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Análise de ruídos na comunicação de técnicos 

de voleibol para com jovens atletas

Análisis de los ruidos en la comunicación de los entrenadores de voleibol con los jóvenes jugadores

 

*Mestre em Ciências do Esporte

Membro do Centro de Estudos de Cognição e Ação

**Professor Doutor da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional

Coordenador do Centro de Estudos de Cognição e Ação

***Professor Doutor da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional

Coordenador do Laboratório de Psicologia do Esporte

Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)

Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional

Centro de Excelência Esportiva - Belo Horizonte, MG

Cristino Julio Alves da Silva Matias*

Pablo Juan Greco**

Dietmar Martin Samulski***

crismatias@gmail.com

(Brasil)

 

 

 

Resumo

          O presente estudo teve como objetivo verificar a existência ou não de diferenças na compreensão que os atletas jovens possuem na comunicação realizada pelos seus treinadores na modalidade voleibol. Fizeram parte da amostra duas equipes com idade igual ou inferior a 14 anos (categoria mirim) e duas equipes com idade igual ou inferior a 17 anos (categoria infanfo), com um total de 49 atletas e 4 treinadores. O instrumento aplicado foi o de Arroyo denominado de “Sistema categorial para el análisis de la conducta verbal del entrenador” (SCAVE) e aplicado por Botelho, Mesquita e Moreno (2005). O SCVE foi adaptado com o acoplamento das quatro dimensões da comunicação de Passadori (2003). O resultado demonstrou uma compreensão das atletas sobre as informações que o treinador executa sobre a própria equipe, principalmente em relação ao ataque, mas verificou-se a existência de ruídos em todas as outras dimensões e categorias, com discrepância na categoria “individual” da dimensão “destinatários”.

          Unitermos: Comunicação. Treinadores-atletas. Voleibol

 

Resumen

          El presente estudio tuvo como objetivo verificar la existencia o no de diferencias en la comprensión que los atletas jóvenes poseen en la comunicación realizada por sus entrenadores en la modalidad de voleibol. Fueron parte de la muestra dos equipos con edad igual o inferior a 14 años (categoría infantil) y dos equipos con edad igual o inferior a 17 años (categoría juvenil), con un total de 49 atletas de sexo femenino y 4 entrenadores. El instrumento aplicado fue el de Arroyo, denominado de “Sistema categorial para el análisis de la conducta verbal del entrenador” (SCAVE) y aplicado por Botelho, Mesquita y Moreno (2005). El SCAVE fue adaptado con el acoplamiento de las cuatro dimensiones de la comunicación de Passadori (2003). El resultado demostró una comprensión de las atletas sobre las informaciones que el entrenador realiza sobre el propio equipo, principalmente en relación con el ataque. Sin embargo, se verificó la existencia de ruidos en todas las otras dimensiones y categorías, con discrepancia en la categoría “individual” de la dimensión “destinatarios”.

          Palabras clave: Comunicación. Entrenadores-jugadores. Voleibol

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 135 - Agosto de 2009

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Introdução

    A prática esportiva atrai milhões de crianças e adolescentes, ao mesmo tempo em que outras tantas desistem do esporte (DE ROSE JR., 2004). O esporte praticado por crianças e adolescentes é influenciado por ações de indivíduos adultos: pais, professores, dirigentes, árbitros e técnicos (DE ROSE JR., 2002). Segundo Korsakas (2002) o técnico é o principal responsável pela escolha ou abandono de uma prática esportiva. De acordo com De Rose Jr. (2004) o técnico exerce uma influência direta sobre os comportamentos esportivos dos jovens, com reflexo em outras áreas atividades além da esportiva. A relação treinador-atleta tem se tornado um dos principais temas de estudo na área da psicologia do esporte (VILANI; SAMULSKI, 2004). Nas últimas décadas a análise do comportamento do treinador de Jogos Esportivos Coletivos, durante o treinamento e a competição, tem sido objeto de numerosas investigações tendentes a contribuir com a eficácia pedagógica (ARROJO; ÁLVAREZ; CAMPO, 2003).

