Análise de parâmetros de risco coronariano em adultos praticantes de atividade física em uma academia de ginástica localizada em um bairro de alto padrão socioeconomico na cidade de Belo Horizonte, MG Análisis de parámetros de riesgo coronario en adultos practicantes de actividad física en un gimnasio en un barrio de nivel económico alto de la ciudad de Belo Horizonte, MG Analysis of parameters of coronary risk in adults practitioners of physical activity in gym clubs located in a district of high socioeconomic standard in the city of Belo Horizonte, MG |
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*Especialista em Educação Física - Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional. Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte, MG **Especialista em Educação Física - Departamento de Educação Física do Centro de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Viçosa ***Universidade Federal de Minas Gerais. Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional. Laboratório de Fisiologia do Exercício. Belo Horizonte, MG |
Ricardo Reis Dinardi* Luciana Reis Dinardi** Danusa Dias Soares*** (Brasil) |
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Resumo Introdução : No que diz respeito à saúde, valores excessivos de gordura corporal, independente do peso, contribuem para o aparecimento de doenças crônico degenerativas, entre elas se destaca a doença arterial coronariana (DAC). Objetivo: Analisar parâmetros de risco coronariano em adultos praticantes de atividade física em uma academia de ginástica de Belo Horizonte - MG. Metodologia: Utilizou-se ação descritiva transversal, com amostra composta por 530 adultos de 20-83 anos de idade, sendo 267 (50,4%) mulheres e 263 (49,6%) homens. O presente trabalho avaliou as seguintes variáveis: idade, peso, altura, pressão arterial de repouso, IMC, cintura, informação sobre tabagismo e relação cintura-quadril (RCQ). A estatística empregada restringiu-se a análise descritiva. Foi utilizado o software Statistical Package for Social Science (SPSS) versão 14.0 for Windows. Resultados: Quanto à composição corporal, 31,8% (169) sobrepeso (IMC=25-29,9), 8,8% (47) obesidade I (IMC=30-34,9), 2,3% (12) obesidade II (IMC=35-39,9) e 0,4% (1) obesidade III (IMC≥40). Fumantes corresponderam a 14,5% da amostra. Os valores de hipertensão arterial sistólica e diastólica para classificação inicial de hipertensão arterial foram de >140/90 mmHg. De acordo com esta classificação, 4,5% do total da amostra foi considerada hipertensa. Como critério de obesidade central 41,13% (218) apresentou risco cardiovascular.Conclusão: Apesar das limitações inerentes ao método, os resultados evidenciados permitem concluir que, a amostra apresentou classificações prevalentes apontando para condições inadequadas de valores na composição corporal, principalmente em relação aos valores evidentes de centralização da gordura corporal na região da cintura. Unitermos: Obesidade. Sobrepeso. Obesidade abdominal. Doenças crônico degenerativas. Atividade física Abstract Introduction: With regard to health, excessive amounts of body fat, regardless of weight, contribute to the emergence of chronic degenerative diseases, among them which stands out coronary artery disease (CAD). Objective: To analyze parameters of coronary risk in adults practitioners of physical activity on a health club in Belo Horizonte - MG. Methodology: We used descriptive cross action, with a composite sample of 530 adults 20-83 years of age, and 267 (50.4%) women and 263 (49.6%) men. This study evaluated the following variables: age, weight, height, resting blood pressure, BMI, waist, information on smoking and waist-hip ratio (WHR). The statistics used restricted to descriptive analysis. We used the software Statistical Package for Social Science (SPSS) version 14.0 for Windows. Results: For body composition, 31.8% (169) overweight (BMI = 25-29.9), 8.8% (47) obesity I (BMI = 30-34,9), 2.3% (12) obesity II (BMI = 35-39,9) and 0.4% (1) obesity III (BMI ≥ 40). Smokers accounted for 14,5% of the sample. The values of systolic and diastolic arterial hypertension to initial classification of hypertension were > 140/90 mmHg. According to this classification, 4,5% of the total sample was considered hypertensive. As a criterion for central obesity 41.13% (218) had cardiovascular risk. Conclusion: Despite the inherent limitations to the method, the results shown let us to conclude that, the sample submitted ratings prevalent pointing to inadequate conditions amounts of body composition, especially evident in relation to the evident values of centralization of body fat at the waist. Keywords: Obesity. Overweight. Abdominal obesity. Chronic degenerative diseases. Physical activity |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 139 - Diciembre de 2009 |
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Introdução
O diagnóstico da obesidade pode ser feito através do monitoramento de medidas antropométricas, é um mecanismo de avaliação de fácil aplicação e que por sua vez, pode refletir de forma fidedigna os componentes corporais, permitindo inclusive, o direcionamento das ações futuras. Uma pesquisa feita em 2008 pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM) nos mostra a realidade da obesidade no Brasil, destacando que 3,7 milhões de brasileiros se enquadram na categoria de obesidade mórbida.
