Nao se conhecem com rigor as razões que fazem do Futebol um acontecimento de impacto sóciodesportivo sem precedentes, mas supõe-se que o equilíbrio entre a simplicidade, na forma como se pode jogar, e a complexidade, decorrente das diversas culturas futebolísticas próprias de cada país, sao ingredientes importantes. Pese embora algumas diferenças, a magia do jogo, resultante, em parte, da incerteza e da imprevisibilidade das situaçóes e do resultado, parece ser um denominador comum que move multidóes de adeptos epraticantes e suscita a adesão de inúmeros parceiros políticos e económicos.

     De facto, o Futebol, enquanto jogo, desporto e espectáculo, tem concitado a afiliação de largos milhares de habitantes do nosso planeta. Em 1984, estimou-se que, ao nível mundial, existiam perto de sessenta milhões de futebolistas federados e igual número de praticantes que participavam regularmente em competiçóes organizadas, de ambito regional ou local. Nos censos realizados pela FIFA, no verao passado, estimou-se que mais de 240 milhões de pessoas jogam habitualmente Futebol, enquanto que aproximadamente cinco milhões de pessoas exercem funções de arbitragem, ou actividades directamente relacionadas com o jogo. Se a estes dados adicionarmos o número de espectadores que habitualmente seguem os jogos, os jornalistas que diariamente cobrem os acontecimentos desportivos, os dirigentes e os elementos das equipas técnicas, entre outros, facilmente perceberemos que estamos em presença de um fenómeno de dimensão planetária.

     Nao causa, portanto, admiração que o Futebol seja, inquestionavelmente, a forma mais mediática de expressão desportiva, com múltiplas extensões a diferentes domínios da actividade humana. Todavia, esta expressão multitudinária impõe-lhe responsabilidades acrescidas, reclamando a sua afirmação nao apenas como espectáculo, mas também como meio de educação física e desportiva.

     Obviamente, com a inevitável especialização e as implicações do alto rendimento, marca do século XX, as exigencias no ambito do Futebol foram-se revelando maiores e mais refinadas. Deixou de ter sentido a prática pela prática, tornando-se necessário racionalizar os processos conducentes a eficácia. É neste contexto que o Futebol emerge como objecto de estudo complexo, mas apetecível, pois a necessidade de criar e sistematizar conhecimento transformou-se num imperativo para a evolução deste jogo.

     Nao sendo o Futebol uma ciência, o seu desenvolvimento está cada vez mais dependente dos contributos desta. Por isso, a tentativa de o observar e compreender, numa perspectiva científica, surge com o intuito de identificar os factores que estão associados a qualidade da sua prática.

     No limiar do século XXI, é possível dispor de centenas de estudos de natureza científica tendo como objecto de estudo o Futebol, atravessando diferentes áreas de interesse, facto que se consolida a medida que esta modalidade desportiva reafirma a sua inclusao nos planos curriculares de Faculdades, Escolas Superiores e Institutos de Ciencias do Desporto, um pouco por todo o mundo.

     Este livro resulta de uma compilação de estudos universitários realizados em dois países que se tocam geograficamente, Portugal e Espanha, ten do como preocupação central o Futebol.

     Esperamos que o seu conteúdo possa contribuir para ilustrar algumas facetas relativas ao conhecimento deste jogo, e sobretudo da lógica que governa a sua evolução. Nao obstante a abordagem científica dos temas, os seus autores partilham a paixao pelo Futebol, pelo que se sentirao sumamente gratificados se esse contributo se efectivar.

Júlio Garganta, jgargant@fcdef.up.pt
Faculdade de Ciencias do Desporto e de Educação Física
Universidade do Porto. Portugal

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