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Resposta imunológica ao exercício físico

 

 *Grupo de estudo em atividade física e Saúde Coletiva – GPESC.

**Professor Mestre do Departamento de Educação Física da Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES.

(Brasil)

Vinícius Dias Rodrigues*

Waldney Roberto de Matos Ávila**

viniciusdr26@hotmail.com

 

 

 

Resumo

          O corpo humano tem a capacidade de resistir a quase todos os tipos de organismos ou toxinas que tendem a lesar os tecidos e órgãos. Essa capacidade é denominada imunidade. Relacionar este sistema com a atividade física é importante para o controle das variáveis do treinamento. Assim, o objetivo dessa revisão é verificar a resposta do sistema imunológico no exercício físico.

          Unitermos: Exercício físico. Sistema imunológico.

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - N° 120 - Mayo de 2008

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Introdução

    O corpo humano tem a capacidade de resistir a quase todos os tipos de organismos ou toxinas que tendem a lesar os tecidos e órgãos. Essa capacidade é denominada imunidade (GUYTON, 1998). Dessa forma, o sistema imunológico tem como objetivo reconhecer os organismos invasores, impedir sua disseminação e finalmente eliminá-los do corpo (PARHAM, 2001).

    Segundo Parham (2001), o sistema imunológico divide-se em dois componentes: o inato e o adaptativo. O componente inato caracteriza-se por responder aos estímulos de maneira não especifica, onde ele utiliza um mecanismo de reconhecimento molecular geral para detectar a presença de bactérias e de vírus. Além disso, o sistema imune inato inclui ainda uma diversidade de barreiras físicas, químicas e também as defesas fixas que estão de prontidão para interromper as infecções antes que elas possam se concretizar.

    Já o componente adaptativo, focaliza o patógeno em questão e leva uma condição de proteção duradoura denominada imunidade adaptativa somente aquele patógeno, sendo assim, essa resposta do sistema imune e mais lenta e especifica.

    O sistema imunológico compreende vários órgãos, incluindo a medula espinhal, o baço, o timo, e os gânglios linfáticos (HOCKENBURY & HOCKENBURY, 2003). Além disso, Abbas e Lichtman (2003) relatam que os linfócitos, produzidos na medula óssea, são as células mais importantes desse sistema. Da medula óssea eles migram para outros órgãos do sistema imune, como o timo e o baço, onde se desenvolvem completamente e são armazenados até serem utilizados (TIRARD, 1992; O’LEARY, 1990 apud HOCKENBURY e HOCKENBURY, 2003).

    Segundo Peakman e Veiga (1999), as barreiras físicas englobam a pele, mucosas, e as secreções que lavam e limpam as mucosas e os cílios que atuam removendo resíduos e as substâncias estranhas. Segundo esse mesmo autor os componentes celulares desse sistema são o neutrófilo, o eosinófilo e o mastócito, bem como a células natural killer (NK).

    Os leucócitos são células denominadas de glóbulos brancos, responsáveis pela defesa do organismo contra agentes patogênicos (ABBAS & LICHTMAN, 2003). Os leucócitos têm suas origens distintas, e os granulócitos e monócitos, considerados de linhagem mielocítica, são formados e armazenados na medula óssea (PEAKMAN & VERGANI, 1999). Segundo os mesmos autores, os linfócitos são considerados de linhagem linfocítica, tendo sua formação na medula óssea e nos tecidos linfogênicos, local onde são armazenados.

Exercício físico e respostas imunológicas

    Segundo Leandro et al (2002), o exercício físico pode proporcionar diferentes respostas no sistema imunológico. O exercício de intensidade moderada, praticado regularmente, melhora a capacidade de resposta do sistema imunológico, enquanto o exercício com alta intensidade praticado sob condições estressantes provoca um estado transitório de imunossupressão (COSTA ROSA & VAISBERG, 2002).

    Mackinnon (1992) apud Sharkey (1998) relata que os treinamentos moderados trás respostas imunológicas saudáveis. Além disso, Hockenbury e Hockenbury (2003) afirmam que o exercício físico de baixa intensidade ajuda a diminuir a ação estressante após o exercício, dessa forma não sobrecarrega o sistema imunológico do organismo humano. Sendo assim, Barra Filho et al (2002) afirmam que é importante a necessidade do controle das variáveis do treinamento desportivo para evitar o estresse excessivo.