Genetic factors appear to contribute about 25% to its etiology.A obesidade com predomínio da disposição de gordura na região abdominal, com maior freqüência, associa-se a intolerância à glicose, alterações do perfil lipídico do plasma e, principalmente, hipertensão arterial sistêmica (LOTUFO, 1998; REAVEN et al., apud VIANNA e DAMASCENO, 2004). BRAY (2004) destaca que uma elevada proporção da circunferência abdominal em relação à circunferência glútea exerce um maior risco de ataque cardíaco, acidente vascular cerebral, hipertensão, diabetes mellitus, doença da vesícula e morte. Um dos maiores problemas de saúde da sociedade moderna é a obesidade. A obesidade pode ser avaliada como uma quantidade de gordura corporal que excede aos limites determinados, quando baseados em valores observados na população (OLIVEIRA et al. 2003). Pode ainda ser definida como um excesso de gordura corporal relacionado à massa magra e o sobrepeso como uma proporção relativa de peso maior que a desejável para a altura (OLIVEIRA et al. 2003).
Além desses problemas, existem os de ordem psicológica que, somente nos últimos anos, passaram a ser reconhecidos pela comunidade médica como problemas resultantes da obesidade, tais como anorexia, bulimia, transtorno do comer compulsivo, depressão, ansiedade, baixa-estima, dentre outros (VIANNA e DAMASCENO, 2004). Assim, cada vez mais cresce a importância em discutir sobre a obesidade na população adulta e algumas formas de prevenção e tratamento. Como forma de prevenção e tratamento não farmacológico, a atividade física se destaca como principal aliada no combate à obesidade. Estudos epidemiológicos asseguram que a inatividade física se destaca como principal fator de risco para desenvolver doenças cardiovasculares (AMERICAN HEART ASSOCIATION, 1996). Recomendação para prática de atividade física é responsabilidade médica, enquanto que a carga de treinamento e acompanhamento dos exercícios é atribuição de professores de educação física, no caso de indivíduos normais (SOARES et al. 1999). Diante do grande desenvolvimento tecnológico, as oportunidades do homem atual de exercitar-se são cada vez menores. Tal fato tem contribuído para o surgimento de um número cada vez maior de academias de ginástica, numa tentativa de suprir a carência que as pessoas têm de exercitar-se de forma orientada e segura.
Materiais e métodos
Amostra
As informações coletadas neste trabalho caracterizam-se por uma ação descritiva transversal, sendo avaliados 530 indivíduos, dos quais 263(49,6%) homens e 267(50,4%) mulheres, com idades compreendidas entre 18 a 83 anos. A amostra é relativa a matrículas feitas em uma academia de ginástica localizada em um bairro de alto padrão socioeconômico na cidade de Belo Horizonte - MG no ano de 2004 até meados de 2008.
Cuidados éticos
Os indivíduos participantes da pesquisa assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido, sendo que a não participação, não ocasionou nenhuma forma de constrangimento ao indivíduo. Além disso, foi garantido o caráter anônimo de todos os resultados. O proprietário da academia assinou uma autorização para que fosse realizada a pesquisa.
