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Desempenho motor dos atletas sênior de judô participantes 

do campeonato brasileiro da Liga Nacional de Judô 2006

Physical profile of judo athletes, ‘junior’ class, participants in the brazilian championship of the National League of Judo 2006

 

Universidade Federal de Viçosa

Departamento de Educação Física

Viçosa – MG

(Brasil)

Pedro Henrique Santos Meloni | Bruno Pereira de Moura

Osvaldo Costa Moreira | Rangel Aparecido Florêncio Venâncio

Jamille Locatelli | Eliane Aparecida Castro

Luís Eduardo Silva | Leonice Aparecida Doimo

phmeloni@gmail.com

 

 

 

Resumo

          O presente estudo objetivou verificar o comportamento da força isométrica manual e da região lombar e da flexibilidade de judocas do sexo masculino da classe Sênior, participantes do Campeonato Brasileiro da Liga Nacional de Judô de 2006, realizado na cidade de Divinópolis – MG – Brasil. Os atletas foram divididos em dois grupos: um com peso corporal inferior a 73kg (n=26), denominado “G1”, e outro com peso corporal superior a 73kg (n=20), denominado “G2”. Os testes foram realizados durante a pesagem oficial do campeonato, um dia antes da competição. Obtiveram-se os seguintes resultados para os dois grupos de atletas: força isométrica manual (Direita: “G1”=50,5 ± 9,40 kgf e “G2”=55,9 ± 7,60 kgf; Esquerda: “G1”=47,76 ± 8,83 kgf e “G2”=55,7 ± 8,07 kgf), força isométrica lombar (“G1”=286,34 ± 51,21 lbs e “G2”=356,7 ± 63,12 lbs) e flexibilidade coxofemoral (“G1”=31,75 ± 6,81cm e “G2”=26,19 ± 7,25cm). Testes de correlação linear (p<0,05) entre as variáveis analisadas e o peso corporal do atleta, foram aplicados para averiguar a existência de correlação. Concluiu-se que, para a população estudada, não há correlação entre o peso corporal e as variáveis analisadas em homens com mais de 73 kg. Já para homens com menos de 73 kg, houve correlação entre a força isométrica lombar e manual e o peso corporal. Aparentemente, as variáveis estudadas não são discriminatórias quanto ao desempenho do judoca. Essa afirmação, no entanto, demanda mais estudos.

          Unitermos: Judô. Avaliação. Desempenho.

 

Abstract

          This study aimed to verify the behavior of manual isometric and the lumbar region isometric strength and the flexibility of male judokas of Senior class, participants in the Brazilian championship of the National League of Judo 2006, held in the city of Divinópolis - MG - Brazil. The athletes were divided into two groups: one with body weight below 73kg (n = 26), known as "G1", and another with body weight exceeding 73kg (n = 20), called "G2". The tests were performed during the official weighing of the championship, one day before the competition. There were the following results for the two groups of athletes: strength isometric hand (Right: “G1”=50,5 ± 9,40 kgs and “G2”=55,9 ± 7,60 kgs; Left: “G1”=47,76 ± 8,83 kgs and “G2”=55,7 ± 8,07 kgs), isometric strength lumbar (“G1”=286,34 ± 51,21 lbs and “G2”=356,7 ± 63,12 lbs) and lame-femoral flexibility ( "G1" = 31,75 ± 6,81 cm and "G2" = 26,19 ± 7,25 cm). Linear correlation tests (p <0.05) among the variables and body weight of the athlete, were applied to investigate the existence of correlation. It was concluded that for the population studied, there is no correlation between body weight and the variables in men over 73 kg. For men with less than 73 kg, there was correlation between the manual and lumbar isometric strength and body weight. Apparently, these variables are not discriminatory to the performance of judoka. This statement, however, demand more studies.

          Keywords: Judo. Evaluation. Performance.

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - N° 125 - Octubre de 2008

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Introdução

    Atualmente, A difusão e popularidade do judô são constatadas através de um expressivo número de praticantes em todo o planeta. Criado em 1886 no Japão pelo pedagogo Jigoro Kano, a modalidade não possui divergências entre estilos, como outras lutas.

    Atualmente, diversos aspectos são estudados e ditos como relevantes no desempenho competitivo de judocas. Existem várias evidências científicas na literatura com relação à força dinâmica, força isométrica e flexibilidade (Franchini, 2001). Todas apontam estas variáveis como importantes para o desempenho no judô.

