Lazer e envelhecimento saudável: um recorte sobre a relevância dos conteúdos culturais Leisure and healthy elderly: a example about the relevance of the cultural contents |
|||
*Bolsista de Iniciação Científica **Mestre em Educação Física NEAFIS UESB/JEQUIÉ-BA (Brasil) |
Nelba Reis* nelbaef@yahoo.com.br Themis Soares** themiscris@yahoo.com.br |
|
|
|
|||
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 11 - N° 99 - Agosto de 2006 |
1 / 1
Introdução
Considerando que a transição demográfica brasileira vem ocorrendo rapidamente, e que o processo de envelhecimento e suas relações tem sido centro de interesses das mais diversas áreas de estudo, observa-se em nível global as preocupações e repercussões sociais desse fenômeno. O aumento significativo da população idosa, continuamente revela uma extensão do tempo médio de vida destes indivíduos. No Brasil, as projeções para o período de 2000 a 2025 permitem supor que a expectativa média de vida estará próxima de 80 anos, para ambos os sexos (KALACHE, 1987 apud GUERRA, 2002, p.209).
Neste contexto, Camarano (2003) considera que comparados aos demais grupos etários, na última década, a população idosa foi a que mais cresceu. Isto leva ao chamado envelhecimento populacional e ressalta que há uma maior predominância da população feminina entre os idosos, visto que é resultado da maior mortalidade masculina. Essa predominância tem repercussões importantes nas demandas por políticas públicas, pois se acredita que a maioria dessas mulheres atualmente sejam viúvas, sem experiência de trabalho no mercado formal, além de experimentar piores condições de saúde.
Sob estas considerações e com base no número de participantes envolvidas em grupos de terceira idade, em Jequié - BA não é diferente. Estima-se um número de 469 mulheres idosas entre as que participam da Associação de Amigos, Grupo de Convivência e Universidade Aberta à Terceira Idade (AAGRUTI), projeto da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB). Debert (1999) considera que este predomínio do público feminino nesses grupos relaciona-se a questão das mulheres buscarem mais novas redes de relações sociais e formas de preenchimento do tempo livre.
Diante desse quadro, e aos fatores relacionados com à saúde, Ramos (2003) diz que, na verdade, o que está em jogo na velhice é a autonomia, ou seja, a capacidade de determinar e executar seus próprios desígnios. Qualquer pessoa que chegue aos oitenta anos capaz de gerir sua própria vida e determinar quando, onde e como se darão suas as atividades de lazer, convívio social e trabalho (produção em algum nível) certamente será considerada uma pessoa saudável.
Sob este olhar, é possível observar a importância de estudar sobre o lazer e envelhecimento, considerando que o lazer é um fenômeno multidisciplinar, que poderá possibilitar mudanças nas condições de vida e comportamento dos indivíduos, para que possam viver sem perda significativa de qualidade e de participação social. Desse modo, é possível pensar no idoso como ser ativo e atuante passível a vivenciar novas experiências.
Assim, o estudo se desenvolverá com base no seguinte questionamento: Quais são as contribuições dos conteúdos do lazer no processo de envelhecimento? Na tentativa de responder este questionamento e poder contribuir no seguimento do curso de vida dessas pessoas é que esta investigação será realizada.
EnvelhecimentoO envelhecimento populacional é um fenômeno mundial e nos dias atuais é possível observar rápido crescimento desta população. De acordo com Costa (2001, p.5) "No Brasil estima-se que em 2020 o seguimento de pessoas idosas corresponderá a 13% da população brasileira, atingindo um total de 13,5 milhões de idosos".
Neste contexto, considera-se que este aumento vem ocorrendo em virtude da diminuição da taxa de natalidade e mortalidade promovida respectivamente pelo planejamento familiar e avanços tecnocientíficos na medicina e nutrição; assim como, as melhorias das condições de higiene e saneamento básico reduziram a incidência de mortes por doenças infecto-contagiosas que assolavam as populações, principalmente até o século XVIII (VERAS, 1994 apud FARIA JUNIOR, 1999, p.11).
O envelhecimento é considerado um processo lento e gradual e ocorre em diferentes ritmos para diferentes pessoas e grupos conforme atuam sobre essas pessoas e grupos as influências genéticas, sociais, históricas e psicológicas do curso de vida. Ele é, porém, universal, isto é, ocorre em todos os seres vivos (Vitta, 2000, p.18). O referido autor ainda ressalta que nesse sentido, as modificações (biológicas, sociais, psicológicas, culturais) que ocorrem ao longo do tempo podem ser consideradas determinantes quando algumas alterações fisiológicas são evidenciadas, tais como: alterações tegumentares, do sistema músculoesquelético, respiratório, cardiovascular, sistema nervoso.