Materiais, equipamentos e procedimentos de coleta de dados
Para coleta de dados referente à antropometria, foram utilizadas as variáveis massa corporal (kg) e estatura (cm). A massa corporal foi medida em balança digital da marca Filizola com escala de precisão de 100gr e capacidade para 150 kg. A estatura foi medida utilizando-se a fixação de uma fita métrica em uma parede sem desnível, tendo a precisão da escala de 0,1cm. Todas as medidas foram feitas individualmente e pelo mesmo avaliador.
Para caracterizar a medida da massa corporal o aluno apresentou-se descalço, dentro de uma sala previamente preparada, estando com o mínimo de roupa possível, posicionados com os calcanhares unidos e os braços relaxados, de frente para a balança próxima da parede, mantendo-se ereto e com olhar num ponto fixo à frente. Após descer da balança com a mesma posição ereta, calcanhares unidos e olhar num ponto fixo à frente, foi avaliada a estatura, feita com o avaliado em apnéia inspiratória de modo a minimizar possíveis variações sobre esta variável antropométrica.
Para a medida das circunferências de cintura e quadril, foi empregada fita antropométrica flexível que permitiu aplicar pressão constante sobre a superfície da pele durante toda a medição e seguido a proposta de GUEDES & GUEDES (2003).
De acordo com os autores, a circunferência da cintura é determinada no plano horizontal, no ponto coincidente com a distância média entre a última costela e a crista-ilíaca. A medida é obtida ao final de uma expiração normal, sem compressão da pele. A circunferência do quadril é também determinada no plano horizontal, no nível de maior protuberância posterior dos glúteos.
Em ambas as medidas de circunferências, o avaliador se posicionou a frente do avaliado. O objetivo é determinar o índice relação cintura/quadril (RCQ), indicador antropométrico muito utilizado no meio científico para determinar risco coronariano elevado.
O índice de massa corporal (IMC) foi calculado com as medidas de peso e altura, de acordo com a seguinte fórmula: IMC = peso (kg)/altura2(cm). Os pontos de corte de IMC adotados foram os preconizados pela WHO (1997), ou seja, baixo peso (IMC < 18,5); eutrofia (IMC=18,5-24,99); sobrepeso (IMC=25-29,9), obesidade grau I (IMC=30-34,9), obesidade grau II (IMC=35-39,9) e obesidade grau III (IMC≥40). A circunferência da cintura foi obtida na menor curvatura localizada entre as costelas e a crista ilíaca com fita métrica flexível e inelástica sem comprimir os tecidos. Quando não foi possível identificar a menor curvatura, obteve-se a medida 2 cm acima da cicatriz umbilical. Os pontos de corte adotados para CA foram os preconizados por LEAN et al., (1995) de acordo com o risco para doenças cardiovasculares: risco aumentado para mulheres (CA>80cm) e para homens (CA>94cm) e risco muito aumentado para mulheres (CA≥88cm) e para homens (CA≥102cm).
Análise estatística
O plano analítico utilizou estatística descritiva mediante o uso do software Statistical Package for Social Science (SPSS) versão 14.0 for Windows. As análises foram feitas separadamente para homens, mulheres e por idade.
Resultados
Dos 530 indivíduos da amostra, 267 (50,4%) são mulheres e 263 (49,6%) são homens. Foram analisadas as seguintes variáveis: sexo, idade, peso, pressão arterial de repouso, informação sobre tabagismo, peso, altura, IMC, cintura, RCQ ou relação cintura/quadril.
Observou-se uma prevalência de 43,2% (229) de indivíduos na faixa etária de 31-45 anos, 40,2% (213) de 18-30, 11,9% (63) de 46-59 e 4,7% (25) acima de 60 anos. Lembrando que faixa etária elevada caracteriza um fator de risco para doença arterial coronariana, nota-se que esta variável não predomina neste trabalho.
Sobrepeso e obesidade foram analisados, obtendo-se o percentual de 31,8% (169) como sobrepeso, 8,8% (47) obesidade grau I, 2,3% (12) obesidade grau II e 0,4% (1) indivíduo obesidade grau III. A tabela 1 fornece os dados separados por sexo.
