêem que a EFE não é uma matéria importante, o que já havia sido identificado na investigação de Lovisolo (1995) na qual o autor observa que embora a educação física seja uma das disciplinas que os alunos mais gostam, é também uma das menos valorizadas. Este fenômeno tende a ser agravado no ensino médio.
Observando a EFE no ensino médio, Mattos e Neira (2000) analisam que no ensino médio os alunos passam por experiências corporais que correspondem à mudança em seu corpo e na sua aptidão física e no seu conhecimento sobre saúde, esporte, lutas, dança e ginástica. Assim, segundo os autores, é papel do professor criar alternativas que visem o desenvolvimento desses conhecimentos em questão, fazendo com que o jovem resolva problemas no plano estratégico e motor. Ao professor é necessário ser flexível e se preciso mudar planejamento e programa do que será instituído no curso (MATTOS; NEIRA, 2000).
A fim de conhecer a opinião dos alunos de ensino médio sobre as aulas de EFE, descobrir o que de fato os alunos gostam o que falta nas aulas de EFE, o que ela representa em termos de importância para eles além de benefícios, preferências e participação, Frey (2007) aplicou um questionário a alunos da rede pública e privada de São Paulo e confirmou os achados de Betti e Liz (2003) e de Lovisolo (1995) de que as aulas de EFE não são tratadas com importância também pelos alunos do ensino médio.
Porém, os alunos consideram as aulas de EFE as que mais os agradam, tanto no ensino fundamental, como no ensino médio. Segundo Frey (2007) isso pode ser explicado pela falta de conteúdo nas aulas práticas, ficando sem sentido para os alunos e também pela falta de conteúdo em aulas teóricas, que praticamente não existem, sendo assim os alunos afirmam que embora as aulas sejam obrigatórias elas são divertidas.
Almeida e Cauduro (2007) também investigaram sobre o ensino médio, e no seu estudo tinham como objetivo conhecer os motivos, pelos os quais, os alunos de ensino médio mostram desinteresse pelas aulas de EFE.
Os autores coletaram dados de oito alunos do ensino médio obtendo opiniões contrárias no que diz respeito aos conceitos aplicados pelos professores em aula e a metodologia de ensino adotada pelo professor, que segundo Almeida e Cauduro (2007) vinham a ferir o projeto político pedagógico do colégio.
Sobre os conteúdos ministrados os alunos afirmavam que os mesmos não poderiam ser somente baseados em jogos, sendo necessário que os professores revisassem os objetivos que seriam alcançados em aula. Almeida e Cauduro (2007) verificam que o relacionamento amistoso entre professor e aluno é importante, junto com o companheirismo. Os professores se viam como incentivadores e acreditavam que preparavam os seus alunos para a vida.
Os autores notaram que havia um comprometimento da escola com os alunos, mas o mesmo não foi percebido na relação entre professores e alunos. Sobre o desinteresse dos alunos, os autores percebem que ele aparece por alguns motivos como: as aulas serem em turnos diferentes; outras prioridades dos jovens nesta fase, como decidir o seu futuro; e a falta de compromisso de alguns professores que não aparecem para ministrar as aulas.
O estudo de Rosário e Devide (2008) verificou que dos 103 jovens entrevistados, mais da metade dos alunos de ensino médio participaram de aulas de EFE em toda sua formação. Os que não participavam das aulas afirmaram - em sua maioria alunas, que não gostavam das aulas. A principal razão apresentada por elas era o de que as aulas eram basicamente compostas de esportes coletivos. Sendo esse um dos maiores, senão o principal motivo para que as meninas tivessem o maior índice de evasão nas aulas de educação física.
Os cuidados na utilização dos esportes nas aulas de educação física escolar tem sido objeto de preocupação de autores de diferentes perspectivas. Sob a perspectiva crítica Coletivo de Autores (1992) argumentam que o jogo no ensino médio tem de implicar no conhecimento em maior profundidade das técnicas e táticas do jogo e nas regras e arbitragem, se aprofundar no conhecimento do desenvolvimento/treinamento da capacidade geral do jogo e propiciar a prática do jogo em conjunto entre a escola e comunidade.