Néri (1995) considera que um envelhecimento bem sucedido relaciona-se com a maneira pela qual um idoso consegue adaptar-se as diversas situações de ganhos e perdas com as quais se depara, podendo ser estas perdas significativas vivenciadas pelo idoso, a aposentadoria, mudança de papéis sociais, viuvez, doenças, perdas de entes queridos, alterações na própria auto-imagem, dentre outras.
Em nossa sociedade a velhice tende a ser vista como um período dramático, associada à invalidez e a morte, e sendo assim, Mendes (2000, p.20) afirma que: "Se no passado o status e o prestígio dos idosos era elevado, nos últimos anos, à medida que este processo de urbanização se amplia, também aumenta a discriminação dirigida às pessoas idosas, subestimando-se a sabedoria e o conhecimento acumulado no decorrer de suas vidas".
Em linhas gerais, este olhar sobre a imagem dos idosos na sociedade, contribui muitas vezes para que o próprio idoso tenha um autoconceito negativo, já que a sociedade tenta moldar o envelhecimento aos padrões do sistema organizacional, a partir de suas normas e dos seus ideais humanos. A discriminação social faz com que muitos idosos sejam destinados ao isolamento e a uma atitude passiva, comprometendo sua saúde física, mental e social.
Entretanto, salienta-se a necessidade de compreender em que implica o lazer e seus conteúdos no processo de envelhecimento dos indivíduos considerando-o, como um dos elementos que podem influenciar na qualidade de vida, e sendo relevante a sua inserção ao longo da vida.
LazerÉ possível perceber na atualidade que as pessoas tem-se evoluído para uma valorização de fatores como satisfação, realização pessoal, qualidade dos relacionamentos, opções de lazer, entre outros, relacionado à qualidade de vida. Nahas (2003). Nesse sentido, ao admitir a importância do lazer na vida, torna-se pertinente considerá-lo um tempo privilegiado para a vivência de valores que contribuam para mudanças de ordem moral e cultural.
Segundo Dumazedier, (1973, p.34) "O lazer é um conjunto de ocupações às quais o indivíduo pode entregar-se de livre vontade, seja para repousar, seja para divertir-se, recrear-se e entreter-se ou, ainda, para desenvolver sua informação ou sua formação desinteressada, sua participação social voluntária ou sua livre capacidade criadora, após livrar-se ou desembaraçar-se das obrigações profissionais, familiares e sociais".
Nesse sentido, o LAZER como expressão da cultura e tempo liberado das obrigações sociais, pode se constituir num espaço de emergência de valores e concepções permitindo a "sobrevivência dos valores humanos no homem", em que deve ser almejado um equilíbrio entre sua função e sua forma (Brunhs, 1997).
Ainda nesse contexto, Marcellino (1990, p.32) define o lazer "como cultura compreendida no seu sentido mais amplo vivenciada (praticada ou fruída) no tempo disponível", sendo que não há contraposição com o trabalho, mas sim uma estreita relação com o mesmo e as demais esferas de obrigação da vida social, combinando os aspectos tempo e atitude no valor da atuação no plano cultural.
É notável a importância e o espaço que o lazer vem conquistando nas duas últimas décadas, recebendo contribuições das mais diversas áreas de conhecimento. Mas, de que lazer tanto se fala e que vivências são essas tão discutidas? O lazer, como fenômeno estreitamente relacionado com o processo de urbanização, deve ser analisado tendo como parâmetro sua inserção na análise da dinâmica cultural da sociedade moderna que, por sua vez é favorecido nas camadas mais privilegiadas da população, impossibilitando entre outros motivos que, as camadas de baixa-renda usufruam as muitas possibilidades.
Sendo assim, na esfera da democratização cultural do LAZER, é necessária a participação efetiva da população envolvida, a fim de que esta possa se reconhecer através dos problemas apresentados. Sob este olhar, Andaki e Silva (2002, p.1) comentam em seu estudo que:
"[...] a responsabilidade de propiciar à população a vivência do lazer é prioritariamente do Estado, é o poder público quem deve elaborar e executar ações, e que estas sejam preferencialmente planejadas com a participação dos cidadãos, para que estes se sintam co-autores, dividam a responsabilidade com os gestores, exerçam sua cidadania, e ainda tenham políticas que atendam verdadeiramente seus interesses".
