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A história do aleitamento materno: 

dos povos primitivos até a atualidade

The history of the breastfeeding: of the primitive humanity to the present time

 

*Especialista em Fisioterapia Cardiorrespiratória Avançada

pela Universidade de Santa Cruz do Sul, UNISC

**Doutor em Bioquímica pela Universidade Federal

do Rio Grande do Sul – UFRGS, Brasil

Professor Adjunto do Departamento de Educação Física da

Universidade Estadual do Centro-Oeste-UNICENTRO

Coordenador do Laboratório de Fisiologia do Exercício

Gabrielle Seidl Juruena*

Carlos Ricardo Maneck Malfatti**

ricardo.malfatti@bol.com.br

(Brasil)

 

 

 

Resumo

          Introdução: Durante décadas de existência da espécie humana, a alimentação ao seio foi considerada a forma natural e praticamente exclusiva de alimentar a criança em seus primeiros meses de vida, sendo reconhecida nos dias atuais como um ato fundamental para a saúde do binômio mãe-filho. Objetivo: o objetivo deste estudo é fazer uma revisão sobre a amamentação por meio da história do aleitamento materno. Metodologia: Este é um estudo de revisão bibliográfica. A amostra constou de textos, publicados no período de 1978 até os dias atuais, que retratam a história da amamentação desde a época mitológica até o século XXI. Considerações finais: A história mostra que o ato de amamentar se trata de uma decisão tomada pela mulher, de forma consciente e desconstruir valores/significados que estão arraigados é complexo e demorado, porque são valores que hoje não servem ou não são aceitos, mas que fizeram parte da vida de outrora. O resgate histórico é fundamental para compreendermos essa prática.

          Unitermos: Aleitamento materno. Gestantes. Saúde. Saúde pública.

 

Abstract

          Introduction: During decades of human existence, the breastfeeding was considered a practically exclusive and natural form to feed the infant in their first months of life, being recognized in present days as a fundamental procedure for the health of the binomial mother-son. Objective: The objective of this study is to do a revision about the breastfeeding history. Methodology: This is a study of bibliographical revision. The sample was comprised of texts, published in the period of 1978 to the present days that review the history of the breastfeeding since the mythological epoch to the century XXI. Final considerations: The history shows that the breast-feed procedure is a important decision taken by the woman, of conscious form and deconstruct values/meanings that are consolidated is complex and lengthy, because are values that today do not serve or do not be accepted, but that were part of the life in other time. The historical review is fundamental for we understand that practice.

          Keywords:  Breast feeding. Pregnant women. Health. Public health.

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - Nº 129 - Febrero de 2009

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Introdução

    Após o nascimento do bebê, é necessário que os adultos façam tudo por ele por muito tempo. Os adultos mantêm as funções que o útero desempenhava: proteção, nutrição e calor. A amamentação ajuda a transição atual do bebê de dentro para fora da barriga, transição gradual esta que é de máxima importância tanto para o bebê quanto para a mãe (LANA, 2001).

    Deve-se oferecer ao recém-nascido somente leite no peito, sem nenhum outro alimento ou bebida, a não ser o que está clinicamente indicado. O colostro e o leite materno são os únicos alimentos fisiologicamente apropriados para o recém-nascido, já que cobrem suas necessidades durante este período e lhe proporcionam fatores imunológicos que o protegem (VALDÉS; SÁNCHEZ; LABBOK, 1996).

    Devido às suas propriedades imunológicas, nutricionais e biopsicossociais, o leite materno constitui a melhor fonte de nutrientes para o recém-nascido até os seis meses, além de proporcionar um maior vínculo com a mãe (ACCIOLY; SAUNDERS; LACERDA, 2003).

    É de suma importância a necessidade de uma ação básica de saúde no intuito de realizar um trabalho de conscientização com as gestantes durante o pré-natal, incentivando o aleitamento materno e esclarecendo de forma simplificada e acessível os benefícios e os malefícios que a falta da amamentação por leite materno pode acarretar à criança e a mãe (ICHISATO, SHIMO, 2002).

    Sendo assim, o objetivo deste estudo é fazer uma revisão sobre a amamentação por meio da história do aleitamento materno.

Metodologia

    Este é um estudo de revisão bibliográfica. A amostra constou de textos, publicados no período de 1978 até os dias atuais, que retratam a história da amamentação desde a época mitológica até o século XXI. A busca foi realizada em livros, artigos de revistas científicas, monografias, dissertações de mestrado, teses e artigos extraídos via Internet, buscados nos bancos de dados da MEDLINE e LILACS. Foram incluídos para análise, textos que contivessem dados históricos, sociais e culturais relacionados ao aleitamento materno.

História da amamentação

    Segundo Diniz e Vinagre (2001, p.1), “o leite humano representa a resposta que a natureza deu à pergunta do melhor alimento para o Homem que se desenvolve.”

    Durante décadas de existência da espécie humana, com exceção dos últimos anos, a alimentação ao seio foi considerada a forma natural e praticamente exclusiva de alimentar a criança em seus primeiros meses de vida (ACCIOLY; SAUNDERS; LACERDA, 2003).