Tabela 1. Característica da amostra quanto à classificação de composição corporal dividida por sexo de acordo com WHO (1997)
Classificação |
Feminino (n=267) |
Masculino (n=263) |
Abaixo do peso (IMC<18,5)* |
4,5% |
0,4% |
Normal (IMC=18,5-24,9) |
69,8% |
36,9% |
Sobrepeso (IMC=25-29,9) |
17,7% |
45,5% |
Obesidade I (IMC=30-34,9) |
4,6% |
13,8% |
Obesidade II (IMC=35-39,9) |
3,2% |
1,6% |
Obesidade III (IMC≥40) |
- |
0,4% |
IMC = Índice de massa corporal
Quanto ao fumo, observou-se que 85,5% (453) não são fumantes enquanto 14,5% (77) são fumantes. Entre os fumantes, os homens representam (15,6%) enquanto as mulheres (13,5%).
Os registros de pressão arterial foram analisados respeitando as Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial (2006) onde 4% (21) apresentam hipertensão estágio I e 0,4% (2) apresentam hipertensão estágio II. Quando separados por sexo, uma maior prevalência de hipertensão estágio I incide sobre os homens (6,2%) e (1,9%) sobre as mulheres. Já estágio II hipertensivo foi observado (0,8%) nos homens e (0,4%) nas mulheres.
A Sociedade Brasileira de Hipertensão, em conjunto com outras sociedades médicas, elaborou a I Diretrizes Brasileira de Diagnóstico e Tratamento da Síndrome Metabólica. Esse documento recomenda os mesmos pontos de corte de circunferência de cintura propostos pelo Adult Treatment Panel III – (ATP III) como critério de obesidade central, ou seja, alto risco CC>80 para mulheres, CC>94 para homens e muito alto risco CC≥88 para mulheres e CC≥102 para homens.
Neste trabalho foram encontrados 218 (41,13%) indivíduos que se encontram na faixa de risco cardiovascular proposta pelas diretrizes citadas. As medidas da cintura entre as mulheres, 9,3% correspondem a um alto risco cardiovascular (CC>80) e 7,3% correspondem a muito alto risco (CC≥88). Entre os homens, 19,7% correspondem a alto risco (CC>94) e 9,6% muito alto risco (CC≥102).
Para a relação cintura/quadril (RCQ), as mulheres com alto risco cardiovascular, ou seja, (RCQ>0,85), representam 3,8% enquanto que os homens (RCQ>0,90) representam 29,1%.
Tabela 2. Prevalência de parâmetros para risco de doença coronariana entre homens e mulheres
Parâmetros para Risco Coronariano |
Homens (n=263) |
Mulheres (n=267) |
Tabagismo Pressão arterial≥140/90mHg Cintura ≥102 e ≥88* RCQ >0,90 e >0,85* Obesidade grau I Obesidade grau II Obesidade grau III |
15,6% 7% 9,6% 29,1% 13,8% 1,6% 0,4% |
13,5% 2,3% 7,3% 3,8% 4,6% 3,2% - |
*respectivamente
RCQ = relação cintura quadril
As cifras de hipertensão arterial sistêmica foram consideradas as de ≥ de140/90mmhg com 4,5% de percentual total, observando-se um nítido aumento dos percentuais de hipertensão arterial com o aumento da idade.
Nos indivíduos acima de 60 anos, houve uma prevalência de 16% de hipertensos, entre 46-59 houve 12,7%, 31-45 de 2,5% e 18-30 de 2,3%, confirmando a descrição anterior.
Entre os fumantes 44,2% tem entre 18-30 anos de idade, enquanto os acima de 60 anos representam apenas 3,9% percentuais do total.
Constatou-se que os indivíduos na faixa etária de 46-59 anos apresentaram percentuais de 42,2% como sobrepeso enquanto acima de 60 anos apresentaram os maiores níveis de obesidade grau I e II, 24% e 12% respectivos.