    A pegada, ou kumi-kata, é o ato de segurar mediante o contato ou o apoio das mãos na vestimenta do adversário. Essa ação tem a finalidade técnico-tática de sujeitar, controlar e/ou iniciar uma forma de projeção do corpo do adversário (Moya e Tartabull, 2003). Dessa forma, a força isométrica manual máxima, tem uma influência significativa na execução desse fundamento.

    A força de preensão manual é considerada como fator importante para o desempenho do judô, porém ainda não foi encontrada relação entre a força de preensão manual e o resultado da luta. Segundo Franchini et al.(1997), os valores de preensão manual direita e esquerda em atletas de elite variam de 49,50 ± 12,83 kgf e 47,17 ± 12,40 kgf, em judocas da seleção brasileira universitária de 1996. Já Claessens et al. (1987) encontraram uma variação de 64,9 ± 8,9 kgf a 59,8 ± 8,8 kgf em judocas belgas de alto nível.

    A força de tração lombar é menos estudada que a variável anterior. Porém, os resultados obtidos por Iida et al., citada por Franchini (2001), mostram um aumento dos valores nessa variável à medida que se aumenta a categoria de peso. Isso indica uma maior força absoluta dos atletas mais pesados. Entretanto, em um estudo conduzido por Meloni et al. (2007), foram encontradas divergências quanto a essa informação.

    Segundo Franchini (2001), a força de preensão manual é a mais importante dentre as medidas de força isométrica anteriores juntamente com a tração escápulo-umeral, uma vez que a força empregada no teste é praticamente a mesma que a empregada durante a luta, pelo judoca.

    A flexibilidade se mostra como fator relevante para a maioria dos esportes já que uma maior flexibilidade pode reduzir o risco de uma lesão devido a um movimento excessivo. Dantas (2003) define flexibilidade como “a qualidade física responsável pela execução voluntária de um movimento de amplitude angular máxima, por uma articulação ou conjunto de articulações, dentro dos limites morfológicos, sem o risco de provocar lesões”.

    É de suma importância conhecer os fatores relacionados ao bom desempenho de judocas em competições de alto nível. O conhecimento desses aspectos deve orientar técnicos e treinadores na periodização e montagem do treinamento de seus atletas.

Objetivos

    Dessa forma, os objetivos principais do presente estudo foram:

  • A avaliar o peso corporal, a estatura, a força isométrica e flexibilidade dos atletas da classe Júnior participantes do Campeonato da Liga Nacional de Judô;

  • Avaliar se há correlação entre os resultados obtidos em cada um dos testes com o peso corporal dos atletas;

Metodologia

    Após a pesagem e assinatura do termo de consentimento, os atletas foram submetidos às avaliações na seguinte ordem: estatura, pesagem, dinamometria manual, flexibilidade (sentar e alcançar) e dinamometria dorsal e dos membros inferiores. A coleta de dados foi realizada durante a pesagem oficial dos atletas, que ocorreu no dia anterior a realização do evento.

    Na análise dos dados foi empregada a estatística descritiva para todas as variáveis observadas. Testes de correlação linear, com nível de significância p<0,05 foram aplicados entre as variáveis analisadas e o peso corporal dos atletas.

Amostra

    Composta por atletas das classes Sênior (de 20 a 35 anos), do gênero masculino, participantes do Campeonato Brasileiro da Liga Nacional de Judô, realizado em Divinópolis – MG - Brasil, no período de 11 a 12 de Novembro de 2006. O grupo possuía média de idade igual a 23,17 ± 3,20 anos.

    Os participantes constituíram dois grupos: homens inscritos nas categorias “Ligeiro”, “Meio-Leve” e “Leve”, formaram o Grupo “G1” e homens inscritos nas categorias “Meio-Médio”, “Médio”, “Meio-Pesado” e “Pesado” formaram o grupo “G2”.

    Antes da realização do estudo, os avaliados foram informados dos objetivos do estudo, seus riscos e fatores associados ao experimento. Também assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido, informando sua participação voluntária no estudo. Todos os procedimentos éticos da pesquisa com seres humanos foram observados.

Protocolos e equipamentos utilizados

    Os participantes foram submetidos aos seguintes protocolos, conforme Marins e Giannichi (2003):

  • Dinamometria lombar e dos membros inferiores (Back and Leg Dinamometer), sendo o equipamento ajustado de acordo com a altura do avaliado;

  • Força isométrica manual, através do Grip Dinamômetro, modificado, sendo o aparelho ajustado de acordo com o tamanho da mão do avaliado. Neste estudo os avaliados testaram sua força máxima duas vezes, não consecutivas, com cada uma das mãos;

  • Flexibilidade do quadril, dorso e músculos posteriores dos membros inferiores dos atletas através do teste de Sentar e Alcançar. Foi computada apenas a melhor das três tentativas realizadas por cada indivíduo

Resultados

    A tabela 1 expressa os resultados obtidos pelos atletas nos testes de dinamometria lombar e de membros inferiores e dinamometria manual.

