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Relação entre a motivação intrínseca, o tempo de prática,
treinos por semana e pretensão de ser um atleta
profissional no futuro de atletas de jiu-jitsu

   
*Pontifícia Universidade Católica do Paraná.
**Centro de Estudos em Exercício e Esporte - UFPR.
(Brasil)
 
 
Birgit Keller** | Rubens Tempski*  
Diego Gaspar* | Ricardo Weigert Coelho**
birgit_keller@hotmail.com
 

 

 

 

 
Resumo
     O Jiu-Jitsu veio para o Brasil no início do século XX, trazido por Matsuo Maeda, o Conde Koma. O objetivo deste estudo é verificar a relação da motivação intrínseca com o tempo de prática, quantidade de treinos por semana e a pretensão de ser um atleta profissional no futuro de atletas de jiu-jitsu do sexo masculino. A amostra foi composta por 25 atletas de jiu-jitsu, do sexo masculino com idade média de 25,22 anos (d.p.= 7,07). Para a coleta de dados foram usados dois instrumentos: anamnese e Inventário de Motivação Intrínseca no Cenário do Esporte Competitivo (McAULEY; DUNCAN, 1989). A análise estatística foi realizada através do programa SPSS 13.0. Foram empregadas análises descritivas (médias e desvio padrão) e uma correlação se Spearman para verificar a relação entre as variáveis. Em relação à análise descritiva, observa-se que os atletas apresentaram um tempo de prática médio de 29,92 meses (d.p. 40,00 meses); quanto a quantidade de treino por semana uma média de 3 vezes por semana (d.p. 0,86) e em relação a motivação intrínseca uma média de 67,84 (d.p. 11,78). Quando se pergunta a pretensão de ser um atleta profissional no futuro, 48% tem a intenção de ser um atleta de competição no futuro e 52% não tem esta intenção. Na relação entre as variáveis verificou-se uma correlação moderada e significativa (r=0,429, p=0,032) entre a motivação intrínseca e a quantidade de treinos por semana. conclui-se que os atletas desta amostra participam dos treinamentos com o objetivo de prática de atividade física (lazer), ratificada pelo resultado da freqüência média de apenas três treinos por semana e a intenção de não ser um lutador profissional no futuro. Sugerem-se novos estudos em outros núcleos e atletas com graduação de faixas mais altas.
    Unitermos: Motivação intrínseca. Tempo de prática. Atleta profissional. Jiu-jitsu.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 12 - N° 113 - Octubre de 2007

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Introdução

    A história dos combates corporais é tão antiga quanto a existência da humanidade. O homem sempre lutou por sua sobrevivência desde a Pré-História (HARROW, 1972). No Egito antigo, 6.500 anos a.C. por hieróglifos, os primeiros registros de sistematizações de treinamento de lutas apareceram (GAMA, 1986).

    Na Grécia da antiguidade outras formas de combates como o pancrácio e o pugilato eram modalidades de muitos dos Jogos Desportivos desta civilização, não apenas nos Jogos Ístimicos, Píticos, mas principalmente nos Jogos Olímpicos, estas modalidades estavam sempre presentes (BARROS, 1996).

    Com a expansão do império Romano. 776 a.C. a 476 d.C. as lutas, (VICENTINO, 1997), sempre calcadas em princípios guerreiros continuaram a desenvolver-se. O encontro das culturas grega e romana permeia inclusive os esportes de combate, dando origem a luta greco-romana. As cores vermelho e azul na vestimenta de lutadores indica os indícios do que futuramente tornou-se a luta olímpica conteporânea.

    Já no Japão, uma das lutas difundidas e conhecidas era o Ju-Jistsu, ou Jiu-Jitsu, onde "JU" é suave e "JITSU" arte marcial. A filosofia do conceito e a arte marcial que usa a força dos oponentes contra eles mesmos, daí o conceito de suavidade. Esta luta deu origem ao Judô, em 1886, concebida pelo Prof. Jigoro Kano (ROBERT, 1964).

    O Jiu-Jitsu veio para o Brasil no início do século XX, trazido por Matsuo Maeda, o Conde Koma. Vindo da Argentina, entrou no Brasil pelo Rio Grande do Sul e com uma trupe de lutadores seguiu para a região norte do país, onde o Ciclo da Borracha e o poder econômico estavam. Lá conheceu a família de Gastão Gracie e lecionaram Jiu-Jitsu a dois de seus filhos, Carlos e Helio Gracie. Estes levaram esta luta para o Rio de Janeiro e lá foi difundida (GRACIE, 2003).