    Kapasi et al (2003) buscaram verificar possíveis alterações do sistema imunológico em indivíduos idosos, sendo inserido um programa de treinamento resistido, associado ao treinamento aeróbio. O programa foi realizado com a freqüência de cinco dias por semana, ao longo de oito meses, não sendo observada após trinta e oito e duas semanas de intervenção, alguma alteração significativa, no sentido positivo ou negativo dos parâmetros imunes avaliados. Importante ser frisado não ter havido alterações na incidência de infecções do grupo treinado, quando comparado ao grupo controle.

    Sharkey (1998) relata que o sistema imunológico é consistido de linfócitos, células T, células eliminadoras naturais, anticorpos, imunoglobulinas e outros. De acordo com este autor, o sistema serve para proteger o corpo de ataques externos, contudo, quando exposto à estresse prolongado, o sistema tende a falhar, permitindo a proliferação de microorganismos invasores.

    O supertreinamento pode acarretar um enfraquecimento do sistema imunológico, aumentando as possibilidades de infecção do organismo (POWERS & HOWLEY, 2000). Maughan e Gledson (2000), afirmam que quando as cargas de treinamento são elevadas, pode ocorrer uma diminuição da função global do sistema imunológico. A intensidade, duração, freqüência excessiva de treinamento pode proporcionar um mau funcionamento do sistema imunológico, devido à sobrecarga imposta ao organismo, que pode ocasionar fadiga (SHARKEY, 1998). Portanto, o supertreinamento prolongado provoca alterações que se manifestam como redução crônica do desempenho, acompanhada de um ou mais sintomas físicos, como elevação da freqüência cardíaca de repouso, perda de peso, diminuição da libido, alterações no sono entre outros (FAHRNER & HACKNEY, 1998; FOSS & KETEYIAN, 1998 apud FRANÇA et al 2006).

Exercício físico e alterações nos níveis de leucócitos e linfócitos

    Os leucócitos, denominados como glóbulos brancos, são responsáveis pela defesa do organismo contra agentes patogênicos, e os que estão presentes no sangue periférico são: neutrófilos, eosinófilos, basófilos, linfócitos e monócitos (DACIE & LEWIS, 1995). De acordo com Abbas e Lichtman (2003), os linfócitos são as únicas células com receptores específicos para antígenos e, portanto são os principais mediadores da imunidade adaptativa. Estes por sua vez representam 20 a 30% dos leucócitos na circulação (DACIE & LEWIS, 1995).

    A leucopenia e linfoponia estão relacionados com o aumento do cortisol que pode ser provocado pelo exercício intenso (BERK, 1990). Assim, Wilmore e Costill (2001) afirmam que supertreinamento parece estar associado á depressão da função imunológica. Entretanto, o exercício pode provocar a leucocitose, um aumento da quantidade de leucócitos, como efeito agudo (ÁVILA, 2006). A leucocitose pode ser uma resposta a infecções ou a substâncias estranhas, ou ser resultante de um câncer, de um traumatismo, do estresse ou de determinadas drogas (PARHAM, 2001).

    Santos, Candeias e Magalhães (s.d.) verificaram alterações imunológicas em um estudo de caso com um canoísta que participou de uma ultra maratona (UM) de 42 quilômetros em Kayak. Foram medidos o número de leucócitos e o número e porcentagens de linfócitos, monócitos, neutrófilos, eosinófilo e basófilos. As alterações mais significativas após a UM incidiram na redução das células CD4+CD45RA+(-14.8%), CD94+ (-40%), da ratio CD4+/CD8+ (-15.7%) e no aumento das CD4+CD25+ (28%), CD8+ (19%), CD8+CD25+ (36%), CD25+ (29%). Com exceção das células totais CD25+, cujos valores se mantiveram elevados, e das células NK, em que se acentuou a depressão pós-esforço (-13.6%), ao 10º dia após esforço todos os valores de partida foram recuperados e por vezes ultrapassados. A evolução dos indicadores imunológicos, neste estudo, indicou uma boa capacidade adaptativa do sujeito a este tipo de esforços. As alterações provocadas pela UM parecem ter um caráter transitório e não se exprimiram por qualquer crise infecciosa das vias respiratórias superiores em todo o tempo do estudo.