    O técnico desempenha um papel fundamental na preparação ou auxilio nas decisões do jogador de voleibol, antes ou durante uma partida (QUEIROGA, 2005). Os treinadores têm sobre seus atletas um papel que pode ser tanto negativo quanto positivo (CONTE; DORIGO, 2004). As ações dos treinadores são relevantes, pois refletem diretamente no rendimento dos atletas (MORAES; MEDEIROS, 2004). De Rose Jr. (2002) cita que através da comunicação o técnico pode ser uma fonte causadora de stress de modo prejudicial. O técnico como fonte de stress enfatiza somente aspectos negativos, privilegia determinados atletas, não reconhece o esforço do atleta, grita ou reclama muito e não aponta soluções, ao invés disto o técnico deve orientar na solução de problemas e evitar a crítica desmesurada e sem objetivos práticos (DE ROSE JR, 2002). Salmela (1996) menciona que os treinadores de etapas iniciais devem amar a atividade e possuir interesse profundo pelos seus jogadores, valorizando mais o esforço que o resultado, sendo o técnico um amigo, organizador, motivador e comunicador.

    O sucesso em competições resulta de uma comunicação eficaz entre técnico e atletas (NITSCH, 1991; HASELWOOD et al., 2005). A comunicação no esporte é essencial (HASELWOOD et al., 2005). Por meio da comunicação eficaz o treinador conseguirá determinar metas para os seus atletas e colaborar com os mesmos na compreensão e na resolução de problemas (SAMULSKI, 2004; BOTELHO; MESQUITA; MORENO, 2005).

    O desenvolvimento de rendimento dos jogadores e das equipes nas competições e nos treinamentos obriga o técnico a um conhecimento profundo acerca dos processos de intervenção, nomeadamente, durante a emissão de informação (BOTELHO; MESQUITA; MORENO, 2005). Saber o que dizer, quando e como o dizer, constituem fatores concorrentes do sucesso na intervenção pedagógica do técnico (SALMELA, 1996; CUSHION; JONES, 2001). A instrução, o processo de comunicação, do treinador para com os atletas esta diretamente relacionado com o grau de sucesso no processo de ensino-aprendizagem-treinamento (ÁFONO; MESQUITA; GRAÇA, 2003). Segundo Bard, Fleury e Goulet (1994) as informações do técnico para com os atletas na durante o treinamento são referentes a execução da ação motora, possuindo importância inferior a percepção dos sinais relevantes para a tomada de decisão.

    A informação nos Jogos Esportivos Coletivos realizada pelo treinador necessita ser audível, ter o nome do receptor indicado e que seja possível ao receptor interpretação da mensagem de forma apropriada (ISBERG, 1999). Especificamente no voleibol o treinador possui cinco momentos para emitir a informação para os seus jogadores: (1) antes do jogo; (2) nos pedidos de tempo; (3) intervalo entre sets; (4) substituições; (5) durante o desenrolar do jogo (BOTELHO; MESQUITA; MORENO, 2005). O processo de comunicação dos treinadores é influenciado pelo nível de rendimento das equipes, resultado do set anterior, equipe que solicita o tempo, o sexo dos jogadores e pelos diferentes momentos de emissão da informação (CLOES et al., 1993; PINA; RODRIGUES, 1997; RODRIGUES; PINA, 1999).

    A palavra “comunicação” tornou-se popular e é usada para denominar os problemas de relações entre trabalhadores e dirigentes, entre nações, entre pessoas em geral (BERLO, 1970). O termo “comunicação” designa todo processo pelo qual uma informação é transmitida de um elemento a outro, sejam esses elementos de natureza biológica (as comunicações no sistema nervoso), tecnológica (os processos de comunicação), ou social (DORON; PAROT, 2002).

    O interesse pela comunicação tem produzido muitas tentativas de criar modelos do processo, naturalmente estes modelos diferem. Uns podem ser mais úteis que outros, alguns podem corresponder mais que outros ao presente estado de conhecimento sobre comunicação.

    A maioria dos atuais modelos de comunicação são similares ao de Aristóteles: quem fala, o discurso e a audiência. Cada um destes elementos é necessário à comunicação e pode-se organiza-los sob três títulos: 1) a pessoa que fala; 2) o discurso que faz; 3) a pessoa que ouve (BERLO, 1970). A teoria da detecção do sinal, compreensão da mensagem, incorporou a noção de ruído, postulando que toda detecção implica uma discriminação entre ruído e sinal (DORON; PAROT, 2002).

    Um dos modelos contemporâneos mais utilizados por cientistas do comportamento foi desenvolvido por Shannon e Weaver em 1947 (BERLO, 1970), coerente com a proposta de Aristóteles. O modelo Shannon-Weaver apresenta os seguintes elementos: 1) a fonte; 2) o transmissor; 3) o sinal; 4) o receptor; 5) o destinatário. Traduzindo a fonte como pessoa que fala, o sinal como discurso e o destinatário como ouvinte, tem-se o modelo Aristotélico, acrescido de dois elementos: o transmissor, que envia a mensagem para a fonte, e o receptor, que capta a mensagem para o destinatário (BERLO, 1970). A figura 1 demonstra o modelo de Berlo (1970) e o de Martens (1986), neste modelo o processo da comunicação é formado por seis elementos.

