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Lazer e educação física: análise dos grupos de
pesquisa em lazer cadastrados na
plataforma LATTES do CNPQ

   
*Licenciado em Educação Física pela UFMG/Brasil,
Membro do Grupo de Pesquisa em Lazer e Sociedade do CELAR/UFMG
**Professor dos Cursos de Educação Física e Turismo da UFMG/Brasil,
Doutor em Educação Física/Estudos do Lazer pela Unicamp,
Líder dos grupos de pesquisa Lazer e Sociedade (CELAR/UFMG) e
do Grupo de Pesquisa em Lazer (GPL/Unimep),
Editor da Revista Licere.
 
 
Alexandre Pierre Teixeira de Souza*
alexandrepierresouza@hotmail.com  
Hélder Ferreira Isayama**
helderisayama@yahoo.com.br
(Brasil)
 

 

 

 

 
Resumo
    O estudo tem como objetivo analisar os grupos de pesquisas da área de Educação Física cadastrados na plataforma lattes do site do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) que se dedicam à produção de conhecimento sobre o lazer, mais especificamente aqueles que apresentam uma abordagem direta sobre esse tema. Identificamos a existência de 81 grupos cadastrados que pesquisam o lazer, dos quais 36 são da área de Educação Física e estão espalhados por 28 universidades do país. Destes 36 grupos, apenas 12 se relacionam diretamente com o lazer. Observamos que há uma grande concentração de grupos em instituições na região sudeste do país. A maioria dos grupos aborda o lazer de maneira indireta e contempla a discussão em apenas uma linha de pesquisa.
    Unitermos: Lazer. Grupos de pesquisa. Educação Física.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 11 - N° 99 - Agosto de 2006

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Introdução

    O lazer como campo de estudos tem recebido crescente atenção nas últimas décadas no Brasil. Áreas do conhecimento como a Educação Física, o Turismo, a Sociologia, a Antropologia, a Administração, a Economia entre outras, têm se interessado pelos estudos e pela produção de conhecimentos sobre o tema. Cabe lembrar que cada uma dessas áreas vem contribuindo com a discussão da temática de acordo com a sua especificidade e com olhares diversificados.

    Entender as concepções e significados de lazer é um desafio presente no debate acadêmico. No entanto, Marcellino (1998) nos lembra que há falta de consenso sobre os significados de lazer tanto em nível do senso comum quanto entre os estudiosos que atuam na área, o que gera dificuldades para as abordagens sobre o tema. É importante lembrar que estas concepções são construídas ao longo do tempo de forma dinâmica.

    Pensar o lazer como campo científico nos remete ao processo de Revolução industrial, que culminou na luta de trabalhadores organizados para a diminuição da jornada de trabalho. Segundo Gomes (2004) em 1924 o encontro da Assembléia Geral da Organização Internacional do Trabalho (OIT) discutiu o tema lazer, a partir das informações de diferentes nações sobre as atividades de lazer dos trabalhadores em seus países.

    Não podemos esquecer do panfleto publicado na França, por Paul Lafargue em 1880, com o título Lê Droit à la Paresse (mais tarde traduzido para o português como "O Direito a Preguiça"). Outro importante trabalho foi publicado nos Estados Unidos por Thorstein Veblen em 1899, intitulado Leisure Theory Class (Traduzido como "Teoria da Classe Ociosa"). Segundo Gomes (2004) esses dois trabalhos tiveram uma importância significativa, após os estudos de Marx, e representavam duas concepções opostas de socialismo.

    No Brasil, a pesquisa de Acácio Ferreira (1959) intitulada "O lazer operário" é considerada, por muitos autores, como um estudo pioneiro sobre a temática. O autor conclui que o lazer é um tempo que pode e deve ser adequadamente preenchido com atividades chamadas de recreação. No entanto, os estudos sistematizados sobre o lazer surgiram na década de 70, vinculados à difusão do trabalho do sociológico Francês Joffre Dumazedier alicerçado no campo de estudos da Sociologia Empírica do Lazer. Os conhecimentos produzidos por esse autor influenciaram e influenciam a produção teórica sobre o lazer em nosso país até os dias atuais.

    De acordo com Sant'anna (1994) essa produção sobre o lazer nos anos 70 auxiliou no desenvolvimento de novos instrumentos, mais precisos e diversificados, de descrição, avaliação, cálculo e organização dos "usos do tempo livre", e é nela que se evidenciam esforços mais amplos para transformar o nosso meio sociocultural. Emergem livros, artigos científicos, dissertações e teses, bem como se avolumam relatórios de observações das técnicas empregadas e dos resultados obtidos na aplicação dos programas de lazer, que inicialmente, podem parecer um saber homogêneo isento de contradições, mas que, no fundo, perpetuavam uma série de problemas e de desigualdades sociais.

    A partir da década de 80 surgiram no cenário nacional autores que possibilitaram novo olhar sobre as questões do lazer. Alguns deles participaram do grupo constituído pelo Serviço Social do Comércio (SESC) e seus trabalhos tiveram influência direta de Dumazedier. Dentre os estudiosos, destaca-se o professor Nelson Carvalho Marcellino que em suas pesquisas caracterizou uma abordagem crítica sobre o lazer, fundamentando um grande número de estudos que vem sendo realizados na atualidade. O autor tem auxiliado sobremaneira a construção do campo de estudos do lazer no Brasil, destacando-se como mais relevantes as pesquisas de mestrado e doutorado publicadas em livro: "Lazer e educação" de 1987 e "Pedagogia da animação" de 1990.