Existem tendências ou correntes que incluem várias explicações, e sobre o Lazer e Educação percebe-se um elo, na medida que o profissional promove um tipo de intervenção pedagógica peculiar ao se comparar a outras formas de educar (Mello, 2003; p.52). O autor supra citado diz que, entre as possibilidades que contribuem no processo de intervenção educacional, estão: a busca de novas formas de encarar a realidade social, pelo acesso a novas linguagens culturais; a percepção da necessidade de equilíbrio entre consumo e participação direta no movimento de lazer; a recuperação de bens culturais destruídos em resultado da ação da indústria cultural, e a própria humanização do indivíduo, que passa a se entender como agente e não somente paciente do processo social.
É sabido que existe vários agrupamentos de funções de lazer decorrentes da riqueza das formas da sua realização, logo, nesse estudo consideraremos as funções que se relacionam com o desenvolvimento total da pessoa ao longo da vida, na qual (Bruhns, 1997, p.95 e 96) distingue como: Funções Educativas, que se caracteriza pela ampliação de conhecimentos e busca de novas experiências; Ensino, que se relaciona à assimilação de novos conhecimentos; Integrativas, objetiva a formação ou solidificação de grupos (familiares, amizades) com interesses comuns; Recreativas, as quais as atividades promovem o descanso psicológico e físico; Culturais referentes à compreensão dos valores culturais ou à criação de novos e a função Compensadora, a qual diz respeito à realização de atividades em que as pessoas viveriam e que nas outras situações não poderiam ser realizadas. Pode-se assim então perceber a amplitude das funções do lazer, tendo ele não somente o caráter de repouso e descanso.
Na relação com a longevidade, é freqüente a associação entre esses conteúdos, só que não há estudos que comprovem essa realidade. Segundo Marcellino (1996, p.44) pesquisas realizadas, tanto na Europa, quanto nos Estados Unidos dão conta que os idosos são, comparativamente às pessoas de outras faixas etárias, os que menos freqüentam equipamentos de lazer, ou participam de atividades. E no Brasil, por não apresentar estudos relevantes nessa área, a situação não é muito diferente.
Por outro lado, é interessante ressaltar que o ingresso nesse período do envelhecimento vem acompanhado por um imenso tempo livre. Sendo o direito ao tempo livre uma conquista, tão almejada durante toda a vida, ela termina não sendo valorizada pelo idoso, que está acostumado a um ritmo de vida ativo, objetivando a produção, que ocupa a maior parte seu tempo. Essa situação é subsidiada pelo contexto social vivido, o da sociedade capitalista, que considera o idoso um ser incapacitado e improdutivo, excluindo - o, já que ela valoriza o lucro, preferindo, portanto o sujeito participativo e ativo. Debert (1992, p.41, versão atualizada) ressalta que, a sociedade moderna não prevê um papel específico ou uma atividade para os velhos, abandona-os a uma existência sem significado.
Entretanto, convém ressaltar que a sociedade educa os indivíduos, principalmente, para preencherem o tempo de trabalho e não levam em consideração as vivências adquiridas durante o tempo de não trabalho. Em conseqüência disso, a aposentadoria vem acompanhada de desvalorização social, tornando-se um período indesejável, carregado de preocupação, sendo mal aproveitado. Veras (1999, p.7) adverte que " a aposentadoria tem sido o selo da velhice e da inutilidade social."
É preciso considerar também a existência de outras barreiras para a prática do lazer, além da já referida (o valor da produção como centro da vida). Os bens e serviços de lazer não são acessíveis a todos os idosos. "Existem barreiras inter e intraclasses sociais, formando um todo inibidor que dificulta o acesso ao lazer não só quantitativamente, mas, sobretudo qualitativamente. "(MARCELLINO, 1996, p.9).
As condições econômicas funcionam como um obstáculo para o lazer uma vez que acontece uma queda na renda dos idosos a partir do momento em que se aposentam, principalmente para aquelas que possuem apenas a aposentadoria como recurso financeiro, vivem em dificuldades econômicas, pois os gastos com atendimento médico e remédios consomem boa parte da renda. Segundo Marcellino (1996, p.30) "O fator econômico é socialmente determinante desde a distribuição do tempo disponível entre as classes sociais até as oportunidades de acesso à escola e contribui para uma apropriação desigual do lazer".