Sob o enfoque da aprendizagem motora Gallahue e Ozmun (2005) afirma que a transição da infância para a adolescência é seguida de eventos físicos e culturais que são significativos e contribuem para o desenvolvimento motor e também para o crescimento. Observa que a participação esportiva é importante nessa fase de transição, porém é necessário ter uma liderança competente e experiências apropriadas para o bom desenvolvimento.
No que diz respeito à questão de gênero, o texto de Rosário e Devide (2008) indica que há uma diferenciação na forma que os alunos se defrontam com as aulas, sendo o gênero, um fato relevante quando observamos a EFE.efrontam-se com as aulas, sendo o godemos perceber que h mais precisamente nmo ensino fundamental, onde o panorama n
Segundo Araújo et al (2008) há uma diferença significativa entre alunos do sexo masculino e do sexo feminino quanto ao interesse em participar das aulas de EFE – nas quais os meninos são mais motivados intrínseca e extrinsecamente, e que a avaliação não é um fator de persuasão motivacional para os alunos de ambos os sexos.
Haertel e Gonçalves Junior (2007) também focalizam as relações de gênero, tendo por objetivo verificar como as relações entre aluno/professor e aluno/aluno podem interferir nas aulas, influenciando diretamente na participação dos alunos, considerando a necessidade de auto-afirmação dos adolescentes.
O estudo ocorreu em duas escolas, uma de ensino público e outra de ensino privado de São Paulo, e assim os alunos do ensino privado, pediam também que as aulas fossem mistas, pois nesse colégio as aulas eram com meninos e meninas separados e com um professor do respectivo sexo ministrando as atividades, o que diminuía as possibilidades de integração e motivação dos alunos para as aulas.
A maioria dos alunos entrevistados classificou a EFE como uma prática esportiva, pois as aulas se estruturavam basicamente em esportes coletivos. A participação das meninas foi considerada inferior a dos meninos e a maior reclamação dos alunos foi a repetição dos conteúdos.
A fim de identificar os motivos responsáveis pelo desinteresse de alunas do ensino médio a respeito das aulas de educação física escolar, Martinelli et al (2006) investigaram 15 alunas do ensino médio de uma escola particular na cidade de São Paulo.
O instrumento utilizado pelos autores foi um questionário composto de 12 questões, sendo que 11 abertas e uma fechada, relacionadas ao conteúdo das aulas, metodologias utilizadas, relacionamento com os outros alunos e com o professor e o interesse por outras atividades físicas fora da escola.
Os resultados obtidos por Martinelli et al (2006) indicam que os fatores principais responsáveis pelo desinteresse das alunas quanto às aulas de EFE são: a falta de alternativas no conteúdo da disciplina, o foco em esportes e a utilização da metodologia global em total detrimento às outras metodologias de ensino.
De acordo com Gallardo (2004) o maior objetivo de um trabalho educacional é propiciar aos seus praticantes a satisfação pessoal e esse ponto é difícil de ser alcançado. A participação é peça fundamental no comprometimento dos indivíduos com a construção de uma sociedade mais justa e igual. E nessa construção o ensino tem papel importante. Ao que tudo indica existe uma maior incidência de alunas nos casos de não participação nas aulas de EFE. Assim, identificar os agentes causais pode contribuir para aumentar a participação.
Objetivos
Identificar na opinião das alunas do ensino médio os fatores responsáveis pela não participação nas aulas de educação física escolar.
Comparar as opiniões de alunas estudantes de escola pública e de escola privada. Identificar se as aulas se estruturam de forma semelhante.
Verificar os fatores que levariam a participação das alunas nas aulas de educação física escolar. O que lhes agradam nas aulas e pode ser de fato repetido.