Figura 1. Modelo de Comunicação de Berlo (1970) e de Martens (1986)

    O receptor não é um elemento passivo na comunicação (BERLO, 1970). No processo de retroalimentação ele estará norteando as ações do emissor através de feedback (BERLO, 1970). Graça (2005) cita que a instrução é compreendida como um processo interativo entre treinador, atletas e conteúdos num contexto social concreto. No processo de instrução, os treinadores (1) interpretam as necessidades, os interesses e as respostas dos atletas no treino e na competição; (2) os treinadores concebem, selecionam e adaptam exercícios, organizam e estabelecem tarefas que dão ao corpo ao programa de treino de formação e preparação para a competição; (3) os treinadores apresentam tarefas, dão explicações, comunicam expectativas e exigências sobre o que deve ser feito e como deve ser feito no treino e na competição, os treinadores supervisionam, orientam, regulam e apóiam a atividade dos atletas, o confronto dos atletas com as tarefas do treino e da competição (GRAÇA, 2005). Graça (2005) concorda com Berlo (1970), citando que o atleta não esta na posição de objeto da atividade dos treinadores. O processo de comunicação não resulta apenas da ação, mas antes da ação conjunta de treinadores e atletas sobre um conteúdo num dado envolvimento, não sendo os atletas elementos passivos no direcionamento ou no desenvolvimento das atividades do treino e da competição: os atletas trazem consigo conhecimentos, capacidades e disposições, expectativas e motivações que condicionam necessariamente o que se pode passar e o que efetivamente se passa no treino e na competição (GRAÇA, 2005). Torna-se assim claro que o treino é uma construção conjunta de treinadores e atletas (GRAÇA, 2005).

    Estudo de Queiroga (2005) e de Queiroga et al. (2005) citam que o diálogo com o treinador e o treino são umas das fontes de conhecimento tático-estratégico do jogador de voleibol. O dialogo do técnico como fonte de conhecimento tático-estratégico é de maior importância nas categorias de base, no adulto a relevância é inferior, já que o atleta possuir um conhecimento superior e assim autonomia para suas decisões táticas (QUEIROGA, 2005).

    A proposta deste foi verificar a compreensão que os atletas jovens possuem na comunicação treinador-atleta.

Métodos

Amostra

    Participaram desta pesquisa 49 atletas do sexo feminino e 4 treinadores integrantes de quatro diferentes equipes participantes do Campeonato Metropolitano da cidade de Belo Horizonte, Minas Gerais, promovido pela Federação Mineira de Voleibol. Das equipes participantes deste estudo, duas eram da categoria mirim, que engloba jovens com idade inferior ou igual a 14 anos, e outras duas equipes da categoria infanto, com jovens com idade inferior ou igual a 17anos. A tabela 01 e a 02 fornecem a idade (em anos) e o tempo de experiência no voleibol (em horas) das atletas integrantes das equipes analisadas.

 

 

Mirim "A"

Mirim "B"

INFANTO "A"

INFANTO "B"

N

9

14

14

12

Mean

13,66

13,85

16,21

16,58

Std.

Deviation

,50

,36

,69

,51

Tabela 1. Idade das Atletas

 

 

Mirim "A"

Mirim "B"

INFANTO "A"

INFANTO "B"

N

9

14

14

12

Mean

1292,22

1142,85

2797,14

2543,33

Std.

Deviation

453,03

562,13

816,66

771,38

Tabela 2. Tempo de prática das atletas no voleibol

Instrumento

    O instrumento aplicado foi o de Arroyo denominado de “Sistema categorial para el análisis de la conducta verbal del entrenador” (SCAVE) e aplicado por Botelho, Mesquita e Moreno (2005). O SCVE foi adaptado com o acoplamento das quatro dimensões da comunicação de Passadori (2003).

Dimensão: Equipe Referenciada

  • Próprio: comentários do treinador sobre aspectos referentes à própria equipe.

  • Contrário: comentários realizados pelo treinador acerca da equipe adversária.

Dimensão: Ações de Jogo

  • Saque: comentários do treinador que fazem referência à ação mediante a qual se coloca a bola em jogo.