Outro fator limitante é o relacionado à falta de espaços específicos e equipamentos para o lazer, parece haver uma tendência à privatização, a qual os espaços, inclusive as áreas verdes tornaram-se produtos do mercado, "Quem não pode pagar pelo estádio, pela piscina, pela montanha, pelo ar puro, pela água, fica excluído do gozo destes bens que deveriam ser públicos porque são essenciais". (SANTOS, 1995 apud MARCELLINO, 1996, p.32). Atrelado a isto se encontra a localização destes espaços nem sempre são de fácil acesso aos idosos, tendo eles muita dificuldade de locomoção, além da falta de informação em relação a esses espaços aos equipamentos de lazer.
A quantidade de tempo livre é outra barreira, embora, é sabido que esta realidade não atinge a todos, é preciso levar em consideração que além da inserção dos idosos no trabalho informal existem também algumas obrigações familiares que limitam o tempo que poderia ser destinado ao lazer. Ainda nessa linha de pensamento, a religião também tem grande influência na vivência dos momentos de lazer, porque está relacionada ao tempo que ocupa na vida dos idosos e devido à própria natureza das diferentes religiões, que encaminham e estimulam diferenciadas formas permitidas de "diversão". Deve-se considerar também as complicações relacionadas à saúde. Melo (2003).
Nesse sentido, o autor supra citado também destaca que, não se pode deixar de reconhecer as questões de gênero, já que as mulheres idosas muitas vezes não tem acesso e oportunidade de vivência de momentos de lazer (devido às restrições culturais advindas do preconceito), assim como enquanto jovens não tiveram, pois tinham que se dividir entre as tarefas do lar e do trabalho formal, e ainda mesmo na velhice continua a ser de sua responsabilidade grande parte das tarefas doméstica.
Portanto, faz-se necessário minimizar para o idoso as barreiras de acesso ao lazer, uma vez que a inserção do lazer na vida desses indivíduos constitui-se como uma prática relevante, na medida que por meio do lazer pode desenvolver-se pessoalmente assim como refletir e intervir na realidade em que estão inseridos.
Conteúdos culturais do lazerO lazer apresenta um extenso conjunto de atividades para as mais diversas faixas etárias, que atende aos variados interesses; baseando-se no princípio do interesse cultural central de cada atividade, os conteúdos podem ser classificados segundo Marcellino (1996) em Interesses Manuais, Intelectuais, Físicos, Artísticos, Turísticos e Sociais.
Nesse contexto, tendo em vista os conteúdos do lazer, nota-se a importância do acesso dos idosos a essa prática social que influencia o desenvolvimento pessoal dos indivíduos, trazendo benefícios aos três níveis de envelhecimento, biológico, psicológico e pessoal. Segundo o autor supra citado (p.19), a vivência desses conteúdos no tempo disponível possibilita: a exercitação do corpo, da imaginação, do raciocínio, da habilidade manual e estimula o relacionamento social.
A partir dessas considerações, observa-se que entre os vários sistemas afetados pelo processo de envelhecimento, o sistema locomotor apresenta as alterações mais comuns e exerce grande influência na qualidade de vida da pessoa idosa, sendo uma das conseqüências mais crítica, a perda da força muscular. Sendo assim, convém ressaltar o que vem a ser a capacidade funcional, quando tem sido conceituada como a habilidade que o indivíduo possui para desenvolver atividades necessárias para o seu bem - estar, isto é, a capacidade ou habilidade que o indivíduo possui para desempenhar atividades ou tarefas da vida diária (Guerra, 2000).
Para Nahas (2003) a atividade física pode promover o aumento da capacidade muscular, melhora do equilíbrio, flexibilidade, coordenação e velocidade da marcha. As atividades de lazer nas quais prevalecem os movimentos permitem a exploração de diversas práticas corporais, visando o bem-estar físico e o aprimoramento da capacidade funcional. Os passeios e as caminhadas são atividades difundidas entre as pessoas idosas. (Dumazedier,1999).Sendo assim, a melhora da condição física está diretamente ligada ao fortalecimento da auto-estima, a manutenção da autonomia e ganhos referentes a autopercepção oriundos da consciência corporal. Lorda (1995).
Nas atividades manuais que envolvem o bordado, artesanato com materiais recicláveis, a costura, a culinária, dentre outras, o prazer está fundamentalmente vinculado à manipulação de objetos e produtos. Estas atividades ajudam a desenvolver a motricidade fina e a concentração dos idosos, além de representarem a oportunidade de descoberta de novas habilidades e incentivo à criatividade.