Justificativa
Ao identificar os elementos responsáveis pelo desinteresse das alunas acerca das aulas de educação física estaremos contribuindo para uma reflexão sobre os conteúdos e as metodologias utilizados pelos professores, possibilitando uma abordagem mais ampla e integradora no desenvolvimento dos alunos. Com uma melhor participação nas aulas as alunas alcançarão os objetivos propostos com mais facilidade e um aproveitamento melhor, o que contribui de forma expressiva na sua formação integral.
A não participação de escolares nas aulas de EFE tem sido objeto de professores e investigadores da área, assim, observar as representações de alunas pode contribuir para o estabelecimento de acordos entre os agentes do processo de ensino-aprendizagem e ampliar o conhecimento sobre este fenômeno.
Metodologia
Participaram deste estudo descritivo de cunho qualitativo 24 alunas do ensino médio na faixa etária de 15 a 18 anos de idade - 12 estudantes de uma escola do ensino público e 12 de uma escola do ensino privado do município do Rio de Janeiro. O instrumento para a coleta de dados foi um questionário semi-estruturado com perguntas fechadas que proporcionaram a comparação e garantia das respostas encontradas e perguntas abertas, levando-nos a aprofundar o aspecto qualitativo do estudo respeitando a capacidade de verbalização dos respondentes (THIOLLENT, 1980).
O resultado dessa coleta de dados foi constatado a partir de uma estatística descritiva para a posterior triangulação e interpretação dos dados. (LUDKE; ANDRÉ, 1986).
Análise e discussão dos resultados
Obrigatoriedade e participação
Questionadas sobre a obrigatoriedade da participação dos alunos nas aulas de EFE, todas as alunas tanto da escola publica quanto da privada concordaram com a sua necessidade.
Quando perguntadas se gostam das aulas de EFE, 100% das alunas da escola privada responderam que sim, enquanto 67% das alunas da escola pública responderam que sim e 33% apontaram que não gostam das aulas.
Conforme o Tabela 1, a maioria das alunas da escola particular – 58%, afirmou que sempre participa das aulas de EFE, enquanto 42% só participam delas às vezes. Na escola pública tivemos um empate entre as opções, sempre e às vezes entre as alunas questionadas, com 50% cada uma das respostas.
Tabela 1. A participação nas aulas
Escola |
Privada |
Pública |
Sempre |
58 |
50 |
Às Vezes |
42 |
50 |
Total (%) |
100 |
100 |
Gostar dos esportes nas aulas e a obrigatoriedade da participação foram as respostas que mais se repetiram tendo cada uma 50% das respostas das alunas da escola pública.
As alunas que responderam que só fazem as aulas às vezes, tiveram como a principal justificativa que só participam das aulas quando o conteúdo as agrada - 60%, sendo seguida por 20% das justificativas de que só gostam de vôlei – um esporte considerado culturalmente como feminino - e também porque sentem dores no corpo após participarem da aula.
Para as alunas da escola particular que fazem aula às vezes, tivemos resultados parecidos com as alunas da escola pública, sendo que a maioria relatou que fazem as aulas quando a atividade as agrada - 60%.
As alunas que sempre fazem as aulas apresentaram como justificativa a preferência por esportes e a diversão proporcionada nas aulas.
O relacionamento intra-escolar
O relacionamento das alunas com os professores de educação física foi citado como ótimo para 75% para as alunas da escola particular, enquanto 83% das meninas da escola pública afirmaram ter um bom relacionamento com o professor. As opções regular, ruim e péssimo não foram citadas pelas alunas, tanto no ensino privado e no público.