  • Recepção: indicações do treinador acerca da ação através da qual se pretende receber e controlar o serviço adversário, de forma a enviar a bola nas melhores condições para a realização do ataque e do contra-ataque.

  • Distribuição: comentários do treinador referenciados à ação que pretende colocar a bola nas melhores condições para a realização do ataque e do contra-ataque.

  • Ataque/Contra-ataque: indicações realizadas pelo treinador relativas às ações de caráter ofensivo.

  • Bloqueio: indicações do treinador acerca da primeira ação defensiva que pretende parar ou restringir as trajetórias de ataque e contra-ataque.

  • Defesa/Cobertura: indicações do treinador sobre as ações defensivas realizadas em 2ª linha, que pretendem defender os ataques da equipe adversária ou proteger o próprio ataque.

Dimensão: Destinatário

  • Coletivo: indicações dada pelo treinador a vários jogadores da equipe ou à equipe na totalidade.

  • Individual: indicações proferidas pelo treinador a um jogador.

  • Indefinida: indicações dada pelo treinador onde não é evidente se a informação é dirigida a um jogador ou a vários.

Dimensão: Comunicação

  • Emocional: na comunicação emocional são fatores que impulsionam a comunicação, auto-estima, coragem, autocontrole, entusiasmo, empatia e flexibilidade.

  • Espiritual: ética, valores, missão, consciência, responsabilidade social e visão de futuro.

  • Corporal: comunicação não verbal, realizada através de gestos, posição do corpo, expressão facial, toques e postura.

  • Intelectual: comunicação realizada através de planejamento, ajustes e ensaios.

Procedimentos

    Após a permissão cedida pelo do supervisor de cada um dos clubes para a aplicação do questionário, os treinadores e os atletas receberam esclarecimentos sobre os objetivos e os procedimentos desta pesquisa. Os atletas e os treinadores responderam primeiramente um questionário identificando a idade, tempo de experiência no voleibol e a posição de jogo, este item foi exclusivo dos atletas. Em responderam o questionário acerca da comunicação. Todos os participantes responderam os questionários de forma individual, sem pressão de tempo e todos foram informados a respeito da liberdade de participação e sobre a confidência dos nomes dos atletas, dos treinadores e dos clubes.

Análise dos dados

    Para analisar os conteúdos das intervenções verbais do treinador durante a temporada de treinamentos foi aplicada à estatística descritiva, destacando-se o desvio padrão e o percentil. O questionário de cada equipe foi confrontado com o respondido pelo respectivo técnico. A existência da relação entre treinadores e atletas para cada uma das categorias do SCAVE ficou definida a partir de um índice de concordância igual ou superior a 80% entre os atletas e com a indicação do técnico na mesma opção feita pelo grupo de atletas.

Resultados

    As tabelas 3, 4, apresentam as respostas das atletas e dos técnicos para cada uma das dimensões e categorias do SCAVE na faixa etária correspondente a jovens participantes da competição mirim e as tabelas 5 e 6 apresentam as respostas dos atletas e dos técnicos da competição infanto. O percentual nos quadrantes representa a distribuição do percentil das respostas das atletas para cada uma das variáveis das categoriais. Os quadrantes demarcados com “TEC.A”, “TEC.B”, “TEC.C”, “TEC.D” representa a resposta do treinador. O quadrante em negrito representa a concordância de resposta entre treinador e 80% ou mais dos atletas integrantes da respectiva equipe.

Tabela 3. Equipe Feminina Mirim “A” (Negrito: concordância do treinador com as atletas)

 

Tabela 4. Equipe Feminina Mirim “B” (Negrito: concordância do treinador com as atletas)

 

Tabela 5. Equipe Feminina Infanto “X” (Negrito: concordância do treinador com as atletas)

 

Tabela 6. Equipe Feminina Infanto “Y” (Negrito: concordância do treinador com as atletas)

Equipe referenciada

    A informação sobre a “própria” equipe foi ressaltada por todas as equipes e pelos treinadores como a de principal compreensão no treinamento. Ocorreu a existência de uma visão dicotômica entre atletas e treinadores a respeito da categoria “adversário”. A relevância da informação a respeito da própria equipe em detrimento da equipe adversária e relatada no estudo de Botelho, Mesquita e Moreno (2005).