    Um dos filhos de Helio, Rolion, foi para os Estados Unidos em meados dos anos 80, para levar o "Brasilian Jiu-Jitsu" para a Califórnia e lá promoveu a modalidade conduzindo-a para o estilo do "Vale-tudo" (GRACIE, 2003).

    No início deste novo estilo de combate, com poucas regras, o Jiu-Jitsu teve sua projeção internacional. Hoje é uma modalidade de luta "corpo-a-corpo" (imobilizações, estrangulamentos e chaves de articulações) cujo centro mundial localiza-se no Brasil.

    Para que o esporte tenha ainda um melhor desenvolvimento é necessário que seja introduzido estudos na área da psicologia do esporte, pois através dela o profissional pode obter subsídios para qualificar e orientar de forma mais precisa e individualizada cada um de seus atletas, ajudando-os a conseguir performances competitivas mais elevadas e melhorando o seu auto-conhecimento. Psicologia do Esporte e do Exercício pode ser definido como "estudo científico de pessoas e seus comportamentos em contextos esportivos e de exercício e as aplicações práticas de tal conhecimento" (GILL, 1979 citado por WEIMBERG e GOULD 2001, p. 28).

    Entre os profissionais e pesquisadores do esporte, cada vez mais existe uma preocupação com a preparação global, objetivando a melhora da performance e o aumento da qualidade de vida do atleta (CRATTY, 1984). Das questões tratadas pela Psicologia do Esporte e Exercício, a motivação é um componente importante para a Educação Física e o crescimento deste esporte.

    A motivação é caracterizada por uma energia, necessidade, desejo que regula a direção, intensidade e a persistência do comportamento e é dirigida a certos objetivos. O termo é usado para os estados e processos psicológicos e conscientes, hereditários e aprendidos que na linguagem comum são descritos pelos termos: afeto, motivo, desejo, necessidade, urgência, atitude, sentimento, interesse, vontade, etc. A motivação no esporte indica a vontade de agir em situações esportivas. Pode ser cognitiva (avaliações, expectativas) ou emocional (esperança, medos, felicidade, desapontamentos) e ocorre antes e depois da atividade esportiva (BARBANTI, 2003).

    Para Samulski (2002) a motivação, pode ser definida como a totalidade de fatores que determinam à atualização de formas de comportamento dirigido a um determinado comportamento, dirigido a um determinado objetivo, ou seja, a motivação se caracteriza como um processo ativo, intencional dirigido a uma meta, o qual depende da interação de fatores pessoais e ambientais.

    Weinberg e Gould (2001) citam o conceito de motivação sendo somente a direção da intensidade do esforço, exemplificando que há diversos pontos de vista específicos, e mediante essas atitudes de direção e intensidade de esforço, pode-se entender que: a direção do esforço se refere ao caso do atleta se aproximar si ser atraído pela situação; a intensidade de esforço, por sua vez, se refere a quantidade de esforço que o atleta coloca numa determinada situação.

    Segundo Freitas (1994), a motivação pode ser entendida somente ao momento que se estuda o comportamento humano, visando que este vive em constante transformação. O autor cita que os behaviorista equacionam motivação como comportamento operante em ternos de conseqüências, os psicólogos sociais falam em termos de reforçadores socialmente relacionados, psicólogos da educação ligam motivação com realização e outros consideram motivação em termo de impulso ou necessidade, enquanto outros técnicos a vêem semelhante a estímulo e ativação.

    Almeida (1992) declara a mesma conceituação para motivação, mas cita que a maneira com que o treino é ministrado também influencia na motivação dos iniciantes, um dos fatores que é relacionado é de que o treino na iniciação deve motivar o praticante por ser um exercício físico, por muitas vezes lúdico, o que pode desencadear um prazer pela atividade física para o resto da vida do praticante. Neste mesmo estudo ainda constam três conceitos de motivação, como podem ser observados a seguir:

    Para SINGER (1975, apud ALMEIDA, 1992) "Motivação é a insistência em caminhar em direção a um objetivo. E para realizarmos uma atividade com prazer deveremos ter um incentivo. Este pode ser em ganhar um troféu, tornar-se famoso ou apenas ser elogiado, ainda como incentivo interno o desejo de se auto-realizar".

    Para CRATTY (1983, apud ALMEIDA, 1992) "O termo motivação denota os fatores e processos que levam as pessoas a uma ação ou inércia em diversas situações. De modo mais específico, o estudo dos motivos implica no exame das razões pelas quais se escolhe fazer algo ou executar algumas tarefas com maior empenho de que outras, ou ainda, persistir em uma atividade por longo período de tempo".

    Para MAGIL (1984, apud ALMEIDA, 1992) "Motivação é definida como a causa do início da manutenção e da intensidade de comportamento".