Perguntamos sobre o relacionamento com os colegas de turma nas aulas de EFE e percebemos que as meninas matriculadas na escola particular possuem um relacionamento ótimo - 67% das opções, seguido de bom - 33%. Diferente das entrevistadas da escola pública, as quais 25% responderam ótimo, 58% bom e 17% regular. No entanto, em ambos os grupos a relação de gênero é considerado bom ou ótimo para a maioria das participantes no estudo, o que supostamente seria um fator favorável a participação e a integração dos alunos (HAERTEL; GONÇALVES JUNIOR, 2007).
A prática de atividade física extra-escolar
As alunas da escola particular informaram em sua maioria (84%) que não participam de nenhuma atividade física extra-escolar, enquanto os 16% restante não só praticam como realizam atividades físicas todos os dias. Nas respostas das jovens do ensino público, 87% afirmaram que não praticavam nenhuma atividade física fora da escola, por outro lado, 8% praticavam todos os dias, enquanto o restante o fazia pelo menos uma vez por semana.
Ao que tudo indica, ao longo dos anos a EFE não conseguiu desenvolver nestes sujeitos o hábito da prática regular da atividade física ou um estilo de vida ativo e saudável como preconiza a literatura.
A importância das aulas
Ao procurarmos saber se as aulas de EFE tinham alguma importância na sua formação: 67% das alunas da escola privada declararam que as aulas são importantes, 25% muito importantes e 8% que as aulas não são importantes para a sua formação.
Já na escola pública 58% das entrevistadas consideram as aulas importantes, seguido de 25% que, diferente das alunas do ensino privado, afirmaram que não é importante para a formação delas - 17% das questionadas disseram ser importante para a formação (Gráfico 1).
Gráfico 1. A importância da Educação Física
Embora não tenha sido questionado os motivos dados a importância da EFE, podemos perceber uma diferença nos dados coletados em comparação com o observado no ensino fundamental abordado no estudo de Betti e Liz (2003) e na investigação de Lovisolo (1995), que observaram que as aulas de EFE não são tratadas com importância pelos alunos.
O conteúdo das aulas
Perguntamos as alunas qual conteúdo era abordado com mais freqüência na sua respectiva escola nas aulas de EFE e achamos 100% nas respostas das alunas da escola particular, que as aulas são somente compostas de esportes, confirmando os achados de Rosário e Devide (2008). Porém o resultado diferencia um pouco na escola particular, já que 92% afirmaram que as aulas são compostas de esporte e somente 8% das entrevistadas disseram que as aulas são construídas basicamente a partir de ginástica.
Dando continuidade as perguntas, as alunas responderam o que elas menos gostavam das aulas de EFE, assim achamos como respostas na escola privada, que 42% das jovens apontam a discriminação que há nas aulas por parte dos meninos da turma. Colocados contra as informações levantadas sobre as relações de gênero, podemos interpretar que o relacionamento entre os jovens pode ser menos amistoso quando a competição é o foco.
A não diversificação dos conteúdos (8% das opções) surge com certa importância ao ser somada à prática exclusiva do handebol com 17%. A crítica da aluna B-6 da escola privada pode ilustrar a expectativa por conteúdos diversificados nas aulas:
“Praticar os mesmos assuntos sempre, só esporte não é o suficiente”.
Embora tenham sido encontradas também jovens informando que não há nada que elas não gostem na aula (17%), também pode ser destacado no Gráfico 2 como aspecto negativo a informação de que não gostam quando se machucam.
Gráfico 2. Conteúdo das aulas - Escola privada
No ensino público os conteúdos ministrados foram reprovados pela maioria dos participantes - 54% das alunas entrevistadas afirmaram que não gostam dos exercícios propostos em aula, já 18% não gostam dos esportes, e igualados com 9% das respostas foram citados o handebol, o futebol e as aulas teóricas (Gráfico 3).
Gráfico 3. Conteúdo das aulas - Escola pública
Questionamos também o que mais agrada as meninas nas aulas de EFE. Em primeiro lugar nas opções das meninas da escola particular, estão o vôlei e a integração dos colegas com 36% como o que mais as agradam nas aulas EFE. A seguir encontramos os esportes e o handebol com 14% cada um.