Tabela 3. Composição corporal separadas por faixa etária
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18-30 (n=213) |
31-45 (n=229) |
46-59 (n=63) |
Acima de 60(n=25) |
Sobrepeso (IMC=25-29,9)* |
23,2% |
36,4% |
42,2% |
32% |
Obesidade Grau I (IMC=30-34,9) |
5% |
7,5% |
20,8% |
24% |
Obesidade Grau II (IMC=35-39,9) |
1,5% |
1,6% |
3,2% |
12% |
Obesidade Grau III (IMC≥40) |
- |
0,4% |
- |
- |
*De acordo com WHO (1997).
IMC = índice de massa corporal
Avaliando-se a medida da circunferência da cintura compreendida entre 80 cm a 137 cm que foi o maior valor entre os indivíduos e levando em consideração que mulheres o risco cardiovascular é CC>80 cm e homens CC>94 cm, constatou-se que os indivíduos acima de 60 anos (72%) obtiveram o maior percentual de fator de risco cardiovascular.
Tabela 4. Medida da (CC) circunferência da cintura (80 a 137 cm) por faixa etária
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18-30 (n=213) |
31-45 (n=229) |
46-59 (n=63) |
Acima de 60(n=25) |
Medida da (CC) 80 a 137 cm |
32,5% |
47% |
63,9% |
72% |
CC = Circunferência da cintura
Ainda em relação à distribuição central da gordura corporal, a faixa etária de 46-59 anos apresentou maiores percentuais (52,6%) de índice RCQ, enquanto acima de 60 anos apresentaram (48%), de 31-45 (41,4%) e 18-30 anos (21,6%).
Tabela 5. Índice relação cintura/quadril (RCQ) por faixa etária
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18-30 (n=213) |
31-45 (n=229) |
46-59 (n=63) |
Acima de 60 (n=25) |
Índice relação cintura/quadril (RCQ) |
21,6% |
41,4% |
52,6% |
48% |
Discussão
Os problemas de saúde decorrentes de um modo sedentário de vida foram coletivamente referidos como “doenças hipocinéticas”, há quase 40 anos. Este é um dos paradoxos mais contundentes emanados da caminhada evolucionária e histórica do homo sapiens (BOUCHARD, 2003).
Alguns principais fatores de risco para doença arterial coronariana já são conhecidos e comprovados, como hipertensão arterial, tabagismo, dislipidemias, obesidade, sedentarismo, diabetes mellitus e antecedentes familiares. A capacidade de intervenção no fator hereditariedade é limitada, entretanto outros três fatores podem ser modificados com atitudes como a adesão a um programa de atividade física regular supervisionada, a uma ação nutricional adequada e interrupção com o hábito de fumar, possibilitando assim, a diminuição do risco coronariano (GUS et al. 2002). É necessário conhecer a prevalência desses fatores de risco, isolados ou combinados, pois é através de sua redução, com programas de prevenção que alcançaremos a efetividade de qualquer programa de saúde. Medidas não farmacológicas, como a atividade física, vêm sendo recomendadas para prevenção e tratamento de doenças crônicas não transmissíveis. No presente estudo, verificamos que com o avançar da idade, houve uma prevalência dos riscos coronarianos em todos os parâmetros analisados da amostra estudada, evidenciando assim, a necessidade de orientação e prescrição do treinamento físico para esta população com grande atenção.
Segundo FERNANDES et al. (2004), as opções para quem busca iniciar em uma atividade física são muitas, sendo que hoje, as mais procuradas são as academias de ginástica. DA COSTA et al. (1996) afirmam que as academias de ginástica surgiram na década de 30 e, por volta de 1970, ganharam uma dimensão e desempenharam um papel social importante proporcionando o crescimento do movimento fitness a nível mundial.
Em termos nacionais, no final da década de 70 e inicio dos anos 80, houve uma grande explosão do contingente de academias no Brasil. A baixa prevalência de utilização das práticas de atividade física atual em academias é explicada em parte, ao afirmar que esses locais ainda não absorveram a mudança conceitual, a passagem de elementos puramente estéticos para um paradigma de educação para a saúde. A satisfação com o corpo é importante para a auto-estima, entretanto, essa satisfação deve ser vista como conseqüência do processo motor e não, como fim, permanecendo, ainda, como uma possibilidade de intervenção direcionada ao maior grau de saúde populacional (DA SILVA et al. 2008).