O conteúdo social do lazer revela-se extremamente importante nessa época da vida, porque os idosos sentem-se solitários com o decorrer do tempo, pois sofrem determinadas perdas e sentem o preconceito da sociedade. Esse interesse refere-se aos relacionamentos e convívio sociais e a participação dos idosos em vivências que o priorizem, incentivam os relacionamentos, reforçam os laços de amizades, melhora a auto-estima, afetividade e bem-estar. A roda de conversa, visitas feitas ou recebidas, os lúdicos dos jogos e das brincadeiras são exemplos de atividades que contemplam o referido conteúdo. O conteúdo artístico também exerce grande influência na vida das pessoas, mas ao considerar este conteúdo se faz necessário entender que a arte não está presente só nos museus, cinemas, teatros, artes plásticas, há também arte na cultura popular, nas tradições folclóricas, na literatura de cordel, assim como dentro de nós. Melo (1999).
A oportunidade dos idosos vivenciarem esta dimensão do lazer revela-se pertinente, principalmente quando lhes dão a oportunidade de compartilhar as suas memórias, em especial quando é possível compartilha-las com outros detentores de lembranças dos mesmos fatos e épocas. Barroso (1999, p.34) afirma que "a pessoa idosa, depositária de informações acumuladas, deveria ter oportunidades de ser transmissor de cultura, de tradição, de folclore, de dança, de canto, transmissor de toda memória cultural". Dessa forma, as pessoas de mais idade inseridas num grupo sociocultural, podem afirmar a sua própria identidade, ampliar as fronteiras do seu valor reconhecerem-se como participantes da vida atual, revelando que as informações que possuem são preciosas e, portanto o meio social deve se interessar por elas, acolhendo-as como significativas. (Néri, 1995).
As atividades de cunho intelectual, segundo Melo (1999) são muito procuradas por grupos organizados de idosos, porque após a aposentadoria eles tem a oportunidade de atender a certos desejos que no decorrer da vida não foram desenvolvidos. A participação em palestras, cursos, leitura de jornais e revistas, a conversação, as atividades em que se joga xadrez, dama, gamão, são vivências nas quais os idosos buscam o prazer, assim como também nas atividades turísticas de lazer como visitas a museus, a monumentos, desenrolar das paisagens de regiões nas viagens e férias.
Verifica-se que há necessidade da população idosa conhecer e vivenciar estes conteúdos, sendo importante à fomentação da participação e a orientação básica que os permita optar pelas alternativas que o lazer oferece. Para Melo (2003, p.70), o lazer é um campo multidisciplinar e devem ser encaminhadas atividades ligadas aos mais diversos campos possíveis, às mais diversas "linguagens". Nota-se a presença na terceira idade, de um crescente apetite de realizações dentro do lazer, relacionadas a fantasias, curiosidades que não puderam ser plenamente satisfeitas no tempo do trabalho e das responsabilidades da idade madura.(Dumazedier, 1999).
Portanto, faz-se necessário a compreensão de que o lazer é um direito de todos, inclusive dos idosos, sendo uma das dimensões sociais de alto significado para o desenvolvimento pessoal e coletivo. Assim sendo, torna-se relevante o estímulo a discussões e reflexões das mais diversas áreas de conhecimento, dentre elas a Educação Física, a cerca dessa temática, no sentido de educar a comunidade, em especial, os idosos, para a apropriação dessa prática. Estas iniciativas podem materializar-se através da organização e reivindicação pelos direitos, destacando a necessidade da implementação de políticas públicas de lazer que contemplem as necessidades não só dessa faixa etária, assim como as demais.
Considerações geraisVisto que a população idosa no Brasil vem crescendo, percebe-se a necessidade de preparação da sociedade para atender as pessoas dessa faixa etária, que freqüentemente são excluídas Nesse sentido, nota-se a importância das discussões em torno do lazer principalmente nos cursos de graduação em Educação Física, vinculados ao ensino e a pesquisa, bem como considerar a relevância dos conteúdos culturais na vida desses indivíduos.
Com base no corpo teórico, torna-se evidente que é preciso possibilitar que os indivíduos envelheçam com autonomia e independência, com permanência ativa na perspectiva de qualidade de vida. Nesse sentido a investigação acerca das contribuições dos conteúdos do lazer no processo de envelhecimento revela-se pertinente, sinalizando em mais uma possibilidade de estudo voltada para esta população.