Ações de jogo

    No mirim as equipes perceberam três fundamentos de jogo, sendo o ataque compreendido do mesmo modo entre as atletas e os técnicos. No infanto as equipes perceberam quatro fundamentos de jogo, mas não a mesma visão para o ataque. Todos os grupos, mirim e infanto - treinadores e atletas abordaram do mesmo modo o fundamento técnico-tático “levantamento”.

    Os técnicos do mirim possuem uma visão heterogênea da importância dos fundamentos técnico-táticos, mas esta não é compartilhada pelas jogadoras, pois elas valorizam de forma máxima 5 dos 6 fundamentos. Os técnicos do infanto abordaram de forma máxima os fundamentos técnicos-táticos, mas os atletas tiveram uma visão diversificada.

    A importância relatada no mirim ao levantamento e no infanto ao ataque pode ser entendida a partir de estudos que concluíram que o ataque caracteriza mais do que qualquer outro fundamento o voleibol moderno (Rizola, 2003). De acordo com Beal (1990), Sawulla (1990, 1993), Toyoda (1991), o ataque é a ação decisiva no voleibol.

Destinatários

    Os treinadores e os atletas abordaram da mesma forma o destino da mensagem na categoria “coletiva”. Os atletas da faixa etária mirim não conseguiram distinguir o destino da informação: coletivo, individual ou indefinido.

    Os atletas de todos os grupos não conseguiram discernir a respeito da informação individual e indefinida. Apesar dos treinadores possuírem a mesma visão de importância da comunicação individual, os jogadores não observam do mesmo modo a utilização “individual” da comunicação por parte do respectivo técnico. Isberg (1999) cita a importância da identificação do destino da mensagem no processo de comunicação, o que ocorreu na categoria “individual” em nenhum dos grupos.

Comunicação

    Apenas uma das quatro equipes conseguiu abordar os meios que os treinadores utilizam para se comunicar. Todas as equipes relataram que o treinador usa a linguagem corporal, mas apenas um dos treinadores cita o recurso deste meio de comunicação.

Melhoria da capacidade de comunicação do treinador

    Para aprimorar a comunicação os treinadores devem reconhecer que os atletas são uma das fontes mais importantes de aprendizagem e desenvolvimento da capacidade instrucional do treinador. São os atletas que fazem o treinador, propiciam a experiência e lhe dão a matéria para refletir e aperfeiçoar a sua prática. A melhoria da capacidade instrucional o resultado de um esforço individual, de atualização de conhecimentos, de preparação cuidadosa, de monitoração e de reflexão sobre o treino e a competição, mas o treinador ficará sempre limitado se permanecer fechado em si próprio (GRAÇA, 2005).

    Tendo como referência Weinberg e Gould (2001) e Passadori (2003), Samulski e Lopes (2009) descrevem as seguintes diretrizes para os treinadores desenvolverem uma comunicação efetiva:

  • transmita as razões pelas quais espera (ou não espera) certos comportamentos de seus atletas;

  • use um estilo de comunicação que seja mais adequado com sua personalidade e sua metodologia de ensino. Não tente copiar o estilo de comunicação de outro professor apenas porque ele se comunica bem;

  • aprenda a se tornar mais empático, colocando-se no lugar de seus atletas. Demonstre preocupação por eles e procure entendê-los;

  • comunique-se de forma positiva, o que inclui o uso de elogios, encorajamento, apoio e reforço positivo;

  • sempre retribua o cumprimento dos atletas;

  • seja consistente ao administrar disciplina;

  • seja sincero e coerente;

  • fale de maneira clara e objetiva: a) organizando suas idéias antes de falar com os atletas; b) explicando tudo detalhadamente, mas sem fazer monólogos longos e cansativos; e c) usando uma linguagem que os jogadores compreendam;

  • diga em alto e bom tom e repita suas recomendações;

  • escute atenta e ativamente os atletas;

  • lembre-se de não julgar um orador pela aparência ou reputação;

  • “escute com seus olhos”, observando a linguagem do corpo;

  • demonstre respeito e consideração;

  • formule perguntas para estimular os atletas a expressarem suas idéias e sentimentos;

  • crie condições favoráveis para que o atleta sinta-se à vontade na sua presença e para que a comunicação flua livremente.

Conclusão

    O resultado do presente estudo ressalta que os atletas perceberam a informação fornecida pelo técnico acerca da própria equipe. A existência do ruído foi registrada em todas as dimensões. A não compreensão individual da mensagem poderá dificultar o processo de ensino-aprendizagem-treinamento. A carga horária demonstrou influenciar a compreensão da comunicação coletiva e de um número maior de fundamentos de jogo.

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