    Apesar da complexidade da tarefa de se conceituar o lazer e das polêmicas que permeiam o tema, será adotada para o direcionamento desta pesquisa a concepção de Marcelino (1998) que entende o lazer como:

cultura - compreendida no seu sentido amplo - vivenciada (praticada ou fruída) no 'tempo disponível'. O importante como traço definidor é o caráter 'desinteressado' dessa vivência. Não se busca, pelo menos fundamentalmente outra recompensa que além da satisfação provocada pela situação. A 'disponibilidade de tempo' significa possibilidade de opção pela atividade prática ou contemplativa (p.31).

    Ao redimensionar o conceito de cultura esta compreensão de lazer supera o entendimento como um mero "conjunto de ocupações" (GOMES, 2004, p.122). Concordamos com esta afirmação, pois acreditamos que o ócio também pode ser uma opção nas vivências de lazer, ampliando a compreensão do mesmo. Pensamos que quando nos remetemos ao lazer, exclusivamente, como tempo de não trabalho, estamos encarando-o de forma simplista. O lazer estabelece íntimas relações outros âmbitos da vida: social, político, e/ou econômico de maneira complexa e integrada.

    Werneck; Melo (2003) tratam de alguns motivos para a posição de destaque ocupada pelo lazer na atualidade, dentre os quais observa-se a cultura de massa e o consumismo, o crescimento da industria do lazer e do entretenimento, o aumento de iniciativas governamentais voltadas para o lazer e os questionamentos a cerca da centralidade atual ocupada pelo trabalho em nossa realidade. Estes autores apontam a necessidade de reflexões e intervenções qualificadas relacionadas ao lazer, principalmente ao que se refere a caminhos consistentes de intervenção. Acreditamos que esta qualificação somente pode acontecer com o estudo e a construção de conhecimento sobre o tema.

    Nessa busca por qualificar a produção científica sobre lazer no Brasil, destacamos o caráter multidisciplinar do tema. Magnani (1999) aponta que a multidiciplinaridade do lazer tem levado a realização de estudos com ênfases e orientações diferentes e mostra a importância de se ter novos e amplos olhares sobre o assunto:

É estimulante perceber a forma como um texto, uma vez tornado público, é apropriado segundo novos olhares: são justamente estes novos olhares que levam a descobrir ângulos não inteiramente visualizados na abordagem inicial (p.20).

     Acreditamos que a multidisciplinaridade na pesquisa sobre o lazer contribui de forma substancial para avanços qualitativos sobre o tema. As diferentes reflexões teóricas estimulam a construção de novas idéias e abordagens, estimulando o interesse e o engajamento nos estudos do tema. Olhares múltiplos devem ser considerados e analisados, pois podem fomentar a reflexão e a crítica, referenciando diferentes perspectivas e questionamentos e, desta forma, contribuindo para o debate e o aprofundamento de conhecimentos sobre o mesmo.

    Para tanto, é fundamental recorrer à História, a Educação Física, ao Turismo, a Sociologia, a Psicologia, a Educação entre outras, o que já vem acontecendo, mas não de maneira sistemática. É fundamental realizar parcerias, mas é preciso saber o que se quer delas e como trabalhar as especificidades de cada uma das áreas envolvidas.

    Neste sentido, temos poucas referências que demonstram como os estudos no campo vêm sendo encaminhados, quais os temas de pesquisa? Como as diferentes áreas de estudos estão interagindo para a construção dos estudos sobre o lazer?

    Outro ponto que merece destaque é a discussão sobre o lazer em suas diferentes dimensões (cultural, social, estética, etc), de grande importância para o desenvolvimento deste objeto de estudos. No entanto, o conhecimento produzido no sentido de analisar a produção científica dessa área no Brasil ainda é incipiente.

    Das diversas áreas de conhecimento que se interessam pelo lazer, a Educação Física tem ocupado uma posição cada vez mais significativa entre os diversos grupos de pesquisa em várias universidades do Brasil. Apesar de crescente, a produção de pesquisas no sobre Educação Física e lazer ainda é insuficiente e alguns trabalhos carecem de um maior aprofundamento teórico em virtude da própria história recente da produção científica.

    Vale lembrar, que apesar de a discussão sobre o lazer ter sido introduzida, no Brasil, aproximadamente na década de 1970, fruto de conhecimentos produzidos na área de pesquisa denominada "sociologia do lazer", foi somente no decorrer das décadas seguintes que este objeto de estudo passou a ser disseminado na Educação Física.

    No entanto, a área de Educação Física carece de avaliações sobre as características e a qualidade da produção de conhecimento no âmbito do lazer. Neste contexto, Pinto et al. (1999) sugere que a relação entre Educação Física e lazer, muitas vazes, é mais experimentada do que refletida, devido à recente preocupação dos estudiosos com o tema.

A recreação e o lazer integram as intervenções na Educação Física, influenciando diretamente nas escolhas, na formação e na atuação profissional, com presença diferenciada em cada época histórica, aos modos do contexto sóciopolítico-cultural vivido em cada uma delas (p.103).