Neste trabalho, os homens apresentaram maiores valores percentuais de parâmetros de risco de desenvolver doença arterial coronariana que as mulheres. De acordo com BARRETO et al. (2003), este fenômeno já está bem descrito, principalmente nos países industrializados. Esta diferença entre sexo masculino e feminino se deve a aspectos biológicos (sexo), culturais e estilo de vida (gênero). A explicação biológica para tal fato baseia-se na proteção feminina pelo estrógeno, que influencia diretamente no sistema circulatório, promovendo vasodilatação e inibindo a progressão de processos ateroscleróticos evitando, assim, processos isquêmicos (BARRETO et al. 2003). No que se refere ao gênero, são ressaltadas diferenças na aderência aos fatores de risco e na maneira como homens e mulheres encontraram-se expostos a eles, ao longo da vida (BARRETO et al. 2003).
BROCHU et al. (2000) encontraram melhoras satisfatórias em homens com doença arterial coronariana na composição corporal e na distribuição da gordura corporal após um programa de exercícios aeróbicos. Já SANTA-CLARA et al. (2003) comparando somente exercícios aeróbicos e exercícios aeróbicos associados a exercícios de musculação obtiveram melhores resultados na composição corporal utilizando a combinação de exercícios aeróbicos e de musculação na mesma população estudada.
Os antecedentes familiares constituem fator de risco não modificável e independente para doença arterial coronariana e devem ser ainda muito estudados.
No presente estudo as freqüências de sobrepeso e obesidade não foram significativamente elevadas quando comparadas a alguns trabalhos nos quais normalmente a amostra foi composta por indivíduos encaminhados à prática de atividade física por seu médico. Geralmente o encaminhamento médico deveu-se a alterações bioquímicas, pressão arterial elevada ou fatores associados ao excesso de peso (RESENDE et al. 2006). GOMES e SANTOS (2004) pesquisaram o motivo pelos quais as pessoas procuram uma academia de ginástica e verificaram que a estética compreende o principal motivo.
Segundo BARRETO et al. (2003) e BOUCHARD (2003), uma maior escolaridade, está associada a um melhor perfil de risco para doença arterial coronariana em adultos de ambos os sexos o que concorda com os resultados do presente trabalho. Em nosso estudo, pelo fato da academia estar localizada em um bairro de alto padrão socioeconômico, os adultos participantes da amostra podem ter tido um grande acesso às iniciativas relativamente recentes de divulgação de medidas preventivas para doença arterial coronariana.
O cigarro duplica o risco de doença arterial coronariana e 30% delas são atribuídas ao número de cigarros fumados (GUS et al. 2002, BOUCHARD 2003, THOMPSON 2004).
LACROIX et al. (1993) alertam que o hábito de fumar acarreta perdas significativas na mobilidade em homens e mulheres e que atividade física regular, pelo menos três vezes por semana, seja ela, aeróbica ou anaeróbica, proporciona ganhos significativos de saúde e disposição são evidentes.
No presente estudo os valores de hipertensão arterial sistólica e diastólica para classificação inicial de hipertensão arterial foram de >140/90 mmHg (DIRETRIZES BRASILEIRAS DE HIPERTENSÃO ARTERIAL, 2006). De acordo com esta classificação, 4,5% do total da amostra foi considerada hipertensa, observando-se um nítido aumento com o aumento da idade. De acordo com as diretrizes, em adultos brasileiros e em ambos os sexos a prevalência de hipertensão na população é 15%. Uma possível justificativa para baixa prevalência de hipertensão arterial na amostra estudada em nosso trabalho seja novamente o alto nível socioeconômico desta e a elevada escolaridade a ela associada. Esta hipótese é reforçada pelos estudos feitos no Distrito Federal e sete capitais: Manaus-AM; Vitória-ES; Rio de Janeiro-RJ; São Paulo-SP; Curitiba-PR; Florianópolis-SC e Porto Alegre-RS que relataram uma baixa prevalência de hipertensão arterial naqueles sujeitos com maior escolaridade (PASSOS et al. 2006).