    Conforme Souza (2001), a motivação na educação é definida como processo que produz uma condição interna (motivo), relativamente duradoura, que leva o indivíduo ou que o predispõe a persistir num comportamento orientado para um objetivo, possibilitando a transformação ou permanência da situação. Ainda cita que geralmente, a motivação é definida como um estado interior que estimula, direciona e mantém o comportamento e também, que a motivação é estudo da direção e da persistência da ação que constituem o estudo da motivação.

    Para Freitas (1994), somos cercados por valores que podem a um dado momento levar-nos à ação ou reduzir-nos a imobilidade. Esta é uma das razões da dificuldade em mensurar a motivação de maneira mais precisa principalmente se a medida depende (como e quase sempre) do humor, sentimento ou verbalização momentânea do praticante. Outras razões são desconhecidas, pois então armazenadas em nossa mente, seja no consciente ou inconsciente.

    Então, trata-se de um processo que implica na vontade de executar ou na maneira de atingir um objetivo, dessa forma, realizar e ou manter um determinado esforço e dispor da energia necessária para que isso ocorra.

    Samulski (2002) distingue técnicas de ativação e estabelecimento de metas através da motivação baseando-se nos seguinte conceito: "A motivação é caracterizada como um processo ativo, intencional e dirigido a uma meta, o qual depende da interação de fatores pessoais (intrínsecos) e ambientais (intrínsecos), apresenta uma determinante energética (nível de ativação) e uma determinante de direção do comportamento (intenções, interesses, motivos e metas)".

    Barbanti (2003) define a motivação extrínseca como o uso de recompensas externas, tais como troféus, medalhas para motivar o comportamento, partindo da premissa de que a performance pode ser controlada por forças externas e de que se essas forças não estiverem presentes a pessoa não participaria ou participaria com um nível reduzido de esforço. Já a motivação intrínseca como o desejo de executar uma habilidade ou atividade pelo prazer e satisfação derivados da própria atividade e sem incentivo ou recompensa externa.

    Já para Souza (2001), algumas teorias da motivação relacionam-se a fatores pessoais, internos como algumas necessidades, curiosidade e prazer, sendo essa, a motivação denominada intrínseca. Qualquer indivíduo se envolve em uma atividade independente de terem incentivos ou punições, pela sua motivação interna, a atividade em si torna-se compensadora.

    Para Freitas (1994), a motivação intrínseca é baseada na realização, requer incentivo. Para isso, cita alguns meios que podem tornar a atividade atraente, fazendo com que os praticantes se interessem pela atividade. O autor aconselha que se utilize os incentivos verbais (feedback), materiais alternativos, materiais externos, como música, medalhas, viagens, camisetas, troféus, bonés, etc. Afirma que como o praticante terá contato com as recompensas, o esforço, a habilidade e a motivação intrínseca será maior, os praticantes se sentirão mais competentes e mais atraídos pela atividade proposta. Resumidamente, "é um meio eficaz, de se auxiliar a aprendizagem, despertando o interesse à medida que se expõem os valores".

    As teorias da motivação encontram-se ainda em fatores ambientais, externos como recompensas, pressão social, punição, sendo essa a motivação extrínseca. Nesse caso qualquer indivíduo faz alguma coisa para ganhar uma recompensa ou evitar uma punição, a preocupação não está na tarefa em si, mas no que se pode ganhar ou perder na tarefa realizada (SOUZA, 2001).

    Neste contexto o objetivo deste estudo é verificar a relação da motivação intrínseca com o tempo de prática, quantidade de treinos por semana e a pretensão de ser um atleta profissional no futuro de atletas de jiu-jitsu do sexo masculino.


Metodologia

    A amostra foi composta por 25 atletas de jiu-jitsu, do sexo masculino com idade média de 25,22 anos e desvio padrão 7,07 anos, participantes da 3ª Etapa do Circuito Paranaense de Jiu-Jitsu de 2006, realizado na cidade de Curitiba - PR.

    Para a coleta de dados foram usados dois instrumentos distintos: anamnese e Inventário de Motivação Intrínseca no Cenário do Esporte Competitivo (McAULEY; DUNCAN, 1989).

    Inicialmente foi distribuído o Termo de Consentimento Livre de Esclarecimento aos atletas, esclarecendo da sua participação voluntária, além de informar quais serão todos os procedimentos do estudo. Após o consentimento do atleta ele preencheu a anamnese e após a primeira luta ele respondeu o instrumento referente à motivação intrínseca.

    A anamnese compreendeu questões referentes a dados demográficos dos atletas. A motivação intrínseca é composta por 18 questões, em uma escala Likert com cinco alternativas (concordo totalmente, concordo parcialmente, concordo um pouco, discordo parcialmente, discordo totalmente) após a somatória de cada questão, optem-se o valor da motivação intrínseca.

