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Comparação entre impedância bioelétrica e
antropometria na avaliação corporal

   
*Aluna do Curso de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Ciências
do Movimento Humano da Universidade do Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC.
** Profª. Drª. do Departamento de Desportos Individuais e Coordenadora do
Núcleo de Estudos em Exercício Físico e Saúde da
Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, RS.
 
 
Cláudia Cruz Lunardi*
Daniela Lopes dos Santos**

claudia_lunardi@yahoo.com.br
(Brasil)
 

 

 

 

 
Resumo
     Este estudo teve como objetivo comparar o método de Impedância Bioelétrica (Hand-held) (BIA HH) e a Antropometria na estimativa do Percentual de Gordura (%G) de freqüentadores de academia. Foi utilizado para a estimativa do %G através da antropometria a equação de Petroski (1995) que utiliza 4 dobras cutâneas (subescapular, triciptal, supra-ilíaca e panturrilha). Fizeram parte da amostra, 43 sujeitos (homens e mulheres) freqüentadores de uma academia da cidade de Santa Maria, com idade entre 18 e 35 anos. Avaliou-se Idade (ID), Massa Corporal (MC), Estatura (EST), %G através da Antropometria e BIA HH. Utilizou-se o programa SPSS versão 8.0 para a análise estatística. O grupo estudado apresentou médias de 21,69 ± 3,48 anos para ID, 67,02 ± 11,97 kg para MC e 1,73 ± 9,24 m para EST. No método da BIA HH obteve-se a média de 17,7 ± 6,4, na Antropometria média foi 19,68 ± 6,01. A análise das correlações (Sperman) demonstrou que houve correlações significativas (r=0,865 e p=0,000) entre ambos os métodos. Entretanto, o Teste de Wilcoxon observou-se diferenças significativas entre as médias (p=0,000). Concluiu-se que o método da antropometria difere significativamente do método da BIA HH, recomendando-se utilizar sempre o mesmo método de avaliação com o aluno, para que, posteriormente, seja possível analisar e comparar as avaliações realizadas.
    Unitermos: Avaliação corporal. Impedância bioelétrica. Antropometria
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 11 - N° 101 - Octubre de 2006

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Introdução

    Ao ingressar em uma academia de ginástica ou musculação, o aluno passa por uma série de avaliações antropometricas e cardiológicas para saber qual a sua real condição física, e assim poder prescrever seu treinamento buscando atingir seu(s) objetivo(s).

    Para a realização de cada avaliação existe um aparelho ou técnica específico. No caso do %G é necessário fragmentar o corpo humano em quatro componentes: massa gorda, massa magra, massa residual e massa óssea. Para tal fragmentação a forma mais eficiente, direta e precisa é através da dissecação de cadáveres. Esta técnica analisa a quantidade de cada componente em cadáveres, a partir da analise bioquímica dos elementos químicos que formam o corpo humano. No entanto, poucos estudos foram realizados com cadáveres, pois a utilização desta técnica apresenta vários problemas de ordem ética e requerem materiais altamente sofisticados e profissionais capacitados para estas avaliações (Katch, Katch e McArdle, 1998).

    Outro método utilizado é o indireto. Esse utiliza medidas ou teorias advindas das avaliações do método direto, sendo bastante preciso e com alto grau de confiabilidade. A pesagem hidrostática e a absortometria de radiológica de dupla energia - densitometria óssea (DEXA) são exemplos de métodos indiretos, porém não são acessíveis a maior parte da população, pois precisam de um local especifico e altos custos (Katch, Katch e McArdle, 1998).

    O método duplamente indireto deriva de métodos diretos. Este modelo é o mais utilizado pelos profissionais de Educação Física em academias, clubes ou escolas. A análise de impedância bioelétrica (BIA) é um método rápido, não-invasivo e relativamente barato para avaliar a composição corporal de um indivíduo. Na análise, uma corrente elétrica de baixo nível é passada através do corpo do avaliado. Um exemplo de BIA é a Hand-held (BIA HH), onde há dois eletrodos (segurados pelas mãos) para condução da corrente elétrica (Katch, Katch e McArdle, 1998; Laurentino, 2000).