Na escola pública 33% gostam dos exercícios. Elas ainda citaram os esportes (vôlei, handebol e o futebol) com 13% cada; as brincadeiras; a competição e, curiosamente, “o fim da aula” com 6% das respostas como foi citado pela aluna A-1:
“Quando o professor deixa os alunos brincarem de galinha choca, ou jogar handebol. Também gosto quando ele nos manda ir tomar banho para ir embora.” (Aluna A-1).
As informações anteriores aparentemente contraditórias com as informações sobre o que as jovens da escola pública menos gostam nas aulas sugerem que a reprovação dos conteúdos ou atividades ministradas em aula se dirige não a todos os conteúdos ou atividades, mas a alguns em particular. Ao que parece as alunas gostam de participar das atividades nas quais tenham adquirido competências e habilidades. Participar de atividades sem ter o controle adequado dos conhecimentos e habilidades pode representar riscos físicos e psicológicos frente ao grupo, que sejam muito caros ao participante.
O que melhorar nas aulas
Por último elas foram questionadas sobre o que poderia ser feito para melhorar as aulas de EFE e dessa forma tivemos nas respostas colhidas com as alunas da escola privada, 25% indicando a diversificação do conteúdo, seguida de 17% de reivindicações por mais tempo de aula, competições intercolegiais, aulas mais motivantes e mais recursos para aula e apenas 8% respondendo que nada precisaria ser feito para melhorar as aulas.
As alunas da escola pública também acreditam que a diversificação de conteúdos pode contribuir para a melhoria das aulas de EFE - 21% solicitam ter dança nas aulas, 14% aulas preferem aulas mais motivantes e mais exercícios na aula e empatados com 7% - a competição entre colégios, mais aulas práticas, a não obrigatoriedade da participação. Alunas responderam que não precisaria mudar nada nas aulas para melhorá-las (7%).
Vale apontar que os resultados colhidos neste questionamento confirmam os resultados obtidos por Martinelli et al (2006) que apontaram como um dos principais fatores responsáveis pelo desinteresse das alunas nas aulas de EFE, a falta de alternância nos conteúdos da disciplina. Somado a isto, a diversidade de respostas de ambos os grupos revela o descontentamento das respondentes com as aulas de EFE.
Conclusões
Através das informações levantadas, podemos perceber que, ao contrário do que se observa na literatura, a participação das meninas nas aulas de EFE é importante, mas não é regular. Observa-se que entre os fatores responsáveis pelo desinteresse em relação às aulas encontramos a falta de diversificação dos conteúdos e a discriminação exercida pelos meninos ao excluírem as mesmas nas práticas esportivas e atividades competitivas.
Um fator a ser destacado nos dados é a possibilidade de o desinteresse em participar das aulas não esteja na percepção da EFE como uma disciplina escolar sem importância, mas em algumas atividades em particular, nas quais as jovens observem algum risco de dano físico ou alguma ameaça a sua auto-estima, por não perceber em si habilidades para a prática.
Verificamos também, que entre as alunas da escola privada a participação é maior em relação às alunas da escola pública e que apesar disso a importância dada às aulas pelas jovens do ensino público é maior que a do ensino particular.
Fica então evidenciada a importância do professor e da escola, ao desenvolverem métodos e estratégias que considerem a opinião dos alunos na aplicação e planejamento de suas aulas e na escolha dos conteúdos que serão abordados durante o curso, afim de que se acentue o interesse e diminua a evasão dos participantes.
Estudos com um maior número de indivíduos e que investiguem os fatores que levam a participação nas aulas e o que os alunos esperam das aulas de EFE ajudarão a aprofundar as informações obtidas possibilitando maior compreensão sobre o tema abordado.
Referências
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THIOLLENT, M. Crítica metodológica, investigação social e enquete operária. São Paulo: Editora Polis, 1980.
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