Portanto, é válido ressaltar a importância da inserção da prática do lazer na vida dos idosos, já que o mesmo pode despertar nos mesmos a capacidade de estabelecer novas e significativas relações sociais assim como possibilidades para o exercício da cidadania, que perpassa pela questão de exigir uma política social que atenda a esta demanda.
Referências bibliográficas
ANDAKI, Alynne Christian Ribeiro & SILVA, Silvio Ricardo. O lazer e seus conteúdos culturais em uma política Municipal- um estudo de caso. 14 ENAREL. 13 a 16 de Nov. (2002) UNISC. Santa Cruz do Sul - RS. Brasil. (On line) Acessado em 05/05/05 www.efdeportes.com.br
BARROSO, Maria José da Rocha. A iniciativa pública e Privada nos serviços de saúde, Educação, Cultura e Lazer. Revista Terceira Idade, n 1, SESC - São Paulo, 1999.
BRUHNS, Heloísa Turini (Org). Introdução aos Estudos do lazer. Campinas, SP: Editora da UNICAMP, 1997.
CAMARANO, Ana Amélia. Mulher idosa: suporte familiar ou agente de mudança? ESTUDOS AVANÇADOS 17 (49), 2003.
COSTA, Lúcia Vânia Abraão. Política nacional do idoso: Perspectiva governamental. In: Anais do I Seminário Internacional - Envelhecimento Populacional: Uma agenda para o final do século. Brasília: MPAS, SAS, 1996.
DEBERT, Guita Grin. A construção e a reconstrução da velhice.Família, Classe Social e etnicidade. Versão atualizada do artigo "Família, classe social e etnicidade". Um balanço da Bibliografia sobre a experiência do envelhecimento publicado no Boletim Informativo e Bibliografia de Ciências Sociais, n 33, rio de Janeiro: Anpas, Relume-Dumará,1992.
DUMAZEDIER, Jofre. Lazer e Cultura Popular. Ed. Perspectiva S. A. 1973, São Paulo.
DUMAZEDIER, Jofre. Sociologia Empírica do lazer. 1914. MAZZA, Silvia; GUINSBERG, J. (trad).São Paulo: Perspectiva, SESC, 1999.
GUERRA, Ricardo Oliveira. Cultura e Contemporaneidade na Educação Física e no Desporto. E agora? São Luís: Coleção Mata da Casa. Ed. Especial, 2002.
LORDA, Raul. C; SANCHEZ, Carmem Delia. Recreação na Terceira Idade. Editora Sprint. Rio de Janeiro,1995.
MARCELLINO, Nelson Carvalho. Estudos do lazer: Uma Introdução. Campinas, SP. Editora Autores Associados, 1996.
MARCELLINO, Nelson Carvalho. Lazer e Educação. 2 ed. Papirus. Campinas, 1990.
MELO, Victor Andrade. Lazer e minorias sociais. São Paulo: IBRASA, 2003.
MELO, Victor Andrade; ALVES, Junior; DRUMMOND, de Edmundo. Uma Introdução ao lazer. Barueri, São Paulo: Editora Sprint, 1999.
MENDES, Patrícia M. Teixeira. Cuidadores heróis anônimos do cotidiano. In: KARSCH, Ursula Margarida (org). Envelhecimento com dependência: Revelando Cuidadores. São Paulo: EDUC, 1998, 4 Ed, Rio de Janeiro: Interamericana, 1985.
NAHAS, Marcus Vinicius. Atividade Física, Saúde e Qualidade de Vida: Conceitos e Sugestões para um estilo de vida ativo. 3 ed.rev e atual. Londrina: Midiograf, 2003.
NERI, A.L. Psicologia do Envelhecimento. Campinas, Papirus, 1995.
RAMOS, Luis Roberto. Fatores determinantes do envelhecimento saudável em idosos residentes em centro urbano: Projeto Espidoso, São Paulo -in Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 19(3): 793-798, mai-jun, 2003.
VERAS, Renato Peixoto. O Brasil envelhecido e o preconceito social. VERAS, Renato Pereira, Rio de Janeiro, Relume-Dumará, UERJ, UNATI, 1999.
VITTA, Alberto. Atividade Física e Bem-Estar na velhice. In: NERI, Anita Liberalesco; FREIRE, Sueli Aparecida (Org). E por falar em boa velhice. Campinas, SP: Papirus.P.81-89.
revista
digital · Año 11 · N° 99 | Buenos Aires, Agosto 2006 |