    A mitologia Grega conta a história de Rômulo e Remo que foram amamentados por uma loba, e Zeus, por uma cabra. Já os egípcios, babilônios e hebreus, tinham como tradição amamentarem seus filhos por três anos, enquanto as escravas eram alugadas por Gregos e Romanos ricos, como amas-de-leite (BITAR, 1995).

    Entre os povos gregos e romanos, havia o hábito de utilizar as amas-de-leite para amamentar os seus recém-nascidos, não sendo tão freqüente a amamentação ao peito da própria mãe, porém, Hipócrates foi um dos primeiros a reconhecer e escrever sobre os benefícios da amamentação, evidenciando a maior mortalidade entre aqueles bebês que não amamentavam no peito. Posteriormente, Sorano se interessou pelos aspectos cor, odor, sabor e densidade do leite humano, e Galeno foi o primeiro a considerar que a alimentação deveria ser feita sob a supervisão de um médico (VINAGRE; DINIZ, 2001).

    A proteção às crianças e o incentivo à prática da amamentação aumentou com o surgimento do cristianismo. Além do incentivo à prática da amamentação, também promoviam a proteção às crianças órfãs e abandonadas. Com o descobrimento das Américas, os povos nativos dessas regiões chamavam a atenção, pois tinham por hábito amamentar as suas crianças por um período aproximado de 3 a 4 anos. Nessa época, o aleitamento materno estava em declínio, principalmente na França e na Inglaterra (SILVA, 1989).

    Estudos apontam que, no século XVIII, a prática de amamentar não era mais vista pelas pessoas da sociedade européia com admiração, sendo utilizado as amas-de-leite mercenárias como um hábito rotineiro. Em função do desmame precoce, a mortalidade infantil aumentou muito, chegando a alcançar a cifra de 99,6% das crianças em Dublin, as quais não tinham a opção da ama-de-leite. Em Paris e em Londres este índice chegou a 80% e 56%, respectivamente, mesmo as crianças sendo amamentadas pelas amas-de-leite. Na Inglaterra, o índice menor foi devido ao trabalho de Cadogan, que instituiu alguns cuidados na alimentação das crianças com amas-de-leite, e com esta teoria de amamentar e introduzir mais tardiamente os alimentos ele conseguiu salvar muitas vidas (BITAR, 1995).

    No clássico tratado de Nils Rosen von Rosentein, cujo título é As doenças das crianças e seus remédios, publicado em 1764, encontra-se os seguintes ensinamentos: “...uma criança para se desenvolver bem deve ingerir uma quantidade suficiente de um bom alimento. O melhor para tanto, sem nenhuma dúvida, é o leite materno. Assim, achamos que as crianças amamentadas por suas mães se desenvolvem bem.” (ICHISATO; SHIMO, 2002).

    Durante a história da humanidade, houve uma média de 15% a 25% de mortes em crianças chegando a 90% quando as crianças eram órfãs e não tinham mãe substituta para a amamentação. Até o final do século XIX a amamentação ao peito era uma opção de vida ou morte, sendo o processo de amamentar, bastante complicado (VINAGRE; DINIZ, 2001).

    Devido à falta de incentivo ao aleitamento materno pelos pediatras durante a década de 70, o índice de aleitamento materno no Brasil era muito baixo, havia também propaganda não ética de substitutos do leite materno e grande venda desses produtos, e distribuição gratuita de leite em pó pelo governo (REA, 2004).

Valorização do aleitamento materno

    Em virtude disso, foi assinada em 1979 a declaração OMS/UNICEF que propôs a valorização do aleitamento materno. Em 1981, foi aprovado por 118 países o Código Internacional de Substitutos do Leite Materno, e em 1991 foi assinado o Acordo firmado pela Associação de Fabricantes de Alimentos Infantis de cessarem com a distribuição gratuita de leites artificiais aos serviços de saúde a baixo custo (CARVALHO; TAMEZ, 2003).

    Em 1990, o Brasil assinou a Declaração de Innocenti, na Itália, onde comprometeu-se em fortalecer a promoção da amamentação no país. Já na Reunião de Cúpula Mundial, em Nova York também em 1990, assumiu o compromisso de reduzir a mortalidade infantil (CARVALHO; TAMEZ, 2003). Ao mesmo tempo, autoridades da OMS e do UNICEF lançaram um documento que se pode reputar como fundamental hoje: a Declaração Conjunta sobre o Papel dos Serviços de Saúde e Maternidades, na qual se mencionam dez ações relacionadas a incentivar o aleitamento materno, com o resumo do que as maternidades deveriam fazer – os chamados dez passos para o sucesso do aleitamento materno (BADINTER, 1985).

    Para haver o cumprimento dos Dez Passos para o Sucesso do Aleitamento materno e os hospitais receberem o título de Hospital Amigo da Criança, foram necessárias mudanças de rotinas hospitalares, que objetivavam mobilizar profissionais e demais funcionários de hospitais e maternidades para promover mudanças de condutas e rotinas que visassem a prevenção do desmame precoce (CLARK, 1984).