Tabela 1. Dinamometria lombar (LBs) e manual (KGF)

Grupo

Dinamometria Lombar

(X ± DP)

Handgrip (Direita)

(X ± DP)

Handgrip (Esquerda)

(X ± DP)

G1

286,34 ± 51,21

50,5 ± 9,40

47,76 ± 8,83

G2

356,7 ± 63,12

55,9 ± 7,60

55,7 ± 8,07

    A tabela 2 expressa os resultados obtidos pelos atletas nos testes de estatura, peso corporal e flexibilidade (teste de sentar e alcançar)

Tabela 2. Estatura (cm), peso (Kg) e flexibilidade (cm)

Grupo

Estatura (cm)

(X ± DP)

Peso (Kg)

(X ± DP)

IMC (kg/m2)

(X ± DP)

Flexibilidade (cm)

(X ± DP)

G1

170,53 ± 4,26

63,44 ± 6,22

21,83 ± 2,27

31,75 ± 6,81

G2

178,05 ± 5,91

95,88 ± 12,96

30,29 ± 4,36

26,19 ± 7,25

    A tabela 3 expressa os resultados, relativos ao peso corporal, obtidos pelos atletas nos testes de dinamometria lombar e de membros inferiores e dinamometria manual.

Tabela 3. Dinamometria lombar (lbs/kg de peso corporal) e dinamometria manual (kgf/kg de peso corporal)

Grupo

Dinamometria Lombar relativa

(X ± DP)

Handgrip relativo (Direita)

(X ± DP)

Handgrip relativo (Esquerda)

(X ± DP)

G1

4,52 ± 0,76

1,28 ± 0,21

1,36 ± 0,23

G2

3,77 ± 0,82

1,73 ± 0,26

1,74 ± 0,28

Discussão

    Pôde-se observar que, em termos absolutos, o grupo G2 possui maior força isométrica que a categoria G1. Essa hipótese foi testada relacionando o peso corporal dos atletas e o resultado desses testes. Para tal, foi-se utilizado o teste de correlação linear, p<0,05. Logo, encontrou-se que, para a = 0,05, há correlação linear apenas entre o resultado da dinamometria manual e lombar e o peso corporal do grupo G1. O grupo G2 não apresentou correlação linear entre as variáveis citadas anteriormente. Em um estudo, Brito et al. (2002) analisaram o comportamento da força isométrica lombar e manual de 40 judocas de classe juvenil, 23 júnior e 21 sênior participantes do Campeonato Brasileiro das Ligas de Judô 2001. Os atletas da classe sênior obtiveram, como média, 271,17 ± 47,75 Lbs de força isométrica lombar absoluta e 3,79 ± 0,21 Lbs/kg de peso corporal de força relativa. É interessante notar que os valores obtidos pelos atletas são inferiores aos conseguidos pelos atletas do presente estudo, participantes de um mesmo campeonato nacional, seis anos depois.

    Mansilla (1999) estudou 28 judocas e verificou, em seu trabalho, um valor de força lombar isométrica de 165,18 ± 3,94 kg ou 364,15 ± 8,68 lbs, valor esse superior aos encontrados nesse estudo. O mesmo autor procurou identificar os valores relativos de força isométrica lombar máxima, encontrando o resultado de 4,85 ± 1,10 lbs/kg de peso corporal.

    Nessa pesquisa, os resultados encontrados foram de 4,52 ± 0,76 lbs/kg de peso corporal para o grupo “G3” e 3,77 ± 0,82 lbs/kg de peso corporal para o grupo “G4”. Quando não é considerada a divisão por peso adotada por essa metodologia, os valores gerais passam a ser 4,19 ± 0,86 lbs/kg de peso corporal para os atletas. Esses resultados, somados aos observados anteriormente, parecem indicar que a força isométrica lombar máxima tende a aumentar em termos absolutos quando se aumenta a categoria de peso. Porém, o mesmo não ocorre quando se analisam os termos relativos.

    Little (1991) procurou descrever a performance física de judocas homens de alto nível das classes Junior e Sênior, porém, não identificou diferença significativa entre a força isométrica total e a flexibilidade das duas classes. Ainda assim, concluiu que uma participação de sucesso no judô de alto nível depende de níveis apropriados de habilidade técnica, suportada por uma força isométrica, capacidade cardiorrespiratória, capacidade anaeróbica de membros superiores e flexibilidade acima da média.