    Quando consideramos o contexto sócio-cultural e sua construção histórica, é possível inferir que o âmbito escolar e o não escolar, a produção científica, o mercado de trabalho, a diversidade cultural, a saúde e as políticas públicas atuam de forma dinâmica na construção das relações entre Lazer e Educação Física.

    Com relação à produção científica da Educação Física na esfera do lazer, Gomes (2004) coloca que a produção de teses e dissertações neste campo é liderada pela Educação Física no Brasil, com 67 teses (20% de uma produção total de 336 teses), seguida pela Educação com 56 (17%), a Comunicação 26 (8%), a História com 23 (7%) e a Psicologia com 21 (6%).

    Gomes (2004) indica que a partir na década de 80 o campo científico do lazer no Brasil desenvolveu-se significativamente. E nesse contexto, os grupos de pesquisa relacionados a Educação Física tem se destacado. Várias Universidades e Faculdades criaram grupos de pesquisa e estudos que vem ampliando o olhar sobre o tema não somente na Educação Física, mas contribuindo para o desenvolvimento do lazer em outras áreas de conhecimento. Exemplos desses grupos são: Os grupos de pesquisa da Faculdade de Educação Física da Universidade Estadual de Campinas coordenado por professores do Departamento de Estudos do Lazer, O Laboratório de Estudos do Lazer (LEL) da Universidade Estadual Paulista, O grupo Anima da Universidade Federal do Rio de Janeiro, O Centro de Estudos de Lazer e Recreação (CELAR) da Universidade Federal de Minas Gerais, o Grupo de Pesquisas em Lazer (GPL) da Universidade Metodista de Piracicaba dentre outros.

    É importante lembrar que além destes grupos destacados por Gomes (2004), foi possível constatarmos por meio de um levantamento inicial na plataforma lattes do site do CNPq que existem 36 grupos de Educação Física pesquisando o lazer em diversas universidades do Brasil, muitos dos quais têm expressiva colaboração na produção científica, com publicações e intervenções qualificadas.

    Com relação aos estudos do lazer, Marcellino (1998) observa duas posturas adotadas - a abordagem direta e a abordagem indireta. Entendo que na abordagem direta, o lazer pode estar inserido em diferentes contextos (educacional, social, familiar, trabalho entre outros), porém permanecendo como foco principal de abordagem do estudo, portanto neste tipo de abordagem, o lazer é a questão central a ser pesquisada.

    Referindo-se à abordagem indireta o autor aponta pelo menos duas situações específicas:

a primeira quando o foco de análise é um dos seus conteúdos culturais - ou seja, ao falarem das atividades artísticas, ou das práticas físicas, os autores freqüentemente abordam conteúdos ou situações de lazer; a segunda quando o foco principal de análise é marcadamente caracterizado por componentes de obrigação, como por exemplo as relações familiares, o trabalho escolar e, sobretudo, o trabalho profissional (MARCELLINO, 1998, p.20).

    Independentemente da abordagem utilizada, a relação entre lazer e Educação Física pode ser analisada sob diversos olhares. No âmbito da pesquisa do lazer, nota-se o crescimento dos estudos que a área da Educação Física vêm construindo, principalmente sob a perspectiva histórica. Vago (1993) nos diz que em regra geral, o ensino da Educação Física, desde suas origens (séculos 18 e 19) esteve vinculado tanto à preparação para o mundo do trabalho quanto à preparação para o mundo da escola. O lazer foi utilizado em contexto semelhante, no qual Marcassa (2004) aponta que a recreação no Brasil "aparece como componente educativo médico-higienista" (p.196): ao longo do século XIX foram implementados programas educacionais visando preparar o trabalhador brasileiro, modificando os modos de vida herdados da tradição colonial. A relação entre esses temas se inicia com o enfoque da saúde e dos hábitos higiênicos, com as práticas corporais assumindo grande importância social.

    Após a Segunda Guerra Mundial cresce a ênfase na questão do esporte com características de rendimento e de competição, como sendo naturais e desejáveis. Segundo Melo (2004), o esporte é uma das principais formas de lazer de grande parte da população, tendo o potencial de alcançar os mais diversos públicos, este autor destaca também a monocultura do futebol em nosso país.

    Entendendo o esporte como forma de lazer, podemos perceber um grande desafio para o profissional de Educação Física: ampliar as possibilidades de vivências esportivas de seu público-alvo como um dos conteúdos que o profissional de Educação Física deve se preocupar em desenvolver quando atua com o lazer. Vago (1993) nos mostra que a Educação Física proporciona ao homem um olhar sobre o corpo - local de grande contradição - o corpo é simultaneamente um meio de expressão e liberdade e; local de censura e servidão. Concordamos que o olhar sobre a corporeidade humana é fundamental e desafiador para a Educação Física e esta questão perpassa pelo lazer; conforme discutido por Alves (2003) e Rosa (2003).

    A Educação Física poderá intervir em duas dimensões históricas do ser humano: a singular (cada ser humano é único e irrepetível, com sua história de vida, alegrias e dores) e a social (a singularidade é vivida socialmente constituindo bens culturais como gestos, expressões, brincadeiras, danças, etc). Acreditamos que o lazer está presente em ambas as dimensões e a Educação Física pode permitir que se usufrua de bens culturais e possibilitar que se aprenda a fazê-lo no tempo livre, educando para o lazer.