    Os Dez Passos para o Sucesso do Aleitamento Materno, de acordo com a Organização Mundial da Saúde e Fundo das Nações Unidas para a Infância (CARVALHO; TAMEZ, 2003), são:

  1. Ter uma norma escrita sobre aleitamento materno, a qual deve ser rotineiramente transmitida a toda a equipe do serviço.

  2. Treinar toda a equipe, capacitando-a para implementar esta norma.

  3. Informar todas as gestantes atendidas sobre as vantagens e o manejo da amamentação.

  4. Ajudar as mães a iniciar a amamentação na primeira meia hora após o parto.

  5. Mostrar às mães como amamentar e como manter a lactação, mesmo se vierem a ser separadas de seus filhos.

  6. Não dar a recém-nascido nenhum outro alimento ou bebida além do leite materno, a não ser que tenha indicação clínica.

  7. Praticar o alojamento conjunto - permitir que mães e bebês permaneçam juntos 24 horas por dia.

  8. Encorajar a amamentação sob livre demanda.

  9. Não dar bicos artificiais ou chupetas a crianças amamentadas.

  10. Encorajar o estabelecimento de grupos de apoio à amamentação, para onde as mães devem ser encaminhadas por ocasião da alta hospitalar.

    Entre 1996 e 2002, houve um incremento na duração da amamentação com um período mediano que vai de sete meses a dez meses. Outras atividades também foram realizadas para incentivar o aumento da duração do aleitamento materno nesta época (AMERICAN ACADEMY OF PEDIATRICS, 2006).

Considerações finais

    Acreditamos que ao longo dos anos houve uma extrema valorização do aleitamento materno, tornando as pessoas mais conscientes dos benefícios que ele pode proporcionar para a mãe e para a criança. O aleitamento materno não deve ser visto como responsabilidade exclusiva da mulher, percebe-se que a lactante e também nós, profissionais da saúde, temos procurado, frente aos fracassos da amamentação, suporte nas questões biológicas e técnicas.

    A história tem nos mostrado que o ato de amamentar se trata de uma decisão tomada pela mulher, de forma consciente, embora essa conscientização seja negada. Desconstruir valores/significados que estão arraigados é complexo e demorado, porque são valores que hoje não servem ou não são aceitos, mas que fizeram parte da vida de outrora. O resgate histórico é fundamental para compreendermos essa prática.

Referências

  • ACCIOLY, E; SAUNDERS, C; LACERDA, EMA. Manual em Obstetrícia e Pediatria. 3. ed. Rio de Janeiro: Cultura Médica, 2003.

  • AMERICAN ACADEMY OF PEDIATRICS: Work Group on Breastfeeding. Breastfeeding and the Use of Human Milk. Official journal of the American academy of pediatrics, n. 6, v. 100, 2006.

  • BADINTER, E. Um amor conquistado – o mito do amor materno. 5ª ed. Rio de Janeiro (RJ): Nova Fronteira; 1985.

  • BITAR, MAF. Aleitamento materno: um estudo etnográfico sobre os costumes crenças e tabus ligados a esta prática. [dissertação]. Belém (PA): Centro de Ciências da Saúde Departamento de Enfermagem/Universidade Federal do Pará; 1995.

  • CARVALHO, MR; TAMEZ, R. Amamentação: bases científicas para a prática profissional. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2002.

  • CLARK, C. O Livro do Aleitamento Materno. 2 ed. São Paulo: Manole, 1984

  • DINIZ, EMA; VINAGRE, RD. O leite humano e sua importância na nutrição do recém-nascido prematuro. 2. ed. São Paulo: Atheneu, 2001.

  • ICHISATO, SMT.; SHIMO AKK. Revisitando o desmame precoce através de recortes da história. Rev Latino-am Enfermagem, Ribeirão Preto, v. 10, n. 4, p.578-585, jul./ago. 2002.

  • LABBOK, M.; VALDÉS, V.; SÁNCHEZ, A. Pérez. Manejo clínico da lactação: assistência à nutriz e ao lactante. Rio de Janeiro: Revinter, 1996.

  • LANA, AP. O Livro de Estímulo à Amamentação: Uma Visão Biológica, Fisiológica e Psicológica Comportamental da Amamentação.Rio de Janeiro: Atheneu, 2001.

  • SILVA, AAM. Amamentação: fardo ou desejo? Estudo histórico social dos deveres e práticas sobre aleitamento na sociedade brasileira. [dissertação]. Ribeirão Preto (SP): Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto/USP; 1990. 17. Costa JF. Adultos e crianças. In: Costa JF. Ordem médica e norma familiar. 3ª ed. Rio de Janeiro (RJ): Graal; 1989. p.153- 214.

  • REA, M F. Os benefícios da amamentação para a saúde da mulher. Jornal de Pediatria, Porto Alegre, v. 80, n. 5, 2004.

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