    As medidas antropométricas (massa corporal, estatura, dobras cutâneas, perímetros e diâmetros ósseos) utilizam equipamentos considerados de baixo custo, quando comparados com outros métodos, sendo de simples execução e alta correlação com os componentes corporais (Pollock, Wilmore e Fox, 1986).

    Uma vez que a BIA HH e a antropometria são métodos bastante utilizados pela população em geral, visa-se com este projeto comparar os escores de percentuais de gordura encontrados através da utilização da BIA HH e antropometria em homens e mulheres com idade entre 18 e 35 anos freqüentadores de academias.


Materiais e métodos

     Participaram das coletas 43 indivíduos com idade entre 18 e 35 anos, todos freqüentadores de uma academia de musculação da cidade de Santa Maria.

    As coletas foram realizadas dentro da própria academia em uma sala destinada a avaliação física dos alunos. Inicialmente realizou-se a mensuração da estatura (protocolo sugerido por Alvarez e Pavan, 1999) e massa corporal, em uma balança, Filizola, com precisão de 10 gramas e 1 centímetro.

    Em seguida estimou-se o %G via antropometria. Para tal utilizou-se a fórmula de Petroski (1995), validada pelo autor para a população estudada, que utiliza as dobras cutâneas subescapular, tríceps, supra-ilíaca, abdominal e panturrilha. Para a mensuração das dobras cutâneas utilizou-se o Plicômetro da marca Cescorf, com precisão de 0,1mm e o protocolo de Benedetti, Pinho e Ramos (1999).

    Posteriormente avaliou-se o %G via BIA HH com o aparelho Omron 302 seguindo as instruções do fabricante. Dados pessoais (Massa corporal, estatura, sexo e idade) foram adicionados ao instrumento. Conforme indicado, o avaliado posicionou-se em pé com as pernas levemente afastadas, os braços estendidos à frente, segurando o aparelho, perpendicularmente ao chão. O aparelho registrou a impedância de uma mão a outra e, em seguida, calculou o %G em segundos, baseado nos dados pessoais e no valor da impedância.

    Os dados foram avaliados no pacote estatístico SPSS versão 8.0. Para tal utilizou-se o Teste de Wilcoxon para amostras dependentes não normais.


Resultados e discussão

    A Tabela 01 apresenta as características do grupo estudado.

    Os dados apresentaram grande associação (r=0,865), no entanto, estatisticamente o método da BIA HH difere da Antropometria para estimar valores de %G (p=0,000).

     Estudos de Bohreri et al (2003) concluíram que não há diferenças significativas ao se estimar o %G de mulheres idosas por meio da BIA HH (dois eletrodos para condução da corrente elétrica) e do DEXA. Validando assim a BIA HH para avaliar a composição corporal de mulheres com idade entre 50 e 75 anos.

    Leite e Fagundes (2001) concluíram que o método da BIA é bastante adequado para ser utilizado na avaliação da CC de pacientes com anorexia nervosa. No entanto, as autoras não especificam o método de BIA utilizado.

    Ao comparar dois métodos de BIA (eletrodos em mãos e pés e eletrodos encostados nas solas dos pés) Pereira e Nascimento (2001) encontraram alta correlação entre ambos, entretanto, a estimativa da massa magra e da massa lipídica foi diferente entre sujeitos desnutridos e aqueles com sobrepeso e obesidade. Sugerindo uma criteriosa revisão das formulas para estimar a CC, particularmente entre desnutridos e obesos.