    Nesta perspectiva, ao lazer aparece como um espaço de educação constante. O lazer é abordado como fonte de recuperação e descanso para o trabalho, aliviando as tensões e gerando prazer, sendo que historicamente a Educação Física foi e, em muitos casos, continua sendo um importante instrumento de aplicação desta ótica, como se observa no discurso da qualidade de vida no trabalho e da ginástica laboral. O lazer acaba sendo utilizado no seguinte contexto:

... promove o desenvolvimento pessoal e social, condição indispensável para que o homem se mantenha em equilíbrio e, assim, possa dispor de toda sua energia e inteligência para a resolução dos problemas e a criação de respostas ajustadas às mudanças rápidas e emergentes da vida moderna, dando sua contribuição para o bem-estar geral da nação (MARCASSA, 2004, p.128).

    A perspectiva do lazer como fonte de recuperação das insatisfações causadas pelo trabalho se adequa a visão funcionalista, que segundo Marcellino (1998) apresenta quatro abordagens principais. A abordagem "romântica" com visão tradicional e nostálgica. A "moralista" que se motiva pelo caráter de ambigüidade do lazer. A abordagem de "compensação" colocando o lazer como fator que compensaria a insatisfação e alienação do trabalho. E a visão "utilitarista" que restringe o lazer à recuperação das forças produtivas ou como instrumento de desenvolvimento. É importante destacarmos que estas visões não se encontram isoladas, apresentam-se interligadas e são especificadas separadamente apenas para fins de análise.

    Buscando compreender a produção cientifica em Lazer no Brasil, este estudo tem como objetivo analisar os grupos de Educação Física cadastrados na Plataforma lattes do site do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) que se dedicam a estudos sobre o lazer, sob uma abordagem direta. Dessa temática geral surgiram as seguintes perguntas: Quantos são os grupos de pesquisa da Educação Física que o estudam o lazer no Brasil? Qual a representatividade da Educação Física dentre as áreas que vêm se dedicando aos estudos sobre o lazer? Quem e quantos são os estudiosos do tema na área da Educação Física? Em que cidades se localizam e em quais regiões estão mais centralizados estes grupos? Como abordam o lazer e quais as diferenças em suas linhas de pesquisa? O que esses grupos apontam em termos de pesquisa no campo do lazer? Como se dão às relações destes grupos com o mercado de trabalho? Segundo as informações do site do CNPq, a Plataforma Lattes é um conjunto de sistemas de informações, bases de dados e portais da Internet voltados para a gestão de Ciência e Tecnologia. Foi concebida para integrar os sistemas de informações das agências federais. Lançada em 16 de agosto de 1999 com a primeira versão do Sistema CV-Lattes proporcionou um aumento significativo no número de currículos enviados ao CNPq, que chegou a mais de 100 novos Currículos Lattes ao dia.

    Para a realização deste estudo foi utilizado o diretório dos grupos de pesquisa, que é um projeto desenvolvido pelo CNPq desde 1992 e mantém essencialmente as mesmas definições básicas e objetivos desde então. Foram realizados cinco censos até hoje no diretório: versões 1.0, 2.0, 3.0, 4.1 e 5.0, de 1993, 1995, 1997, 2000 e 2002, respectivamente. Os resultados estão disponíveis no endereço http://lattes.cnpq.br/diretorio/. Suas bases contêm informações capazes de descrever os limites e o perfil geral da atividade científico-tecnológica no Brasil. São capazes de fornecer aos interessados uma grande massa de informação, bastante diversificada, sobre detalhes de quem realiza as atividades, como e onde as realiza e sobre o quê. Podem ser consultadas informações gerais, súmula estatística, plano tabular, busca textual, estratificação e anexos. No caso específico dessa pesquisa, foi possível compreender elementos sobre o estágio atual em que se encontra a produção de conhecimento sobre o lazer.

    Passamos agora a apresentar a discussão sobre a pesquisa realizada no site do CNPq, que teve como objetivo analisar os grupos de Educação Física cadastrados na Plataforma Lattes do site do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) que se dedicam a estudos sobre o lazer, sob uma abordagem direta.

    Para refletir sobre estas questões realizamos uma pesquisa bibliográfica combinada com uma pesquisa descritiva de coleta documental (Gil, 1988). A primeira foi realizada através da técnica de Revisão de Literatura (Severino, 1991), com a análise de livros, artigos, dissertações, teses e monografias que abordam os temas: lazer, pesquisa e produção de conhecimento. Como base para essa revisão foi utilizado o sistema de bibliotecas das seguintes Universidades: Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), tendo em vista a importância dessas instituições para a discussão sobre o lazer na atualidade.

    As vantagens da pesquisa descritiva em relação ao tema de estudo voltaram-se para o conhecimento e análise de obras de diversos autores, com diferentes enfoques e pontos de vista, possibilitando um embasamento da pesquisa em seus aspectos teóricos.

    Realizamos a pesquisa descritiva por meio do levantando-se dados de todos os grupos de lazer do Brasil cadastrados na Plataforma Lattes do site do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), utilizando-se a palavra chave "Lazer" na busca em sua base corrente.