Com relação à obesidade abdominal, foi constatado na amostra estudada um percentual total elevado de sujeitos assim classificados (41,13% de risco elevado). Quando separados por sexo, 7,3% das mulheres e 9,6% dos homens foram classificados como tendo obesidade abdominal. Em trabalhos nacionais e internacionais REZENDE et al. (2006), LESSA et al.
(2006), JARDIM et al. (2006), YAP-DEURENBERG et al. (2001), AL-LAWATI et al. (2007), foram encontrados resultados semelhantes ao do presente estudo no que concerne a alta prevalência de obesidade abdominal em adultos. É importante ressaltar que estudos de prevalência da obesidade abdominal, assim como pesquisas para verificar a adequação dos pontos de corte para os parâmetros usados para esta classificação, tais como circunferência da cintura, são escassos no país. Isto indica a necessidade de se investigar o balanço entre sensibilidade e especificidade dos indicadores utilizados na tentativa de se identificar pontos de corte mais apropriados para populações específicas. Como visto no presente trabalho, mesmo que o percentual da amostra diagnosticada com obesidade tenha sido baixo, muitos indivíduos desta amostra já se encontram em risco de alterações metabólicas decorrentes do excesso de gordura na região abdominal.Assim como no estudo de PEIXOTO et al. (2006), a principal limitação deste trabalho foi ter um delineamento transversal, o que não nos permitiu identificar a precedência no tempo entre exposição e o desfecho. Além disso, outras doenças associadas à doença arterial coronariana, como a dislipidemia e o diabetes, não foram incorporadas neste estudo.
Com exceção do tabagismo, que neste trabalho foi prevalente nos indivíduos de 18 a 30 anos, ficou evidente que os percentuais de hipertensão arterial, excesso de peso, medidas da cintura e relação cintura/quadril (RCQ) aumentam nas faixas etárias mais avançadas. Estes resultados referentes ao avanço de prevalência de doenças infectocontagiosas (crônico-degenerativas) em função do aumento da idade são concordantes com vasta literatura sobre o assunto. Isto sugere que teremos de enfrentar, cada vez mais, um maior numero de indivíduos, seja em academias ou não, com doença arterial coronariana, pois existe aumento progressivo de idosos no Brasil (GUS et al. 2002)
Com o aumento da idade média de sobrevida da população, as doenças crônicas degenerativas estarão cada vez mais presentes. A melhor terapêutica para a principal doença crônica degenerativa, a doença arterial coronariana, é a prevenção, combatendo os fatores de risco.
Conclusão
Apesar das limitações inerentes ao método, os resultados evidenciados permitem concluir que, os indivíduos investigados mesmo em maioria eutróficos, apresentaram classificações prevalentes apontando para condições inadequadas de valores na composição corporal, principalmente em relação aos valores evidentes de centralização da gordura corporal na região da cintura.
É fundamental salientar a importância dos dados pertinentes aos índices da composição corporal, para que os profissionais da atividade física em academias de ginástica possam ter informações mais sólidas sobre o atual nível de aptidão dos seus alunos na busca da melhor prescrição e acompanhamento do treinamento, assim como para a melhor possibilidade de um trabalho multiprofissional, reduzindo a chance de acometimentos cardiovasculares em academias de ginástica.
Finalmente, acreditamos que estudos como o presente, vem colaborar com o trabalho de profissionais de educação física, pois existem poucos estudos nos quais foram analisados parâmetros para doença arterial coronariana em adultos participantes de programas de atividades físicas em academias de ginástica.
Referências
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BROCHU, M; POEHLMAN, E.T; SAVAGE, P; ROSS, S; ADES, P.A. Coronary risk profiles in men with coronary artery disease: effects of body composition, fat distribution, age and fitness. Coronary artery disease 2000, 11:137-144.
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digital · Año 14 · N° 139 | Buenos Aires,
Diciembre de 2009 |