Futebol: metodologia de treinamento utilizada na equipe juvenil do Progresso F. C. |
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Especialista em Treinamento Desportivo - UEL Bacharel em Ciência do Esporte - UEL (Brasil) |
Daniel Medeiros Alves dmaesportes@yahoo.com.br |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 11 - N° 99 - Agosto de 2006 |
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Introdução
Atualmente está cada vez mais difícil preparar bem uma equipe de futebol, devido ao pouco tempo disponível para preparação, o elevado número de jogos e o compromisso com o desempenho. Segundo Forteza (2001), até a década passada o atleta dispunha de um período pré-competitivo relativamente suficiente para entrar no período competitivo. Porém hoje as competições não se concentram mais em um período, aparecendo durante praticamente o ano todo. No futebol isso é uma realidade com a qual nos deparamos na prática.
Muitos autores (Weineck, 2000; Bompa, 2004; Verkoshanski 2001; Zakharov, 2003; Barbanti, 1996) entre outros, norteiam o conhecimento e as ações em muitos profissionais que lidam com treinamento físico. Porém essas orientações ainda são baseadas em período pré-competitivo, competitivo e transição, pois esse é o modelo lógico de preparação.
A dificuldade está, então, no fato de que as competições, não são elaboradas sobre um modelo lógico. Ela baseia-se em outros critérios, que não são relacionados ao desempenho atlético e desportivo. No caso específico do futebol, o calendário tornou-se um eterno jogar.
Embora, a categoria Juvenil apresente características diferentes, seu calendário também é baseado no do adulto, pois é organizado pela mesma federação e os clubes que participam, na sua maioria, são os mesmos. O número de jogos é relativamente reduzido em relação aos principais times profissionais, porém o período de duração dos campeonatos é semelhante.
Período Pré-CompetitivoO período pré-competitivo é o que antecede o início da ou das competições. Para Zakharov (2003) é nesse período em que se desenvolve o estado do atleta e é possível eliminar os pequenos defeitos na preparação do mesmo. Ou seja, um período onde se desenvolvem as capacidades biomotoras importantes para esse determinado atleta e onde ainda é possível avaliar e corrigir possíveis falhas. Acredita-se que o tempo necessário para uma boa preparação é em torno de 8 semanas (Weineck, 2000).
Não duvidamos que isso seja verdade porém nos deparamos com o seguinte problema: tínhamos 4 semanas disponíveis para o período pré-competitivo, antes do primeiro jogo do ano. Então como selecionar o que seria importante para a preparação da equipe? Não haveria tempo para desenvolver a forma física de forma geral, para assim partir para o específico, começar com volumes altos e depois aumentar a intensidade em detrimento do volume de treino.
De acordo com o modelo sugerido por Forteza (2001), o volume de treino destinado às capacidades determinantes é sempre superior ao das capacidades condicionantes, variando apenas a razão entre elas, de acordo com o tempo disponível. Como não havia condições de se orientar o treinamento para uma determinada capacidade (em bloco) ou trabalhar da maneira tradicional (Curva Volume X Intensidade) procurou-se selecionar o que seria de maior importância para o decorrer do treinamento.
Dessa forma, mostraremos graficamente o que foi realizado no período pré-competitivo.
Os quadros acima representam os 4 microciclos do período pré-competitivo, até o dia do primeiro jogo. Embora a princípio não pareça coerente ou pareça confusa, a orientação do treino ao desenvolvimento de múltiplas capacidades biomotoras, foram determinados objetivos para as seguintes capacidades: Força, Velocidade e resistência. À flexibilidade, erroneamente, foi dada pouca ênfase.
Força: Trabalhada na sala de musculação.
Resistência de Força - 3 a 5 séries de 15 a 20 repetições (carga moderada e velocidade de execução baixa);
Força Máxima - 2 séries até a exaustão (carga alta e velocidade de execução moderada);
Potência Muscular - 1 série de 8 a 10 repetições (carga alta e velocidade de execução alta).
Força de Sprint - reboques (elástico), no campo.
Resistência: Trabalhada no campo.
Especial - Circuitos com deslocamentos laterais, de costas, frente, saltos, variação de velocidade, com bola etc.
Resistência Aeróbia - Método Intervalado intensivo, com tiros curtos de alta intensidade ex. 5 x 1000m, etc.
Resistência Anaeróbia - Juntamente com a resistência aeróbia, trabalhando de forma mista;
Resistência de jogo - pequenos jogos com ações interligadas, ex. ao tocar a bola deslocar-se até um cone e voltar para o jogo, etc.
Velocidade: Trabalhada no campo.
Velocidade de Deslocamento - Método de repetição, circuitos de ações curtas e variadas (3 a 5 seg) com intervalos grandes;
Velocidade de Reação - jogos onde era dado um determinado estímulo (visual, auditivo, bola, etc) em oposição ao adversário;
Velocidade de Jogo - Pequenos jogos, campo reduzido, limite no nº de toques e etc.
Esse quadro representa o mesociclo de preparação em relação à solicitação neuromuscular (Força) e cardiorrespiratória (Resistência)
Surpreendentemente, houve uma melhora considerável no resultado dos testes após esse período de preparação. Porém ficava claro que não seria possível manter os níveis atingidos por muito tempo. Os testes utilizados foram: a corrida de 12 minutos (Cooper), onde posteriormente foi calculado o VO2 estimado para testar a capacidade de resistência; o tempo em corrida de 30 metros, para testar a velocidade; e a distância no salto sêxtuplo, para testar a força/potência de salto nos membros inferiores.