    Os passos para a coleta documental desta pesquisa descritiva foram os seguintes:

  1. Acessamos o site http://www.cnpq.br, utilizando um computador com o software de navegação Internet Explorer 6.0 ou superior e com conexão disponível à internet;

  2. Na página inicial do site selecionamos o item Plataforma Lattes;

  3. . Em seguida o tópico Diretório dos Grupos de Pesquisa, no qual consta o item Busca e, posteriormente, o item Base Corrente;>

  4. Na tela da Base Corrente selecionamos a opção Grupos e digitamos na lacuna de pesquisa a palavra chave "lazer".

    Este procedimento possibilitou a visualização de uma lista com todos os grupos de pesquisa do Brasil cadastrados no site que se relacionam com o lazer, permitindo o acesso às informações de cada grupo. Estas informações foram utilizadas para a elaboração de uma ficha.

    Alguns dados considerados pertinentes para a composição da ficha, como o número de mestres e doutores, foram obtidos por meio do acesso ao Currículo Lattes dos pesquisadores. Este acesso foi possível ao se selecionar o nome do pesquisador na própria página do grupo, onde um "link" conduziu para currículo do mesmo.

    Outro dado a ser considerado nesta pesquisa foi que de acordo com Marcellino (1987) as abordagens sobre o lazer podem se relacionar com o tema de maneira direta ou indireta. Nesse sentido, as linhas de pesquisa de cada grupo foram classificadas de acordo com a abordagem que dão ao lazer, considerando os critérios a seguir:

Abordagem direta (lazer como questão central);

  • Quando palavra lazer apareceu no nome do grupo e/ou no objetivo da linha de pesquisa, ou outras palavras e expressões que explicitavam o lazer como objeto de estudo direto.

Abordagem indireta (análise de conteúdos culturais do lazer ou de componentes de obrigação que se relacionam ao lazer, como por exemplo, o trabalho: situações de lazer são abordadas de forma indireta);

  • Quando no objetivo o lazer não foi explicitado como o principal objeto de estudo do grupo, mas constavam palavras que se relacionavam indiretamente com o lazer como: educação física escolar, políticas públicas de esporte. Nestes casos as linhas de pesquisa foram caracterizadas como abordagem indireta do lazer.

Não aborda o lazer (o lazer não foi abordado na linha de pesquisa).

Grupos que não incluíram o objetivo da linha de pesquisa foram classificados numa categoria à parte: abordagem não classificada.

    Os dados extraídos de cada grupo no site foram transferidos para a ficha. Após a finalização da coleta iniciou-se o processo de análise quantitativa e qualitativa. Como técnica para a análise dos dados coletados utilizou-se a análise de conteúdo proposta por Triviños (1987), apresentando três fases interligadas: pré-análise, descrição analítica e interpretação inferencial.

    Os grupos que possuíam metade ou mais da metade das linhas de pesquisa classificadas como de abordagem direta do lazer, foram selecionados para a interpretação inferencial, e classificados como grupos de abordagem direta do lazer.

    A técnica de pesquisa utilizada apresentou como dificuldade a disponibilidade de acesso ao site do CNPq, bem como, da Plataforma Lattes e da Base corrente na Internet, que por diversas vezes se mostraram inacessíveis devido à problemas internos do site.

    Houve também dificuldade devido à falta de regularidade no número de grupos cadastrados na plataforma, uma vez que a lista é atualizada periodicamente. Neste sentido, foi delimitada uma data de referência para a coleta de dados: 31 de março de 2005, sendo que qualquer alteração das informações do site após esta data foi desconsiderada. Além disso, por vezes faltavam informações como a titulação de pesquisadores, setor de aplicação e objetivo das linhas de pesquisa, o que dificultou o processo da análise dos dados de alguns grupos.

    Em alguns casos, apesar da palavra lazer aparecer no nome do grupo e/ou na linha de pesquisa, não estava explícito no objetivo do grupo o tipo abordagem. Em outros casos, mesmo sem que o lazer estivesse no nome do grupo e/ou na linha de pesquisa, foi possível estabelecer de alguma relação com o lazer. Nestas situações foi necessário realizar uma análise qualitativa, considerando-se o item da ficha: Repercussões dos Trabalhos do Grupo, além dos temas das teses de mestrado e doutorado dos pesquisadores no Currículo Lattes.

    É importante lembrar que o estudo da problemática em questão, além de preencher uma lacuna bibliográfica no estado da arte sobre a pesquisa em lazer no Brasil, pode contribuir para a ampliação dos conhecimentos sobre as necessidades e demandas desse novo campo científico.


Análise dos dados

    Com os dados coletados no Diretório dos Grupos de Pesquisa do site do CNPq, podemos constatar que existem treze áreas de conhecimento que estudam o lazer e se distribuem de acordo com o gráfico abaixo:

Gráfico 1. Grupos de Pesquisa do Lazer por Área de Conhecimento

    A Educação Física é a área com maior número de grupos cadastrados, são 36 grupos que correspondem a 44,44% do total. A segunda área em número de grupos é a Educação que possui 12 (14,81%), seguida do turismo com 8 (9,87%) e da antropologia que possui 5 (6,17%).

    Os dados acima podem ser associados aos de Gomes (2004), demonstrando que o número de grupos está diretamente ligado a produção de teses por área de conhecimento, pois segundo esta autora a Educação Física é a maior responsável pela produção de teses (67 no total), o que corresponde a 20% das teses de mestrado e doutorado no campo do lazer, seguida pela Educação com 56 teses (17%).