    A análise estatística foi realizada através do programa SPSS 13.0. Foram empregadas análises descritivas (médias e desvio padrão) e uma correlação se Spearman para verificar a relação entre as variáveis.


Resultados e discussões

    Em relação à análise descritiva, observa-se na tabela 1, que os atletas apresentaram um tempo de prática médio de 29,92 meses (d.p. 40,00 meses); quanto a quantidade de treino por semana uma média de 3 vezes por semana (d.p. 0,86) e em relação a motivação intrínseca uma média de 67,84 (d.p. 11,78).

    A motivação intrínseca apresentada dos atletas é considerada moderada, isso pode ser em função da metodologia empregada pelo instrutor, pois se observa nas academias em geral, que as rotinas de treino são repetitivas, que implicam diretamente na motivação e permanência no esporte.

    Em relação à pretensão de ser um atleta profissional no futuro, 48% tem a intenção de ser um atleta de competição no futuro e 52% não tem esta intenção, conforme gráfico 1.

    O alto percentual de praticantes que não pretendem ser atletas profissionais no futuro, pode ser justificado pelo estereotipo do lutador, que apresenta uma identidade particular perante a sociedade. Através do estilo de vida, imagem e vestuário, sendo assim a prática do jiu-jitsu uma atividade física de lazer e sociabilização.

    Quanto a correlação entre as variáveis verificou-se uma correlação moderada e significativa (r=0,429, p=0,032) entre a motivação intrínseca e a quantidade de treinos por semana. Sendo que os atletas que apresentam maior motivação intrínseca participam em maior número de treinos por semana. Observa-se uma tendência inversa entre as outras variáveis. Conforme tabela 2.

    Esta correlação pode ser relacionada a iniciação na modalidade, pois os resultados nos mostraram que os atletas tem um tempo de prática inferior a três anos e com isso são considerados novatos.


Conclusões

    Visto alguns conceitos, formas e fontes de motivação, características dos atletas no esporte, na competição esportiva, conclui-se que os atletas desta amostra participam dos treinamentos com o objetivo de prática de atividade física (lazer), ratificada pelo resultado da freqüência média de apenas três treinos por semana e a intenção de não ser um lutador profissional no futuro.

    Observou-se que o tempo de prática apresentou uma relação com a motivação intrínseca, onde atletas iniciantes se mostram mais dispostos e interessados na busca do desenvolvimento técnico, evolução da graduação de faixas e participar de eventos competitivos de menor porte.

    Sugerem-se novos estudos em outros núcleos e atletas com graduação de faixas mais altas.


Referências

  • ALMEIDA, M.C.P. A característica de uma Educação Física sob o ponto de vista dos alunos em relação a motivação. Trabalho de conclusão de curso de Pós-graduação, PUCPR, 1992.

  • BARBANTI, V.J. Dicionário da Educação Física e do esporte. 2ª edição. São Paulo: Editora Manole, 2003.

  • BARROS, G.N.M. As Olimpíadas na Grécia Antiga. São Paulo: Editora Pioneira, 1996.

  • CRATTY, B. I. Psicologia do Esporte. 2ª ed. Rio de Janeiro: Prentice Hall, 1984.

  • FREITAS, G.F. Motivação em salas de academias. Trabalhos de conclusão de curso Pós-Graduação PUCPR, 1994.

  • GAMA, R.J. Manual de iniciação do judô. Rio de Janeiro: Grupo Palestra Sporte, 1986.

  • GRACIE, R. Brasilian Jiu-Jitsu. Rio de Janeiro: Ediouro, 2003.

  • HARROW, A.S. Taxionomia do princípio psicomotor: manual para elaboração de objetivos comportamentais em Educação Física. Rio de Janeiro: Globo,1972.

  • McAULEY, Edward; DUNCAN, Terry. Propriedades Psicométricas do Inventário de Motivação Intrínseca no Cenário do Esporte Competitivo. 1989.

  • ROBERT,L. Le Judo, Veviers. Editions Gerard & Co. 1964.

  • SAMULSKI, Dietmar. Psicologia de Esporte. 1ª edição. Editora Manole. São Paulo: 2002.

  • SOUZA, M.F.A. Projeto Pacto: considerações sobre fatores motivacionaisna aprendizagem de alunos. Dissertação de Mestrado. PUCPR, 2001.

  • VICENTINO, C. História Geral. São Paulo: Editora Scipione, 1997.

  • WEINBERG, R.S.; GOULD, D. Fundamentos da Psicologia do Esporte e do Exercício. 2ª edição. Porto Alegre: Artmed, 2001.

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