    Deuremberg e Deuremberg-Yap (2002) encontraram diferenças significativas na predição da gordura corporal entre o método de BIA HH e um modelo químico de quatro componentes (método de referencia) entre sujeitos chineses, malaianos e indianos com idade entre 18 e 69 anos. Sugerindo assim, muita atenção ao se interpretar dados da CC entre diferentes grupos étnicos.

    Neste trabalho, ao relacionar as variáveis %G BIA HH e %G Antropometria com a dobra cutânea do tríceps, encontrou-se grande associação entre as variáveis, sendo r=0,788 e r=0,909, respectivamente. Acredita-se que está associação deva-se ao fato de que a corrente elétrica do aparelho de BIA HH percorra somente os membros superiores do corpo humano.


Conclusão

    Existem poucos trabalhos na área da composição corporal que utilizam à impedância bioelétrica como método de análise dos fragmentos corporais, principalmente no que diz respeito à BIA HH.

    Esta pesquisa não teve como objetivo validar a utilização do BIA HH para a população estudada, visto que nenhum dos métodos é considerado padrão. Ambos são considerados duplamente indiretos, assim apenas compararam-se os valores encontrados nas duas formas de avaliação corporal.

    Embora os dados tenham apresentando grande associação (r=0,865), estatisticamente o método da BIA HH difere estatisticamente da Antropometria para estimar valores de %G (p=0,000). Assim, recomenda-se utilizar sempre o mesmo método de avaliação com o aluno, para que, posteriormente, seja possível analisar e comparar as avaliações realizadas.



Referências

  • ALVAREZ, B.R. e PAVAN, A.L. Alturas e comprimentos. In: PETROSKI, E.L. Antropometria, técnicas e padronizações. Porto Alegre: Pallotti, 1999

  • BENEDETTI, T.R.B.; PINHO, R.A. e RAMOS, V.M. Dobras cutâneas. In: PETROSKI, E.L. Antropometria, técnicas e padronizações. Porto Alegre: Pallotti, 1999

  • BOHRERI, T.S., RECH, C.R., LUNARDI, C.C., LOPES, L.F.D., SILVA, J.C.N. E SANTOS, D.L. Comparação entre diferentes métodos de avaliação da gordura corporal em mulheres idosas. Anais. IV Mercomovimento, p.64, 2003.

  • DEURENBERG, P. e DEURENBERG-YAP, M. Validation of skinfold thickness and hand-held impedance measurements for estimation of body fat percentage among Singaporean Chinês, Malay and Indian subjects. Asia Pacific J Clin Nutr. 11(1): 1-7, 2002.

  • KATCH, V.; KATCH, F.I. & McARDLE, W.D. Fisiologia do Exercício: energia, nutrição e desempenho humano. 4ª edição. Ed. Guanabara Koogan: Rio de Janeiro, 1998.

  • LAURENTINO, G.C. Respostas nos componentes da aptidão física e saúde do sexo masculino com idade entre 18-22 anos submetidos a programas de treinamento de sobrecarga. Dissertação de Mestrado, UNICAMP. São Paulo, 2000.

  • LEITE, C.M.B.A e FAGUNDES, R.L.M. Avaliação da composição corporal na anorexia nervosa por antropometria e bioimpedancia. Rev Bras Nutr Clin, 16:11-16, 2001.

  • PEREIRA, S. F. e NASCIMENTO, J.E.A. Impedância bioelétrica: comparação da estimativa dos compartimentos corporais por meio de dois tipos de equipamentos. Rev Bras Nutr Clin. 16:6-10, 2001.

  • PETROSKI, E.L. Desenvolvimento e validação e equações generalizadas para estimativa da densidade corporal em adultos. Tese de doutorado, UFSM. Santa Maria, RS, 1995.

  • POLLOCK, M.L.; WILMORE, J.H. & FOX, S.M. Exercício na saúde e na doença: Avaliação e prescrição para prevenção e reabilitação. Rio de Janeiro: Medsi, 1986.

Outro artigos em Portugués

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