    No entanto, nem todos os grupos da Educação Física que pesquisam o lazer fazem uma abordagem direta do tema:

Gráfico 2. Grupos de Educação Física por Tipo Abordagem do Lazer

    De acordo com os critérios de classificação das abordagens do lazer, descritos na metodologia deste trabalho, foi possível constatarmos que dos 36 grupos da Educação Física que estudam o lazer, 12 grupos (33%) adotam uma abordagem direta de pesquisa do tema. Nove grupos (25%) abordam o lazer de forma indireta. Dez grupos (28%) não abordam o lazer. E cinco grupos não foram classificados, pois no site faltaram dados considerados metodologicamente relevantes, como objetivo das linhas de pesquisa e repercussão dos trabalhos do grupo.

    É importante que lancemos um olhar crítico sobre as relações historicamente construídas entre Educação Física e Lazer, para que se tenha uma compreensão mais ampla das abordagens dos grupos de pesquisa. Uma análise qualitativa nos mostra que alguns grupos pesquisam aspectos como as perspectivas médico-higienista, de recuperação para o trabalho e esportivista, ao estudarem as relações estabelecidas com o lazer, tais como o esporte, o trabalho e a escola, e terminam não abordando o lazer ou abordando-o de forma indireta.

    Podemos pensar o lazer como espaço de educação constante no contexto da Educação Física, entretanto o retrato dos grupos de pesquisa sugere a necessidade de se ampliar os estudos do tema, já que 28% dos grupos não o abordam e 25% o abordam de forma indireta.

    Centrando-se a discussão nos 12 grupos que abordam o lazer de foram direta, temos os seguintes:

Tabela 1. Grupos de Educação Física de Abordagem Direta do Lazer (Instituições e Líderes)


*nota: numeração referente à lista no diretório dos grupos de pesquisa do CNPq no período de acesso ao site, em março de 2004.

     O gráfico 3 mostra o ano de formação dos grupos de Educação Física que estabelecem relação direta com o lazer:

Gráfico 3. Ano de Formação dos Grupos da Educação Física que se Relacionam Diretamente com o Lazer

    Observamos que os grupos de Educação Física que abordam diretamente o lazer foram fundados entre 1996 e 2003. O ano de maior incidência de formação foi 2002 com 7 grupos (58,33%).

    É interessante percebermos o fato de que em 2002, ano de maior incidência de criação de grupos, tornou-se obrigatório a todos os bolsistas de pesquisa, de mestrado, de doutorado, de iniciação científica, além de orientadores credenciados e outros sujeitos que utilizam o CNPq, terem o currículo cadastrado na Plataforma Lattes. A inexistência do currículo impediria pagamentos de bolsas e renovações. Até então, o levantamento do número de grupos era feito por um censo anual, que fornecia uma visão pontual da situação dos grupos, pois no período entre os censos as informações não podiam ser atualizadas. Além disso, havia pouca integração entre informações.

Tabela 2. Número geral de instituições, grupos, pesquisadores e pesquisadores doutores (1993-2002)


Fonte: site do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq

    Nota: parcela significativa da tendência de crescimento observada decorre do aumento do número de instituições incluídas no levantamento e da taxa de cobertura do levantamento no âmbito das instituições.

    Em 4 de março de 2002 foi implementada uma nova versão do sistema de coleta (versão 5.0) do Diretório de Pesquisa, que dissociou a base de dados do Diretório e a atividade censitária dos grupos. Tornou-se possível a realização de pesquisas sobre temas variados, a utilização como filtro para estudos a partir da base de currículos Lattes, a realização de estudos sobre a organização da pesquisa em redes etc.

    Ocorreu também a mudança na logística da captura das informações, que não mais passam, fisicamente, pelo órgão central da instituição (Pró-reitoria, Diretorias etc.). A autoridade de pesquisa cadastra os líderes de sua instituição e certifica seus grupos como foi até a versão anterior, com a diferença de que o CNPq propicia o acesso desses líderes e dirigentes de pesquisa aos sistemas do Diretório, no site do Conselho. A autoridade institucional tem acesso permanente a essas informações e tem a tarefa de certificar seus grupos para o CNPq, com vistas à sua inclusão na base de dados.

    Neste sentido, considerando-se o CNPq como importante órgão de fomento da pesquisa no Brasil, os dados sugerem que o crescimento do número de grupos em 2002 poderia ser devido à exigência das instituições para que os pesquisadores aumentassem o número de grupos de pesquisa com cadastro na Plataforma Lattes. De maneira geral, observamos que as modificações no sistema do CNPq aumentaram a importância da plataforma e fortaleceram o vínculo das instituições à mesma, o que ocasionou uma maior cobrança sobre os pesquisadores para a formação e cadastramento de grupos.

    Outro fato importante em 2002 foi à obrigatoriedade de cadastramento do currículo dos pesquisadores e estudantes na plataforma a partir de março. Não podemos desconsiderar também o aumento do número de mestres e doutores em lazer na área da Educação Física, conforme discutido em Gomes (2004), e o aumento da preocupação com o campo do lazer nos currículos dos cursos de Educação Física (ISAYAMA, 2002). Todos esses fatores demonstram a preocupação da Educação Física com o campo de estudos do lazer impulsionando o aumento de grupos de pesquisas nesse âmbito.