    Claessens et al. (1987) encontraram uma variação de 64,9 ± 8,9 kgf a 59,8 ± 8,8 kgf na força isométrica manual máxima de judocas belgas de alto nível. Os valores obtidos por estes autores foram, de modo absoluto, maiores que os aqui encontrados. Isso indica que, em níveis mais elevados de desempenho, a força isométrica de preensão manual se torna mais necessária.

    Mansilla (1999) analisou a força isométrica de atletas de judô com, no mínimo, seis anos de treinamento e participantes de campeonatos regionais e nacionais, na Espanha. Os resultados obtidos foram iguais a 53,54 ± 1,69 kgf, para a mão direita, e 54,15 ± 1,50 kgf, para a mão esquerda dos avaliados. Podemos observar semelhanças nos resultados obtidos por Mansilla (1999) e os aferidos no presente estudo, indicando que deve haver um nível semelhante de desempenho em campeonatos nacionais no Brasil e na Espanha.

    Mansilla (S/D) obteve um resultado de força relativa de preensão manual igual a 0,71 ± 0,02 kgf/kg de peso corporal para a mão direita e 0,68 ± 0,02 kgf/kg de peso corporal para a mão esquerda, porém o mesmo não separou os atletas por categoria de peso. Realizando-se procedimento de análise do referido pesquisador foi possível obter força relativa de preensão manual igual a 1,48 ± 0,32 kgf/kg de peso corporal para a mão direita e 1,52 ± 0,31 kgf/kg de peso corporal para a mão esquerda dos avaliados. Esses resultados indicam uma diferença importante entre a força isométrica relativa de preensão manual entre os atletas espanhóis e os participantes do campeonato da Liga Nacional de judô, fato este que pode merecer mais estudos.

    Brito et al. (2002), em trabalho semelhante, identificou que a força de preensão manual de judocas destros equivale a 58,43 ± 12,41 kgf para a mão direita e 53,5 ± 11,18 kgf para a mão esquerda. Já os canhotos obtiveram resultados iguais a 54,36 ± 10,77 kgf para a mão direita e 55,67 ± 10,21 kgf para a mão esquerda. Segundo os autores, o equilíbrio entre a manifestação de força de braço parece ser um meio de facilitar a execução de técnicas por um judoca, tendo os canhotos uma vantagem nesse ponto. É interessante notar também que este estudo foi realizado no mesmo campeonato de nível nacional, porém no ano de 2001, observando-se semelhança nos resultados obtidos por ambos os grupos de avaliados.

    Em um estudo com atletas participantes do Campeonato da Liga Mineira de Judô, no ano de 2006, Meloni et al. (2007) encontraram uma variação de valores para a força isométrica manual máxima de 46,54 ± 7,15 kgf, para a mão direita, e 44,91 ± 8,11 kgf para a mão esquerda, em competidores das classes Júnior e Sênior com peso corporal inferior a 73Kg. O mesmo autor avaliou também judocas com peso corporal superior a 73Kg. Para estes, os valores de preensão manual máxima foram: 55,41 ± 8,77 kgf, para a mão direita, e 54,58 ± 10,60 kgf, para a mão esquerda. Observa-se que no referido estudo, realizado em um campeonato de nível regional, os valores encontrados foram notavelmente inferiores aos obtidos no presente trabalho, realizado em uma competição de nível nacional. Levando-se em consideração que o Campeonato da Liga Mineira de Judô dá, aos seus atletas mais bem qualificados, a possibilidade de participar do Campeonato Brasileiro da Liga Nacional de Judô podemos supor que a força isométrica manual máxima é um dos fatores determinantes do desempenho do judoca.

    O estudo de Franchini (2005) vai de encontro à essa afirmativa ao não identificar diferenças significativas entre a força isométrica manual de judocas de elite e não-elite. Para isso, o pesquisador estudou esta e outras variáveis, em 26 judocas brasileiros medalhistas de nível nacional e internacional e em 66 judocas brasileiros não medalhistas, em campeonatos nacionais. O autor identificou diferenças significativas entre a capacidade anaeróbica específica e de membros superiores além de maiores circunferências, especialmente da parte superior do corpo, indicando uma maior massa muscular nessa região.