Não foi adotado nenhum tratamento estatístico, apenas estatística descritiva para gerar as médias em cada teste. Os valores correspondem aos testes realizados no início e ao fim da preparação (período pré-competitivo).
Houve uma queda na média de tempo para a corrida de 30 metros, e aumento no VO2 máximo e distância de salto sêxtuplo. Os resultados foram considerados satisfatórios e o desempenho da equipe nos primeiros jogos, também foi bom.
Período CompetitivoEmbora já houvesse iniciado a competição, seria necessário ainda seguir com treinamentos mais intensos pois, 4 semanas de preparação não seriam suficientes para manter o desempenho durante toda competição.
Procurou-se então, seguir num processo de aquisição (embora já em disputa) durante mais 2 ou 3 semanas, da seguinte forma: Os jogos durante esse período de tempo seriam apenas nos fins de semana o que ainda permitiu uma preparação no início da semana.
Durante os 3 primeiros dias do microciclo eram dadas cargas intensas, porém com volume ainda abaixo do volume de jogo, mas com intensidade próxima ou superior. Ao fim da semana tanto a intensidade, quanto o volume caíam.
O gráfico acima representa as cargas de treinamento e a dinâmica de adaptação onde a fase de recuperação ocorre nos dias que antecedem ao jogo (quinta e sexta-feira), para que o jogo ocorra na fase de supercompensação, minimizando assim os efeitos negativos do treinamento no desempenho do jogo. Portanto, dessa ótica os jogos passaram a fazer parte do treinamento e foram "encaixados" na periodização, sendo possível ainda seguir com o aprimoramento das capacidades biomotoras.
Essa metodologia foi prolongada até o final das competições do semestre, e os resultados dos jogos foram considerados satisfatórios. Os treinos passaram a ser cada vez mais específicos, onde foi priorizado o método de jogo para manter os índices adquiridos.
O teste 3 da tabela demonstra a média dos resultados encontrados na fase final do período competitivo, demonstrando aparentemente os mesmos índices do início das competições.
Logicamente, esses testes não são suficientes para determinar a forma física dos atletas, porém são indicativos de que algumas variáveis foram desenvolvidas e depois mantidas. A confiabilidade dos testes também não permite tal afirmação, pois os testes de campo estão sujeitos a vários fatores, como alterações no clima ao longo do macrociclo, temperatura e umidade, e também ao fato de que alguns atletas podem estar sujeitos a influência de treinamentos (fase de recuperação), alimentação e hidratação. Não é objetivo deste trabalho comprovar estatisticamente os resultados encontrados e sim propor uma reflexão sobre o modelo adotado e sobre como contribuir para o surgimento de novas soluções relativas aos problemas do treinamento desportivo atual.
Considerações finaisO trabalho demonstrou que é possível sim, utilizar metodologias alternativas de preparação física, já que o calendário de competições não favorece a utilização de métodos comprovadamente eficazes;
O estado físico do atleta pode alterar-se de acordo com a fase de microciclo em que ele se encontra, contrariando a idéia de que a performance dele permanece a mesma durante o mesociclo competitivo. Essa variação ocorre pelo efeito imediato e efeito posterior do treinamento, ainda que não duradouro.
O método de jogo, que foi enfatizado no período competitivo, parece ser uma saída para manter a forma física do atleta, embora o estudo não possa comprovar isso. Seria interessante investigar os efeitos de um período pré-competitivo baseado no método de jogo.
É importante que novos estudos sejam realizados, onde esses valores possam ser confirmados ou contestados cientificamente, contribuindo assim para o conhecimento na área do Treinamento Desportivo.
Referências
ARRUDA, M.; GOULART, L. F.; OLIVEIRA, P. R.; PUGGINA, E. F.; TOLEDO N.; Futebol: Uma Nova Abordagem de Preparação Física e Sua Influência na Dinâmica da Alteração dos Índices de Força Rápida e Resistência de Força em um Macrociclo. Revista Treinamento Desportivo, p 23-28, v 4, n 1, 1999.
BARBANTI, V.J. Treinamento Físico, São Paulo, Balieiro, 3ª edição, 1996.
BOMPA, T. O. Treinamento de Potência para o Esporte. Phorte, São Paulo, 2004.
FORTEZA, C. A. Treinamento Desportivo: Carga, estrutura e planejamento. Phorte, São Paulo, 2001.
GOMES, A. C. Treinamento Desportivo: Estruturação e Periodização. Porto Alegre, editora Artmed, 2002.
MOREIRA, A.; OLIVEIRA, P. R.; OKANO, A. H.; SOUZA, M.; ARRUDA, M.; A Dinâmica de Alteração das Medidas de Força e o Efeito Posterior Duradouro de Treinamento em Basquetebolistas Submetidos ao Sistema de Treinamento em Bloco. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, p 243-250, v 10, n 4, 2004.
WEINECK, J. Biologia do Esporte. São Paulo, Manole, 2000.
WEINECK, J. Futebol Total, São Paulo, Phorte, 2000.
ZAKHAROV, A. Ciência do Treinamento Desportivo. Rio de Janeiro, Grupo Palestra Sport, 2ª edição, 2003.
revista
digital · Año 11 · N° 99 | Buenos Aires, Agosto 2006 |