    O gráfico 4 mostra a localização dos grupos de pesquisa da Educação Física que abordam o lazer diretamente:

Gráfico 4. Número de Grupos Educação Física que se Relacionam Diretamente com o Lazer X Localização por Estado

    O estado de São Paulo concentra o maior número de grupos (4) sendo um no IMES, um na UNIMEP, um na USP e um UNICAMP. O segundo estado em numero de grupos é o Paraná (3), e seus grupos se localizam na UFPR, UEPG e UEL. Os dois grupos de Minas Gerais são da UFMG e da UFV. No Rio de Janeiro os grupos estão na UFRJ e na UGF. O grupo de Pernambuco situa-se na UFPE.

    Gomes (2004) aponta que 51% de todas as teses sobre lazer foram produzidas em São Paulo, e cita a UNICAMP como um importante pólo da Educação Física neste campo de pesquisa, principalmente a partir da década de 1990. Esta autora aponta que das 58 teses produzidas na UNICAMP até 2001, 38 (66%) foram da Educação Física, 10 (17%) da Educação e 10 (17%) de outras áreas. Outro dado interessante é que apesar da USP ser apontada pela pesquisadora, como a instituição que em geral, mais produziu teses sobre o lazer, até 2001 não havia nenhuma tese na área da Educação Física.

    Os dados apontam a região sudeste como o maior pólo do Brasil em concentração de grupos da Educação Física de pesquisa direta do lazer, com é demonstrado no gráfico cinco que ilustra o número de grupos por região do país. Isso pode estar relacionado a uma grande expansão da área de Educação Física nessa região, a partir de diferentes ações: cursos de graduação e pós-graduação, eventos científicos, publicações, departamentos em Universidades, dentre outras.

Gráfico 5. Número de Grupos de Educação Física que se Relacionam Diretamente com o Lazer X Localização por Região do País

     Oito grupos se encontram na região sudeste, que correspondem a (66,67 %), em seguida esta a região sul com três grupos (25%), e a nordeste com um grupo (11%). A maior concentração de grupos na região sudeste, provavelmente se correlaciona ao maior número de universidades nesta região do país.

Gráfico 6. Número de Linhas de Pesquisa por Grupos de Educação Física que se Relacionam Diretamente com o Lazer

    Vinte seis grupos possuem de 1 a 3 linhas de pesquisa, oito grupos possuem de 4 a 6 linhas de pesquisa e dois grupos possuem de 7 a 9 linhas de pesquisa. Dentre os temas apontados nas linhas de pesquisa, podemos citar: políticas públicas, estudos culturais e sociológicos, corporeidade, formação e atuação profissional. Isso demonstra o encaminhamento diversificado que está sendo dado a esse novo campo de estudos dentro da Educação Física.

    No gráfico 7 está ilustrada a incidência de pesquisadores por grupo de educação física que aborda o lazer diretamente.

Gráfico 7. Número de Pesquisadores nos Grupos Educação Física que Abordam Diretamente o Lazer

    Considerando-se o número de pesquisadores que integram os grupos, notamos que 4 grupos têm de 1 a 4 pesquisadores, 2 grupos têm entre 5 e 8, 3 grupos são integrados por 9 a 12 pesquisadores e outros 3 grupos possuem 13 a 16 pesquisadores. Os dados demonstram que existe grande diversidade no número de pesquisadores nos diferentes grupos. Pode-se destacar os extremos que são: o grupo da UNIMEP com 16 pesquisadores e o da USP com apenas 1 pesquisador.

    Cabe ressaltarmos que alguns grupos apresentam um número de linhas de pesquisa próximo ao de pesquisadores, o que pode ser um elemento para reflexão, pois acreditamos que uma linha de pesquisa deveria contar com a participação de grupos de pesquisadores. Esse aspecto pode trazer contribuições a partir de diferentes olhares e dessa forma concretizar a idéia de linha de pesquisa.

    Além disso, destacamos que em alguns grupos existe a participação de pesquisadores de outras áreas do conhecimento e de outras instituições a ampliação dos olhares desses grupos.

    A seguir estão demonstrados os percentuais de mestres e doutores nos grupos de educação física de abordagem direta do lazer (gráfico 8):

Gráfico 8. Percentual de Mestres e Doutores

    Existe um total de 96 pesquisadores da Educação Física cadastrados nos grupos de abordagem direta do lazer. Destes, 40 são mestres, 43 são doutores e os 13 restantes são especialistas ou graduados. Em média são 3,58 doutores por grupo.

    Com relação às repercussões dos trabalhos dos grupos foi possível observarmos que algumas questões são freqüentemente apontadas, como:

  • As ações pedagógicas e intervenções;

  • Os esforços na direção da construção e difusão do conhecimento, com interação entre grupos no âmbito nacional e internacional;

  • A atuação na graduação, pós-graduação, eventos científicos e com publicações;

  • A preocupação com a formação e atuação profissional;

  • A parceria com instituições públicas e privadas.

    Acreditamos que o conhecimento destas relações dos grupos com o mercado de trabalho e com a sociedade em geral, podem nos auxiliar no direcionamento dos estudos sobre o lazer em nosso país, além de fornecer informações importantes sobre as tendências e prioridades de direcionamento de pesquisas neste campo.