    Em um estudo de caso realizado por Rodrigues (2007), que abordava um paciente com HIV/AIDS, sexo masculino, 43 anos, solteiro, natural de Montes Claros- MG que foi encaminhado para um programa de treinamento resistido de 36 sessões, onde foram realizados exames laboratoriais das variáveis dependentes pré e pós- treino da 13º, 25º e 36º sessões e também 48 horas após a 36º sessão. Os níveis de cortisol aumentaram nas sessões coletadas: 1.8 mcg/dl (13º sessão), 4.3 mcg/dl (25º sessão) e 6.5 mcg/dl (36º sessão). Já o cortisol da ultima coleta quando comparada com a primeira diminuiu 1.1 mcg/dl. Ocorreu também aumento dos níveis de leucócitos totais (LET) e linfócitos totais (LIT) nas sessões: 2.300 mm3 LET e 2.169 mm3 LIT (13º sessão), 400 mm3 LET e 18 mm3 LIT (25º sessão) e 700 mm3 LET e 739 mm3 LIT (36º sessão). Além disso, ocorreu aumento dessas variáveis na ultima coleta: 800 mm3 LET e 426 mm3 LIT. Portanto, o programa de treinamento resistido realizado pelo paciente produziu respostas positivas, já que ocorreu a leucocitose na resposta aguda como explicitado pela literatura. Apesar de o cortisol aumentar durante o exercício proposto, ao final do estudo a resposta crônica dessa variável diminuiu e não ocorreu o evento da leucopenia e da linfopenia, pois os níveis de leucócitos totais e os linfócitos totais aumentaram 48 horas após a 36º sessão. Assim o treinamento proposto trouxe respostas saudáveis para o individuo.

    Foss e Keteyian (2000) relatam que o treinamento moderado aeróbio mostrou resultados de melhora significativa nas contagens das células CD-4. De acordo com Coutinho (2004), o treinamento moderado em natação melhorou o metabolismo de macrófagos de ratos envelhecidos. Nos macrófagos obtidos da cavidade peritoneal, ocorreu uma melhora da capacidade funcional, através do aumento das funções de aderência, quimiotaxia e produção de peróxido de hidrogênio (H2O2) e oxido nítrico (NO-), que foram acompanhados pelo aumento do metabolismo de glicose (aumento de consumo e da enzima hexoquinase), contribuindo para melhora do sistema imunológico no envelhecimento.

    O estudo de Oliveira, Rogatto e Luciano (2002) teve como objetivo verificar os efeitos de um treinamento físico de alta intensidade sobre a contagem total e diferencial de leucócitos em ratos diabéticos. Ratos machos jovens Wistar foram distribuídos em quatro grupos: controle sedentário (CS), controle treinado (CT), diabético sedentário (DS) e diabético treinado (DT). O diabetes foi induzido por aloxana (35mg/kg de peso corporal). Durante seis semanas os animais dos grupos CT e DT realizaram um protocolo de treinamento físico, que consistiu na realização de quatro séries de 10 saltos (intercaladas por um minuto de intervalo) em piscina, com o nível da água correspondendo a 150% do comprimento corporal e sobrecarga equivalente a 50% da massa corporal dos animais. Ao final do período experimental, amostras de sangue foram coletadas para a contagem total e diferencial dos leucócitos. A glicemia foi aumentada entre os diabéticos e a insulinêmica diminuída. Não foram observadas diferenças significativas na contagem diferencial dos linfócitos, neutrófilos, eosinófilos e contagem total de leucócitos entre os grupos estudados. Houve aumento dos monócitos entre os treinados (CS = 10,0 ± 4,5, CT* = 25,4 ± 7,9, DS = 19,75 ± 7,4, DT* = 25,8 e pelo diabetes (CS = 125,0 ± 37,7, CT* = 74,6 ± 8,2, DS* = 47,5 ± 12,2, DT* = 40,1 ± 16,9mg/100g). Esses resultados permitem concluir que o treinamento físico de alta intensidade não alterou o estado geral do diabetes, mas aumentou os monócitos, o que pode representar um efeito positivo sobre a resposta imunológica desses animais.

    De acordo com Potteiger et al (2001), Ramel, Wagner e Elmadfa (2003) e Natale et al (2003), o treinamento de força muscular tem menor influência sobre a imunossupressão dos leucócitos, quando comparados ao treinamento aeróbico.

    Wilmore e Costill (2001) relatam que o exercício excessivo supriu a função imunológica, aumentando a suscetibilidade do atleta que apresenta a infecção. A imunossupressão é caracterizada por níveis anormalmente baixo de linfócitos (WILMORE & COSTILL, 2001).

    Além disso, Wilmore e Costill (2001) sugerem que a principal ameaça à função imunológica de um individuo pode ocorrer durante o período de transição do estado de não-treinamento para o estado treinado; se o atleta está adaptado às demandas imunológicas é normal.

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