    No presente estudo o grupo “G1” obteve uma média igual a 1,28 ± 0,21 kgf/kg de peso corporal no teste de força isométrica manual máxima para a mão direita e 1,36 ± 0,23 kgf/kg de peso corporal para a mão esquerda. O grupo “G2” obteve uma média igual a 1,73 ± 0,26 kgf/kg de peso corporal para a mão direita e 1,74 ± 0,28 kgf/kg de peso corporal para a mão esquerda. Observa-se que, diferentemente da força lombar máxima isométrica, tanto em termos absolutos quando em termos relativos o grupo “G2” atingiu melhores resultados de força. Esta pesquisa não procurou identificar quais dos atletas eram destros ou canhotos.

    Em termos de índice de massa corporal (IMC), indivíduos do grupo “G1”, obtiveram média de 21,83 ± 2,27 kg/m2 configurando uma massa corporal normal. Já os indivíduos do grupo “G2” obtiveram média igual a 30,29 ± 4,36 kg/m2. Esse resultado configura sobrepeso desses indivíduos e pode levar a uma desvantagem na luta, já que um menor percentual de gordura indica maior massa magra, significativa no bom desempenho do judoca.

    Os valores obtidos pelos judocas no teste de sentar e alcançar foram, para a categoria “G1”, de 31,75 ± 6,81 cm e, para a categoria “G2”, de 26,19 ± 7,25 cm. Não foi encontrada correlação linear entre o peso corporal e o resultado do teste de sentar e alcançar para os atletas dos grupos “G1” e “G2”. Esses resultados sugerem que não há influência do peso corporal na flexibilidade dos atletas, sejam eles da categoria que forem.

    Little (1991) encontrou, para atletas juvenis, júnior e sênior, homens e mulheres, do Alberta Judo Team, de 1989, resultados iguais a 39,00 ± 4,39 cm para atletas juniores masculino. Esses valores foram superiores aos encontrados na presente pesquisa e podem predizer um maior nível de desempenho desses atletas. Já que, segundo Taylor e Brassard (1981), a ação mais importante que o judoca realiza é a projeção, e esta depende, parcialmente, da flexibilidade do quadril, uma limitação da mobilidade nesta articulação pode impedir a realização de determinadas técnicas. Os mesmos autores verificaram que a flexão do quadril não se correlaciona com o nível de habilidade no judô, considerando que a rotação do quadril possa ser um parâmetro mais adequado.

    Meloni et al.(2007), em um estudo semelhante ao presente trabalho, encontraram valores de flexibilidade iguais a 31,79 ± 8,53 cm para atletas com peso corporal inferior a 73 Kg e 29,38 ± 8,05 cm para atletas com peso corporal superior a 73 Kg. Como já foi explicitado anteriormente, os atletas do estudo destes autores eram participantes de um campeonato regional de judô. Os valores semelhantes obtidos permitem supor que, talvez, a flexibilidade coxofemoral não tenha um papel tão determinante no desempenho de judocas competitivos.

    Mansilla et al. (1999), encontraram valores de 12,57 ± 1,33 cm em judocas espanhóis com mais de seis anos de treinamento. Parece que mais estudos serão necessários para identificar a real importância de uma alta flexibilidade para o desempenho de judocas.

    Nesta mesma linha, um estudo de Franchini (2007), o pesquisador concluiu que componentes físicos não são discriminatórios quanto a performance de atletas de judô classificados entre os três melhores em nível nacional. Segundo este pesquisador um atleta de judô que não se enquadre nos perfis ideais da modalidade ainda pode ter sucesso esportivo através de técnica e tática esportiva superior. Em outro estudo de Franchini e Sterkowicz (2002), os autores afirmam que o grau de sucesso na competição de judô parece estar relacionado que não o número de técnicas utilizadas. Dessa forma, vê-se que uma vasta gama de variáveis pode ser responsável pelo sucesso esportivo no judô.

    Comparando o presente estudo com outros realizados, pode-se observar que os valores das variáveis força isométrica manual e lombar tendem a aumentar à medida que se aumenta o nível de desempenho. Porém, deve-se ter cuidado ao afirmar que estas variáveis auxiliam no desenvolvimento do alto nível competitivo em judocas.

Conclusão

    Para a população estudada, há correlação linear entre o peso corporal, a força isométrica lombar e a força isométrica manual máxima de homens com menos de 73kg.

    Não foi encontrada correlação linear entre a flexibilidade e o peso corporal para homens nessa categoria. Já para homens com mais de 73 kg não foi encontrada correlação linear entre o peso corporal e as variáveis estudadas.

    Evidencia-se também, a necessidade de estudos adicionais, no intuito de melhor esclarecer as influências de variáveis antropométricas e funcionais sobre o desempenho de atletas de judô.

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