Considerações finais

    O objetivo deste estudo foi analisar os grupos de pesquisas da área de Educação Física cadastrados na plataforma lattes do site do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) que se dedicam à produção de conhecimento sobre o lazer, mais especificamente aqueles que apresentam uma abordagem direta sobre esse tema. Percebemos que diversas áreas do conhecimento têm se empenhado na produção científica sobre o tema e a Educação Física, neste contexto, tem ocupado uma posição cada vez mais significativa. Apesar de crescente, a produção de pesquisas no campo da Educação Física ainda é insuficiente e alguns trabalhos carecem de um maior aprofundamento teórico em virtude da própria história recente das pesquisas sobre o lazer.

    Em março de 2005 havia 81 grupos de lazer cadastrados na Plataforma Lattes, do site do CNPq, dentre estes grupos 36 eram da Educação Física, que se mostrou a área de conhecimento com maior número de grupos de pesquisa do lazer. Entretanto, os dados obtidos por meio de uma análise qualitativa demonstraram que apenas 12 grupos da Educação Física estudam o lazer sob uma ótica direta.

    O ano de maior incidência de formação de grupos da Educação Física que abordam o lazer diretamente foi 2002. Neste ano foram feitas algumas modificações na Plataforma Lattes do CNPq, tornando obrigatório o cadastramento dos pesquisadores e alunos membros de grupos de pesquisa no Currículo Lattes, sob pena de não pagamento de bolsas. Além disso, a plataforma se tornou um importante instrumento de pesquisa com integração de informações sobre ciência e tecnologia no país e conseqüentemente, um grande instrumento de avaliação e controle para os subsídios fornecidos pelo CNPq às pesquisas nas universidades brasileiras. Este contexto proporcionou um aumento das pressões sobre os pesquisadores para que se cadastrassem no Currículo Lattes e formassem grupos de pesquisa de maneira a garantir os fomentos do CNPq às universidades.

    Especificamente com relação à criação dos grupos de Educação Física que abordam o lazer de forma direta, parecem existir outros dois fatores que influenciaram sua formação neste ano. Um fator foi a grande produção de teses de mestrado e doutorado sobre lazer no final de década de 1990, com conseqüente formação de pesquisadores qualificados para abordar o tema. Outro fator foi o crescimento da importância do lazer, como conhecimento a ser discutido nos currículos dos cursos de Educação Física e influenciados principalmente pelo curso de Educação Física da Unicamp que criou uma modalidade de formação no Bacharelado ligada a recreação e ao lazer.

    Os dados da pesquisa demonstraram que a região Sudeste concentra 66,67% dos grupos de Educação Física que se relacionam diretamente com o lazer (8 grupos) e que o estado de São Paulo é o que possui mais grupos (4 grupos), seguido do Paraná (3 grupos). Isso pode estar relacionado a uma grande expansão da área de Educação Física nessa região, a partir de diferentes ações como cursos de graduação e pós-graduação, eventos científicos, publicações, departamentos em Universidades, dentre outras.

    Existem 96 pesquisadores cadastrados, sendo 43 doutores (44%), 40 mestres (42%) e 13 especialistas ou graduados (14%). A maior parte dos grupos (7grupos) possui de uma a duas linhas de pesquisa com temas variados. Dentre os temas apontados nas linhas de pesquisa, podemos citar: políticas públicas, estudos culturais e sociológicos, corporeidade, formação e atuação profissional. Isso demonstra o encaminhamento que está sendo dado a esse novo campo de estudos dentro da Educação Física.

    Acreditamos que o campo do lazer, no que se refere aos grupos de Educação Física de abordagem direta, carece de um maior número de pesquisadores e, possivelmente de uma expansão das linhas de pesquisa de forma a ampliar e qualificar cada vez mais as discussões sobre o tema. Cabe ressaltarmos que alguns grupos apresentam um número de linhas de pesquisa próximo ao de pesquisadores, o que pode ser um elemento para reflexão, pois consideramos que uma linha de pesquisa deveria contar com a participação de grupos de pesquisadores, de forma que as contribuições a partir de diferentes olhares concretizassem a idéia de linha de pesquisa.

    Com relação aos apontamentos dos grupos em termos de pesquisa e mercado de trabalho no campo do lazer foi possível observarmos a preocupação com as ações pedagógicas, intervenções e com a formação profissional. Notamos também esforços na direção da construção e difusão do conhecimento, a interação entre grupos no âmbito nacional e internacional, a atuação na graduação, na pós-graduação, em eventos científicos e com publicações, além da parceria com instituições públicas e privadas.

    É importante lembrar que este é somente um dentre os múltiplos olhares possíveis sobre a pesquisa do lazer no Brasil. Este olhar foi focado nos grupos de Educação Física que se relacionam diretamente com o tema; e proporcionado pela análise de dados no diretório do CNPq. Atualmente, estamos desenvolvendo uma pesquisa para análise de todos os grupos de lazer listados no site, ampliando-se o olhar para outras áreas de conhecimento que abordam este campo de estudo. Com isso acreditamos que será possível caminhar no sentido da elaboração de prioridades em termos de pesquisa sobre o lazer no Brasil, buscando conhecer mais sobre as tendências e prioridades para futuros direcionamentos dos estudos do lazer. Desta forma, objetiva-se contribuir para a expansão da área e o aprofundamento das discussões sobre o tema.


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revista digital · Año 11 · N° 99 | Buenos Aires, Agosto 2006  
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